LICENÇA MATERNIDADE PARA CASAIS HOMOAFETIVOS: A concessão do direito a licença maternidade para casais homo afetivos



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Transcrição:

LICENÇA MATERNIDADE PARA CASAIS HOMOAFETIVOS: A concessão do direito a licença maternidade para casais homo afetivos Aline Duarte Andrade 1 Maraluce Maria Custódio 2 Banca examinadora 3 RESUMO: A licença maternidade para casal homoafetivo é novo no direito brasileiro, o que se quer com o presente trabalho é contribuir para a discussão do tema e a possível isonomia de tratamento. PALAVRAS-CHAVE: Licença maternidade, Família homoafetiva, Adoção. SUMÁRIO: 1 Introdução; 2 Princípios norteadores do direito da família; 2.1 Tipos de família/ Família homo afetiva; 3 Da licença maternidade no direito do trabalho; 4 Natureza jurídica da licença maternidade; 5 Da licença maternidade como direito familiar; 5.1 Extensão à mãe adotante; 5.2 Da Possibilidade de Extensão a Família Homoafetiva; 6 Considerações Finais 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objetivo a discussão acerca do direito a licença maternidade. Quer-se discutir a natureza jurídica deste direito e sua extensão, uma vez que na atual conjectura da família moderna, e em julgado do STF, conforme resolução n. 175, de 14 de maio de 2013, aprovada durante a 169ª Sessão Plenária do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), admite-se o casamento de pessoas do mesmo sexo. Seguindo preceito constitucional, especificamente no Art. 5º inciso I da CF/88, quanto ao princípio da isonomia ou igualdade dos casais homoafetivo em relação aos casais heterossexuais terem o direito à licença maternidade quando é feita a adoção. Assim, se este tem direito a receber licença maternidade, para que se possa haver melhor convívio entre a criança adotada e o casal adotante, por que aquele não teria? Acerca da igualdade ou do tratamento isonômico importante se faz trazer a baila o ensinamento do mestre Alexandre de Moraes (2010, p. 36): Todos os cidadãos têm o direito tratamento idêntico pela lei, em consonância com os critérios albergados pelo ordenamento jurídico. Dessa forma, o que se veda são as diferenciações arbitrárias, as discriminações absurdas, pois, o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida em que se desigualam, é exigência tradicional do próprio conceito de justiça, pois o que realmente se protege são certas finalidades, somente se tendo por lesado o princípio constitucional quando o elemento discriminador não se encontra a serviço de uma finalidade acolhida pelo direito. O tema ganha grande repercussão e força para ser discutido após a decisão n. 175 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em obrigar os cartórios a celebrarem casamento entre pessoas do mesmo sexo, assim, com a possibilidade da celebração de casamento, vários casais, homoafetivo, ajuizaram ação com a intenção de verem valer os seus direitos. Assim, será utilizado o método dedutivo, dedução lógica para asseverar a igualdade material entre estes e aqueles. Neste diapasão, serão apresentados argumentos que sustentam a ideia de que a Licença Maternidade ser de natureza do direito de família e de interesse social com repercussão direta no direito do Trabalho, quanto a proteção do trabalhador mulher ter seu emprego garantido e ter seu convívio com o seu filho. Assim, para casais homoafetivo, aqui no presente artigo, especificado aos casais formado por duas pessoas do sexo masculino, se quer estender o direito de licença maternidade a estes casais em casos de adoção. Principalmente, demonstrar que o direito a licença maternidade tem como o maior interessado a criança, sendo ela a principal beneficiária com este direito. E demostrar também, que em segundo plano, a sociedade em geral também sera beneficiada, vez que pelo simples fato de que acreditamos que a base da sociedade é uma boa formação de suas crianças. 