(DES)CONSTRUÇÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADE: INTERFACES ENTRE EDUCAÇÃO BÁSICA E ENSINO SUPERIOR

Documentos relacionados
GÊNERO E SEXUALIDADE EM DEBATE: DIÁLOGOS ENTRE A EDUCAÇÃO BÁSICA E O ENSINO SUPERIOR

Palavras-chave: Educação Básica; Gênero; Sexualidade; Representações.

Família e escola: saberes docentes sobre gênero e sexualidade na educação básica

GENÊRO E SEXUALIDADE NA EDUCAÇÃO ESCOLAR: PROPOSIÇÕES NECESSÁRIAS

GÊNERO E SEXUALIDADE NO COTIDIANO ESCOLAR: O QUE ISSO REPRESENTA?

DIVERSIDADE SEXUAL NA ESCOLA: ESTRATÉGICAS DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA POPULAÇÃO LGBTT NO IFPE RECIFE E NA REDE ESTADUAL DE PERNAMBUCO

POR QUE INVESTIGAR GÊNERO, SEXUALIDADE E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO AMBIENTE ESCOLAR?

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO PLANO DE ENSINO

AS PRÁTICAS ESPORTIVAS E AS PROBLEMATIZAÇÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR

O CURRÍCULO CULTURAL DA EDUCAÇÃO FÍSICA E O ACOLHIMENTO DAS DIFERENÇAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA

GÊNERO E FORMAÇÃO DOCENTE: INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA COMO POSSIBILIDADE DE COMPREENSÃO DA CONSTRUÇÃO DOS CONCEITOS

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CONHECIMENTOS TECIDOS NO COTIDIANO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DA REGIÃO SUL FLUMINENSE

NARRATIVAS DE PROFESSORES/AS DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO MUNICÍPIO DE RIO GRANDE/RS

Compreender o conceito de gênero e as questões de poder implícitas no binarismo;

Boletim CPA/UFRPE Curso de Licenciatura em Pedagogia Campus Dois Irmãos Edição n. 01 Ciclo Avaliativo:

Descobrindo o outro - Um projeto de aula de Língua Portuguesa para o sexto ano Mariana Backes Nunes Carla Menoti Rech Júlia Nunes Azzi

A ESCOLA COMO UM AMBIENTE QUE (RE)PRODUZ REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO: COMO REPENSÁ-LAS? RESUMO

DISCUSSÕES EM TORNO DAS REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADE NO AMBIENTE ESCOLAR: EM BUSCA DO RECONHECIMENTO DA DIFERENÇA.

GÊNERO E SINDICALISMO DOCENTE: UMA ANÁLISE A PARTIR DA PRODUÇÃO PUBLICADA NA CAPES

PLANO DE ENSINO 2017

AS IMPLICAÇÕES SOBRE A CONDIÇÃO DE SER DO GÊNERO MASCULINO NO CURSO DE PEDAGOGIA

Boletim CPA/UFRPE Curso de Administração Campus Dois Irmãos Edição n. 01 Ciclo Avaliativo:

CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADE NA EXPERIÊNCIA NA ESCOLA CAMPO DO PIBID DE EDUCAÇÃO FÍSICA EM CATALÃO/GO.

PROGRAMA DE DISCIPLINA

Boletim CPA/UFRPE Curso de Licenciatura em Educação Física Campus Dois Irmãos Edição n. 01 Ciclo Avaliativo:

Boletim CPA/UFRPE Curso de Licenciatura em Física Campus Dois Irmãos Edição n. 01 Ciclo Avaliativo:

Boletim CPA/UFRPE Curso de Licenciatura em Química Campus Dois Irmãos Edição n. 01 Ciclo Avaliativo:

Boletim CPA/UFRPE Curso de Economia Doméstica Campus Dois Irmãos Edição n. 01 Ciclo Avaliativo:

Boletim CPA/UFRPE Curso de Zootecnia Campus Dois Irmãos Edição n. 01 Ciclo Avaliativo:

Boletim CPA/UFRPE Curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas Campus Dois Irmãos Edição n. 01 Ciclo Avaliativo:

Boletim CPA/UFRPE Curso de Medicina Veterinária Campus Dois Irmãos Edição n. 01 Ciclo Avaliativo:

Boletim CPA/UFRPE Curso de Licenciatura em Letras Unidade Acadêmica de Garanhuns Edição n. 01 Ciclo Avaliativo:

Boletim CPA/UFRPE Curso de Engenharia de Alimentos Unidade Acadêmica de Garanhuns Edição n. 01 Ciclo Avaliativo:

