ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DE SISTEMA PRÉ-FABRICADO DE TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO ANALYSIS OF THE EFFICIENCY A SYSTEM PREFABRICATED SEWAGE TREATMENT



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Transcrição:

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DE SISTEMA PRÉ-FABRICADO DE TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO Fernanda Liska 1 ; Simone Fiori 2 *; Vera M. Cartana Fernandes 3 ; Vinícius Scortegagna 4 Resumo Apenas parte dos domicílios brasileiros é atendida por redes coletoras públicas e tratamento de esgoto sanitário. Os demais recorrem a sistemas individuais de tratamento, ou ainda, lançam inadequadamente os esgotos na rede de drenagem urbana e cursos d água. Uma prática comum nas edificações são os sistemas de tratamento pré-fabricados, com a eficiência indicada pelo fabricante. Em função disso, o objetivo desse estudo é analisar a eficiência de um sistema de tratamento de esgoto pré-fabricado, constituído de reator e filtro anaeróbio seguidos de desinfecção, instalado em uma edificação comercial em um centro urbano, e comparar com os padrões das normas brasileiras de dimensionamento e legislação ambiental vigente. Os parâmetros analisados foram: DBO, DQO, SST, SSV, ph; Turbidez; Nitrogênio Total; Nitrato; Nitrito; Fósforo Total e Coliformes termotolerantes. Através dos resultados obtidos nas amostragens observou-se que o sistema resulta em um efluente tratado com parâmetros abaixo dos limites estabelecidos pela Resolução CONSEMA128/06 e da CONAMA 430/11, na maioria dos parâmetros analisados, mostrando-se ineficiente para os parâmetros nitrito e nitrato. Palavras-Chave Tratamento biológico; Sistema pré-fabricado; Esgoto sanitário. ANALYSIS OF THE EFFICIENCY A SYSTEM PREFABRICATED SEWAGE TREATMENT Abstract Only a part of Brazilian households is served by sanitary sewage systems. The other households rely on individual treatment systems, or even launch improperly in urban drainage system and rivers. A common practice in buildings is the treatment systems prefabricated, with the systems efficiency indicated by the manufacturer. According to that, the object of this study is to analyze the efficiency of an individual system of sewage treatment pre-fabricated, consisting of reactor and anaerobic filter followed by disinfection, installed in a commercial building, in order to analyze the treatment efficiency. The following parameters were analyzed: BOD, COD, total suspended solids, volatile suspended solids, ph, Turbidity, Total Nitrogen, Nitrate, Nitrite, Total Phosphorus and Fecal coliform. The results obtained in the samples showed that the system is efficient for most parameters, resulting in a treated effluent below the limits established by CONSEMA Resolution 128/06 and CONAMA 430/11, in most parameters, proved to be inefficient for the parameters nitrite and nitrate. Keywords Biological treatment; Pre-fabricated system; Sanitary effluent. 1. INTRODUÇÃO O serviço público de esgotamento sanitário adequado é realidade apenas para uma parcela da população brasileira. Diante dessa enorme deficiência sanitária, aliada ao quadro epidemiológico e o perfil socioeconômico das comunidades brasileiras, constata-se a necessidade de soluções 1 Afiliação: Universidade de Passo Fundo - 79125@upf.br. 2 Afiliação: Universidade de Passo Fundo - sfiori@upf.br. 3 Afiliação: Universidade de Passo Fundo - cartana@upf.br 4 Afiliação: Universidade de Passo Fundo - viniciuss@upf.br. * Autor Correspondente. XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1