2 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO DA FAMÍLIA Para o presente trabalho é fundamental entender os princípios do direito de família, pois serão eles que irão nortear o nosso trabalho, juntamente é claro com os princípios constitucionais, tanto estes como aqueles, basilares para a nossa compreensão, assim, começamos com os dizeres de grandes mestres do direito, Bevilácqua (1937, p.6) definiu com maestria: Direito de família é o complexo das normas, que regulam a celebração do casamento, sua validade e os efeitos, que dele resultam, as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, a dissolução desta, as relações entre pais e filhos, o vínculo de parentesco e os institutos complementares da tutela e da curatela. Melhor asseverado por Sílvio de Salvo Venosa, em Direito de Família IV( 2013, p.9), em reformulação ao dito conceito: Faltou ao mestre, na época, referir-se às uniões sem casamento que imitam e representam um vasto campo jurídico e sociológico.[...] é um fenômeno fundado em dados biológicos, psicológicos e sociológicos regulados pelo direito Sabendo da peculiaridade do direito de família, sendo este um direito privado, entretanto regrado pelo direito público, em que o Estado tenta manter, conforme as características da sociedade, esta célula base que o sustenta. Dito isso, entende-se que todas as normas ou princípios que verse sobre a família e possibilidade de sua convivência, será sempre de extremo interesse social. 217

O Direito de família vem elencado no Código Civil, entretanto, ele não especifica ou define o que seja. Isto ocorre por ser o conceito de família, social e antropológico, muda conforme o tempo, não existindo assim um tipo predeterminado. Desta forma, por entender o seu aspecto totalmente mutável, é que se deve considerar o seu sentido mais amplo, sendo desta feita célula base da sociedade formada por duas ou mais pessoas que tenham parentesco sanguíneo ou por afetividade e que tenham propósito de cooperação mútua. Neste diapasão, é importante neste ponto trazer a baila o princípio fomentador do direito de família, o Princípio do livre desenvolvimento da personalidade, como breve relato descrito pela autora Renata Barbosa Almeida (2010, p. 46-47): a pessoa não é um ser, mas um torna-se. Não é posta, mas constantemente construída. A existência humana consiste numa busca incessante, diante de sua incompletude. Volta para um horizonte qualquer, a pessoa humana se desenvolve. Apreende fatores sociais identifica necessidades e busca satisfazê-las. A partir desse procedimento forma e conforma sua individualidade. Considerado a pedra angular do direito de família, entende-se que todas as pessoas são experiências únicas, irrepetíveis. Temos que respeitar a peculiaridade de cada um. Reconhecer a sua liberdade. e garantir a sua grande variedade de formação, e o direito de sua concretização. Neste sentido, não existe, e nunca vai existir, uma forma ideal de família ou um único tipo de família, visto que as pessoas diferem-se uma das outras, nunca teremos um único modo de se compreender o que é uma família. Outro princípio de importante relevância para o presente estudo é o Princípio do melhor interesse da Criança disposto no artigo 227 da Constituição federal de 88, nos seus dizeres: é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão Assim, é de vital importância que se preserve o melhor interesse da criança, que aqui é representado pelo convívio desta com os seus pais, que lhe seja agraciada com o direito da licença maternidade a um de seus pais, para que se possam estreitar as relações. Seguindo os princípios do direito da família e os princípios Constitucionais, entende-se perfeitamente a possibilidade de adoção por casal homoafetivo, este que será melhor debatido em tópico específico, entretanto, importante salientar que considerando o princípio do livre desenvolvimento da personalidade e do melhor interesse da criança, vez que é melhor o convívio em um lar com afeto a um orfanato ou casa de abrigo, tem-se a possibilidade de adoção, conforme recente julgado do Tribunal de Justiça de Mina Gerais: Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DESTITUIÇÃO DE PODER FAMILIAR. ABANDONO DA CRIANÇA PELA MÃE BIOLÓGI- CA. ADOÇÃO PORCASAL DO MESMO SEXO QUE VIVE EM UNIÃO ESTÁVEL. MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA. RE- GISTRO DE NASCIMENTO. RECURSO CONHECIDO E PRO- VIDO. I - A destituição do poder familiar é medida extrema, só devendo ser concretizada se comprovada a impossibilidade de permanência do menor com os pais. II - Sempre que se tratar de interesse relativo às crianças e adolescentes, o magistrado deve se ater ao interesse