Boletim CPA/UFRPE Curso de Medicina Veterinária Unidade Acadêmica de Garanhuns Edição n. 01 Ciclo Avaliativo:

Boletim CPA/UFRPE Curso de Bacharelado em Ciência da Computação Unidade Acadêmica de Garanhuns Edição n. 01 Ciclo Avaliativo:

GÊNERO E FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO: POSSIBILIDADES PARA PENSAR O CURRÍCULO ESCOLAR

FRIDAS: UMA PROPOSTA DE GRUPO DE ESTUDOS SOBRE GÊNERO E DIVERSIDADE NO AMBIENTE ESCOLAR.

Índice. 1. Professor-Coordenador e suas Atividades no Processo Educacional Os Saberes dos Professores...4

DIALOGANDO SOBRE GÊNERO: O IMPACTO NA FORMAÇÃO DOCENTE

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

LINHAS DE PESQUISA OBJETO PROJETO CONTEÚDO

A CONSTRUÇÃO CURRICULAR NO CONTEXTO DO ENSINO FUNDAMENTAL COM BASE EM CRITÉRIOS FUNDAMENTADOS NO PENSAMENTO DE PAULO FREIRE

O(A) PROFESSOR(A) MEDIADOR(A) DE LEITURAS

EDUCAÇÃO INFANTIL E A SEXUALIDADE: O OLHAR DO PROFESSOR

Pró-Reitoria de Graduação. Plano de Ensino 1º Quadrimestre de 2016

PERSPECTIVAS DO PLANEJAMENTO NO ENSINO FUNDAMENTAL PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

A TEMÁTICA PRECONCEITO EM PESQUISAS EM EDUCAÇÃO: ESTUDO SOBRE TESES E DISSERTAÇÕES DEFENDIDAS EM PPGES DO ESTADO DO PARANÁ

CURSO DE VERÃO. PROPOSTA: Com a intenção de atender aos diferentes atores interessados na temática da disciplina,

REGULAMENTO DO NÚCLEO DE ESTUDOS, PESQUISA E EXTENSÃO: VIOLÊNCIA E SERVIÇO SOCIAL DA FAPSS SP

RECIPROCIDADE NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES: PROPOSTA EM DISCUSSÃO

PERFORMANCES HOMOAFETIVAS NA MÚSICA AVESSO, DE JORGE VERCILO

FORMAÇÃO CONTINUADA COM EDUCADORES: (DES)NATURALIZANDO CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADE NA ESCOLA.

PEDAGOGIAS DE GÊNERO E SEXUALIDADE: CONTRIBUIÇÕES DA MÍDIA PARA A FORMAÇÃO DOCENTE

09/2011. Formação de Educadores. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

PLANO DE ESTÁGIO DA DISCIPLINA CURRÍCULOS E PROGRAMAS EDM O SEMESTRE/2019 Docente responsável : Cláudia Valentina Galian

ENSINO DE HISTÓRIA E TEMAS TRANSVERSAIS: UMA ABORGAGEM PÓS-ESTRUTUTAL A PARTIR DO EIXO NORTEADOR RELAÇÕES DE GÊNERO.

Disciplina: MEN 7011 Semestre: 2013/2 Turma: 06326A Nome da disciplina: Estágio Supervisionado de História I. CED523 horas-aula)

PAINEL TEMÁTICO ANPEd 39ª Reunião Nacional. Regras para Submissão

SEXUALIDADE INFANTIL NA ESCOLA: ANÁLISE DO CURRÍCULO E DAS PRÁTICAS DOCENTES NO COTIDIANO ESCOLAR

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

Eixo Temático: Questão Social e Serviço Social

OS SABERES DOCENTES: AS CONCEPÇÕES DE PROFESSORAS DA REDE MUNICIPAL DO RECIFE

O currículo na perspectiva da Interdisciplinaridade: implicações para pesquisa e para a sala de aula

Campus de Presidente Prudente PROGRAMA DE ENSINO. Área de Concentração EDUCAÇÃO. Aulas teóricas:08 Aulas práticas: 08

EDUCAÇÃO INTEGRAL: A AÇÃO DOCENTE DO PROFESSOR QUE ATUA EM OFICINA PEDAGÓGICA DE ARTE NA CIDADE DE LONDRINA

Material Suplementar para "Tradução e adaptação cultural de instrumentos de coleta de dados sobre construção de gênero na infância"

A EDUCOMUNICAÇÃO NOS DEBATES SOBRE GÊNERO E SEXUALIDADE

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA Programa de Pós-Graduação em Educação

Formação docente interdisciplinar como espaço de reflexão coletiva acerca da prática docente

DIÁRIO DIALOGADO: EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA NA PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

PLANO DE CURSO. Código: PSI18 Carga Horária: 60 Créditos: 03 Pré-requisito(s): Processos Psicossociais I Período: 3º período Ano: 2018.