simplificadas de saneamento, no que se refere à coleta e ao tratamento dos esgotos, que atendam uma parcela maior da população e minimizem os efeitos do lançamento inadequado do esgoto nos rios. Grande parte das edificações urbanas por não possuir sistema público tem seu próprio sistema de tratamento de esgoto. E uma prática comum são os sistemas pré-fabricados de tratamento. O problema, na maioria das vezes, é que esse tipo de sistema de tratamento, individual, pode não ser devidamente eficiente, devido à falha ou a falta de análises de eficiência pelos fabricantes responsáveis, ou no acompanhamento da instalação e/ou operação dos mesmos na edificação. O sistema de tratamento analisado neste estudo é constituído por um reator anaeróbio de fluxo ascendente, seguido de filtro anaeróbio e desinfecção. JORDÃO e PESSÔA (2005) afirmam que um bom projeto de reatores UASB, costuma obter efluente com eficiência media da ordem de 65% de remoção de DQO, e de 70% de DBO. Para obter maior eficiência, os reatores UASB devem vir seguidos de tratamento complementar, que pode ser feito por meio de processos aeróbios como: lodos ativados, filtros biológicos, ou pode ser feito com um processo anaeróbio. Essa eficiência é fortemente influenciada pelo tempo de detenção hidráulico dos sistemas, sendo tipicamente entre 6 a 9 horas. Conforme Chernicharo (2001) os resultados em experimento desenvolvidos com o filtro anaeróbio como unidade de pós-tratamento do UASB, demonstraram ser possível obter um efluente final de excelentes características, mesmo quando o sistema UASB e filtro anaeróbio é submetido a variações de vazão. Em quase todas as situações operacionais as eficiências de remoção de DBO e DQO são superiores a 80%, sendo que em diversas ocasiões estas eficiências podem ser compreendidas na faixa de 85 a 95%. No caso dos sistemas pré-fabricados, a eficiência do tratamento é indicada pelo fabricante. Após passar pelo sistema de tratamento, para ter a disposição final adequada, o efluente deve conter parâmetros qualitativos abaixo dos limites estabelecidos nos padrões de lançamento vigentes. Por tal motivo desejou-se analisar a eficiência de um sistema individual de tratamento de esgoto sanitário pré-fabricado instalado em uma edificação comercial, com objetivo de verificar se o efluente tratado se enquadra nos padrões estabelecidos pelas resoluções ambientais vigentes e se atende a eficiência de tratamento indicada pelo fabricante. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Descrição do sistema O sistema de tratamento pré-fabricado em estudo foi implantado em uma edificação no centro da cidade de Passo Fundo. O município de Passo Fundo apresenta uma população aproximada de 186 mil habitantes (IBGE, 2011) e, atualmente, pouco mais de 20% do esgoto gerado no município é tratado em sistema público, prevalecendo assim os sistemas de tratamento individual de esgoto. A edificação da pesquisa possui uma área total útil de 8.994,13m² e tem uso de centro administrativo e futuramente de pronto-atendimento de urgências e emergências médicas. O sistema de tratamento estudado atende somente a parte comercial da edificação. O efluente que será gerado na parte do pronto atendimento será tratado separadamente por outro sistema. O sistema de tratamento em estudo foi instalado conforme recomendações do fabricante, e é composto por reator anaeróbio de fluxo ascendente (UASB), seguido de filtro anaeróbio, além da caixa de cloração, como pode ser observado na Figura 1. Todos os componentes do sistema são préfabricados em fibra de vidro. Conforme o fabricante o conjunto foi dimensionado para tratar o esgoto com capacidade de redução de até 93% de carga orgânica, e a manutenção de limpeza deve ser feita a cada 15 meses, em média. XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2

Figura 1 Esquema do sistema de tratamento pré-fabricado. Na Figura 1, o fluxo entra no reator anaeróbio através de um tubo na parte superior e é direcionado para o fundo do tanque (afogado). No perímetro do tanque existe uma calha para coletar o efluente já tratado e encaminhar para o filtro anaeróbio à jusante. O filtro anaeróbio funciona como um pós-tratamento que contribui para uma eficiência global maior na remoção da matéria orgânica. A capacidade volumétrica do reator e do filtro são ambos de 25.000 litros, e suas medidas estão especificadas na Tabela 1. Tabela 1 Especificações do sistema. Sigla Dimensão Legenda D1 6600 mm A - Entrada do reator - PVC G - Saída de gases do filtro - PVC D2 3200 mm B - Saída de gases do reator - PVC H - Entrada de ar para limpeza - PVC D3 2530 mm C - Entrada de ar para limpeza - PVC I - Tubo para limpeza - PVC H1 4600 mm D - Tubo para limpeza - PVC J - Saída do filtro - PVC H2 3950 mm E - Saída do reator - PVC K - Tubos corrugados em polietileno H3 100 mm F - Entrada do filtro - PVC Desinfecção (clorador): H3 850 mm A - C - H4 1100 mm B - D - O sistema de desinfecção é constituído por um tanque de contato, no qual o efluente do filtro anaeróbio entra em contato com o cloro que está adicionado ao tubo de armazenamento localizado no interior do mesmo. A caixa de cloração do tem capacidade de 544 litros, e para manutenção é necessário fazer a reposição dos tabletes de cloro conforme seu consumo, variando de 10 a 15 dias, inserindo as mesmas no tubo de armazenamento. 2.2 Amostragem e caracterização qualitativa do efluente Para a caracterização qualitativa do efluente, foram realizadas coletas de amostras do esgoto para análise em duas épocas diferentes do ano. Os pontos de coleta foram: Ponto 1 no reator XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3

