PARECER Nº, DE 2009 Da COMISSÃO DE ASSUNTOS SOCIAIS, em decisão terminativa, sobre o Projeto de Lei do Senado nº 157, de 2002, do Senador Carlos Bezerra, que acrescenta art. 392-B à Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1943, e altera o art. 210 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, para dispor sobre a licençamaternidade das servidoras mães adotantes ou que tenham obtido guarda judicial de crianças, e a licença paternidade dos trabalhadores celetistas e dá outras providências, e sobre o Projeto de Lei do Senado nº 86, de 2007, do Senador Paulo Paim, que altera o art. 207 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, que dispõe sobre o regime jurídico único dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais, para conceder à servidora gestante licença por 180 (cento e oitenta) dias consecutivos. RELATOR: Senador CRISTOVAM BUARQUE I RELATÓRIO O Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 157, de 2002, de autoria do eminente Senador CARLOS BEZERRA, acrescenta art. 392-B à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e altera o art. 210 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, para dispor sobre a licença-maternidade das servidoras mães adotantes ou que tenham obtido guarda judicial de crianças e sobre a licença-paternidade dos trabalhadores celetistas. Trata-se de proposição legislativa cujo objetivo é acrescentar à CLT o seguinte artigo:
2 Art. 392-B. O prazo de licença-paternidade, nos casos em que o empregado, inclusive o doméstico, adotar ou obtiver a guarda judicial de criança de até 5 (cinco) anos de idade, será de cinco dias úteis. Propõe-se ainda, conforme consignado no art. 2º do referido projeto de lei, a alteração do art. 210 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, que dispõe sobre o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais, que passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 210. À servidora pública que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança será concedida licença remunerada pelo período de 120 (cento e vinte) dias, se a criança tiver até 1 (um) ano de idade, de 60 (sessenta) dias, se a criança tiver entre 1 (um) e 4 (quatro) anos de idade, e de 30 (trinta) dias, se a criança tiver de 4 (quatro) a 8 (oito) anos de idade. O impacto social desta medida legislativa é defendido com brilhantismo pelo ilustre autor, que justifica a necessidade de sua aprovação com os seguintes argumentos, verbis: A Lei nº 10.421, de 2002, estendeu às mães adotivas o direito à licença-maternidade e ao salário-maternidade. Houve, entretanto, alguns equívocos. Não foram incluídos os trabalhadores do sexo masculino que adotam crianças e as servidoras públicas continuam sendo submetidas a normas diferentes. Elas fazem jus a um período menor de licença (no máximo, noventa dias). Nossa iniciativa pretende corrigir essas injustiças. O instituto da adoção representa uma fórmula de reduzir as injustiças sociais. A má distribuição da riqueza presente em nosso país é, por demais, visível. Ao decidir adotar uma criança, pessoas de generosidade indiscutível contribuem para diminuir as diferenças sociais e realizam um anseio pessoal. Iniciativas dessa natureza precisam ser apoiadas pelo Estado e pela sociedade civil. E a melhor forma de colaborar para o sucesso da adoção é propiciando aos adotantes condições de adaptação à nova situação familiar. O Projeto de Lei do Senado nº 86, de 2007, que propõe a alteração do art. 207 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 a qual dispõe sobre o regime jurídico único dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais, para conceder à servidora gestante licença por 180 dias consecutivos, é de autoria do Senador PAULO
3 PAIM e teve sua tramitação conjunta com a do PLS nº 157, de 2002, o que foi determinado pela aprovação, em 14 de outubro de 2008, do Requerimento nº 1.205, de 2008, de autoria do Senador MARCO MACIEL. Ambas as proposições já foram objeto de análise no âmbito da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), que aprovou o parecer do eminente Senador ALOIZIO MERCADANTE, que concluiu pela inconstitucionalidade do Projeto de Lei do Senado nº 86, de 2007, por vício de iniciativa, ex vi do disposto no art. 61, 1º, inciso II, alínea c, da Constituição Federal, o que resultou também na declaração de inconstitucionalidade, pelo mesmo motivo, do disposto no art. 2º do Projeto de Lei do Senado nº 157, de 2002. data. Não foram apresentadas emendas às proposições até a presente II ANÁLISE Nos termos do art. 90, inciso I, combinado com o art. 100, inciso I, do Regimento Interno do Senado Federal (RISF), compete a esta Comissão de Assuntos Sociais (CAS), em caráter terminativo, opinar sobre o mérito dos presentes projetos de lei. De resto, à luz dos demais dispositivos do RISF, os PLSs sob exame não apresentam vício algum de regimentalidade, tampouco de técnica legislativa. Os critérios norteadores da juridicidade são observados pelo art. 1º do PLS nº 157, de 2002, a saber: a) adequação do meio eleito ao alcance dos objetivos vislumbrados; b) generalidade normativa, que exige sejam destinatários do comando legal um conjunto de casos submetidos a um comportamento normativo comum; c) inovação ou originalidade da matéria, em face das normas jurídicas em vigor; d) coercitividade potencial; e e) compatibilidade com os princípios diretores do sistema de direito pátrio ou com os princípios especiais de cada ramo particular da ciência jurídica. Quanto à constitucionalidade das proposições, como concordamos com a descrita apreciação da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania desta Casa acerca da inconstitucionalidade formal do PLS nº 86, de 2007, e do art. 2º do PLS nº 157, de 2002, remanesce para análise no âmbito desta Comissão apenas aspectos concernentes ao disposto no art. 1º do PLS nº 157, de 2002, aprovado pela CCJ.
