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ARTIGO ESTUDO COPARATIVO ETRE PUAS TÉCICAS DE XEODIAGÓSTICO ARTIICIAL APLICADO E PACIETES CHAGÁSICOS CRÓICOS Luciamáre P. A. artins,! Roberto E. P. Castanho, 2 JoãoAristeu da Rosa,2 aurício O. Tokumo, ' Charles A. P. de Godoy! e Raphael de. Rosa ' RESUO oram realizados 33 xenodiagnósticos artificiais em pacientes sabidamente chagásicos crónicos, em um estudo comparativo com duas técnicas diferentes; uma técnica proposta por Lima & Rey (1991) e outra por Silva (1991). esse estudo utilizaram-se ninfas de terceiro estádio de Pamlrongyltts megistus, Rhodnius negleclux e Tnatoma infestans. Dos 33 xenodiagnósticos realizados, seis foram positivos, sendo dois (6,1%) pela primeira e quatro (12,1%) pela segunda. A faixa etária acima de 55 anos foi a que apresentou maior número de casos positivos. Ao comparar o volume de sangue ingerido, observou-se que os triatomíneos sugaram maior quantidade quando foi utilizada a técnica de Silva (1991) com (p<0,0001), sendo que a espécie que ingeriu maior volume foi o P- megistus. UITEROS: Trypanosoma cruzi. Panstrongylus megistus. Triatoma infestans. Rhodnius neglectus. Xenodiagnóstico artificial. ITRODUÇÃO O xenodiagnóstico artificial foi idealizado em 1947 por Romana & GÍ1, devido a algumas desvantagens apresentadas «.a i-ooli=-.n.çso do xenodiagnóstico natural, como por exemplo o aparecimento de reações alérgicas em alguns pacientes quando picados por triatomíneos do género Rhodnius. Relata-se também a possibilidade de transmissão por esses insetos de algumas infecções, como viroses, e o método artificial torna-se a melhor opção, principalmente em pacientes imunodeprimidos (1). Com o intuito de melhorar a sensibilidade desse exame, várias pesquisas têm sido realizadas. Diferentes tipos de membranas foram testadas, como a pele de cobaio, pomba, fragmentos de intestino de boi, papel 1 aculdade de edicina de arília 2 aculdade de Ciências armacêuticas, UESP, Araraquara. Endereço para correspondência: E-mail autor: luciapam@famema.hr Recebido para publicação em 4/4/2001. Revisto em 3/7/2001. Aceito em 4/7/2001 Vol. 30 (D- 61-6K.jan.-jun. 2001

parafinado, látex (l, 2, 5, 15), para verificar a facilidade da alimentação dos triatomíneos, como também foi estudada a influência dos anticoagulantes, como heparina, EDTA, citrato de sódio a 3,8% (1,2,4,20) na sobrevivência dos barbeiros, visto que alguns anticoagulantes podem interferir na sobrevida desses insetos. a busca por um inseto ideal para ser utilizado no xenodiagnóstico, muitos autores testaram a susceptibilidade de várias espécies de triatomíneos, tanto na doença de Chagas na fase aguda quanto na crónica (6, 7, 12,17). Da mesma forma, técnicas com procedimentos diferentes têm sido utilizadas, como a proposta por Lima & Rey (1991), em que os triatomíneos são colocados em estufa a 37o- C juntamente com o sangue para serem alimentados, e a proposta por Silva (1991), em que os triatomíneos permanecem à temperatura ambiente, e somente o sangue a ser oferecido é aquecido a 37-C. Com a finalidade de comparar a eficácia do xenodiagnóstico artificial, visando facilitar sua realização na rotina laboratorial da doença de Chagas crónica, realizou-se este estudo, utilizando duas diferentes técnicas e três espécies de Triatominae. ATERIAL E ÉTODOS Pacientes Os 33 indivíduos estudados eram pacientes chagásicos crónicos do Serviço de Cardiologia e Clínica édica da aculdade de edicina de arília. O estudo foi iniciado após aprovação pela Comissão de Ética em Pesquisa da aculdade de edicina de arília, e assinado por participantes que concordaram em participar do estudo. Xenodiagnóstico Utilizaram-se duas técnicas de xenodiagnóstico artificial. Uma é a proposta por Lima & Rey (1991), em que o sangue a ser oferecido aos triatomíneos é colocado em um preservativo de látex não-lubrificado e previamente lavado. Este preservativo é então amarrado na extremidade e preso na borda do frasco, contendo os triatomíneos, por uma fita adesiva. Esse conjunto (frasco dos triatomíneos mais preservativo com sangue) é então levado para a estufa a 37-C, por uma hora, para a alimentação. A outra técnica utilizada é a proposta por Silva (1991), em que o sangue c mantido aquecido por um banho que circula água a 37o-C, por um circuito de mangueiras, que penetra em um recipiente de vidro contendo duas câmaras: uma câmara externa que serve para circular a água aquecida e uma câmara interna onde o sangue é colocado. Este recipiente de vidro é vedado 62 REVISTA DE PATOLOGIA TROPICAL

