SE EU COMPREI, ENTÃO É MEU! COISAS DO COTIDIANO E DO PRAZER SEXUAL PARA ALÉM DA HETERONORMATIVIDADE. Shay Lenís de Los Santos Rodriguez 1

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Transcrição:

SE EU COMPREI, ENTÃO É MEU! COISAS DO COTIDIANO E DO PRAZER SEXUAL PARA ALÉM DA HETERONORMATIVIDADE Shay Lenís de Los Santos Rodriguez 1 Introdução ao meu curso Na década de 1980, a arqueologia sofreu uma mudança no seu significado como ciência que estuda somente o passado, para também estudar o presente. Segundo FUNARI (2010) o próprio nome da disciplina, que havia sido sempre entendido como o conhecimento do antigo, passou a ser considerado também como o conhecimento do poder, tomando o outro sentido da palavra grega arque, poder (p.52). Arqueologia, portanto, também pode estudar as relações de poder. Como afirma WHELLER (1989), que a arqueologia não escava coisas, mas pessoas. Este trabalho não vai estudar as coisas em si, mas abranger pessoas, através do estudo das materialidades para além da heteronormatividade. Objeto de pesquisa A primeira mudança é sempre a da mente, é psicológica, nem sempre a mudança é física, não necessariamente a mudança é com procedimentos médicos ou hormonais. De todas as mudanças, a mais importante é dizer que sou o Shay. Eu digo que não nasci no corpo errado, não tenho disforia de identidade de gênero 2 com o meu corpo, ele só precisa de alguns ajustes, e um desses ajustes é o packer (prótese peniana para homens trans). 1 Acadêmico do quarto ano do curso de Bacharelado em Arqueologia da FURG - Universidade Federal do Rio Grande. Contato: sharonrodrigueezz@gmail.com 2 (GID - Gender Identity Disphoria) denominação adotada para o distúrbio de identidade de gênero a partir do DSM-V. Em essência, o quadro diagnóstico permanece o mesmo, tendo sido feita apenas uma revisão dos critérios anteriormente adotados para se diagnosticar o distúrbio de identidade de gênero em crianças, adolescentes e adultos. Para uma pessoa ser diagnosticada com disforia de gênero, ela deve apresentar uma diferença marcante entre o seu gênero expresso ou vivenciado e o gênero que lhe foi atribuído ao nascer. Essa dissonância deve ser observada por um período superior a seis meses. Em crianças, o desejo de pertencer a outro gênero deve estar presente e verbalizado. A condição deve também causar sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional, ou em outras áreas importantes de atuação da pessoa. A disforia de gênero se manifesta em uma variedade de maneiras, incluindo fortes desejos de ser tratado como membro de outro gênero, desejo de se livrar de características sexuais primárias (genitais), ou uma forte convicção de que se tem sentimentos e reações típicas do outro gênero. Fonte: www.leticialanz.blogspot.com.br