UASB; Ponto 2 - no filtro anaeróbio; e Ponto 3 - na saída do clorador (esgoto tratado), além desses pontos, para a comparação com o esgoto bruto foi coletado mais um ponto à montante do reator, na caixa de inspeção e limpeza. As amostras, do tipo composta, foram coletadas diretamente dos tanques do sistema, sendo devidamente armazenadas e encaminhadas para caracterização nos laboratórios da UPF. As análises foram realizadas no LACE (laboratório de análise e controle de efluentes) e no laboratório de microbiologia da UPF. Todas as amostras foram analisadas em triplicatas. As amostras foram caracterizadas utilizando-se os seguintes parâmetros físicos e químicos e microbiológicos: sólidos suspensos totais (SST), sólidos suspensos voláteis (SSV), nitrogênio total, nitrito, nitrato, fósforo total, demanda química de oxigênio (DQO), demanda bioquímica de oxigênio (DBO), ph, Turbidez e coliformes termotolerantes. Todas as análises foram realizadas de acordo com o Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA, AWWA, WEF, 1998). Após análises, os resultados foram comparados com os padrões ambientais vigentes de lançamento de efluentes: a Resolução CONAMA 430 de 2011 (que dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes); e a Resolução CONSEMA 128/06, do Conselho Estadual de Meio Ambiente (que dispõe sobre a fixação de Padrões de emissão de efluentes líquidos para fontes de emissão que lancem seus efluentes em águas superficiais no Estado do Rio Grande do Sul). Também foi feita a comparação com a Conama 357/05, que classifica os cursos d água receptores. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 2 apresenta a caracterização do efluente gerado na edificação do estudo e tratado no sistema de tratamento pré-fabricado existente, conforme os parâmetros físico-químicos e microbiológicos analisados ao passo que a Tabela 3 apresenta a eficiência e a comparação com os padrões observados. Tabela 2 Resultados da caracterização do efluente tratado no sistema pré-fabricado. Parâmetro Onde: ND. Não detectado. Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Bruto Máx. Mín. Média Máx. Mín. Média Máx. Mín. Média Máx. Mín. Média DQO (mg.l -1 O 2 ) 1270 933 966 41 17 28 33 7,2 19,1 1302 893 901 DBO 5 (mg.l -1 O 2 ) 640 180 416 21 5,2 17 20 1,3 8,9 644 201 420 SST (mg.l -1 ) 460 342 394 36 12 22 24 12 18 483 360 410 SSV (mg.l -1 ) 380 217 311 12 4 4 12 4 4 380 220 290 Nitrogênio Total (mg.l -1 ) 313,1 10,7 61 56,4 16,5 16,8 14,71 2,5 13,6 315 10,8 66 Nitrato (mg.l -1 ) 15,9 ND. 4,3 10 0,026 3,01 3,18 0,03 3,01 11 0,03 1,8 Nitrito (mg.l -1 ) 4,63 0,62 3,8 4,93 1,02 3,08 3,6 3,1 2,08 5,2 0,62 0,6 Fósforo Total (mg.l -1 ) > 6 6 6 2,21 0,11 0,68 1,12 <0,05 0,6 16,2 6 14 ph 9,01 8,83 8,92 7,45 7,33 7,4 7,94 7,93 7,9 9,01 7,93 7,96 Turbidez (UNT) 373 276 321 4,74 4,01 4,42 21,5 17,4 19 376 278 333 Colif. termotolerantes (NMP.100mL -1 ) 1,6E7 5,4E6 1,1E6 4,9E2 <180 2,5E2 450 200 315 1,6E7 5,4E6 1,1E6 XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4

