PALAVRAS-CHAVE: Esgoto sanitário, lodos ativados em batelada, MBBR, Biobob, biomassa fixa.



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Transcrição:

ESTUDO DO EFEITO DA ADIÇÃO DE MATERIAL SUPORTE PARA ADESÃO CELUAR EM REATOR DE LODOS ATIVADOS TIPO CASS (CYCLIC ACTIVATED SLUDGE SYSTEM) TRATANDO ESGOTO SANITÁRIO MUNICIPAL Moacir Messias de Araujo Junior (1) Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP). Doutor em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP). Diretor Técnico da Bio Proj Tecnologia Ambiental. André Lermontov Engenheiro Químico pela Escola de Química da UFRJ. Mestre em Processos Químicos e Bioquímicos da Escola de Química da UFRJ. Doutor em Processos Químicos e Bioquímicos da Escola de Química da UFRJ. Gerente de Tecnologia do Grupo Águas do Brasil S/A com mais de 15 anos de experiência em saneamento ambiental, tratamento de água e efluentes. Ricardo Massetto Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP). Gerente de Operação da Sanej. Philippe Lopes da Silva Araujo Engenheiro Civil pela Faculdade de Engenharia de Bauru (FEB/UNESP). Coordenador Operacional de Esgotos da Águas de Niterói. Alessandro Daré Oliva Bacharel em Química pela Universidade do Sagrado Coração (USC-Bauru/SP). Supervisor Técnico da Bio Proj Tecnologia Ambiental. Endereço (1) : Rua Major José Inácio, 2920 - Vila Nery - São Carlos - SP - CEP: 13560-161 - Brasil - Tel: +55 (16) 3416-7110 - Fax: +55 (16) 3416-7110 - e-mail: moacir@bioproj.com.br RESUMO A maior parte das estações de tratamento de esgoto sanitário em operação no Brasil possuem problemas com o gerenciamento e disposição adequada do lodo biológico gerado, refletindo diretamente nos custos operacionais da ETE. Neste sentido, alternativas tecnológicas de sistemas de tratamento que possam aumentar a capacidade de tratamento das ETE's instaladas, juntamente com a redução da geração de lodo biológico são de extrema relevância para o setor. Uma das alternativas para a redução da produção de lodo é o aumento da concentração inicial de biomassa no sistema, fazendo com que o substrato seja fator limitante nos processos de produção e manutenção celular. Essa condição pode ser alcançada por meio de sistemas de células imobilizadas, nos quais tem sido observado um crescimento regulado de biomassa. Assim, o presente trabalho apresenta o estudo em escala piloto de um sistema de lodos ativados cíclico em batelada (CASS - Cyclic Activated Sludge System) contendo material suporte para adesão de biomassa (Biobob ), operando como reator de leito móvel (MBBR - Moved Bed Bio-Reactor), visando a remoção de matéria orgânica e nitrogênio, com alta carga volumétrica aplicada e baixa geração de lodo. Com os resultados alcançados na operação da planta piloto, pode-se concluir que a adição do material suporte Biobob foi efetivo para a imobilização da biomassa presente no reator aeróbio de lodos ativados cíclico (CASS ). Os resultados mostraram que adicionando-se 8% e 20% do volume do reator aeróbio de Biobob foi possível reduzir a produção mássica de lodo em 22% e 37%, respectivamente, mantendo-se a mesma qualidade do efluente tratado (DBO < 60 mg/l e N-Amoniacal < 20 mg/l). PALAVRAS-CHAVE: Esgoto sanitário, lodos ativados em batelada, MBBR, Biobob, biomassa fixa. INTRODUÇÃO A maior parte das estações de tratamento de esgoto sanitário em operação no Brasil se deparam com dois fatores principais em sua gestão e sustentabilidade socioeconômica: 1) o gerenciamento e disposição adequada do lodo biológico gerado e 2) a necessidade de se aumentar a capacidade de tratamento para acompanhar o crescimento populacional de suas cidades. 1