Segundo significados de dicionários, prótese não é algo ao corpo, mas substitui alguma parte existente e/ou que acrescenta e/ou causa uma melhora. Aos homens trans, as próteses penianas não necessariamente seria algo que falta ao corpo, dependendo de cada caso, seu uso pode ser de adequação, de complemento, mas nunca será de substituição. A prótese peniana para o uso de homens trans passa a ser corpo, a ter vida, nas relações sociais eu preciso dela para inteirar na sociedade para ser visto como homem, assim também como o uso de outros objetos para além da heteronormatividade. As próteses penianas para homens trans não são usadas apenas como objeto em si, mas carregam um discurso por traz, um discurso de masculinidade, um discurso imposto sobre o homem ser seu pênis ou a representação de um. O que é ser homem? Na sociedade em que vivemos para ser considerado um homem, deve-se ter um pênis, logo nada mais sensato do que homens trans, também sejam influenciados a seguir esse sistema. Mas porque homens trans tem que adquirir algo que representa um pênis? E se optarem por não adquirirem? Seriam menos homens? O que é ser homem? Segundo POLI (2007) a anatomia não basta para nos definir como isto ou aquilo, pelo fato de nos indagar durante nossa vida sobre o significado de ser homem e ser mulher. A anatomia é ineficiente. Margareth Mead em sua obra sexo e temperamento (1935), estuda três tribos da Nova Guiné, e reforça a noção de que, mais do que a biologia, é a cultura que molda o comportamento das pessoas em sociedade. Assim como para Mead o comportamento é moldado em sociedade, para LE BRETON (1953) o corpo também é uma construção social, corpo que, de fato, não é pensado somente do ponto de vista biológico, mas como uma forma moldada pela interação social. Assim como corpo é construção, porque gênero e sexo parecem como algo dado? Nos transgenerxs 3 somos a prova de que gênero não é biológico, estático, e dado ao nascer, mas 3 (Trans, Trans*, TG ou T*; inglês transgender) todo tipo de pessoa envolvida em atividades que cruzam as fronteiras socialmente aceitas no que diz respeito à conduta preconizada pelo dispositivo binário de gênero. O termo transgênero busca cobrir um amplo espectro de comportamentos considerados transgressivos à disciplina e às interdições impostas por esse dispositivo à conduta das pessoas, que vão desde a simples curiosidade de experimentar roupas/calçados/adereços próprios do outro gênero até a firme determinação de realizar mudanças físicas através do uso de hormônios e cirurgias. O termo transgênero vem sendo utilizado para classificar as pessoas que, de alguma forma, não podem ser socialmente reconhecidas nem como homem, nem como mulher, pois o seu sexo social não se enquadra em nenhuma das duas categorias disponíveis, que são masculino e feminino. Assim, o transgênero masculino é alguém cujo comportamento, revelado em suas ações,

sim um processo social de aprendizado. Para Butler, sexo é, assim como o gênero, uma construção. Segundo Butler, não existe nada que possa ser tomado como um núcleo estável do gênero, pois o gênero (e o sexo) não passa de uma ficção sustentada por uma incessante performatização do gênero (LANZ, 2017). Nós performatizamos o gênero no nosso dia a dia, nos vestimos e agimos e fazemos o gênero. Eu nasci com uma vagina, mas sou um homem. Eu não nasci no corpo errado, eu nasci na sociedade errada (LANZ, 2017). Metodologia e resultados Como o tema é sobre coisas do cotidiano e do prazer sexual para fora da heteronormatividade, vou focar bem neste quesito, mas não apenas em lojas para homens trans, também vou buscar nas lojas de sex shop. Para a elaboração desse projeto pesquisei 25 lojas de sex shop presente no Brasil. Percebi que não era necessário mencionar muitas lojas, correndo risco do meu trabalho ficar bem extenso e repetitivo, dessas 25, escolhi 7 lojas (fora as lojas que irei visitar em Rio Grande). As lojas para homens trans são cinco, que estão em atividade por todo o país e as únicas lojas brasileiras que vendem pela internet, por site, que até então tive notícia, só para não dizer que são as únicas no país. No primeiro contato, me apresentei, como sendo homem trans, o motivo da minha pesquisa, e por fim, a autorização para poder mencionar as lojas no meu trabalho. Para seguir em diante com a minha pesquisa e responder as questões que foram propostas, realizei questionários online e mandei para as pessoas através do uso do Facebook, desejos, palavras, pensamentos e atitudes, transgride regras de conduta que a sociedade fixou para o gênero masculino. Essas regras estabelecem claramente que homens não devem vestir-se, maquiar-se ou comportar-se socialmente como mulheres. A rigor, todas as letras do grupo LGB (gays, lésbicas e bissexuais) poderiam constituir subgrupos dentro do universo transgênero. Todos, voluntária ou involuntariamente, transgridem regras de conduta de gênero, todos pagam o preço social por isso e todos, de alguma forma sonham em ver revogados os dispositivos de gênero que os colocam à margem do convívio social considerado normal. Em linguagem técnica, o transgênero pode ser descrito como alguém cuja identidade de gênero apresenta algum tipo de discordância ou conflito com os dispositivos de conduta do gênero que lhe foi atribuído ao nascer. O fenômeno é conhecido como transgeneridade e é capaz de causar sérios transtornos à saúde física e mental dos seus portadores, cuja superação inclui a adoção de canais de expressão que permitam à pessoa elaborar e manifestar pelo menos os aspectos mais conflituosos da sua identidade de gênero assumida. Entre as identidades típicas da população de transgêneros (T ou T*), que apresentam, portanto, alguma forma de discordância ou não conformidade em relação ao dispositivo binário, estão: transexual (TS), travesti (TV), crossdresser (CD), dragqueen (DQ), andrógino e transformistas. Nota 1: transgênero não é identidade, mas condição sociopolítica econômica da pessoa que apresenta algum tipo de não conformidade, superficial ou profunda, temporária ou definitiva, em relação às normas do gênero em que foi classificada ao nascer, em razão da sua genitália de macho ou de fêmea. Nota 2: só existem duas e somente duas categorias oficiais de gênero: homem e mulher ou masculino e feminino, ao passo que podem existir infinitas categorias gênero-divergentes. Fonte: www.leticialanz.blogspot.com.br

