EPIDEMIOLOGIA DAS FRATURAS ZIGOMÁTICAS: UMA ANÁLISE DE 10 ANOS

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ARTIGO EPIDEMIOLOGIA DAS FRATURAS ZIGOMÁTICAS: UMA ANÁLISE DE 10 ANOS ZYGOMATIC FRACTURES EPIDEMIOLOGY: A 10-YEAR-ANALYSIS Gondola, Abdiel Ortega* Pereira Júnior, Edwaldo Dourado** Pereira, Anderson Marciano*** Antunes, Antonio Azoubel**** RESUMO Devido a sua localização e projeção no complexo maxilofacial, o osso zigomático apresenta elevado índice de fratura comparando-o às demais fraturas dos ossos da face. Estudos epidemiológicos sempre são de grande importância para o cirurgião BucoMaxiloFacial, pois fornecem dados pelos quais se pode traçar o perfil das fraturas faciais e analisar a efetividade dos métodos de tratamento empregados. No presente trabalho foi realizado um levantamento epidemiológico retrospectivo de 10 anos dos pacientes atendidos no Hospital Infantil Maria Lucinda que apresentavam fratura do complexo zigomático. A amostra foi composta por 153 pacientes portadores de fratura do complexo zigomático, onde foram analisados comparativamente os indicadores gênero, faixa etária, etiologia do trauma e localização topográfica da fratura. Os resultados obtidos mostraram o gênero masculino como o mais acometido (83,6%), a faixa etária de 21 a 40 anos (71,2%) mais freqüente, tendo como causa principal a queda da própria altura (39,9%) e o osso zigomático esquerdo como a localização mais afetada (49,7%). UNITERMOS: fraturas de zigomático; trauma facial; terço médio da face; epidemiologia. SUMMARY Due its location and maxillofacial salience, the zygomatic bone represents a high fracture rate, if compared to the other facial bones. Epidemiological studies are always very valuable to the oral and maxillofacial surgeon, to supply some data that can delineate these fractures profile and analyze the effectiveness of the treatment methods. On the present study, a 10-year-epidemiological-retrospective-research was made in patients attended at Maria Lucinda Child Hospital, which had zygomatic bone fracture. The sample had 153 patients with zygomatic complex fracture, and it was analyzed the markers gender, age, trauma aetiology, and fractures topographic site. The results obtained showed the male gender as the most prevalent (83.6%), the age of 21 to 40 years most frequent, the fall (39.9%) and the left zygomatic bone as the site most affected (49.7%). UNITERMS: zygomatic fractures; facial trauma; midface; epidemiology. * Chefe do Serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Hospital Maria Lucinda. ** Professor Adjunto da Disciplina de Cirurugia e Traumatologia Bucomaxilofacial da Faculdade de Odontologia da Universidade de Pernambuco. Doutor em Estomatologia pela Universidade de Barcelona, Espanha. *** Residente do terceiro ano do Programa de Residência em CRBMF do Hospital Restauração, Recife, PE. Cirurgião Bucomaxilofacial do Hospital Maria Lucinda. **** Aluno de Graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade de Pernambuco. 158 Revista Odonto Ciência Fac. Odonto/PUCRS, v. 21, n. 52, abr./jun. 2006

INTRODUÇÃO As injúrias maxilofaciais estão presentes em uma porção substancial dos casos de trauma, sendo em muitos casos o complexo zigomático maxilar a segunda área da face mais atingida por traumatismos, superada apenas pelos ossos nasais. É elemento essencial na configuração da face, uma vez que se constitui em uma das principais estruturas formadoras do terço médio facial. Está situado entre o víscero e neurocrânio, sendo importante na biomecânica onde desempenha papel fundamental na absorção e escoamento das forças de mastigação através dos pilares de reforço e sustentação (Kayatt 10, 