Estes fatores refletem diretamente nos custos operacionais da ETE, influenciando nas decisões de implantação e gestão das mesmas. Neste sentido, alternativas tecnológicas de sistemas de tratamento que possam aumentar a capacidade de tratamento das ETE's instaladas, juntamente com a redução da geração de lodo biológico são de extrema relevância para o setor. Uma das alternativas para a redução da velocidade de crescimento celular é o aumento da concentração inicial de biomassa no sistema, fazendo com que o substrato seja fator limitante nos processos de produção e manutenção celular. Essa condição pode ser alcançada por meio de sistemas de células imobilizadas, nos quais tem sido observado um crescimento regulado de biomassa. No mesmo contexto, com a utilização de biomassa imobilizada nos reatores biológicos, pode-se aumentar consideravelmente a massa bacteriana contida nestes reatores, aumentando, consequentemente, a capacidade nominal de tratamento destes reatores. Assim, o presente trabalho apresenta o estudo em escala piloto de um sistema de lodos ativados cíclico em batelada (CASS - Cyclic Activated Sludge System) contendo material suporte para adesão de biomassa (Biobob ), operando como reator de leito móvel (MBBR - Moved Bed Bio-Reactor), visando a remoção de matéria orgânica e nitrogênio, com alta carga volumétrica aplicada e baixa geração de lodo. MATERIAL E MÉTODOS A investigação experimental foi realizada nas dependências da estação de tratamento de esgoto da cidade de Jaú-SP. A ETE é composta por um sistema de lodos ativados em batelada contendo três linhas. Cada linha possui três reatores biológicos em série, sendo eles, respectivamente: seletor anóxico (490 m³), seletor aeróbio (600 m³) e reator aeróbio (5560 m³). Cada linha faz 6 ciclos de 4 horas diariamente, sendo estas 4 horas divididas nas seguintes fases operacionais: 1ª hora: Alimentação do sistema com aeração ligada; 2ª hora: Alimentação do sistema com aeração ligada; 3ª hora: Alimentação do sistema com aeração desligada (etapa de decantação) ; 4ª hora: Retirada do sobrenadante (efluente tratado). Durante as primeiras 3 horas do ciclo, a recirculação de lodo do reator aeróbio para o seletor anóxico fica ligada, sendo desligada apenas na etapa de retirada do efluente tratado. Com o objetivo de utilizar os resultados deste trabalho para a melhoria da ETE, o piloto foi construído para reproduzir em escala reduzida a estação real, obedecendo as mesmas proporções volumétricas entre esgoto afluente e volume reacional do sistema real (volume de esgoto afluente por volume de reator por tempo, m³/m³/d). Instalação piloto Os reatores da planta piloto foram construídos em polipropileno (PP) com geometria cilíndrica, tendo volumes úteis de 2,1 m³, 2,5 m³ e 25,1 m³, respectivamente para o seletor anóxico, seletor aeróbio e reator aeróbio. A aeração no seletor e reator aeróbios foi realizada por difusores tubulares de bolha fina, sendo o ar gerado por um soprador de lóbulos rotativos de marca Kaeser modelo 21P. O fluxograma do sistema e as especificações dos principais equipamentos utilizados na planta piloto são apresentados na Figura 1. Na Figura 2 é apresentada a foto da instalação piloto nas dependências da ETE em Jaú. 2

Suportes para a imobilização da biomassa Como suporte para imobilização da biomassa utilizou-se o produto comercial Biobob, desenvolvido pela empresa Bio Proj Tecnologia Ambiental. O Biobob tem sido utilizado atualmente com sucesso em diversas plantas de tratamento de efluente industrial e sanitário, apresentando-se como um ótimo material suporte para reatores de leito móvel (MBBR ) ou leito fixo, tanto anaeróbios quanto aeróbios. A sua principal característica é possuir uma alta área superficial (270 mil m²/m³), o que lhe garante alta afinidade e eficiência na imobilização celular. O Biobob consiste em uma matriz de espuma de poliuretano envolta por uma estrutura rígida de polipropileno, especialmente desenvolvidos para este fim. A sua geometria é cilíndrica, tendo 45 mm de diâmetro e 60 mm de altura. Na Figura 3 é apresentada uma foto ilustrativa do Biobob. Figura 1: Fluxograma básico do sistema piloto utilizado no experimento. Seletor Anóxico Seletor Aeróbio Reator Aeróbio Figura 2: Foto da instalação piloto na ETE da Sanej em Jaú-SP. 3

