Cultivo protegido e adubação organomineral na produção de lavanda Flarraniery Oliveira Schiavioni 1 ; José Magno Queiroz Luz 1 ; Sérgio Macedo Silva 1 1 UFU Universidade Federal de Uberlândia. Av. Amazonas, s/n. Bloco 2E sala 01-38400902 - Campus Umuarama, Uberlândia MG. Fla_schiavoni@hotmail.com; jmagno@umuarama.ufu.br; sergiomacedosilva@yahoo.com.br; RESUMO Lavandas são subarbustos perenes que possuem folhas e flores aromáticas com óleo essencial de alta qualidade. Também apresentam grande rusticidade e são altamente resistentes às adversidades ambientais, tolerando certa negligência no seu cultivo. Estudos sobre a influência de adubos e dos sistemas de cultivo, principalmente do cultivo protegido na cultura da lavanda são escassos. Objetivou-se com este trabalho verificar o efeito do cultivo protegido associado à adubação organomineral na produção agronômica e óleo essencial de lavanda. O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados (DBC), sendo 6 tratamentos com quatro repetições. Os tratamentos foram constituídos de diferentes doses de adubo organomineral NPK 10-10-10 + 8 % de carbono orgânico, a partir da recomendação de 500 kg.ha -1, sendo 100% (T1), 80% (T2), 60% (T3), 40% (T4) e 20% (T5); e adubação mineral recomendada de 500 kg ha -1 de NPK 10-10-10 (T6). As variáveis analisadas foram altura de plantas, massa fresca de flores, teor, rendimento e composição de óleo essencial. Foram realizadas análise de colheitas aos 105 e 145 dias após o plantio. As variáveis analisadas não apresentaram diferença significativa entre os tratamentos. Aos 145 dias de cultivo, as condições do cultivo protegido proporcionaram maiores valores de massa de flores, teor e rendimento de óleo essencial em relação à colheita de 105 dias. O plantio na estufa apresentou altas médias para altura do pendão floral e maior ramo, demonstrando que as plantas de lavanda sofreram estiolamento, devido ao controle da radiação solar, isto é, as condições ambientais da estufa proporcionaram maior desenvolvimento vegetal juntamente ao desenvolvimento reprodutivo. Foi possível concluir que o cultivo protegido favoreceu a produção de lavanda, em colheitas sucessivas, principalmente pelo controle das condições ambientais, proporcionando melhor qualidade estrutural do solo. PALAVRAS-CHAVE: lavanda, estufa, fertilizantes ABSTRACT Protected cultivation and organomineral fertilization in the production of lavender S2496
Lavenders are perennial subshrubs having aromatic leaves and flowers with essential oil of high quality. They also have great hardiness and are highly resistant to environmental adversities, tolerating certain negligence in its cultivation. Studies on the influence of fertilizers and plantinng systems, especially in the protected cultivation of lavender cultivation are scarce. The objective of this work was to verify the effect of greenhouse associated with organic mineral fertilization on agronomic production and lavender essential oil. The experimental design was a randomized complete block design (RBD), with 6 treatments with four replications. The treatments consisted of different doses of organic mineral fertilizer NPK 10-10-10 + 8 % organic carbon, through the recommendation of 500 kg ha - 1, 100% (T1), 80 % (T2), 60 % (T3), 40 % (T4) and 20 % (T5), and recommended 500 kg ha - 1 of NPK 10-10-10 (T6) mineral fertilizer. The variables studied were plant height, fresh weight of flowers, content, yield and composition of essential oil. Analysis of harvesting at 105 and 145 days after planting were performed. The variables analyzed showed no significant difference between treatments At 145 days of cultivation, protected cultivation conditions provided higher values of mass of flowers, content and essential oil yield for the collection of 105 days. The planting in the greenhouse showed high average for the time of floral and tassel largest branch, demonstrating that the lavender plants suffered shading, due to control of solar radiation, ie environmental conditions in the greenhouse showed higher plant development along the reproductive development. It was concluded that the protected cultivation favored the production of lavender in successive harvestings, mainly through control of environmental conditions, providing better soil structural quality. Keywords: lavender, greenhouse, fertilizers A Lavanda pertence à família Lamiaceae, originada da região do Mediterrâneo na Europa. São subarbustos perenes que possuem folhas e flores aromáticas com óleo essencial de alta qualidade. Entre as espécies mais conhecidas desse gênero com alto potencial para indústria de óleos essenciais estão a L. dentata e L. angustifolia, além de serem usadas na aromaterapia, cosmetologia, fitoterapia, e uso em paisagismo, na medicina popular e na culinária devido, principalmente às propriedades terapêuticas que possuem (Biasi & Deschamps, 2009). S2497
