POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA MULHER: AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE RASTREAMENTO DO CÂNCER DO COLO DO ÚTERO INSTITUÍDO PELO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NO ESTADO DO TOCANTINS, NO PERÍODO DE 2008 2012. Nome dos autores: Edlane Silva Moraes, Louise de Faro Teles Roseira, Juliano Araújo Modesto, Marcos Aurélio Canelas Xavier, Kédma Maria Carneiro, Marco Antônio Zonta, Jucimária Dantas Galvão, Gessi Carvalho de Araújo Santos. Edlane Silva Moraes 1 ; Gessi Carvalho de Araújo Santos 2 ; Jucimária Dantas Galvão 3 1 Aluno do Curso de Medicina; Campus de Palmas; e-mail: edlanesmoraes@gmail.com PIBIC/CNPq 2 Orientador(a) do Curso de Medicina; Campus de Palmas; e-mail: cgessi@uft.edu.br 3 Co-orientador(a) da Secretária Estadual de Saúde; Tocantins.; e-mail:jucydg@uft.edu.br RESUMO O câncer de colo do útero (CCU) é um problema de saúde pública, apresentando elevadas taxas de incidência e mortalidade 3. É o segundo tipo de câncer mais frequente entre mulheres sexualmente ativas, sendo o mais frequente entre as tocantinenses, com incidência de aproximadamente 20% dos casos de câncer 11, o que poderia ser minimizado com a efetividade do Programa Nacional do Controle do CCU 11,8. Este trabalho propõe avaliar o Programa de Rastreamento do CCU na prática do serviço público de saúde do estado do Tocantins. Os dados mostram que houve realização de 452.199 exames pela rede de laboratórios credenciados ao SUS, destes, 98,9% das amostras foram satisfatórias, porém apenas 18,6% possuíam adequada representatividade epitelial. Ainda, do total de exames realizados, 74.86% foram de pacientes na faixa etária preconizada. Porém, há um total de 27,73% de neoplasias malignas que ocorrem fora da faixa etária preconizada. Os dados obtidos também mostram que, em nenhum dos anos a meta de cobertura estipulada pelo Pacto pela Vida/Ministério da Saúde (MS) 12 foi alcançada, o que é agravado pelos baixos índices de positividade registrados uma vez que ambos estão relacionados com um aumento do coeficiente de mortalidade. Portanto, é necessária a implementação de estratégias mais eficazes para o diagnóstico, principalmente em estágios iniciais, bem como a melhoria Página 1
da efetividade da organização em rede de atenção à saúde da mulher, além da melhoria da qualidade dos exames citopatológicos. Palavras-chave: Câncer; colo do útero; rastreamento INTRODUÇÃO O câncer de colo de útero (CCU) é o segundo tipo de câncer mais frequente entre as mulheres nas regiões em desenvolvimento no mundo, apresentando aproximadamente 500 mil casos novos, correspondendo a 230 mil óbitos de mulheres por ano 5,10,11. Na Região Norte, a taxa de incidência estimada para o CCU supera a nacional (18,90 casos a cada 100 mil mulheres), representando 19% dos casos de câncer. O CCU tem maior incidência entre as mulheres na região amazônica 8 com o registro de 2.770 novos casos em um total de 15.590 em todo território brasileiro, o que é verdadeiro também para as taxas de mortalidade. No Tocantins, de acordo com a estimativa do INCA, o CCU é a neoplasia mais comum na população feminina (180 novos casos/ano) e taxa de incidência estimada de 28,06/100.000 mulheres com maior incidência na capital, Palmas 10. Os dados elencados permitem inferir que o CCU é um importante problema de saúde pública nos países em desenvolvimento, pois apresenta altas taxas de prevalência e morbimortalidade em mulheres em fase produtiva de suas vidas 2. Faz-se necessárias medidas contínua e efetivas de combate ao câncer, em todos os níveis de atenção, com ênfase à promoção de saúde e detecção precoce como estratégias de controle da doença, o que se dá principalmente por meio do rastreamento pelo exame citopatológico, resultando na redução da incidência da doença e da mortalidade 7,10 quando realizado com qualidade. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi submetido à avaliação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) com aprovação e parecer consubstanciado nº 1.038.243 em 24/04/2015. A pesquisa conta com o financiamento de recursos oriundos do Projeto de Pesquisa Aplicada ao SUS (Edital PPSUS 01/2014 parceria FAPT/SESAU/MS/CNPq). Trata-se de um estudo Página 2