do menor, considerando, para tanto, primordialmente, o seu bem estar. III - O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, reconheceu a existência de entidade familiar quando duas pessoas do mesmo sexo se unem, para constituição de uma família. IV - A vedação à discriminação impede qualquer interpretação proibitiva de que o casal homoafetivo, que vive em união estável, adote uma criança. V - Demonstrado nos autos que a genitora, com histórico de conduta agressiva e envolvimento com prostituição, abandonou a menor entregando-a aos cuidados das requerentes, e que a convivência com o casal homoafetivo atende, de forma inequívoca, o melhor interesse da criança, a destituição do poder familiar é medida que se impõe, nos termos do artigo 1.638, II e III, do Código Civil. VI - O pedido de adoção deve ser deferido em nome de ambas as autoras, sob pena de prejuízos à menor de ordem material (direito de herança, alimentos, dentre outros). (TJMG, Apelação cívle nº 1.0470.08.047254-6/001, Rel Des. Bitencourt Marcondes, 8ª câmara Cível, pub. 13/02/2012). Desta feita, é notável que ao priorizar o interesse do menor na adoção, será necessário a formação de vínculo afetivo para que o mesmo tenha em seu escopo familiar a segurança de um lar, bem como, a garantia do seu bem estar. 2.1 Tipos De Família/Família Homoafetiva Como já conceituado, Família é um grande gênero que pode ser preenchido por várias espécies, começamos a chegar ao ponto cerne do presente trabalho, a família constituída por pessoas do mesmo sexo, todavia, antes de adentrarmos a discussão, faz necessária a demonstração doutrinária dos tipos de famílias possíveis aceitas pela doutrina: a) Pelo Casamento: por muito tempo reinou a ideia de que a família só poderia ser iniciada pelo casamento. Assim a família começa pelo casamento. b) Pela União Estável: instituída pelo art. 266, 3º da CF, quando não há a celebração formal do casamento, entretanto, tem-se a convivência e o intuito de prosperar juntos como definição. c) Família Monoparental: instituída pelo artigo. 226, 4º da constituição federal, é aquela entidade familiar formada por um dos pais e seu descendente. d) Família Recomposta: Aqui tem-se a união de um grupo monoparental com outro indivíduo que venha a completar a falta de um dos genitores. e) Família Homoafetiva: Não é uma novidade social casal homossexual, mas sempre é um assunto que traz grande repercussão quando de sua discussão. Por tudo que foi apresentado até agora, outro sentido não poderia dar, senão o de FAMÍLIA para a união de pessoas do mesmo sexo, uma vez que estas preenchem todos os requisitos que uma família deveria preencher (a união entre duas pessoas e a intenção de prosperarem juntos). Assim, não cabe ao Direito dificultar o livre desenvolvimento humano, restringir os tipos de família, conforme nos dizeres do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Brito (RE 397.762-8/BA) : 218

[...]ao Direito não é dado sentir ciúmes pela parte supostamente traída, sabido que esse órgão chamado coração é terra que ninguém nunca pisou. Ele, coração humano, a se integrar num contesto empírico da mais estranha privacidade, perante o qual o Ordenamento jurídico somente pode atuar como instância protetiva. Não censora ou por qualquer modo embaraçante. Frente ao principio da isonomia trazido na Constituição federal de 88 em seu Art. 5º, não poderia, de forma alguma, dar tratamento diferenciado a família homoafetiva, senão, para equiparar os tipos de família. Colocando em prática o tão repetido Tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida de suas desigualdades. Isto posto que o direito de Isonomia, aqui invocado, quer em relação da equiparação entre a família formada por casal de sexo diferente com a família formada por casais de mesmo sexo. Uma vez que, como já salientado, a constituição elenca a igualdade entre homens e mulheres, não só formalmente, mas como materialmente. Por seguinte, apesar da diferença uma família, seja ela como for a sua formação, deverá receber toda a proteção do Estado, merecendo o mesmo tratamento como qualquer outra. 