por um preservativo de látex sem lubrificante. essa técnica os triatomíneos permanecem a temperatura ambiente para serem alimentados. Em cada técnica de xenodiagnóstico foram utilizados nove ml de sangue venoso, tendo o citrato de sódio a 3,8% como anticoagulante. Os testes foram realizados simultaneamente. Triatomíneos oram utilizadas 10 ninfas de terceiro estádio de cada uma das seguintes espécies: Panstrongylus megistus, Rhodnius neglectus e Triatoma infestam, sendo 30 triatomíneos para cada técnica de xenodiagnóstico realizado com um total de 60 ínsetos por paciente. Pesagem dos triatomíneos oram pesados lotes de 10 triatomíneos segundo a espécie, antes e após a realização dos xenodiagnósticos, em balança analítica, com o propósito de se avaliar a ingestão sanguínea em cada técnica de xenodiagnóstico utilizada. Leitura dos xenodiagnósticos A leitura dos xenodiagnósticos foi realizada em pool por espécie de triatomíneo no 30- dia após a realização desses exames, pela técnica da compressão abdominal por meio de pinças (3), utilizando solução salina a 0,6% como diluente(18). Análise estatística Utilizaram-se os testes de ann-whimey e o de Kruskal-Wallis, para a análise de associação entre as variáveis. RESULTADOS Dos 33 indivíduos estudados, 20 (60,6%) eram do sexo feminino e 13 (39,34%) do sexo masculino. A faixa etária variou de 24 a 71 anos, com média de 54,5 anos (± 10,7), sendo 15 (45,45%) abaixo de 55 anos e 18 (54,55%) acima de 55 anos (Tabela 1). Desses 33 xenodiagnósticos realizados, seis foram positivos, sendo dois (6,06%) pela técnica de Lima & Rey (1991) e quatro (12,12%) pela técnica de Silva (1991). enhum paciente mostrou-se positivo concomitantemente pelas duas técnicas. Vol 30(1): 61-68. jan.-jun 2001 63

Dos quatro xenodiagnósticos positivos, pela técnica de Silva (1991), o T. infestans mostrou-se positivo em dois, o P. megistus, em um e o R. neglectus, também em um. Dos dois xenodiagnósticos positivos pela técnica de Lima & Rey (1991), um foi positivo pelo R. neglectus, e o outro mostrouse positivo tanto pelo R. neglectus como pelo P. megistus. Tabela 1. Resultados de xenodiagnóstico pelas duas técnicas ome AJB GSL PR IOB COS RB OJT D SP JSS JJ PC C EPS J DJ ABS GSP HSP TVC TCO J CS EISP S ERR OP HS RS ACB JB AV JIB Idade 57 58 71 65 51 59 50 68 60 52 57 55 69 45 36 35 54 47 64 40 54 51 44 56 53 24 48 59 63 58 70 60 65 Sexo LIA & REY P (P.megistus e R.neglectus} Y (R.neglectus) SILVA P (T. infestam} P (T. infestans) P (R. neglectus) P (P. megistos) Observou-se que os triatomíneos do género Panstrongylus ingeriram maior quantidade de sangue em relação aos triatomíneos do género Rhodnius e Triatoma com p<0,001 e p<0,01 (Kruskal- Wallis), respectivamente, pela técnica de Lima & Rey (1991). Um fato semelhante foi observado pela técnica de Silva (1991), em que a ingestão de sangue foi maior nos 64 REVISTA DE PATOLOGIA TROPICAL