epidemiológico descritivo, realizado a partir dos dados obtidos na base do Programa SISCOLO no período de janeiro de 2008 a dezembro de 2012. Foram utilizados dados dos SIM (Sistema de Informação de Mortalidade), DATASUS/IBGE (Banco de Dados do Departamento de Informática do SUS/ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica), RHC (Registro Hospitalar de Câncer), INCA (Instituto Nacional de Câncer) para construção de indicadores de incidência, mortalidade e morbidade por CCU. Os dados foram compilados em tabelas e gráficos utilizando a planilha de dados do Excel. RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante o período do estudo houve registro no sistema de 452.199 exames citopatológicos realizados. As razões dos exames realizados não apresentaram grandes variações. O número absoluto de exames não acompanhou o aumento populacional no período e a meta instituída pelo Pacto pela Vida/Ministério da Saúde (MS) 12 não foi alcançada em nenhum dos anos dentro do período de estudo, decrescendo ainda no decorrer destes. Em relação à adesão na faixa etária preconizada pelo Ministério da Saúde, apesar de decrescente, esta permanece como prioridade para a disponibilização do rastreamento. Assim a maioria das mulheres que foram submetidas ao exame tinha idade entre 20 e 49 anos, correspondendo a 74,86% do total, sendo a faixa etária mais rastreada a de 25 a 29 anos. Quanto aos dados referentes à raça e escolaridade das mulheres rastreadas, observou-se que 97,13% e 82,95%, respectivamente, foram versados como ignorado/branco, inviabilizando a correlação entre estes dados e a incidência do câncer de colo de útero no Estado, no entanto a baixa escolaridade é evidente em diversos estudos 4,6,13. Ainda, Thuler et al. afirma que a baixa escolaridade observada sugere ser um fator associado para o desenvolvimento do câncer cervical 16 e em estudo de Roraima a raça prevalente foi a parda 7. Em relação à realização de citologia anterior, a análise dos dados também se mostrou comprometida devido a uma porcentagem expressiva (42,78%) de dados ignorados/em branco e 31,03% com intervalo de um ano do último exame. Assim, é Página 3
relevante ressaltar a necessidade da conscientização dos profissionais de saúde quanto ao preenchimento adequado dos dados durante o atendimento nas unidades de saúde. Sobre a adequabilidade das amostras, que podem ser classificadas como satisfatórias ou insatisfatórias, dos 452.199 exames realizados, 98,9% foram satisfatórios para análise citológica. Do total de insatisfatórios, o dessecamento foi a maior causa de comprometimento da amostra. Em relação à representatividade epitelial observou-se presença do epitélio escamoso em 99,9% das amostras, o escamoso e células endocervicais foram indicados em 61,5% e os três tipos celulares que compões a JEC foram descritos em 18,6%. Porém, para classificar uma amostra como adequada do ponto de vista da representatividade epitelial, é necessário que a mesma contenha componentes escamosos, glandulares e/ou metaplásicos 14, o que não ocorreu. Sobre o diagnóstico, das alterações benignas encontradas nas amostras, a mais freqüente foi inflamação (83,57%), o que é esperado visto que a inflamação é uma alteração celular epitelial comum no colo uterino e vagina, em virtude da ação de agentes físicos e químicos 1. Das demais alterações, as células atípicas de significado indeterminado tiveram 70,37% escamosas possivelmente não neoplásicas, seguido por 21,56% de células escamosas não podendo afastar lesão de alto grau. Quanto ao total de atipías em células escamosas encontradas (6.433 resultados), ASC-US (2.635) e L-SIL (1.542) e apenas 1.93% identificadas como carcinoma invasor. Das 29 lâminas com atipias em células glandulares durante o período do estudo, 22 (75,86%) apresentaram o adenocarcinoma in situ, com maior freqüência no ano de 2010 (63,6%). As atipias em células glandulares, em estudo de SILVA et al, apresenta-se como pouco prevalente, fato confirmado em outras referências 3,9,15 e reafirmado pelo presente trabalho. Acerca dos indicadores de morbimortalidade, os dados obtidos mostram que uma taxa menor de cobertura está intimamente relacionada com um aumento do coeficiente de mortalidade, o que é agravado ainda pela variação dos índices de positividade que permanecem baixos em todos os anos do estudo. Entretanto, pode-se observar que no ano de 2012, a diminuição da cobertura do programa, de 6,52 para 4,19, implicou numa Página 4