Plantas de L. dentata tem grande rusticidade e são altamente resistentes às adversidades ambientais, tolerando certa negligência no seu cultivo. As lavandas se desenvolvem melhor em solos arenosos, calcários bem drenados e pedregosos. Também podem ser cultivadas em solos argilosos com altitudes acima de 1000 m desde que apresentem uma boa drenagem. A faixa necessária para o fator ph é de 6,0 a 8,0 (McNaughton, 2006). Estudos sobre a influência de fertilizantes e sistemas de cultivos na cultura de aromáticas como a lavanda são muito escassos, necessitando de mais pesquisas que demonstrem os possíveis efeitos principalmente na qualidade e quantidade dos óleos essenciais. Quanto aos sistemas de cultivo, o cultivo protegido permite controle de aspectos ambientais como a velocidade do vento, radiação solar, umidade relativa do ar e do solo, evapotranspiração, temperatura ambiente, proteção do efeito direto das chuvas, e lixiviação de nutrientes (Andriolo et al., 2005). O fertilizante organomineral comparado ao fertilizante mineral apresenta um custo relativamente inferior, porém, seu potencial químico reativo é menor, mas sua solubilização é gradativa no decorrer do período de desenvolvimento da cultura, quando a eficiência agronômica pode se tornar maior. A utilização de organomineral traz benefícios ao solo, quanto ao desenvolvimento da microbiologia do solo, melhor aproveitamento do fósforo que é um nutriente imóvel no solo, diminui as perdas por lixiviação de potássio (Kiehl, 2008). O objetivo deste trabalho foi verificar o efeito do cultivo protegido e da adubação organomineral na produção agronômica e óleo essencial de lavanda. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi implantado em abril de 2013 e conduzido em estufa na Fazenda Experimental do Glória (18 57' S e 48 12' W), pertencente à Universidade Federal de Uberlândia. O solo presente na área de estudo é Latossolo Vermelho Distrófico e Nitossolo Vermelho Eutrófico (Embrapa, 2006). O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados (DBC), sendo 6 tratamentos com quatro repetições. Os tratamentos foram constituídos de diferentes doses de adubo organomineral (Fabricação Geociclo Biotecnologia S/A) do formulado NPK 10-10-10 + 8% de carbono orgânico, a partir da recomendação de 500 kg ha -1, sendo 100% (T1), 80% (T2), 60% (T3), 40%(T4) e 20%(T5); + adubação mineral S2498
recomendada (McNaughton, 2006) de 500 kg ha -1 de NPK 10-10-10 (T6). O espaçamento utilizado foi de 80 cm entre linhas e 50 cm entre plantas. As parcelas na estufa foram de 3 linhas de 7 plantas, sendo a parcela útil as plantas da linha central. O experimento foi instalado na estufa ao início do outono de 2013. O preparo do solo foi realizado 30 dias antes do plantio e constituiu-se de uso de enxada rotativa acoplada ao microtrator. A irrigação se deu por gotejamento sendo realizada a cada 2 dias durante 50 minutos. A estufa do experimento foi do tipo túnel alto com 8 m de largura com 50 m de comprimento e 4 m de altura lateral com estrutura metálica e cobertura com filme plástico agrícola, de espessura de 150 micras. Com base na análise, foi feita a correção do solo antes de iniciar os experimentos, 60 dias antes do plantio (Tabela 1). As variáveis analisadas foram altura de plantas (maior ramo e maior pendão floral), massa fresca de flores, teor e rendimento de óleo essencial. A primeira colheita foi realizada ao início da primavera de 2013, aos 105 dias após o plantio, em pleno florescimento da cultura. A segunda colheita foi realizada aos 145 dias após o plantio. Para a avaliação da massa fresca de flores, os cortes na colheita foram feitos à altura de aproximadamente 30 cm do solo. Para