Figura 3: Foto ilustrativa do material suporte Biobob. Esgoto Sanitário O afluente da planta piloto foi o mesmo esgoto bruto que alimentou os reatores da ETE. As características médias deste esgoto são apresentadas na Tabela 1. Tabela 1: Composição média do esgoto bruto afluente ao longo do experimento. Parâmetros Valores médios ph 7,0 DQO bruta 425 mg DQO/L DQO filtrada (1,2 m) 150 mg DQO/L NTK 30 mg N/L N-NH 4 + Sólidos totais Sólidos suspensos totais Sólidos suspensos voláteis 18 mg N-NH 4 + /L 570 mg ST/L 201 mg SST/L 153 mg SSV/L Operação da planta piloto A operação da planta piloto foi dividida em 4 etapas. Na primeira, o reator foi operado de forma semelhante ao sistema real, com 6 ciclos operacionais de 4 horas por dia (Figura 4), sem a adição de material suporte para fixação da biomassa. A vazão média afluente de esgoto foi de 9,1 m³/ciclo, totalizando 54,6 m³/dia. Para a inoculação do sistema utilizou-se o lodo proveniente da própria ETE, retirado durante a etapa de aeração do sistema e transferido in natura para os reatores da planta piloto, até que o volume dos mesmos fossem completados. Na segunda e terceira etapas foram mantidas as condições operacional da etapa anterior (operação em 6 ciclos de 4 horas por dia com vazão afluente de 9,1 m³/ciclo), contudo o reator aeróbio possuía, respectivamente, 2 m³ e 5 m³ de Biobob (equivalendo a 8% e 20% do volume do reator). Tempo por ciclo (min) Fase operacional 30 60 90 120 150 180 210 240 Alimentação Aeração Decantação Retirada Figura 4: Fases operacionais do sistema para 6 ciclos diários de 4 horas (Etapas 1, 2 e 3) Os Biobob`s foram adicionados apenas lançando-os na superfície do reator. Inicialmente, devido a grande quantidade de ar presente em seus vazios, os Biobob`s ficavam na superfície do reator (Figura 5a), contudo, 4

decorrido aproximadamente 24 horas de operação, praticamente todos os suportes já estavam incorporados ao lodo e se movimentando juntamente com a biomassa em suspensão (Figura 5b). (a) (b) Figura 5: Fotos da adição de Biobob no reator aeróbio da planta piloto. (a) reator imediatamente após a adição de Biobob ; (b) reator após 24 horas da adição de Biobob Na quarta e última etapa, manteve-se a mesma quantidade de Biobob da terceira etapa (5 m³) e aumentou-se a vazão de alimentação em 33%, passando de 54,6 m3/dia para 72,8 m³/dia. Para tanto, a vazão de alimentação por ciclo foi mantida (9,1 m³/ciclo) mas o regime operacional passou a ser de 8 ciclos de 3 horas por dia (Figura 6). Tempo por ciclo (min) Fase operacional 30 60 90 120 150 180 210 240 Alimentação Aeração Decantação Retirada Figura 6: Fases operacionais do sistema para 8 ciclos diários de 3 horas (Etapa 4) Durante a fase de alimentação do sistema, para todas as etapas operacionais, a bomba de recirculação de lodo do reator aeróbio para o seletor anóxico permanecia ligada com vazão de 1,92 m³/h, equivalendo a uma razão de recirculação (R = Qr/Q) de 63% para as etapas 1 a 3 e de 53% para a etapa 4. Em todas as etapas foram coletadas amostras diárias do afluente e efluente do sistema. As alíquotas amostrais eram coletadas por bombas peristálticas a cada ciclo de operação, tendo no final do dia amostras compostas representativas da operação naquele dia, as quais foram submetidas às seguintes análises: DQO, DQO filtrada, SST, SSV, ST, NTK, N-NO 3 -, N-NO 2 -, N-NH 4 +, ph, alcalinidade e temperatura. RESULTADOS E DISCUSSÃO A planta piloto foi operada durante 192 dias, sem interrupção, com temperatura média nos reatores de 27,1±1,2 ºC. O perfil de temperatura ao longo da operação é apresentado na Figura 7. 5