Na minha escola todo mundo é igual? REFLEXÕES SOBRE PLURALIDADE CULTURAL NA E.M.E.F. DR. ALCIDES DE MENDONÇA LIMA

GÊNERO E SEXUALIDADE NA FORMAÇÃO DOCENTE: DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Palavras-chave: Formação Continuada. Múltiplas Linguagens. Ensino Fundamental I.

A pedagogia do teatro no cruzamento de fronteiras

UMA ANÁLISE DOS CONTEÚDOS DE PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA NOS LIVROS DO ENSINO FUNDAMENTAL E ENSINO MÉDIO DA CIDADE DE JATAÍ

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: ENSINO DE CIÊNCIAS INTERDISCIPLINAR NA PERSPECTIVA HISTÓRICO- CRÍTICA

PERCEPÇÕES ACERCA DA LINGUAGEM NA FORMAÇÃO DOCENTE DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO DE RONDONÓPOLIS

29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul VIVÊNCIAS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO MUNICÍPIO DE SARANDI: O PROJETO BRINCADEIRAS EM AÇÃO

EDUCAÇÃO POPULAR EM SAUDE E SEUS PROCESSOS EDUCATIVOS NO ENSINO E EXTENSÃO EM ENFERMAGEM.

EDITAL DA MOSTRA CIENTÍFICA DA SEMANA PEDAGÓGICA DO CENTRO DE EDUCAÇÃO (CE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE)

PLANO DE TRABALHO BOLSISTA DE EXTENSÃO

CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DE GÊNERO A AÇÃO DOCENTE: PROBLEMATIZANDO A PRÁTICA

A PRODUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE GÊNERO E SEXUALIDADE NO ESPAÇO ESCOLAR: QUEM REPRESENTA E QUEM É REPRESENTADO?

A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA NO COMBATE AO PRECONCEITO

VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA MENINOS EM UMA CIDADE DO INTERIOR DO BRASIL ( )

A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA: Realidade da Rede Pública de Educação de Ouro Fino MG RESUMO

PROGRAMA DE DISCIPLINA

A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES/AS: CONTRIBUIÇÕES DA PERSPECTIVA DIALÓGICA

SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA INSERÇÃO DA TEMÁTICA QUALIDADE DO AR NO ENSINO DE QUÍMICA1 1

Campus de Presidente Prudente PROGRAMA DE ENSINO. Área de Concentração EDUCAÇÃO. Aulas teóricas:08 Aulas práticas: 08

ITINERÁRIOS DE PESQUISA: POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO E PRÁXIS EDUCACIONAIS

A COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA E FORMAÇÃO CONTINUADA NA ESCOLA: O DIÁLOGO COMO ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA

A ALFABETIZAÇÃO E A FORMAÇÃO DE CRIANÇAS LEITORAS E PRODUTURAS DE TEXTOS¹. Aline Serra de Jesus. Graduanda em Pedagogia

FORMAÇÃO DE EDUCADORES A PARTIR DA METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO TEMÁTICA FREIREANA: UMA PESQUISA-AÇÃO JUNTO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS CENTRO DE ENSINO E PESQUISA APLICADO À EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA ENSINO FUNDAMENTAL

PLANO DE ENSINO DA DISCIPLINA BLOCO I IDENTIFICAÇÃO

Transcrição:

(DES)CONSTRUÇÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADE: INTERFACES ENTRE EDUCAÇÃO BÁSICA E ENSINO SUPERIOR Fabiane Freire França Universidade Estadual do Paraná Campus de Campo Mourão (UNESPAR) prof.fabianefreire@gmail.com Geiva Carolina Calsa Universidade Estadual de Maringá (UEM) gccalsa@uem.br Introdução É notória a existência de teorizações sobre gênero e sexualidade 1 que circulam em algumas instituições de Ensino Superior. Essas discussões têm chegado à escola, mas temos encontrado ainda resistências a essa abordagem. Nesta direção, é necessário colocar as teorizações em prática e um dos caminhos encontrados foi o de articular a produção de pesquisas no Ensino Superior a pesquisas na Educação Básica. Deste modo, apresentamos um recorte de nossa pesquisa de doutorado iniciada no ano de 2010 e concluída neste ano de 2014 que se expressa na seguinte problemática: como transformar as teorizações e representações sobre gênero em modos de fazer pedagógicos no ambiente escolar? Para atender ao objetivo da pesquisa: apresentar as interfaces dos Estudos de Gênero no Ensino Superior e na Educação Básica, os dados obtidos foram analisados pelo viés da Teoria das Representações Sociais (MOSCOVICI, 2011). Nesse sentido, o presente artigo foi organizado em três subdivisões: na inicial propomos apresentar a metodologia da pesquisa, na 1 Gênero refere-se às condições sociais de identificação social e corporal com as características de masculinidade e/ou feminilidade e suas variantes como travestismo, androginia, dentre outras. A sexualidade está atrelada ao encaminhamento ou direcionamento do desejo enquanto orientação sexual que representa o sujeito heterossexual, homossexual e bissexual (LOURO, 1997).

sequência a síntese dos resultados e discussões decorrentes da investigação e por fim algumas considerações finais sobre a pesquisa. Metodologia O trabalho contou com a participação de 18 profissionais, mulheres 2 ao todo, que se desdobraram em 11 professoras, 2 orientadoras, 2 auxiliares de serviços gerais, 1 diretora, 1 auxiliar de cozinha e 1 servente geral funcionárias de uma Escola Municipal da cidade de Campo Mourão-PR. Com base na premissa freireana, Accorssi (2011) e Romão et al (2 006) salientam que o círculo epistemológico se constitui um recurso no qual pesquisados/as tornam-se pesquisandos/as, enquanto o/a pesquisador/a é desafiado/a a questionar suas próprias representações. As discussões do círculo epistemológico produzido por Accorssi (2011 ), e a sugestão de Jovchelovitch (2008) em pensar a pesquisa como um ato dialógico, ambas ancoradas em Paulo Freire (1987), permitiram-nos a organização de um novo recurso metodológico: o círculo dialógico. Em cada encontro, buscamos problematizar os saberes considerados verdades absolutas, o que significou interrogá-los do ponto de vista histórico, social e cultural, como também discutir a possibilidade de reorganizá-los a partir dos novos elementos expostos pela coordenadora e originados da própria interação do grupo. No círculo dialógico, para a realização do processo de problematização e desconstruções sobre os conceitos hegemônicos de gênero e sexualidade, utilizamos notícias de jornal sobre agressão a homossexuais, imagens de famílias homoafetivas, vídeos sobre a temática, situações consideradas problemas que podem ocorrer no cotidiano escolar para estabelecermos diálogos e coletarmos as representações das participantes. Além disso, tivemos acesso ao espaço escolar, desde a sala de aula à sala das professoras e professor. Observamos situações nos pátios, corredores, em vários momentos: nos horários de entrada, durante os intervalos e no período de saída da escola. As informações coletadas foram 2 Embora tivessem dois homens um professor do quarto ano e um técnico responsável pelo laboratório de informática-, apenas as professoras aceitaram aderir à pesquisa. O professor justificou não ter afinidades com a temática.

reconstruídas em forma de transcrições literais, feitas em diário de campo como proposto por Bogdan e Biklen (1999). Tanto as observações, quanto o círculo dialógico ocorreram no 2º semestre de 2012 com duração de 4h (13h15-17h15) e de 1h e 30 min (17h30-19h) respectivamente. Para a observação dos sujeitos contamos ainda com a colaboração de quatro auxiliares de pesquisa (acadêmicas de Pedagogia) que foram orientadas a anotar todas as situações percebidas durante as observações do espaço escolar e das próprias discussões durante os círculos dialógicos que tivessem alguma conexão com os estudos de gênero e sexualidade. Resultados e Discussão No transcorrer dos círculos dialógicos, apesar da prevalência de representações sociais hegemônicas, encontramos indícios de polifasia cognitiva 3 das participantes sobre o tema gênero e sexualidade que se evidenciaram em suas dúvidas, conflitos e tensões. As verbalizações das participantes ora sinalizavam representações sociais, ancoradas em uma visão binária e cristalizada de gênero, ora manifestavam dúvidas em relação ao seu posicionamento pessoal, seus valores e crenças, ora questionavam abertamente as representações expressas pelas colegas e que reproduziam o esperado como padrão de comportamento de homens e mulheres. Essas representações sociais se objetivam em práticas pedagógicas observadas por nós no cotidiano escolar, como a escolha de cores para colorir os desenhos azul para meninos e rosa para meninas, de brinquedos e brincadeiras fixos para cada gênero, de colegas para conversar meninos com meninos e meninas com meninas como expresso em uma das falas das participantes meninas não devem ficar entulhadas entre os meninos (Registro do diário de campo), do jeito se movimentar, de se sentar ou ficar em pé. Essas condutas são sugeridas aos/as alunos/as por serem consideradas pelas participantes adequadas ao padrão de como ser menino e menina. Em todas essas situações, as professoras e funcionárias justificam suas atitudes a 3 Estado em que se reconhece a diversidade e a coexistência das lógicas do saber (Moscovici, 2011).