extração e rendimento de óleo essencial foram utilizadas amostras de 150 g de flores frescas de cada parcela útil. As extrações foram realizadas por hidrodestilação com o uso de aparelho tipo Clevenger modificado. As amostras foram colocadas em balões de 1,5 litros. Foi adicionada água destilada até imersão das plantas dentro do balão volumétrico, iniciando-se em seguida o processo de extração através do arraste do óleo essencial pelo vapor d água. Ao final da extração o óleo essencial foi coletado, quantificado e armazenado em frasco de vidro, em freezer. Os teores (%) foram obtidos pela razão entre o peso do óleo essencial obtido e a massa de flores para extração. Já o rendimento foi calculado multiplicando-se o teor de óleo essencial pela biomassa de flores (Singh, 2011). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e ao Teste de Regressão, com auxílio do programa estatístico Sisvar (Ferreira, 2000). RESULTADOS E DISCUSSÃO Quanto à primeira colheita de flores (Tabela 2), observa-se que os resultados não se enquadraram num modelo matemático de regressão. As variáveis analisadas não apresentaram diferença significativa entre os tratamentos. Observou-se que o tratamento S2499
com 40% da dose de adubo organomineral apresentou a maior média de massa fresca de flores, teor e rendimento de óleo essencial. Os resultados encontrados estão adequados para o cultivo de primeiro ano dessa cultura em relação aos dados de referência citados por Bustamante (1993), mesmo em condições de estufa, com valores muito baixos de biomassa de flores e rendimento de óleo essencial em relação às colheitas posteriores, como ocorre em lavouras comerciais europeias. Aos 145 dias após o plantio, observa-se também que nenhuma das variáveis estudadas apresentou diferença significativa entre os tratamentos, sendo que as maiores médias observadas foram de 2228,65 kg ha -1 de flores com 60% da dose de adubação organomineral e rendimento de 15,61 kg ha -1 de óleo essencial com adubação mineral. Aos 145 dias de cultivo, as condições do cultivo protegido proporcionaram maiores valores de massa de flores, teor e rendimento de óleo essencial em relação à colheita de 105 dias, evidenciando os dados citados por Bustamante (1993). Em geral, os resultados encontrados permitem inferir que as condições do cultivo protegido favoreceram todos os tratamentos realizados com essa cultura. O controle da umidade do solo e de efeitos adversos do clima favoreceu o desenvolvimento da cultura nas duas adubações realizadas. A maioria dos agricultores que investem no cultivo protegido é impulsionada por elevações bruscas de preços de hortaliças causadas por mudanças drásticas no clima (excesso de chuvas e geadas), problemas estes, que não ocorrem quando se cultiva em estufas. De acordo com Sganzerla (1997) na maioria das regiões brasileiras há períodos que favorecem e desfavorecem o cultivo de hortaliças, por exemplo, o clima do Cerrado com seis meses de chuvas e os demais meses com umidade muito baixas. O início do florescimento da lavanda no Brasil também foi marcado pelo início do período chuvoso. Nesse momento, o cultivo na estufa proporcionou menor teor de umidade no solo, garantindo menor lixiviação de nutrientes liberados pela diferentes fontes de adubação, disponibilizando-os para as plantas. Adicionalmente ao controle de aspectos ambientais, o uso do ambiente protegido proporciona redução de estresses fisiológicos das plantas, um melhor desenvolvimento das plantas, aumento da produção, da rotatividade e do período de colheita para culturas S2500
de colheita múltipla, melhoria na qualidade de produção e a possibilidade de maior eficiência no controle de doenças e pragas (Andriolo et al., 2005). O plantio na estufa apresentou maiores médias para altura do pendão floral e maior ramo, demonstrando que as plantas de lavanda tiveram estiolamento, devido ao controle da radiação solar, isto é, as condições ambientais da estufa favoreceram o desenvolvimento vegetal juntamente ao desenvolvimento reprodutivo. Por essas razões, foi possível concluir que o cultivo protegido favoreceu a produção de lavanda, em colheitas sucessivas, principalmente pelo controle das condições ambientais, proporcionando melhor qualidade estrutural e nutricional do solo. AGRADECIMENTOS Agradecemos ao CNPQ e à FAPEMIG pelo financiamento da pesquisa. REFERÊNCIAS ANDRIOLO JL; LUZ GL; BORTOLOTTO OC; GODOI RS. 2005. Produtividade e qualidade de frutos de meloeiro cultivado em substrato com três doses de solução nutritiva. Ciência Rural 35:781-787. BIASI LA; DESCHAMPS C. 2009. Plantas aromáticas do cultivo à produção de óleo essencial. Curitiba: Layer Studio, 160p. BUSTAMATE FML. 1993. Plantas medicinales y aromáticas. Madrid: Ediciones Mundi-Prensa, 365p. EMBRAPA. 