2002). O complexo zigomático é formado pelo corpo do zigoma e arco zigomático, e constitui-se uma estrutura óssea de anatomia simples e linear, com a superfície lateral convexa e a medial côncava (Charles 4, 1988), onde sua topografia e contornos proeminentes o tornam um osso altamente susceptível a traumas e lesões (Dingman et al. 6, 2001). Desempenha função importante no contorno facial e na proteção do conteúdo orbitário. As fraturas do complexo zigomático foram primeiramente relatadas nos papiros de Smith, em 1650 ac., nos quais as mesmas não eram encaradas como uma entidade separada, mas como uma parte da maxila, do osso temporal e frontal (Dingman et al. 6, 2001). De acordo com alguns estudos epidemiológicos, as fraturas do osso e arco zigomático estão em segundo ou terceiro lugar dentre todas as fraturas faciais, com uma prevalência média entre 17 e 40% (Falcão 7, 1999; Reis et al. 14, 2001). O objetivo da presente pesquisa é relatar a experiência dos autores traçando um perfil epidemiológico e analisando os resultados obtidos através de um estudo retrospectivo de 153 casos de fraturas do complexo zigomático, discutindo sua importância e aplicabilidade clínica; dando ênfase a variáveis como gênero, faixa etária, etiologia e distribuição topográfica das fraturas, comparando os achados clínicos com outros estudos da literatura. MATERIAIS E MÉTODO Foi realizado um estudo retrospectivo, no período de janeiro de 1994 a janeiro de 2005 (10 anos), dos pacientes atendidos no ambulatório de Cirurgia Bucomaxilofacial do Hospital Maria Lucinda, na cidade de Recife, Pernambuco. Durante o período supracitado, foram atendidos, 153 pacientes portadores de fraturas do osso zigomático, arco zigomático, ou ambos, compondo assim a amostra analisada. Para a obtenção dos dados, foram levantados os prontuários dos pacientes. Todos os dados foram colhidos em formulário próprio, contendo as variáveis: gênero, idade, etiologia do trauma e localização das fraturas. RESULTADOS O grupo avaliado de 153 pacientes atendidos apresentando fratura do complexo zigomático foi assim distribuído: TABELA 1 Distribuição dos pacientes quanto ao gênero. n % Masculino 128 83.6 Feminino 25 16.4 Total 153 100.0 TABELA 2 Distribuição dos pacientes quanto ao agente etiológico do trauma. n % Queda 61 39.9 Acidente de trânsito 43 28.1 Agressão física 37 24.1 Prática esportiva 11 7.2 Outros 01 0.7 Total 153 100.0 TABELA 3 Distribuição dos pacientes quanto à localização e faixa etária. 11-20 21-30 31-40 41-50 51-60 Zigomático D 10 6.4 18 11.7 20 13.0 7 4.9 3 2.0 Zigomático E 7 4.9 26 17.1 28 18.1 12 8.1 3 2.0 Zigomático e Arco D 4 2.6 5 3.2 1 0.5 Zigomático e Arco E 6 3.9 2 1.6 1 Total 17 11.3 54 35.3 55 35.9 20 13.0 7 4.5 Revista Odonto Ciência Fac. Odonto/PUCRS, v. 21, n. 52, abr./jun. 2006 159

TABELA 4 Distribuição dos pacientes quanto à etiologia e faixa etária. 11-20 21-30 31-40 41-50 51-60 Queda 6 3.9 19 12.4 23 15.0 7 4.6 6 3.9 Acidente de Trânsito 5 3.2 19 12.4 14 9.1 5 3.2 Agressão Física 4 2.6 10 6.6 15 9.8 7 4.6 1 0.6 Prática Esportiva 2 1.6 6 3.9 3 2.0 Outros 1 0.6 TOTAL 17 11.3 54 35.3 55 35.9 20 13.0 7 4.5 TABELA 5 Distribuição dos pacientes quanto à localização e etiologia. Queda Acidente de trânsito Agressão Física Prática Esportiva Outros Zigomático D 17 11.1 21 13.8 15 9.8 5 3.2 Zigomático E 36 23.5 18 11.7 18 11.7 4 2.8 Zigomático e Arco D 4 2.8 3 1.8 2 1.3 1 0.6 Zigomático e Arco E 4 2.8 1 0.6 2 1.3 1 0.6 1 0.6 Total 61 39.9 43 28.1 37 24.1 11 7.2 1 0.7 DISCUSSÃO Fraturas do complexo zigomático estão entre as mais freqüentes do complexo maxilofacial. Por sua posição e projeção no arcabouço facial, apresentam uma significativa incidência de injúrias