partir da afirmação de que estão formando as crianças para que não sejam mal vistas ou rejeitadas pelos/as colegas. As participantes comentaram também se importar com os/as adultos/as, em particular as famílias dos/as alunos/as. A reação das famílias foi também a principal justificativa para que assuntos relacionados ao gênero não sejam abordados na escola. Apesar disso, constatamos que tais justificativas referem-se às suas próprias dificuldades em lidar com esse tema na medida em que não aceitam expressões de gênero e sexualidade não normatizadas. Conclusão Tomando como referência as teorizações de Jovchelovitch (2008) e Moscovici (2011), consideramos que a manifestação e discussão de representações sociais diferentes em um contexto de dialogicidade - como foram os círculos dialógicos - contribuíram para a abertura das participantes ao diálogo com o outro, ao que é diferente de si. Como alertam os/as autores/as, o processo de desconstrução e construção de representações sociais não significa substituição de saberes e fazeres e sim sua coexistência, ainda que sejam contraditórios e opostos. Supomos que o diálogo com e sobre o outro pode desestabilizar certezas naturalizadas e absolutizadas. Em vista desses resultados, consideramos que não bastam somente teorizações em nível superior, faz-se necessária uma prática de formação continuada voltada para a subjetividade dos/as profissionais que atuam na instituição escolar. Estudos anteriores (FRANÇA, 2009; FRANÇA; CALSA, 2010; 2011) evidenciam a importância da formação de professores/as envolver também os elementos de sua formação pessoal e profissional, uma vez que subjetividade, razão, emoção, sentimentos e valores formam as representações sociais que ensinam aos seus/as estudantes. Outro caminho foi a escolha por uma formação conjunta de docentes em formação acadêmicas de Pedagogia, auxiliares da pesquisa e docentes já atuantes, bem como as funcionárias das escolas, tais como auxiliares de serviços gerais e de cozinha que aceitaram fazer parte das discussões. Fizemos desta proposta uma experiência e a tornamos um convite, a quem se

interessa por estratégias de ação e reflexão sobre gênero para além de uma visão canônica ocidental. Referências ACCORSSI, Aline. Materializações do pensamento social sobre a pobreza. 184 f. Tese (Doutorado em Psicologia Social) Faculdade de Psicologia, Pós- Graduação Psicologia Social. PUCRS. Porto Alegre, 2011. BOGDAN, Robert e BIKLEN, Sara. Investigação qualitativa em educação. Uma introdução à teoria e métodos. Porto: Porto Editora, 1999. FRANÇA, Fabiane Freire. A contribuição dos estudos de gênero à formação docente: uma proposta de intervenção. 2009. 124 f. Dissertação (Mestrado em Educação)- Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, 2009. FRANÇA, Fabiane Freire; CALSA, Geiva Carolina. Gênero e formação docente: contribuições de um processo de intervenção pedagógica. Revista Contrapontos Eletrônica, Itajaí, v. 10. n. 2, p. 105-112, maio/ago., 2010. FRANÇA, Fabiane Freire. CALSA, Geiva Carolina. A problematização dos saberes de gênero no ambiente escolar: uma proposta de intervenção à formação docente. Revista Antíteses, UEL, Londrina, v. 4, n. 7, 2011 p. 203-222. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido.13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. JOVCHELOVITCH, Sandra. Os contextos do saber: representações, comunidade e cultura. Petrópolis: Vozes, 2008. (Coleção Psicologia Social). LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: investigações em psicologia social. Rio de Janeiro: Vozes, 2011. ROMÃO, José Eustáquio; CABRAL, Ivone. E; CARRÃO, Eduardo Vítor de M. COELHO, Edgar P. Círculo epistemológico círculo de cultura como metodologia de pesquisa. In. Revista Educação & Sociedade. a. 9, n. 13. P. 173-195, Universidade Metodista de São Paulo. Jan./jun. 2006.