2006. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. Rio de Janeiro: EMBRAPA-SPI, 306p. FERREIRA D.F. 2000. SISVAR: sistema de análises de variância de dados balanceados: Programa de análises estatísticas e planejamento de experimentos. Versão 4.3. Lavras: UFLA. KIEHL EJ. 2008. Fertilizantes organominerais. Piracicaba: E. J. Kiehl, 160p. McNAUGHTON V. 2006. Lavender: the grower s guide. Portland (USA): Timber Press, 192 p. SGANZERLA E. 1997. Nova Agricultura: A Fascinante Arte de Cultivar com os Plásticos. Livraria e Editora Agropecuária, 67p. SINGH MUNNU. 2011. Effect of integrated nutrient management through vermicompost and inorganic fertilizers on growth, yield, nutrient uptake and oil quality of geranium (Pelargonium graveolens L' Her. ex Ait.) grown on alfiso. Journal of Spices and Aromatic Crops 20: 55-59. S2501
Tabela 1. Características do solo para implantação do experimento (Soil characteristics for the experiment implantation). José Magno Queiroz Luz, UFU, 2014. Ítem ph (H 2O) P K Ca Mg Al H + Al SB T V M.O mg/dm 3 cmol/dm 3 (%) SOLO 6,0 220,9 194 7,1 2,5 0 3 10,1 10,10 77 8,0 P-Fósforo; K-Potássio; Ca-Cálcio; Mg-Magnésio; Al-Alumínio; H+Al-Acidez Potencial; SB-Soma de Bases; T-Capacidade de Troca de Cátions (CTC total); V-Saturação em Bases; M.O-Matéria Orgânica. Tabela 2. Médias de massa fresca de flores, altura de ramo e pendão, teor e rendimento de óleo essencial de Lavandula dentata, colhida aos 105 dias, cultivada em estufa (Means of fresh weight of flowers, height and tassel branch, content and yield of essential oil of Lavandula dentata, harvested with 105 days, cultivated in greenhouse). José Magno Queiroz Luz, UFU, 2014. Adubação Massa fresca flores (kgha -1 ) Altura ramo (cm) Altura pendão (cm) Teor fresco o.e. (%) Rendimento o.e. (kg ha -1 ) T1* 197.18a 35.00 a 63.50 a 0.46 a 1.66a T2 155.99a 35.25 a 66.25 a 0.42 a 1.50a T3 292.00a 35.00 a 65.00 a 0.26 a 0.93a T4 245.600a 34.25 a 62.75 a 0.52 a 1.86a T5 151.21a 34.25 a 65.50 a 0.39 a 1.39a T6 191.97a 33.75 a 64.50 a 0.39 a 1.40a C.V.(%) 56.41 5.46 6.71 45.65 45.90 DMS 266.611 4.34 9.96 0.42 1.53 *T1: 100% organomineral (500 kgha -1 10-10-10 + 8% de carbono); T2: 80% organomineral; T3: 60% organomineral; T4: 40% organomineral; T5: 20% organomineral; T6: NPK recomendado (500 kg ha -1 NPK 10-10-10); Médias seguidas por letras iguais não se diferem pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade. Tabela 3. Médias de massa fresca de flores, altura de ramo e pendão, teor e rendimento de óleo essencial de Lavandula dentata, colhida aos 145 dias, cultivada em estufa (Means of fresh weight of flowers, height and tassel branch, content and yield of essential oil of Lavandula dentata, harvested with 145 days, cultivated in greenhouse). José Magno Queiroz Luz, UFU, 2014. Adubação Massa fresca flores (kg ha -1 ) Altura ramo (cm) Altura pendão (cm) Teor fresco o.e. (%) Rendimento o.e. (kg ha -1 ) T1* 2059.57a 39.50a 73.75a 0.54a 9.94a T2 1590.42a 36.00a 70.25a 0.64a 13.11a T3 2228.65a 36.00a 74.00a 0.57a 14.11a T4 1743.68a 36.00a 71.25a 0.60a 9.76a T5 1841.87a 35.00a 69.50a 0.62a 12.41a T6 2038.28a 33.25a 70.00a 0.62a 15.61a C.V.(%) 17.75 10.07 9.66 18.79 31.79 DMS 782.05 8.32 15.867 0.259 9.127 S2502
*T1: 100% organomineral (500 kgha -1 10-10-10 + 8% de carbono); T2: 80% organomineral; T3: 60% organomineral; T4: 40% organomineral; T5: 20% organomineral; T6: NPK recomendado (500 kg ha -1 NPK 10-10-10); Médias seguidas por letras iguais não se diferem pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade. Figura 1: Ilustração do experimento na estufa de Lavandula dentata L., em função de doses do adubo organomineral (Illustration of the experiment in the greenhouse of Lavandula dentata L., due to the organic mineral fertilizer doses). José Magno Queiroz Luz, UFU, 2014. S2503