3 DA LICENÇA MATERNIDADE NO DIREITO DO TRABALHO A licença maternidade tem a sua primeira referência, conforme já salientado, na constituição federal, entretanto, conforme sua repercussão prática é no direito do trabalho, este direito é repetido em seu artigo 392 da CLT. Art. 392. A empregada gestante tem direito à licença-maternidade de 120 (cento e vinte) dias, sem prejuízo do emprego e do salário. Em síntese este direito no direito trabalho consiste na proteção da mulher gestante, e para isso ela ganha um período de tempo (120 dias) para poder recuperar-se do parto e conviver com o seu filho, sem prejuízo na percepção do seu salário, e mais do que isso, ganha estabilidade no emprego durante a gravidez e até o final dos 120 dias a ela reservado. (Artigo 10º, II, alínea b da ADCT) e posteriormente conforme decreto Nº 7.052, de 23 de dezembro de 2009, passando a ser de 180 dias. Como entendimento alargado de que tal direito não pertence somente à mãe gestante em artigo seguinte, da própria CLT, 392-A, vem ampliando para casos de adoção. Art. 392-A. À empregada que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança será concedida licença-maternidade nos termos do art. 392 Neste caminho, o direito a licença maternidade com a implicações diretas no direito do trabalho caminha no sentido de proteção à integração da família, não somente entendendo como único caso ensejador ao pretenso direito ao fator debilitante biológico da gravidez, e sim a IMPORTÂNCIA do convívio familiar. 4 NATUREZA JURÍDICA DA LICENÇA MATERNIDADE O direito a licença maternidade tem como natureza a proteção do convívio familiar, de tamanha importância que vem elencando no Art. 7º inciso XVIII da Constituição Federal de 1988. XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias; (alterado para 180 dias em 2010 no Brasil). Este inciso que deve ser interpretado de forma mais abrangente, não protegendo a mulher e o nascituro durante a gestação, mas também após o nascimento, período em que a mulher deverá ter um tempo de convívio com o seu filho, com base no já aludido artigo 227 da CF e principalmente no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069 de 1990), que traz em seu artigo 4º o principio do melhor interesse do menor. A função primordial da licença maternidade é a da convivência da criança com os pais, para que possa receber todo afeto que é importante de uma criança receber nos primeiros dias de vida. Importante também para os pais, que anseiam compartilhar da presença daquele novo ser em suas vidas. Destarte, outra natureza não se poderia dar ao direito a licença maternidade senão o de família, para que esta possa crescer saudável. Uma vez que, conforme a CF/88, é a célula base de toda a sociedade, necessitando de toda proteção, o que não deva ser confundida com o engessamento de forma, conceitos frios do que seja família. Seguindo esta lógica, de que a licença maternidade tem como o principal interessado a CRIANÇA, entende-se que tal direito não é um direito que compõe somente a esfera do direito trabalhista, mas deverá ter implicação direta neste. Sendo como um direito da família, extensível a qualquer membro desta. A licença maternidade não é um direito que pertence só a mãe, mas a família como um todo. É de interesse social que os pais tenham um período mínimo e ininterrupto de convivência. Para que possam, da melhor maneira, criar a sua prole. O interesse social aqui aludido, no caso de adoção, diz respeito à qualidade de educação oferecida para as crianças no início de suas vidas, acreditando que é de vital importância que se estabeleça vinculo afetivo entre a criança e o casal adotante, único modo de que a criança possa crescer de forma saudável. Assim, esta tendo uma formação saudável também se tornará um adulto saudável, que integra rá a sociedade. 5 DA LICENÇA MATERNIDADE COMO DIREITO FAMILIAR Em interpretação lógica e sistemática de tudo que foi apresentado até o momento, outro sentido não poderia dar ao direito à licença maternidade do que um direito que assiste a família, mais especificamente, um direito da criança em poder ter um período de convivência com os seus pais, com a sua mãe. Outrossim, atende aos princípios elencados no ECA em seu artigo 4º quanto ao melhor interesse do menor, vez que sempre será melhor para a criança e o adolescente o convívio com seus pais, biológicos ou adotivos, para a sua criação, formação quanto indivíduo na sociedade. Deve-se levar em consideração o fator da família