além de representar peça fundamental na estética do paciente. Há na literatura controvérsias quanto à incidência das fraturas zigomáticas. Enquanto alguns estudos afirmam que as fraturas zigomáticas ocupam a segunda ou terceira colocação no que se refere à freqüência de fraturas com uma prevalência média entre 17 e 40 % (Falcão 7, 1999; Reis et al. 14, 2001; Kayatt 10, 2002; Motamedi 12, 2003; Al Ahmed et al. 2, 2004). Ferreira et al. 9 (2004) e Cheema 5, (2004), relatam que as referidas fraturas apresentam-se como as mais freqüentes. Isso nos mostra que os resultados epidemiológicos obtidos a respeito das fraturas zigomáticas tendem a variar com a região geográfica, condição socioeconômica, cultura, religião e época. Na população estudada houve uma predominância de lesões traumáticas em homens representando 83,6% (128 casos) do total de 153 pacientes (Tabela 1). Esse é um dado consensual na maioria dos estudos revisados, onde a incidência variou entre 76,1% (Obuekwe et al. 13, 2005) a até 89% (Motamedi 12, 2003). Até mesmo no estudo de Ferreira et al. 9 (2004), onde foram avaliados 492 indivíduos com idade entre 1 e 18 anos, 77% eram homens, mostrando que a alta incidência no gênero masculino independe da faixa etária. Foi possível observar também uma baixa incidência de fraturas zigomáticas em mulheres. Nesse estudo a proporção masculino/feminino foi de 5,09:1, estando de acordo com Fasola et al. 8 (2002), que obtiveram uma proporção de 5,3:1, e abaixo do encontrado por Al Ahmed et al. 2 (2004), com uma proporção de 11:1 de homens em relação às mulheres. Adebayo et al. 1 (2003), em sua pesquisa contabilizou uma relação de masculino/feminino de 3:1, sugerindo que houve um aumento em cerca de quatro vezes no número de mulheres com fraturas faciais na população muçulmana, devido a uma maior exposição da mulher nos últimos 20 anos. Com relação à idade, a literatura revela que a maior prevalência se dá na faixa entre 21 e 30 anos (3ª década de vida), a qual é representada pelos adultos jovens (Fasola et al. 8, 2002; Motamedi 12, 2003; Al Ahmed et al. 2, 2004; Cheema 5, 2004; Obuekwe et al. 13, 2005; Ugboko et al. 16, 2005). Contudo, Klenk, Kovacs 11 (2003), em estudo que incluiu 144 pacientes, com uma idade média de 26.5 anos, os pacientes que apresentaram uma maior freqüência de injurias pertenciam a 2ª década de vida. 160 Revista Odonto Ciência Fac. Odonto/PUCRS, v. 21, n. 52, abr./jun. 2006

Na amostra estudada não foi observada diferença estatística significante entre as faixas etárias mais atingidas (2º e 3º década de vida) (Tabela 3). É possível que pelo ímpeto em aproveitar os prazeres da vida moderna, esses jovens adultos acabam abusando das bebidas alcoólicas (Tadj, Kimble 15, 2003) excedam os limites de velocidade, ou mesmo por conta do vigor físico se envolvam mais em atritos físicos e, dessa forma, estejam mais propensos a sofrerem um maior número de traumas físicos (Tabela 4). A maioria das fraturas faciais tem como etiologia o acidente de trânsito (Carlin et al. 3, 1998; Motamedi 12, 2003; Al Ahmed et al. 2, 2004) e, conseqüentemente, isso se reflete na etiologia das fraturas do complexo zigomático. Porém, analisando trabalhos onde se avaliou apenas as fraturas zigomáticas, a literatura também mostra que o acidente de trânsito é a principal causa de fraturas do mesmo (Fasola et al. 8, 2002; Tadj, Kimble 15, 2003; Ferreira et al. 9, 2004; Cheema 5, 2004; Obuekwe et al. 13, 2005; Ugboko et al. 16, 2005). Isso pode ser atribuído à possibilidade de em diferentes regiões geográficas os jovens poderem dirigir automóveis e motocicletas mais cedo, a alta velocidade, a não atenção ao uso do cinto de segurança e o menos