Figura 7: Temperatura do no reator aeróbio ao longo do tempo de operação. Nas Figuras 8 e 9 são apresentados, respectivamente, os gráficos temporais de carga orgânica volumétrica aplicada e de eficiência de remoção do sistema ao longo da operação. Figura 8: Carga orgânica volumétrica (COV) e vazão específica de esgoto aplicadas ao longo do tempo de operação. 6

Figura 9: Eficiência de remoção de DQO, DBO e NTK ao longo do tempo de operação. A primeira etapa de operação iniciou-se após a inoculação do sistema com o lodo aeróbio proveniente da ETE comercial da Sanej. O sistema teve partida relativamente rápida, obtendo estabilidade a partir do 10º dia de operação. A carga volumétrica média aplicada nesta etapa foi de 1,2 ± 0,2 kg DQO/m³/d, alcançando-se eficiências médias de remoção de 88 ± 2% DQO, 93 ± 1% DBO e 48 ± 8% NTK. Na Etapa 2, com a adição de 8% do volume do reator de Biobob, a carga volumétrica média aplicada foi de 1,1 ± 0,2 kg DQO/m³/d, alcançando-se eficiências médias de remoção de 86 ± 19% DQO, 96 ± 1% DBO e 41 ± 9% NTK. Para a terceira etapa, embora tenha mantido a mesma vazão afluente que as etapas anteriores, a carga aplicada foi significativamente menor. Isto ocorreu devido à alta precipitação pluviométrica no período, a que causou a diluição da concentração do esgoto afluente à ETE (Figura 10). Nesta etapa, a carga volumétrica média aplicada foi de 0,7 ± 0,2 kg DQO/m³/d, com eficiências médias de remoção de 88 ± 8% DQO, 90 ± 3% DBO e 45 ± 17% NTK. Figura 10: Concentração de DQO, DBO e NTK afluente ao longo do tempo de operação. 7

Devido ao aumento da temperatura ambiente (Figura 7) e da carga afluente aplicada (Figura 8), no início da quarta etapa houve insuficiência de oxigênio dissolvido no reator aeróbio, com concentrações abaixo de 1,0 mg O 2 /L (Figura 11), o que causou uma queda na eficiência de remoção de matéria orgânica e nitrificação (Figura 9). Contudo, com o aumento da vazão de ar aplicada ao sistema a partir do 150º dia de operação, o problema foi resolvido, obtendo-se, a partir daí, eficiências de remoção de 91 ± 6% DQO, 86 ± 5% DBO e 59 ± 10% NTK, com carga volumétrica média aplicada no período de 1,2± 0,3 kg DQO/m³/d. Figura 11: Concentração de oxigênio dissolvido nos reatores ao longo do tempo de operação. Em toda as etapas do experimento, as concentrações de DBO e N-amoniacal do efluente tratado ficaram abaixo dos valores máximos de lançamento estipulados pela legislação vigente na região de Jaú-SP (60 mg DBO/L; 20 mg N-NH 4 + /L), como pode ser observado no gráfico da Figuras12. Figura 12: Concentração de DQO, DBO e N-Amoniacal efluente ao longo do tempo de operação. Com a adição de Biobob houve uma significante queda na concentração da biomassa suspensa nos reatores biológicos, como evidenciado na Figura 13. Comparando-se as concentrações de biomassa suspensa das etapas 8