ser a célula base da sociedade, como já salientado à exaustão, e que a educação da criança é de suma importância para qualquer estado que almeja evoluir, tanto economicamente quanto socialmente. Assim, este é um interesse social que merece extrema cautela quando analisado. Também se torna relevante, o fato de que é de extrema importância os primeiros meses de convivência da mãe com o seu filho, tanto para a mãe quanto para a criança (ou Adotante e Adotado). Este fator interfere diretamente na criação da criança, vez que com o aparecimento de uma criança a rotina da família irá mudar bruscamente, e neste sentido, é preciso de tempo para adaptação. Por fim, como a própria Constituição diz, em seu artigo 227, que o instituto da família deva ser preservado, e que meios devam ser oferecidos para a evolução deste, corrobora para o entendimento da licença maternidade ser um direito da família. Quer-se então, unir os laços afetivos e proporcionar que a família seja uma instituição forte dentro do estado, colocar em prática o que já é estipulada pelo formalismo da Constituição, a igualdade material não somente formal. 219

5.1 Extensão À Mãe Adotante Conforme ensina Orlando Gomes (2002, p. 369), a adoção é um ato jurídico que é estabelecido, independentemente do fato natural da procriação sendo, portanto, uma ficção legal que permite a duas pessoas um laço de parentesco do primeiro grau na linha reta criando laços familiares perpétuos. O direito de adoção vem disciplinado no Código Civil nos artigos 1.618 a 1.629, e em lei especial, quando o adotado for criança ou adolescente o ECA em seus artigos 39 a 52-D. Que trazem seus requisitos, quais os mínimos a saber é a idade mínima para o adotante de 18 anos, se solteiro, para casal é necessário a comprovação do casamento ou da união estável e diferença mínima de 16 anos entre o adotante e o adotado, sem se esquecer que será precedido período mínimo de convivência antes da sentença que institua a adoção. Assim, possibilitando a adoção, o casal adotante fará jus à licença maternidade conforme expressa recomendação legal da lei 10.421 de 2002: Art. 2o A Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, passa a vigorar acrescida do seguinte dispositivo: Art. 392-A. À empregada que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança será concedida licença-maternidade nos termos do art. 392, observado o disposto no seu 5o. 1o No caso de adoção ou guarda judicial de criança até 1 (um) ano de idade, o período de licença será de 120 (cento e vinte) dias. 2o No caso de adoção ou guarda judicial de criança a partir de 1 (um) ano até 4 (quatro) anos de idade, o período de licença será de 60 (sessenta) dias. 3o No caso de adoção ou guarda judicial de criança a partir de 4 (quatro) anos até 8 (oito) anos de idade, o período de licença será de 30 (trinta) dias. 4o A licença-maternidade só será concedida mediante apresentação do termo judicial de guarda à adotante ou guardiã. E em 2013 a presente lei foi retificada pela lei 12.873 em seu Artigo 6º: A Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, passa a vigorar com as seguintes alterações: Art. 392-A. À empregada que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança será concedida licença-maternidade nos termos do art. 392; 5o A adoção ou guarda judicial conjunta ensejará a concessão de licença-maternidade a apenas um dos adotantes ou guardiães empregado ou empregada. (NR) Art. 392-B. Em caso de morte da genitora, é assegurado ao cônjuge ou companheiro empregado o gozo de licença por todo o período da licença-maternidade ou pelo tempo restante a que teria direito a mãe, exceto no caso de falecimento do filho ou de seu abandono. Art. 392-C. Aplica-se, no que couber, o disposto no art. 392-A e 392-B ao empregado que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção. Importante passo para a sociedade em geral foi a promulgação desta lei, pois amplia a extensão da abrangência do direito da licença maternidade. Assim, se antes era um direito a gestante, hoje é um direito da mãe adotante e da criança. No início da extensão de tal direito, quando da promulgação da lei 10.421 de 2002, era escalonado o tempo de licença maternidade de acordo com a idade da criança adotada, hoje isto não é mais aceito, de acordo com a lei 