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1 GABINETE DO VEREADOR FLORIANO PESARO DATA: 6/08/2014 DISCURSO 15 Lei Maria da Penha completa 8 anos Sr. Presidente, nobres Vereadores, telespectadores da Tv Câmara São Paulo. Boa tarde. anos. Amanhã (7/6), a Lei Maria da Penha completará oito Sancionada em 7 de agosto de 2006, a lei alterou o Código Penal brasileiro e possibilitou que agressores de mulheres no âmbito doméstico ou familiar fossem presos em flagrante ou tivessem sua prisão preventiva decretada. A partir de então, o agressor também não pôde mais ser punido por meio de penas alternativas. A legislação também aumentou o tempo máximo de detenção previsto de um para três anos. A lei ainda prevê medidas que envolvem a saída do agressor do domicílio e a

2 proibição para que este se aproxime da mulher agredida e dos filhos. Coma Lei Maria da Penha a mulher passou a ter mais amparo legal. Para se ter a dimensão do avanço, basta lembrarmos que, em um passado recente, elas só eram amparadas pela Lei 9.099/95, que regula os crimes de menor potencial ofensivo. Quase sempre, nestes casos, a pena do agressor era convertida em prestação de serviço à comunidade ou em doação de cestas básica. A Lei é, portanto, um importante avanço. Foi uma resposta ao endêmico problema da violência contra a mulher. Para termos a real noção do tamanho desta violência, entre os 84 países do mundo, o Brasil ocupava a 7ª colocação em níveis de feminicídio, baseado nas estatísticas da OMS entre 2006 e 2010. Em média ocorrem 5.664 mortes de mulheres por causas violentas a cada ano, 472 a cada mês.

3 Isso significa que a cada dia mais de 15 mulheres são mortas vítimas da violência, ou uma a cada hora e meia 1 Mulheres jovens foram as principais vítimas: 31% na faixa etária de 20 a 29 anos e 23% de 30 a 39 anos. Mais da metade dos óbitos (54%) foi de mulheres de 20 a 39 anos, e a maioria (31%) ocorreu em via pública, contra 29% em domicílio e 25% em hospital ou outro estabelecimento de saúde. O feminicídio, que é o homicídio da mulher por um conflito de gênero, ou seja, por ser mulher, tem que acabar! O incrível, é que esses crimes são geralmente praticados por homens, principalmente parceiros ou exparceiros, em situações de abuso familiar, ameaças ou intimidação, violência sexual, ou situações nas quais a mulher tem menos poder ou menos recursos do que o homem. 1 Fonte: Relatório Violência contra a mulher: feminicídios no Brasil, 2013. Ipea

4 Neste contexto, cabe ao poder público não só fazer cumprir as leis punitivas, como, também, estabelecer e implementar medidas protetivas para essas mulheres. A Lei Maria da Penha deve ser divulgada e apropriada por toda a sociedade como forma de entender que a agressão contra a mulher não é cultural, moralmente aceitável ou ficará impune. No entanto, as medidas devem ir além e fazer com que as mulheres se sintam seguras e amparadas pelo Estado para fazer valer seus direitos legais previstos. Infelizmente, a Lei Maria da Penha não teve impacto no número de mortes por esse tipo de agressão, segundo estudo realizado em 2013 pelo Ipea. O Ipea apresentou uma nova estimativa sobre mortes de mulheres em razão de violência doméstica com base em dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.

5 As taxas de mortalidade foram 5,28 por 100 mil mulheres no período 2001 a 2006 (antes da lei) e de 5,22 em 2007 a 2011 (depois da lei), diz o estudo. Conforme o Ipea, houve apenas um sutil decréscimo da taxa no ano 2007, imediatamente após a vigência da lei, mas depois a taxa voltou a crescer. O instituto estima que teriam ocorrido no país 5,82 óbitos para cada 100 mil mulheres entre 2009 e 2011. quadro. Precisamos trabalhar arduamente para mudar este Foi com esse objetivo que, em fevereiro deste ano, promovemos, aqui na Câmara, um seminário, em parceria com a Associação Fala Mulher, sobre o tema. Na ocasião, reunimos especialistas da área que trouxeram à mesa de debates temas como: a importância das parcerias na recuperação das mulheres e a violência no segmento judiciário.

6 Com 10 anos de atuação a instituição nos ajudou muito a perceber onde o legislativo pode aprimorar as leis e o poder público executivo pode melhorar na oferta dos equipamentos públicos para receber a mulher vítima de agressão. Nesse sentido, é importante lembrar que nosso estado já é signatário do Programa Federal Mulher, viver sem violência. O Estado participa com a Delegacia da Mulher, oferecendo atendimento de assistência social, e com a Defensoria Pública. Delegados, investigadores e escrivães, além de programas de geração de renda da Secretaria do Emprego, estão inseridos no programa. A Central de Atendimento à Mulher (180) será transformada em disque-denúncia para acionamento imediato da Polícia Militar e do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel). Enfim, nobres colegas, não há dúvidas que a Lei Maria da Penha é umas das leis mais importantes da produção legislativa nacional recente.

7 No entanto, a falta de capacitação, de apropriação social e de serviços e equipamentos públicos dificultam o cumprimento da lei. Os números as vidas seifadas - mostram que é preciso ir além da criação legislativa e tratar outras questões que envolvem sua aplicação. A ferramenta jurídica existe, mas para que ela funcione precisamos dar celeridade à Justiça para que os companheiros agressores não fiquem impunes. A maioria das mulheres que sofrem violência física, já passaram antes por violência psicológica e ameaças. E, em muitos casos, mesmo denunciando, elas não conseguem manter os agressores distantes. Mas é preciso fazer mais. A sociedade precisa estar ciente do seu papel e denunciar os casos de violência. No Brasil, infelizmente, há a cultura do "em briga de marido e mulher, não se mete a colher", da qual discordo totalmente. A violência é inadmissível e nós também temos que ajudar a combatê-la.

8 Por outro lado, cabe aos poderes constituídos fomentar as políticas públicas necessárias para defender a mulher. Entre as ações práticas, está a alocação de recursos para aparelhar as delegacias da mulher, os centros de referência, as casas de passagens e juizados, mas também capacitar os profissionais que atendem às mulheres em situação vulnerável. O caminho da produção legislativa neste momento é, no meu entender, garantir a perenidade de políticas públicas de atendimento e proteção à mulher vítima de violência doméstica. Além de, em uma segunda vertente, aprovar projetos capazes de estimular o diálogo e a cultura de paz. Obrigado.