Em relação aos dados apresentados na Tabela 2, percebe-se que, a relação DQO/DBO é menor do que 2,5, indicando que tal efluente pode ser tratado por processos biológicos (VON SPERLING, 2005). Do material particulado, a maior parte é orgânica, conforme indicado pela relação SSV/SST (sólidos suspensos voláteis/sólidos suspensos totais) de 0,8. Em relação ao ph, observa-se que o seu valor médio no efluente permaneceu na faixa de 7,33 a 9,01. O desvio padrão da DQO efluente do sistema foi 310 mg.l -1 e da DBO 5 foi 108 mg/l. Percebe-se que houve uma redução em relação à maioria dos parâmetros observados, do Ponto 1 para o Ponto 3, com exceção do nitrito e nitrato. A Tabela 3 apresenta a eficiência de remoção média do sistema pré-fabricado analisado. Tabela 3 Eficiência e comparação do efluente final tratado no sistema pré-fabricado. Parâmetro Ponto 1 (UASB) Ponto 3 (Clorador) Eficiência Média (%) Conama 430/11 DQO (mg.l -1 O2) 966 19,1 98 360 Consema 128/06* Conama 357/05** DBO 5 (mg.l -1 O2) 316 8,9 97 120 150 5 SST (mg.l -1 ) 394 18 95 160 SSV (mg.l -1 ) 311 4 98,7 Nitrogênio Total (mg.l -1 ) 61 13,6 77,7 20 20 1 Nitrato (mg.l -1 ) 4,3 3,01 30 10 Nitrito (mg.l -1 ) 3,6 2,08 42,2 1 Fósforo Total (mg.l -1 ) 6 0,6 90 0,050 ph 8,92 7,9-5 a 9 6 a 9 6 a 9 Turbidez (UNT) 321 19 94 100 Coliformes termotolerantes (NMP.100mL -1 ) * Para vazão entre 20 e 100 m 3 /d ** Águas Doces - Classe 2 1,1E6 315 99,97 1000 Na Tabela 3 pode-se observar que há eficiência de tratamento para a maioria dos parâmetros analisados, como por exemplo, a eficiência média de remoção de DQO foi 98% do Ponto 1 (UASB) para o ponto 3 (clorador). A eficiência de remoção de DQO do UASB ficou na ordem de 97% e de DBO em 95%. Segundo Jordão e Pessôa (2005) reatores UASB costumam obter efluente com eficiência media da ordem de 65% de remoção de DQO, e de 70% de DBO e conforme Chernicharo (2001) as eficiências de remoção de DBO e DQO de sistema UASB seguido de filtro anaeróbio são superiores a 80%. E de acordo com o fabricante, o conjunto foi dimensionado para tratar o esgoto com capacidade de redução de até 93% de carga orgânica. Em relação aos padrões ambientais utilizados para a comparação (Conama 430/11 e Consema 128/06), o efluente tratado, ao final do Ponto 3, apresenta valores abaixo dos limites estabelecidos para lançamento de efluentes sanitários. Já quando a comparação é feita com a Resolução Conama 357/05 para classe 2, o efluente tratado, ao sair do sistema, apresenta valores acima dos limites estabelecidos para os parâmetros DBO, Nitrogênio total, Nitrito e Fósforo Total, porém, haverá a diluição desse efluente tratado com a vazão do corpo hídrico receptor, por isso a análise do rio deve ser na pior situação, ou seja, em época de estiagem, onde a vazão é baixa. As Figuras 2 e 3 apresentam o decaimento médio da matéria orgânica e de sólidos, respectivamente. Pode-se XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5

observar que o efluente tratado ao final do tratamento apresenta valores médios abaixo dos limites estabelecidos. Figura 2 Decaimento da matéria orgânica no sistema pré-fabricado. Figura 3 Decaimento dos Sólidos Suspensos no sistema pré-fabricado. Quanto à caracterização microbiológica em relação ao comportamento dos coliformes termotolerantes, observa-se nos resultados que os valores médios encontrados foram de 1,6E7 NMP/100mL no Ponto 1, reduzindo para 315 NMP/100mL no Ponto 3, ficando o efluente tratado com resultado abaixo dos limites do Conama. 4. Conclusões A caracterização físico-química do efluente tratado no sistema de tratamento pré-fabricado analisado indica que a relação DQO/DBO é menor do que 2,5, indicando que tal efluente pode ser XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6