triatomíneos do género Panstrongylus em relação aos triatomíneos do género Rhodnius e Triatoma com p<0,01 e p<0f05. Entre os géneros Triaíoma e Rhodnius, obteve-se uma diferença estatisticamente não significativa (p>0,05), tanto pela técnica de Lima & Rey (1991) como pela técnica de Silva (1991) (Tabelai). Comparando a quantidade de sangue ingerida pelas ninfas de triatomíneo das três espécies utilizadas em cada técnica realizada, observouse que a alimentação sanguínea dos triatomineos foi maior pela técnica de Silva (1991), considerada estatisticamente significativa (p<0,0001) pelo teste de ann-whitney. A mediana da quantidade em gramas de sangue ingerido com os respectivos valores de p está expressa na Tabela 2. Com relação à faixa etária, os seis xenodiagnósticos positivos foram encontrados nos pacientes acima de 55 anos, e nenhum nos pacientes abaixo de 55 anos. Tabela 2. ediana da quantidade em gramas de sangue ingerido, segundo espécie de triatomíneo e técnica de xenodiagnóstico Espécie de triatomíneo Técnica de Lima & Rey Técnica de T. infestans " 0,0667 l 0,26842 R. neglectus 0,03433 0,3399" P. megistus 0,1485 5 0,4472 6 Teste de ann-whitney: (1-2) (3-4) (5-6): p< 0,0001 Teste de Kmskal-Wallis: (5-3): p< 0,001 (5-2): p< 0,001 (6-4): p< 0,001 (6-2): p< 0.005 (1-3) (2-4): p> 0,05 DISCUSSÃO Desde sua idealização, o xenodiagnóstico artificial tem sido objeto de estudo de vários pesquisadores, com o intuito de aprimorar a técnica, melhorar sua sensibilidade e torná-la de fácil aplicação na rotina laboratorial para a pesquisa parasitológica do Trypanosoma cruzi. Assim, Cedillos et ai. (1982) realizaram vários xenodiagnósticos artificiais, expondo-os a diferentes temperaturas, e concluiram que, quando os triatomíneos eram colocados em estufa à 37 -C, havia maior excitabilidade dos insetos, dificultando a alimentação. Os resultados encontrados neste trabalho concordam com os dos autores acima, em que as três espécies de triatomíneos alimentadas pela técnica de Lima & Rey (1991) ingeriram uma Vol 30(l).61-68.jan.-jun.200l

quantidade de sangue menor do que quando alimentadas pela técnica de Silva (1991) com p< 0,0001. Segundo Pereira et ai. (1995) e Pietrokovsky et ai. (1996), a ingestão de uma quantidade maior de sangue facilitaria a infecção dos triatomíneos pelo T. cruzi, enquanto, para Silva & Salha (1994), essa quantidade de sangue não é fator determinante na infecção pelo protozoário. Analisando os nossos resultados obtidos, pode-se observar que dos 33 xenodiagnósticos realizados, quatro foram positivos pela técnica de Silva (1991), e dois pela técnica de Lima & Rey (1991). Esses resultados mostram, a nosso ver, uma maior sensibilidade do xenodiagnóstico, quando utilizada a técnica de Silva (1991). Embora a diferença de susceptibilidade entre as espécies de triatomíneos não possa ser analisada mais detalhadamente devido ao baixo número de xenodiagnósticos positivos, esses resultados estão mais de acordo com os relatos de Pereira et ai, (1995) e Pietrokovsky et ai. (1996). esse aspecto, pode-se fazer uma análise intra e interespecífica quanto à quantidade de sangue ingerida, pois não se pode relegar a questão da susceptibilidade de cada espécie de triatomíneo, em que a quantidade de sangue ingerida pode não ser fator determinante na infecção pelo T. cruzi. A positividade baixa encontrada nesses xenodiagnósticos pode estar relacionada ao método de coleta das fezes dos triatomíneos e ao tempo de leitura pós-infecção. Silva et ai. (1993) referem que a técnica das dejeções espontâneas é mais eficiente que a compressão abdominal na leitura dos xenodiagnósticos. Optou-se pela técnica da compressão abdominal, pela maior praticidade e exequibilidade. Da mesma forma, como relatado, o tempo de leitura também pode ter alguma influência. Schenone et ai. (1974) propõem a leitura no 30 dia pós-infecção, porém Santos et ai. (1995) aumentaram significativamente a positividade dos xenodiagnósticos, repetindo-se as leituras no 60 -dia pós-infecção. Percebeu-se que os exames realizados nas faixas etárias mais elevadas dão uma porcentagem maior de positividade, fato aliás observado por Santos et ai.(1995). esse aspecto, observamos, nos pacientes com idade acima de 55 anos, uma positividade de 33,33%, enquanto nenhum xenodiagnóstico foi positivo na faixa etária abaixo de 55 anos. Com relação à faixa etária, algumas observações devem ser colocadas. Se a casuística fosse composta somente pelos pacientes da faixa etária acima de 55 anos, comum em áreas não mais endémicas, ter-se-ia obtido um resultado mais favorável, levando-se em consideração a realização de duas técnicas em que houve a somatória dos resultados. Com base nesses resultados, podemos inferir que, pela maior quantidade de sangue ingerida pelos barbeiros, a técnica de Silva (1991) é mais adequada. 66 REVISTA DE PATOLOGIA TROPICAL