à respeitos das próteses penianas pensadas e produzidas para homens trans e das próteses penianas vendidas em Sex Shop. As tabelas 1 e 2 abaixo, contém imagens mostrando a diferença entre as próteses de Sex Shop s e a feitas para homens trans. Tabela 1 Lojas de Sex Shop Amor de Luxo Brasília DF Desejo Oculto SC Doce e Pimenta Fortaleza CE

Erosmania - SC Hot Pepper Boutique Sensual Porto Alegre RS Loja do Prazer - SP The L Vibe - RJ Tabela 2 Loja para homens trans.

Loja Transhop Packer Up

Transtore Através das minhas análises em todas as 7 lojas virtuais que escolhi para este trabalho e das análises das três lojas virtuais para homens trans, que vendem próteses penianas, posso dizer que existem diferenças sim. As próteses penianas que são vendidas em sexy shop servem apenas de uso sexual de quem as compram e usam, são confeccionadas nas indústrias, suas texturas muitas vezes são mais rígidas, possuem diversos formatos e cores variadas e divertidas, que a maioria das próteses penianas nem se parecem com um pênis. Através da materialidade encontrada nos Sexy Shop s, posso dizer que sexo não tem limites para a imaginação. Os packers são para além do uso sexual, servem para usar como volume no meio das pernas, para urinar e também para masturbação. Esses packer foram adaptados para pessoas que tem vagina, podendo ser usado por mulheres cis também. As próteses penianas para homens trans, não possuem tantas variedades quanto às próteses penianas de sex shop, isso porque essas próteses são mais realistas e fiel ao pênis, não se encontra variadas cores, mas tons de pele, e são confeccionadas manualmente. Conclusão Penso que a ausência de discussão sobre o assunto e tais temas, como: gênero, sexo e sexualidade, pode gerar consequências negativas, e com a possibilidade de poder ter acesso às informações, principalmente acesso à educação, podemos obter resultados positivos nesse

