QUALIDADE DE VIDA DOS ESTUDANTES DO CURSO DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS Nome dos autores: Lucas Pereira Lima 1,Talita Buttarello Mucari 2. 1 Aluno do Curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins; Campus de Palmas; e-mail: lucaslima1507@mail.uft.edu.br, PIVIC/UFT 2 Orientadora do Curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins; Campus de Palmas; e-mail: tmucari@mail.uft.edu.br RESUMO O termo qualidade de vida está relacionado não apenas aos aspectos físicos, mas também às percepções do indivíduo acerca de sua realidade, seus sentimentos e comportamentos. A qualidade de vida do estudante de medicina é de difícil mensuração, por envolver a inter-relação de fatores internos e externos ao indivíduo (FIEDLER, 2008). Esse estudo visou traçar o perfil sociocultural dos estudantes de medicina da Universidade Federal do Tocantins e avaliar sua qualidade de vida, bem como investigar possíveis determinantes relacionados a mesma. O estudo se configurou como quantitativo, analítico e transversal e os instrumentos de avaliação utilizados para coleta dos dados foram: Questionário Sociocultural e Escala de Qualidade de Vida de Flanagan. Compuseram a amostra 366 alunos. Como resultado da Escala de Qualidade de Vida de Flanagan, obteve-se média de 78,80±0,46. Tal valor encontra-se acima do ponto médio, ao se tomar como referência os resultados extremos da escala, o que indica percepção satisfatória com a qualidade de vida. Dentre as dimensões de qualidade de vida da escala, a maior satisfação está na de relações com outras pessoas, o que demonstra que tal determinante é relevante para boa qualidade de vida dos sujeitos. Entretanto, fatores determinantes para a redução dessa qualidade de vida relacionam-se com o desenvolvimento pessoal e realização, sugerindo que uma das limitações para melhor qualidade de vida pode estar vinculada à falta de tempo. São importantes novos estudos para aprofundamento das dimensões contidas na escala, possibilitando maior especificidade dos fatores de qualidade de vida. Palavras-chave: Estudantes de Medicina; Qualidade de Vida; Saúde Mental. INTRODUÇÃO Os avanços na compreensão da qualidade de vida alteraram os aspectos de avaliação tornando-os mais subjetivo. Os primeiros instrumentos construídos traziam Página 1
uma verificação objetiva das condições físicas, de moradia e renda mensal. Atualmente, os instrumentos baseiam-se na percepção subjetiva das condições física, psicológica e social do entrevistado e da satisfação quanto a outros aspectos de vida, conferindo caráter multidimensional a esses instrumentos (BULLINGER, 1997; FIEDLER, 2008). Fiedler (2008) afirmou que o curso de medicina provoca mudanças no estilo de vida do estudante, que na maioria das vezes diminui sua qualidade de vida. Tais mudanças são experimentadas de modo diferente por cada indivíduo, dependendo de sua personalidade, história prévia, relacionamentos, cultura e condições sociais e econômicas. Revisão de literatura, realizada por Feodrippe et al. (2013), mostrou que a qualidade de vida influencia diretamente o comportamento pessoal e profissional do estudante. Segundo os autores, não é mais aceitável que a escola médica não a utilize como uma variável a ser considerada na proposta de um currículo adequado (FEODRIPPE et al.,2013, p.426). Em vista disso, justifica-se a necessidade desse estudo, que visa traçar o perfil sociocultural dos estudantes de medicina da Universidade Federal do Tocantins e avaliar sua qualidade de vida, bem como investigar possíveis determinantes relacionados a mesma. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi realizada no Curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins no Campus de Palmas, durante o período de agosto de 2016 a julho de 2017, com alunos matriculados do 1 ao 12 períodos do curso. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Tocantins sob o protocolo 042/2015. O estudo se configurou como quantitativo, analítico e transversal. A amostra de 366 alunos foi selecionada aleatoriamente, estratificada por período do curso e calculada segundo Barbetta (2003). Os instrumentos de avaliação utilizados foram: Questionário Sociocultural e Escala de Qualidade de Vida de Flanagan. O questionário sociocultural teve como objetivo traçar perfil da situação social e cultural dos discentes do curso de medicina da Universidade Federal do Tocantins. Interrogaram-se aspectos como: idade, sexo e período. Página 2
Para este estudo utilizou-se a Escala de Qualidade de Vida (EQV) de Flanagan com a pontuação adotada por Burckhardt et al. (1994), cujas respostas variam de muito insatisfeito com valor um até muito satisfeito com valor sete. Dessa forma, a pontuação máxima que pode ser alcançada na EQV é de 105, representando o escore total de mais alta qualidade de vida, e a pontuação mínima de 15, representando o escore de mais baixa qualidade de vida. Os dados foram tabulados e analisados estatisticamente com o auxílio do software EPI-INFO (versão 7). As variáveis foram sumarizadas em distribuição de frequências e por meio de medidas descritivas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Participaram da pesquisa 366 alunos do curso de medicina da Universidade Federal do Tocantins (UFT), o que corresponde a 77% da população estudada. Na amostra, a idade variou de 17 a 43 anos, com média de 23 anos e 3 meses e desvio padrão de 3 anos e 3 meses. Constatou-se também que a frequência do sexo masculino é maior que do sexo feminino, representando 54,53% da amostra. A maior parte dos estudantes era advinda de outros estados, predominantemente solteiros, não realizava atividade remunerada e praticavam atividades de lazer, além nunca terem feito nenhum tratamento psicológico. No que se refere aos resultados obtidos com a Escala de Qualidade de Vida (EQV) de Flanagan, em um intervalo de 15 a 105 pontos, no qual quanto maior o valor maior a satisfação do indivíduo, obteve-se como média das respostas o valor de 78,80±0,46. Tal valor encontra-se acima do ponto médio, ao se tomar como referência os resultados extremos da escala, o que indica percepção satisfatória com a qualidade de vida. Na Tabela 01 estão listadas as médias das cinco dimensões de análise da Escala de Qualidade de Vida de Flanagan e de suas respectivas questões para os estudantes do curso de medicina da Universidade Federal do Tocantins. A média das 15 questões foi de 5,23 em uma escala com valor máximo de 7. Ao se considerar as médias de 78,80 (média total do instrumento) e 5,23 (média por questões), verificou-se que ambas refletem certo grau de satisfação com os aspectos abordados pelo instrumento, estando os participantes entre os níveis pouco satisfeito e Página 3
satisfeito com a qualidade de suas vidas de acordo com os níveis da escala adotada. Os itens levantados como fontes de maior satisfação entre os participantes foram: relacionamento com pais, irmãos e outros parentes (6,56) e relacionamento com os amigos (5,59). Os de menor satisfação foram: aprendizagem (4,51), participação de recreação ativa (4,80) e de associações e atividades de interesse público (4,83). TABELA 01- Médias por dimensões de análise e por questões da Escala de Qualidade de Vida de Flanagan em estudantes de medicina da Universidade Federal do Tocantins, Palmas-TO, 2016. Dimensões da EQVF Questão Média 1. Bem estar físico e material. 2. Relações com outras pessoas. 3. Atividades sociais, comunitárias e cívicas. 4. Desenvolvimento pessoal e realização 5. Recreação Conforto material: Casa, alimentação, situação 5,50 financeira Saúde: fisicamente e bem vigorosa 5,12 5,31 Relacionamento com pais, irmãos e outros 6,56 parentes: comunicação, visita e ajuda. Construir família: ter e criar filhos. 