Procediment o Adm inistrativo - PA nº 1. 34. 012. 000576/ 2014-16 RECOMENDAÇÃO Nº 2/2019 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDER AL, pelo Procurador da República infra-assinado, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, com especial fundamento nos artigos 127 e 129, da Constituição Federal; artigos 1º, caput, 2º, caput, 5, incisos I, II, III, IV, e V, e artigo 6, inciso XX, todos da Lei Complementar 75/ 93; e: CONSIDER ANDO que ao Ministério Público incumbe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis; CONSIDER ANDO que o Ministério Público tem como funções institucionais a promoção do inquérito civil e da ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos, de conformidade com a Constituição Federal, artigos 127, caput, e 129, incisos II e VI, e Lei Complementar 75/ 93, artigo 5º; 1
CONSIDE RAN DO que dispõe o artigo 129, inciso II, da Constituição Federal ser função institucional do Ministério Público: zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia ; CONSIDE RAN DO que cabe ao Ministério Público a expedição de recomendações, visando a melhoria dos serviços de relevância pública, bem como o respeito aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, fixando prazo razoável para a adoção das providências cabíveis ( LC 75/ 93, artigo 6º, inciso XX); CONSIDE RAN DO que é evidente a preponderância de interesse da União no tema relativo ao serviço público federal de navegação aérea, a teor do que dispõe o artigo 21, inciso XII da Constituição Federal; CONSIDE RAN DO que são de competência da Justiça Federal os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar, conforme disposto no artigo 109, IX da Constituição Federal; CONSIDE RAN DO as informações contidas no relatório da Polícia Federal expedido nos autos do Inquérito Policial n 505/ 2014- DPF/STS/SP (autos JF n 0006232-39.2014.403.6104); CONSIDE RAN DO o acidente aéreo ocorrido com o avião bimotor a reação, modelo Cessna Citation C560XLS+, devidamente registrado como aeronave privada e utilizada em transporte aéreo privado ( TPP), matrícula PR- AFA, fabricado em 2010, ocorrido na cidade de Santos/SP em 13 de agosto de 2014; CONSIDE RAN DO que aeronave estava operando para atender as demandas de transporte aéreo durante a campanha à 2
Presidência da República do candidato Eduardo Henrique Accioly Campos filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB); CONSIDER ANDO que foi realizada uma tentativa de pouso malsucedida na Base Aérea de Santos ( BAST), localizada em Guarujá/ SP, e na tentativa de deslocamento para buscar uma nova tentativa de pouso, durante sobrevoo na área urbana na cidade de Santos/ SP, veio a colidir com o solo, nos fundos do imóvel sito à Rua Alexandre Herculano, n 111, ocasionando a destruição da aeronave e a morte de todos os ocupantes; CONSIDER ANDO as informações contidas no relatório final n A- 134/ CENIPA/ 2014 realizado no bojo da investigação preventiva com fulcro no Código Brasileiro de Aeronáutica no âmbito do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos ( SIPAER) ; CONSIDER ANDO as informações contidas no bojo do Procedimento Administrativo n 1. 34. 012. 000576/ 2014-16, instaurado por este parquet federal; CONSIDER ANDO a existência de dúvidas quanto a regularidade do custeio e do uso da aeronave, bem como o caráter contábil, financeiro e empresarial da investigação desenvolvida pela autoridade policial, o que desencadeou na denominada Operação Turbulência deflagada pela Polícia Federal de Pernambuco; CONSIDER ANDO a ausência do gravador de dados de voo ( FDR), ocasionado pela falta de obrigatoriedade para as aeronaves com aquelas características, prevista no Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutico n 91; CONSIDER ANDO que o gravador de vozes de cabine de comando ( CVR), apesar de ser obrigatório pelo Regulamento mencionado, apesar de instalado, realizou a última gravação em janeiro/2013; 3
CONSIDE RAN DO que a ausências dessas informações causaram grandes dificuldades às autoridades envolvidas e atrasaram o desenrolar das investigações sobre as causas do acidente ocorrido; CONSIDE RAN DO que os radares aéreos também não funcionaram de maneira adequada, acarretando em limitação do material gravado pelos equipamentos dos serviços de controle de tráfego aéreo; CONSIDE RAN DO, por fim, que as condições meteorológicas no momento do acidente teriam diminuído a visibilidade dos pilotos, bem como impediram a existência de eventuais testemunhas sobre a trajetória do avião; RECOMENDA ao Chefe do Centro de Investiga çã o e Prevenção de Acidentes Aer oná uticos ( CENIPA) nos termos do artigo 6, inciso XX, da Lei Complementar 75/ 93, e do arcabouço legal supracitado, e pelos fatos constatados e dificuldades encontradas durante as investigações sobre o acidente aéreo em comento, que adote providências concretas para: 1. Alterar o procedimento para extração de dados do CVR, a fim de dar maior respaldo nas constatações, assegurando maior transparência com a participação de autoridades competentes para investigação criminal dos sinistros; 2. Nas investigações futuras, tornar possível o acesso das autoridades policiais ao contato direto com o equipamento de CVR recuperado, considerando as dificuldades encontradas na elucidação da investigação; EFICÁCIA DA RECOME NDAÇÃO : o não atendimento da presente recomendação ensejará a responsabilização do ente recomendado por eventual conduta omissiva, sujeitando os agentes públicos às consequentes medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis, notadamente a 4
responsabilização por atos de improbidade administrativa, diante da negligência e inércia frente a evidente dilapidação do Bem Público. Faz-se, também, impositivo constar que a presente recomendação não esgota a atuação do Ministério Público Federal sobre o tema, não excluindo futuras recomendações ou outras iniciativas com relação aos agentes acima indicados ou outros, bem como com relação aos entes públicos com responsabilidade e competência no objeto. PRAZO : nos termos do artigo 6, inciso XX, da Lei Complementar 75/ 93, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDER AL fixa o prazo de 60 ( sessenta) dias, contados do recebimento da presente, para que sejam prestadas informações acerca das providências concretas adotadas em virtude desta recomendação, sob pena de responsabilização pessoal por atos de improbidade administrativa dos representantes do ente recomendado. Santos/ SP, 06 de fevereiro de 2019 THIAGO LACERDA NOBR E Procurador da República 5