redução da taxa de mortalidade, de 94.4467 para 83.415, este fato, possivelmente, está relacionado com a subregistro de óbitos por câncer de colo de útero no Estado. Sobre a frequência das neoplasias malignas do colo uterino por faixa etária no período de 2008 a 2012, pode-se inferir que 17,29% das neoplasias ocorreram em faixa etária inferior a 25 anos e 10,44%, acima de 64 anos, perfazendo um total de 27,73% de neoplasias diagnosticadas em mulheres em idade fora da faixa etária preconizada pelo programa de rastreamento. Apesar da redução da frequência da faixa etária dos 40 até os 64 anos, que é a idade limite da população alvo do rastreio preconizado havendo, houve um pico significativo em mulheres acima de 64 anos. O estudo revela que há necessidade de maiores esforços para o alcance das metas propostas para cobertura do programa de rastreamento do câncer de colo de útero no Tocantins. Contatou-se ser necessária a continuidade de estudos aprofundados sobre a prática do Programa incluindo a análise dos nós críticos que impedem o avanço do Programa na sua base, em cada município e no Estado com a contratação dos laboratórios. LITERATURA CITADA 1. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Instituto Nacional de Câncer (Inca). Coordenação de Prevenção e Vigilância. Nomenclatura brasileira para laudos cervicais e condutas preconizadas recomendações para profissionais de saúde. Rio de Janeiro: Inca; 2006. p. 65. 2. Brenna SMF. Conhecimento, atitude e prática do exame de Papanicolau em mulheres com câncer de colo uterino. Caderno de Saúde Pública. Jul-ago de 2001; 17(4):909-914. 3. Campos RS, Silva IC, Silva LRL, Pinto MLS, Mochel EG. Prevenção do câncer de colo uterino: achados citológicos e microbiológicos em mulheres e uma cidade do nordeste - Maranhão. Rev Ciênc Saúde 2010; 12(1):45-48. 4. DIAS-DA-COSTA, J. S. et al. EXAME CITOPATOLÓGICO EM PELOTAS. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(1):191-197, jan-fev, 2003. 5. FERLAY, Jacques, et al. Estimatives of worldwide burden of cancer in 2008: GLOBOCAN 2008. International Journal of Cancer. 127, 2893 2917 (2010) Página 5
6. FONSECA AJ, Ferreira LP, Dalla-Benetta AC, Roldan CN, Ferreira MLS. Epidemiologia e impacto econômico do câncer de colo de útero no Estado de Roraima: a perspectiva do SUS. Rev Bras Ginecol Obstet. 2010; 32(8):386-92. 7. Instituto Nacional de Câncer. Atlas de mortalidade por câncer série temporal 2013. 8. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2012: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva; 2011. 9. Machado MS, Cantanhede KL, Leal PC, Nascimento MDSB, Silva RR, Bezerra JM. Estudo Retrospectivo do Câncer de Colo do Útero das Pacientes Atendidas no Hospital de Base do Distrito Federal. NewsLab 2005; 73:82-89. 10. Ministério da Saúde. Estimativa 2014. Incidência de Câncer no Brasil. Flama. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, Coordenação de Prevenção e Vigilância. Rio de Janeiro: INCA, 2014. 11. PARKIN, D. Max, et al. Global Cancer Statistics, 2002. CA A Cancer Journal for Clinicians. 2005;55:74 108. 12. Plano de ação para redução da incidência e mortalidade por câncer do colo do útero: sumário executivo. Rio de Janeiro: INCA, 2010. 40 p. 13. SILVA, Diego Salvador Muniz da, et al. Rastreamento do Cancer de Colo de Utero no Estado do Manharão, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 19(4):1163-1170, 2014. 14. SOLOMON, Diane; NAYAR, Ritu. Sistema Bethesda para citopatologia cervicovaginal: definições, critérios e notas explicativas. 2. ed. Rio de Janeiro: Revinter. 15. Terres AF, Machado NA, França FS, Ramos CDT, Haas P. Análise dos resultados de exames preventivos e de rastreamento de câncer de colo do útero realizados em uma clínica ginecológica particular no município de Curitiba, PR. Estud Biol 2009; 31(73/ 74/75):103-109. 16. Thuler LCS, Bergmann A, Casado L. Perfil das Pacientes com Câncer do Colo do Útero no Brasil, 2000-2009: Estudo de Base Secundária. Rev Brasileira de Cancerologia 2012; 58(3):351-357. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus e a minha família pela determinação e apoio. À Liga de Ginecologia e Obstetrícia da UFT que me proporcionou o contato com a área e indicação ao trabalho, a minhas orientadoras que tanto ensinaram e foram pacientes e aos financiadores, pois o presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq Brasil, FAPT, SESAU e MS. Página 6