tema. Quero poder contribuir com a destruição da lógica do binarismo de gênero, o determinismo de sexo, a corporalidade como natural, com o sistema patriarcal, machista e transfóbico 4. Essas próteses que são um objeto, uma coisa, não-humana, para as pessoas cisgêneras 5, é corpo para nós homens trans, corpo como materialidade. Referências BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 13ª edição. Rio de janeiro. Ed. Civilização brasileira, 2017. 287p. (Coleção Sujeito&História). FUNARI, Pedro Paulo. Arqueologia. São Paulo. Editora: Contexto, 2010, 125p. LANZ, Letícia. O corpo da roupa: a pessoa transgênera entre a conformidade e a transgressão das normas de gênero. Uma introdução aos estudos transgêneros. 2ª edição. Curitiba: Movimento Transgente, 2017. 456p. LE BRETON, David. A sociologia do corpo. Tradução de Sonia Fuhrmann. 6ª edição. Petrópolis, Rio de Janeiro. Editora vozes, 2012. 102p. MEAD, M. (1999). Sexo e temperamento em três sociedades primitivas. São Paulo: Perspectiva. POLI, Maria Cristina. Feminino/Masculino: Psicanálise passo a passo. 1ª edição. Editora Zahar, 2007. 80p. WHEELER, M. 1989. Archéologie: la voix de la terre. Aix-en-Provence: Edisud. Ed. Original: 1954. Archeology from the Earth. Oxford: Oxford University Press. 4 medo, repulsa e/ou aversão a quaisquer expressões de gênero fora do binômio masculino-feminino. O indivíduo transfóbico desenvolve o desejo mórbido e compulsivo de isolar, prejudicar, ameaçar, espancar ou até mesmo de matar pessoas transgêneras (transexuais, travestis, crossdressers, andróginos, dragqueens, etc. Fonte: www.leticialanz.blogspot.com.br. 5 (Do grego cis = em conformidade com; conforme + gênero) a pessoa que se encontra bem ajustada ao rótulo de identidade de gênero (mulher ou homem) que recebeu ao nascer em função do seu órgão genital (macho ou fêmea). Indivíduos cisgêneros estão de acordo, e normalmente se sentem confortáveis, com os códigos de conduta (incluindo vestuário) e papéis sociais atribuídos ao gênero a que pertencem, ao contrário de indivíduos transgêneros que, de muitas e variadas formas, se sentem desajustados em relação aos rótulos de gênero que originalmente receberam ao nascer. Nota 1: cisgênero não é identidade, mas a condição sociopolítica-cultural da pessoa que vive em plena conformidade com a classificação de gênero homem ou mulher recebida ao nascer em razão da sua genitália de macho ou de fêmea. Nota 2: só pelo fato de estarem bem adaptados aos gêneros que receberam ao nascer, não significa que indivíduos cisgêneros tenham, automaticamente, orientação heterossexual como acreditaria o senso-comum. Eles podem ter diferentes tipos de orientação sexual: hétero, bi, assexual e homossexual, a mesma coisa acontecendo no campo transgênero. A crença generalizada é de que toda pessoa cisgênera é necessariamente heterossexual, da mesma forma que toda pessoa transgênera é vista necessariamente como homossexual, o que não é verdade. Fonte: www.leticialanz.blogspot.com.br

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG Catalogação na Publicação: Bibliotecária Simone Godinho Maisonave CRB -10/1733 S471a Seminário Corpo, Gênero e Sexualidade (7. : 2018 : Rio Grande, RS) Anais eletrônicos do VII Seminário Corpo, Gênero e Sexualidade, do III Seminário Internacional Corpo, Gênero e Sexualidade e do III Luso-Brasileiro Educação em Sexualidade, Gênero, Saúde e Sustentabilidade [recurso eletrônico] / organizadoras, Paula Regina Costa Ribeiro... [et al.] Rio Grande : Ed. da FURG, 2018. PDF Disponível em: http://www.7seminario.furg.br/ http://www.seminariocorpogenerosexualidade.furg.br/ ISBN:978-85-7566-547-3 1. Educação sexual - Seminário 2. Corpo. 3. Gênero 4. Sexualidade I. Ribeiro, Paula Regina Costa, org. [et al.] II. Título III. Título: III Seminário Internacional Corpo, Gênero e Sexualidade. IV.Título: III Luso-Brasileiro Educação em Sexualidade, Gênero, Saúde e Sustentabilidade. CDU 37:613.88 Capa e Projeto Gráfico: Thomas de Aguiar de Oliveira Diagramação: Thomas de Aguiar de Oliveira