12.873 de 2013, sendo uma criança, a família faz jus aos 180 dias de licença. Este tempo se torna extremamente relevante quando se pesa o caráter social da adoção, vez que a criança acaba de chegar ao novo lar, com certo grau de consciência, sem conhecer estas novas pessoas, vez que poderá estar com medo e desconfiada, assim, este tempo se torna vital para que possam se estreitar os laços entre a criança e a família. Novamente, o que se quer, é preservar a relação da criança com a sua família, construir uma sociedade em que os valores familiares do afeto e do amor, sejam preservados, e principalmente o interesse do menor, pois este é o maior interessado na concessão da licença maternidade. 5.2 Da Possibilidade De Extensão A Família Homoafetiva Após argumentação que o direito a licença maternidade é um direito da família, em que ao receber uma criança, seja ela o meio qual for, tem o direito de terem um tempo de convívio para estreitamento de laços, principalmente no caso da Adoção. E fechando, com o princípio da isonomia, já que a mãe a adotante e o cônjuge, na falta do outro, pode pedir a licença maternidade, seria inconcebível um dos companheiros de um casal homo afetivo não pudesse também receber. O que deve-se analisar aqui é o contexto em que vivemos, a importância do convívio da criança com o casal que o tenha adotado. Aqui não se discute a validade da adoção por casal homo afetivo, vez que esta discussão esta ultrapassada, e vencida, sendo aceita, apesar de certa resistência. Repisa-se no caráter de extrema importância da convivência da criança com o casal adotante, para que seja criado laços familiares entre eles. Por fim, compreendendo o direito a licença maternidade como um direito da família, e principalmente da criança em ter o convívio com a sua família, considerando o fato de tal direito ser extensivo a mãe adotante outra conclusão não se poderia ter de que tal direito deverá ser estendido ao casal homo afetivo. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Antes de qualquer análise apressada sobre o presente instituto, é necessário considerar a sua importância social, sua relevância para a formação do Estado e manutenção de sua força. É importante, quando do presente estudo, levar em consideração a criança que é o principal interessado na concessão de tal direito, não podemos levar em consideração considerações pessoais acerca do que seja uma família. Por entender a importância de uma boa relação familiar entre a criança e os pais adotivos, considerando a extrema dificuldade que esta criança irá enfrentar pelo fato de estar adentrando em novo meio familiar, e pelas peculiaridades que o circundam, é o que faz imperiosa a concessão do direito da licença familiar a um dos pais, quando do casal homoafetivo, para o estreitamento de relação entre estes. Apesar de ser facilmente notado os efeitos que estes direitos tem sobre a ceara trabalhista, não se deve esquecer que o principal efeito, que poderá repercutir na sociedade como um todo, tem-se na família. Este pequeno início de convivência de 120 dias, que parecem poucos, podem causar grandes diferença na vida das pessoas envolvidas. Justamente por este fato, fica fácil o entendimento de que o direito a licença maternidade é um direito de família, e, por conseguinte, extensivo aos casais homo afetivos do mesmo jeito que é extensivo à mãe adotante. Por fim, em respeito a todos os tipos de família, na defesa de uma sociedade e de um Estado mais justo, é que se conclui pela extensão de tal direito a casais homo afetivos. 220

REFERÊNCIAS ALMEIDA, Renata de. Direito civil: Famílias/ Renata Barbosa de Almeida, Walsir Edson Rodrigues Júnior. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Organização de Alexandre de Moraes. 16.ed. São Paulo: Atlas, 2000. BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente: Lei federal nº 8069, de 13 de julho de 1990. Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 2002. MORAES, Alexandre de, Direito Constitucional 26. Ed. São Paulo : Atlas, 2010. VENOSA, Sílvio Salvo De. Direito civil: direito de família, 13. Ed: Atlas. 2013. NOTAS DE FIM 1 Graduanda da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva 2 Professor da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva. 3 Bernardo Gomes Barbosa Nogueira 221