SUARY Comparativo study on two artificial xenodiagnosis techniques in chronic chagasic patients Thirty-three artificial xenodiagnosis were carried out in patients with chronic Chagas disease with two different techniques. One technique was proposed by Lima & Rey (1991) and the other by Silva (1991). In this study 3rd instar Panstrongylus megistus, Rhodnius neglectus and Triatoma infestans nymphs were used. Six cases were positive, 2 (6,06%) by Lima & Rey (1991) technique and 4 (12,12%) by Silva (1991) technique. The age group above 55 years was the one that presented a larger number of positive cases. When Silva (1991) technique was used bugs sucked a larger amount of blood. P. megistus was the species that ingested a larger amount of blood. KEYWORDS: Trypanosoma cruzi. Panstrongylus megistus. Triatoma infestans. Rhodnius neglectus. Artificial xenodiagnosis. REERÊCIAS 1. Campos R, Amato eto V, atsubara L, Bailloti AÃ, Pinto PLS. Estudo sobre o xenodiagnóstico "in vitro". Escolha de anticoagulante e de membrana. Revista do Hospital de Clínicas da aculdade de edicina de SãoPau!o,43:W\-\Q3, 1988. 2. Cedillos RA, Torrealba JW, Tonn RJ, osca W,Ortegon A. EL xenodiagnóstico artificial em Ia enfermedad de Chagas. Boletin de Ia Oficina Sanitária Panamerícana, 93: 240-249, 1982. 3. Cerisola JÁ, Rohwedder R, Segura EL, Del Prado CE, Alvarez, artini GJW. El xenodiagnóstico. Secretaria de Estado de Ia Salud Publica, 1974. 4. Isac E. Influência da heparina e do citrato de sódio no xenodiagnóstico artificial. Rev Pai Trop 23:121-143, 1994. 5. ussenzweig V, Sonntag R. Xenodiagnóstico artificial. ovo processo. Primeiros resultados positivos. Revista Paulista de edicina 40:69-71, 1952. 6. Perlowagora-Szumlewicz A, uller CA- Studies in search of a suitable experimental insect model for xenodiagnosis of hosts with Chagas' disease. l- Comparative xenodiagnosis with nine triatomine species of animais with acute infections by Trypanosoma cruzi. em Imí Osvaldo Cruz 77:37-53, 1982. 7. Perlowagora-Szumlewicz A, uller CA, Studies in search of a suitable experimental insect model for xenodiagnosis of hosts with Chagas' disease. 2- Attempts to upgrade the reliability and efficacy of xenodiagnosis in chronic Chagas' disease. em Inst Osvaldo Cruz 52:259-272, 1987. 8. Pereira JB, Zauza PL, Junqueira ACV, erreira C. Xenodiagnóstico iia doença de Chagas crónica: a positívídade das ninfas e a quantidade de sangue ingerido. Resultados preliminares. Rev Soe Brásed Trop 28(supll):\, 1995. 9. Pietrokovsky S, Bottazzi V, Schweigmam, Haedo A, Wisnivesky-CoIIi C. Comparison of the blood meai size among Triatoma infestans, T. guasauana and T. sórdida (Hemiptera: Reduviidae) of Argentina under laboratory conditions. em Inst Oswaldo Cruz 5^:241-242, 1996. Vol. 30 (1): 61-68. jan.-jun. 2001 67

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