2 e 4 com a etapa 1, nas quais a carga orgânica afluente aplicada foi praticamente a mesma, observou-se um decréscimo da concentração média de sólidos suspensos voláteis no reator aeróbio a medida que se aumentou a o volume de Biobob no sistema, passando de 2954 ± 264 mg SSV/L na primeira etapa para 2328 ± 266 mg SSV/L e 1852 ± 418 mg SSV/L, respectivamente, para a segunda e quarta etapas. Figura 13: Concentração de sólidos suspensos voláteis no reator aeróbio ao longo do tempo de operação. Em todo o experimento, descartou-se durante a fase de aeração 3,6 m³ de lodo do reator aeróbio diariamente, mantendo a idade do lodo constante ao longo de toda a operação (7 dias). Assim, pôde-se calcular a massa de sólidos suspensos descartada por dia, a qual foi considerada como a massa de lodo produzida diariamente pelo sistema em regime estável de operação. A produção média de lodo para as etapas 1 a 4 foram de 10,6 ± 0,9 kg SSV/d, 8,3 ± 1,0 kg SSV/d, 5,6 ± 1,7 kg SSV/d e 6,6 ± 1,5 kg SSV/d, respectivamente. Os resultados mostraram que adicionando-se 8% e 20% do volume do reator aeróbio de Biobob foi possível reduzir a produção mássica de lodo em 22% e 37%, respectivamente, mantendo-se a mesma qualidade do efluente tratado (DBO < 60 mg/l e N-Amoniacal < 20 mg/l). Fazendo-se uma regressão polinomial de segunda ordem com os resultados (Figura 14), obtêm-se a seguinte equação com R 2 = 1: P Lodo = 7,1183 x (V Biobob ) 2-3,2895 x V Biobob + 1 Onde: P Lodo [%] : Fração de lodo produzida pelo sistema com Biobob em relação ao sistema sem Biobob V Biobob [%]: Fração do volume de Biobob adicionado no sistema em relação ao volume do reator aeróbio Como apresentado na Figura 14, considerando uma situação hipotética de aumento em 33% da carga orgânica aplicada ao sistema, nota-se que a partir da adição de 10% do volume do reator aeróbio de Biobob haverá uma diminuição da produção de lodo se comparado ao sistema sem antes do aumento da carga e sem adição de Biobob. 9

Produção de lodo 140% 130% 120% 110% 100% 90% 80% 70% 60% 50% 0% 5% 10% 15% 20% Sem aumento de carga Volume de Biobob no reator aeróbio Com aumento de 33% na carga orgânica aplicada Figura 14: Produção de lodo em função do volume de Biobob para a condição sem aumento de carga e para a condição com 33% a mais de carga orgânica aplicada. CONCLUSÃO Com os resultados alcançados na operação da planta piloto, pode-se concluir que a adição do material suporte Biobob foi efetivo para a imobilização da biomassa presente no reator aeróbio de lodos ativados cíclico (CASS ), mostrando ser uma ferramenta viável para a diminuição dos custos operacionais com disposição do lodo e para o aumento da capacidade de tratamento sem a modificação da estrutura física da ETE. Adicionando-se Biobob no sistema, a concentração de sólidos suspensos voláteis nos reatores diminui devido à adesão da biomassa suspensa no meio suporte. Os resultados mostraram que adicionando-se 8% e 20% do volume do reator aeróbio de Biobob foi possível reduzir a produção mássica de lodo em 22% e 37%, respectivamente, mantendo-se a mesma qualidade do efluente tratado (DBO < 60 mg/l e N-Amoniacal < 20 mg/l). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ARAUJO JR., M. M. & CAVALHERO, A. (2007). Operação de Reator Combinado Anóxico-Aeróbio de Leito Fixo em Escala Piloto para Remoção de Material Orgânica e Nitrogênio de Água Residuária de Indústria Produtora de Aminoácidos. Anais do II Seminário do Projeto Temático Desenvolvimento de Sistemas Combinados de Tratamento de Águas Residuárias Visando a Remoção de Poluentes e a Recuperação de Energia e de Produtos dos Ciclos de Carbono, Nitrogênio e Enxofre. p.197-205. 2. ARAUJO JR., M. M. & ZAIAT, M. (2009). An upflow fixed-bed anaerobic-aerobic reactor for removal of organic matter and nitrogen from L-lysine plant wastewater. Can. J. Civ. Eng. 36: 1085-1094. 3. METCALF & EDDY, INC. (2003). Wastewater Engineering: Treatment and Reuse. 4th edition. McGraw Hill. 10