5,29 Relacionamento íntimo com esposo (a), 5,29 namorado(a) ou outra pessoa relevante Amigos próximos: compartilhas interesses, 5,59 atividades e opiniões 5,68 Voluntariamente, ajuda e apoiar outras pessoas 5,55 Participação em associações e atividades de interesse público. 4,83 5,19 Aprendizagem: frequentar outros cursos para 4,51 conhecimentos gerais. Autoconhecimento: reconhecer seus potenciais e 5,09 limitações; Trabalho (emprego ou em casa): atividade 5,06 interessante, gratificante que vale a pena. Comunicação criativa 4,94 Participação em recreação ativa 4,80 4,88 Ouvir música, assistir TV ou cinema, leitura ou 5,39 outros entretenimentos. Socialização: fazer amigos 5,28 5,33 Quanto às médias das dimensões de análise da escala, averiguou-se que a menor média foi atribuída ao item relacionado ao desenvolvimento pessoal e realização (4,88), que engloba aprendizagem, autoconhecimento, trabalho, comunicação criativa e Página 4
participação em recreação ativa. Já a maior média foi a da dimensão que envolve relações com outras pessoas (5,68), como pais, irmãos, filhos, companheiros e amigos. O maior grau de satisfação apresentado na dimensão da EQV de Flanagan relações com outras pessoas demonstra que tal fator é determinante relevante para boa qualidade de vida dos sujeitos da pesquisa. Entretanto, fatores determinantes para a redução dessa qualidade de vida relacionam-se com a dimensão desenvolvimento pessoal e realização, sugerindo que uma das limitações para melhor qualidade de vida pode estar vinculada à falta de tempo. Destaca-se que os currículos médicos são estruturados de forma que o estudante, em geral, permaneça em dedicação exclusiva ao curso. Algumas escolas chegam a oferecer 35 horas de aula semanais ou mais, não prevendo tempo para estudo. Somamse a isso atividades complementares, monitorias, ligas acadêmicas, congressos, projetos de extensão e iniciação científica (FIEDLER, 2008). Nesse aspecto, relacionam-se as menores pontuações obtidas às privações das oportunidades de lazer, de participar de outras atividades e cursos de interesse do aluno, o que afeta sua qualidade de vida. Isso expressa uma característica marcante e tradicional desta área de formação, não apenas na instituição estudada, mas em outras instituições no Brasil. LITERATURA CITADA BARBETTA, P. A. Estatística aplicada às ciências sociais. Florianopolis: Editora da UFSC, 2003. BULLINGER, M. ; Generic quality of life assessment in psychiartry Pottencial and limitations. Eur Psychiatry. v. 12, p.203-209, 1997. BURCKHARDT, C.S.; MANNERKORPII, K.; HEDENBERG, L.; BJELLE, A. A randomized, controlled clinical trial of education and physical training for women with fibromyalgia. J Rheumatol. v. 21, n. 4, p. 714-20, 1994. FEODRIPPE, A. L. O.; BRANDÃO, M. C. F.; VALENTE, T. C. O. Qualidade de vida de estudantes de Medicina: uma revisão. Rev Bras Educ Med, v. 37, n. 3, p. 418-28, 2013. FIEDLER, P. T. Avaliação da qualidade de vida do estudante de medicina e da influência exercida pela formação acadêmica. 2008. Tese (Doutorado em Medicina Preventiva) - Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5137/tde-10072008-161825/pt-br.php Acesso em: 01.04.2015. Página 5
AGRADECIMENTOS A esta universidade, sеu corpo docente, direção е administração quе oportunizaram а realização desse trabalho. À Profa. Dra. Talita Buttarello Mucari, Profa. Dra. Leila Rute Oliveira Gurgel do Amaral e a Profa. Msc. Maria Sortênia Alves Guimarães pela oportunidade е apoio nа elaboração deste trabalho. Não obstante, agradecer aos companheiros do grupo de pesquisa Simone Kitamura Moura e Virgílio Augusto Deodato Gonçalves pela parceria e companheirismo no desenvolvimento do mesmo. Página 6