4 A licença-paternidade insere-se no campo do Direito do Trabalho, conforme disposto no art. 7º, inciso XIX, da Constituição. Normas com esse conteúdo estão entre aquelas de competência legislativa privativa da União (art. 22, I, da Constituição Federal CF). Em termos de iniciativa, a proposição atende ao disposto no art. 61 da CF. Assim, cabe ao Congresso Nacional a competência para legislar sobre o tema, na forma do art. 48 da mesma Carta. O Senado Federal já aprovou por unanimidade, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 31, de 2000, de autoria da eminente Senadora MARIA DO CARMO ALVES, que acrescenta os incisos XVIII-A e XIX-A ao artigo 7º da Constituição da República, para conceder licençamaternidade e licença-paternidade a mães e pais adotivos. Infelizmente, até a presente data, a Câmara dos Deputados ainda não se manifestou conclusivamente sobre a matéria. O artigo 7º, inciso XVIII, da Lei Maior estabelece a licença à gestante e tem por objetivo proteger o trabalho da mulher e defender a instituição familiar e a maternidade. Por sua vez, o inciso XIX do artigo supracitado, combinado com o art. 10, 1º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, fixou em cinco dias consecutivos a licençapaternidade do trabalhador. Não foram amparados as mães e os pais adotivos. A Lei nº 10.421, de 15 de abril de 2002, trouxe uma importante extensão à licençamaternidade, concedendo-a também às mães adotivas. Foi um passo importante, mas eram necessários mais avanços. A norma acima, entretanto, não ampliou o benefício aos pais adotivos. Se a Carta Magna garante aos adotados os mesmos direitos dos filhos biológicos, também deverá assegurar-lhes o direito à presença da mãe e do pai adotivos. Era preciso uma emenda à Constituição, e o Senado Federal cumpriu o seu papel aprovando, por unanimidade dos seus membros, a PEC nº 31, de 2000. Entretanto, a proposição depende ainda de aprovação da Câmara dos Deputados para se incorporar à Carta Magna. A licença-paternidade é um direito dos pais adotivos, porque a responsabilidade deles não é somente a de ser o provedor e pagar as contas. O homem tem um papel preponderante na família, que é o da paternidade, do estabelecimento da relação cotidiana, da convivência, do amor e do aconchego, e é legítimo que essa dimensão seja estendida aos pais adotivos.
5 Pais são os que criam, alimentam e educam. Pai é aquele que tem relação de amor na formação de uma criança. Hoje, o papel do pai foi ampliado, e sua importância aumentada significativamente. Os pais atuais estão cada dia mais presentes no dia-a-dia do recém-nascido, não têm apenas a função de registrar a criança, mas sim de acompanhar seu desenvolvimento, e esse papel aumenta em se tratando de adoção. A licença-paternidade de cinco dias permite ao empregado mais contato com seu filho, após a adoção. O artigo 227, 6º, da Constituição Federal reza que os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Ficam, assim, banidas da legislação civil expressões como filhos legítimos, filhos naturais, filhos adulterinos e filhos incestuosos. Ora, se o texto constitucional garante direitos aos filhos adotivos, é justo que proteja também os adotantes. Impende recordar que a Lei nº 8.112, de 1990, já prevê, no seu artigo 208, o período de licença-paternidade de cinco dias consecutivos para o servidor adotante. A adoção é um ato jurídico solene. Dá origem a uma relação jurídica de parentesco civil entre adotante e adotado. É uma instituição de caráter humanitário, um ato de amor que merece todo o apoio possível. A aprovação da proposta será um estímulo para novas adoções, tão necessárias para minimizar as carências sociais e o número de menores abandonados. III VOTO Em face do exposto, opinamos pela aprovação do Projeto de Lei do Senado nº 157, de 2002, bem como da emenda supressiva originária da CCJ, e pela rejeição do Projeto de Lei do Senado nº 86, de 2007, em face de sua inconstitucionalidade.
6 Sala da Comissão,, Presidente, Relator