rigor nas leis e regulamentações de trânsito (Motamedi 12, 2003). Diferentemente da maioria da literatura consultada, observou-se que a queda da própria altura foi a causa mais freqüente das fraturas do complexo zigomático no presente estudo (Tabela 2). Segundo Adebayo et al. 1 (2003) e Klenk, Kovacs 11, (2003) as quedas da própria altura correspondem a segunda maior causa de fraturas faciais, sendo superadas apenas pelos acidentes de trânsito. Cheema 5 (2004) observou que em 117 (56%) casos apenas o osso zigomático era fraturado, enquanto o restante 92 (44%) casos, ocorria fratura combinada do osso zigomático com outro osso do arcabouço facial. Obuekwe et al. 13 (2005), considerando o sítio de fratura zigomática em 134 casos, observaram que 88.8% dos pacientes tinham fratura do osso zigomático, 8.2% tinham fratura do arco zigomático, e 3.0% tinham fratura do osso zigomático e arco. Na amostra total, a fratura unilateral do osso zigomático representou 87,6% dos casos, tendo sido o esquerdo superior ao direito (49,7% e 37,9%, respectivamente), contrário à fratura do complexo zigomático (representado pelo corpo do osso zigomático e arco) em que o lado direito sofreu mais fraturas que o esquerdo (6,5% e 5,9%, respectivamente) (Tabela 5). Ugboko et al. 16 (2005) observaram a ocorrência de 116 fraturas zigomáticas unilaterais (63 esquerda, 53 direita) e 12 fraturas bilaterais, apontando o lado direito da face como o de maior incidência de fratura do arco zigomático. CONCLUSÕES 1. As fraturas do complexo zigomático ocorrem em sua maioria em indivíduos do gênero masculino. 2. A 2ª, 3ª e 4ª décadas de vida são as épocas de maior ocorrência de fraturas zigomáticas. 3. A queda é o fator etiológico mais freqüente causador de fraturas zigomáticas, seguido do acidente automobilístico. 4. Independente do mecanismo do trauma, as fraturas somente de osso zigomático são mais prevalentes em relação às fraturas de arco zigomático. 5. Os estudos epidemiológicos são de fundamental importância para o conhecimento do problema e adoção de medidas de prevenção e tratamento das injúrias faciais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Adebayo ET, Ajike OS, Adekeye EO. Analysis of the pattern of maxillofacial fractures in Kaduna, Nigeria. Br J Oral Maxillofac Surg. 2003;41(6):396-400. 2. Al Ahmed HE, Jaber MA, Abu Fanas SH, Karas M. The pattern of maxillofacial fractures in Sharjah, United Arab Emirates: a review of 230 cases. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2004;98(2):166-70. 3. Carlin CB, Ruff G, Mansfeld CP, Clinton MS. Facial fractures and related injuries: a ten-year retrospective analysis. J Craniomaxillofac Trauma. 1998;4(2):44-8. 4. Charles CM. Gray anatomia. Philadelphia, Pensylvania: Guanabara Koogan; 1988, p. 160-2. 5. Cheema SA. Zygomatic bone fracture. J Coll Physicians Surg Pak 2004;14(6):337-9. 6. Dingman RO, Natvig P. Cirurgia das fraturas faciais. Philadelphia: Saunders; 2001, p. 11-42. 7. Falcão MFL. Estudo epidemiológico das fraturas faciais tratadas no hospital da restauração na cidade do Recife, Pernambuco, no período de 1988 a 1998. Camaragibe, 1999. 60 f. [Tese de Mestrado Faculdade de Odontologia de Pernambuco, Universidade de Pernambuco]. 8. Fasola AO, Obiechina AE, Arotiba JT. Zygomatic complex fractures at the University College Hospital, Ibadan, Nigeria. East Afr Med J. 2002;79(3): 137-9. 9. Ferreira P, Marques M, Pinho C, Rodrigues J, Reis J, Amarante J. Midfacial fractures in children and adolescents: a review of 492 cases. Br J Oral Maxillofac Surg. 2004;42(6):501-5. Revista Odonto Ciência Fac. Odonto/PUCRS, v. 21, n. 52, abr./jun. 2006 161

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