tratado por processos biológicos. Do material particulado, a maior parte é orgânica, conforme indicado pela relação SSV/SST (sólidos suspensos voláteis/sólidos suspensos totais). Os resultados demostraram que o sistema de tratamento pré-fabricado analisado, constituído por reator anaeróbio seguido de tratamento anaeróbio e desinfecção é eficiente para a maioria dos parâmetros, deixando a desejar para a série do nitrogênio. Desta forma, recomenda-se uma adequação no sistema existente ou a instalação de um pós-tratamento para a remoção do nitrogênio. Ressalta-se também a importância de outros trabalhos analisarem os demais tipos de sistemas préfabricados, para verificar se a especificação técnica de eficiência do fabricante é cumprida, e se o efluente tratado atende a legislação ambiental vigente, principalmente os sistemas pré-fabricados de Tanque séptico e Filtro Anaeróbio, já que são sistemas muito utilizados nas edificações brasileiras. Em relação a caracterização microbiológica dos coliformes termotolerantes os valores são reduzidos de 1,6E7 a 315 NMP.100mL -1, ficando o efluente final abaixo do estabelecido para a Classe 2 do Conama (de 1000 NMP/100mL). Já em relação aos nutrientes (N e P) e nitrato e nitrito, o sistema apresenta ineficiência, indicando que o tratamento biológico requer adequação ou complementação num pós-tratamento. A análise da eficiência indicou que o sistema apresenta a eficiência indicada pelo fabricante para a matéria orgânica, ficando acima de 90% de remoção, e de acordo com os padrões encontrados na literatura para sistemas semelhantes. Porém, o fabricante não faz nenhuma menção às séries dos parâmetros nitrogênio e fósforo, nem aos microbiológicos do tratamento. Os dados do último censo, divulgados pelo IBGE, revelam que a maior carência do país na área de serviços públicos e infraestrutura continuam sendo em saneamento básico. Grande parte das edificações urbanas possui seu próprio sistema de tratamento, por não haver sistema público de coleta e tratamento do esgotamento sanitário no município. E uma prática comum são os sistemas pré-fabricados de tratamento. O problema, na maioria das vezes, é que esse tipo de sistema de tratamento, individual, pode não ser devidamente eficiente. Ressalta-se a importância de mais trabalhos para analisar os sistemas individuais existentes, principalmente para verificar se o efluente tratado atende a legislação ambiental vigente. E também alertar para a importância na escolha dos sistemas de tratamento, na análise nos projetos, no acompanhamento, instalação/execução dos sistemas, bem como o monitoramento adequado na fase de operação dos mesmos. REFERÊNCIAS APHA, AWWA, WEF. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. 20ª edition. Washington, DC: APHA, AWWA, WEF, 1998. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Estudo de concepção e de sistemas de esgoto sanitário: NBR-9648. Rio de Janeiro, 1986.. Projeto de redes coletoras de esgotos sanitários: NBR-9649. Rio de Janeiro, 1986.. Projeto, construção e operação de sistemas de tanques sépticos: NBR-7229. Rio de Janeiro, 1993.. Tanques sépticos - Unidades de tratamento complementar e disposição final dos efluentes líquidos: NBR-13969. Rio de Janeiro, 1997.. Projeto de estação de tratamento de esgotos sanitários: NBR-12209. Rio de Janeiro, 1992. CHERNICHARO, C. A. de L. ET al. Pós-tratamento de efluentes anaeróbios por sistemas de desinfecção. In: CHERNICHARO, C. A. de L. Pós-tratamento de Efluentes de Reatores Anaeróbios. FINEP/PROSAB, 2001. XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 7

CHERNICHARO, C.A.L. Princípios do tratamento biológico de águas residuárias: reatores anaeróbios. 2. ed. Belo Horizonte: UFMG, 2007. CONAMA. Conselho Nacional do meio Ambiente. Resolução Nº 357, de 17 de março de 2005.. Conselho Nacional do meio Ambiente. Resolução Nº 430, de 13 de maio de 2011. CONSEMA. Conselho Estadual do meio Ambiente. Resolução 128. Dispõe sobre a fixação de Padrões de Emissão de Efluentes Líquidos para fontes de emissão que lancem seus efluentes em águas superficiais no Estado do Rio Grande do Sul. CONSEMA, 2006. IMHOFF, Karl e Klaus. Manual de tratamento de águas residuárias. 26. ed. São Paulo, SP: Ed. Edgard Blücher Ltda, 2002. JORDÃO, E. P.; PESSÔA, C. A. Tratamento de esgotos domésticos. 4. ed. Rio de Janeiro: SEGRAC, 2005. METCALF & EDDY. Wastewater Engineering: Treatment, disposal and reuse. McGraw-Hill, New York, 2001. VON SPERLING, Marcos. Princípios básicos do tratamento de esgotos. In: Princípios do tratamento biológico de águas residuárias. Vol. 2. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, UFMG, 2005. XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 8