TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA NOS ARRANJOS PRODUTIVOS DE BASE MINERAL

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Transcrição:

853 XXII ENTMME I VII MSHMT- Ouro Preto-MG, novembro 2007. TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA NOS ARRANJOS PRODUTIVOS DE BASE MINERAL Peiter C. C; Vida! F. W. H; Oliveira S. A. CETEM/MCT- Av. Pedro Calmon, 900- Cidade Universitária- 21941-908 Rio de Janeiro- RJ E-mail: cpciter@cetcm.gov.br; fhollanda@cetem.gov.br; saparecida@cetem.gov.br) Resumo Arranjos produtivos locais são definidos como aglomerações regionais de produtores que fazem parte de uma mesma cadeia produtiva, sendo em grande parte formados por micro c pequenas empresas. Trata-se atualmente de um tópico de grande interesse da política de desenvolvimento econômico do presente governo federal. A adaptação deste conceito à mineração no Brasil levou a concepção do chamado "Arranjo Produtivo de Base Mineral". Dentre os principais gargalos, que bloqueiam o desenvolvimento da atividade mineral nestes arranjos, estão os de caráter tecnológico, que de uma forma ou outra acabam por determinar a competitividade dos produtos e a própria existência lega"! das empresas mineiras por força de exigências da legislação ambiental. A presente contribuição apresenta as estratégias e formas de atuação que o CETEM vem utilizando com sucesso na transferência de tecnologia mineral e ambiental para os micro e pequenos produtores nos arranjos de rochas ornamentais de Pádua (RJ), de Calcário do Cariri (CE) e Opala (PI). Demonstra-se que o sucesso dos trabalhos tem sido favorecido pela transferência de tecnologias simplificadas e adaptadas às condições e necessidades dos arranjos. Palavras-chave: arranjo produtivo, transferência de tecnologia, pequena mineração Abstract Mineral-based local clusters are regional conglomerations of producers who belong to a sarne productive chain. Mostly of such clusters are formed by small and artsanal mining operations. Nowadays clusters are of politica! interest of current Federal Goverment. ln the brazilian mining business this conception was called the " productive mineral-based local cluster" o r APL 's. The main problem that upsets the mining development of these APL-s is the technological gap, which in most of cases determines if the products are able to compete and if the small mining company may even legaly exist due to environmental requirements. The present paper shows the strategy and working projects which are successfully used by CETEM to transfer mining and environmental technology to small and artisanal producers of natural stones in Padua ( RJ ), of limestones in Cariri (CE ) and opal (PI). It becomes clear that the succes ofthe APL-s was influenced by technology transfer, which was simplified and adapted to APL's practical conditions. key-words : technology transfer, small mining, productive cluster

854 Peiter C.C., Vidal F.W. H., Oliveira S. A. l. TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA NOS ARRANJOS PRODUTIVOS DE BASE MINERAL No Brasil, assim como em toda América Latina, as pequenas minerações artesanais procuram trabalhar com bens minerais e gemas de grande interesse mercantil, que no final da cadeia produtiva adquirem valor agregado atraente. Todavia, as pequenas minerações também se voltaram para outros minérios passando a trabalhar, por exemplo, com vários minerais industriais usados na construção civil. 2.367 minas possuem concessão de lavra emitidas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM, 2004), sendo que 1.706 (72,8%) são operadas em pequena escala. Muitas destas minas estão dentro dos arranjos produtivos locais. Segundo a RedeSist (2004), os "Arranjos Produtivos Locais - APL's" são aglomerados de agentes econômicos, políticos c sociais, localizados cm um mesmo território, com foco em um conjunto específico de atividadcs econômicas e que apresentam ou têm condições de fomentar vínculos expressivos de intcração, cooperação e aprendizagem dirccionada para o enraizamento da capacitação social e da capacitação inovativa, essencial para a competitividade empresarial. As principais características de um APL são a cooperação c a intcração, a especialização produtiva, o território definido e o sistema de govemança. Embora persista informalidade, toda contribuição proveniente dos arranjos produtivos locais para a economia mineral brasileira é considerada muito importante pelos especialistas, isso devido ao efeito positivo usufruído pelas comunidades pobres em centenas de municípios pelo Brasil. Se as minerações legais empregam cerca de 135 mil trabalhadores, o número de mineiros informais deve atingir ao menos outro tanto. Por outro lado, apesar da evolução e benefícios sociais dos últimos anos, existem vários aspectos negativos resultantes dos impactos ambientais e condições de trabalho dos garimpeiros. A burocracia dos procedimentos legais ainda toma difícil a obtenção de licenças pelos mineradores artesanais. Entretanto, mesmo que ainda prevaleçam estes fatores negativos, a situação está mudando cm vários lugares. Na opinião dos autores, as principais razões que fizeram com que os governos regionais c federal mudassem a sua postura face à mineração artesanal são: forte compromisso da atual política do governo com a geração de empregos; crescente peso dos recursos naturais e minerais na balança comercial externa; influência crescente das micras e pequenas empresas na economia do país; novos setores de arranjos produtivos minerais, como, por exemplo, de rochas ornamentais, estão crescendo muito rápido e se espalhando pelo país. Em março de 2004 foi lançada uma nova política industrial contendo resoluções, definições c ferramentas para oferecer suporte aos arranjos produtivos. A definição de um arranjo industrial ou produtivo foi alterada, para se adaptar as circunstancias da economia brasileira. Para o setor mineral a possibilidade de promover os APL's foi muito positiva, pois foram criados suportes financeiros com ajuda governamental, muitas comunidades de produtores minerais mudaram a sua organização c a produção para obter melhores padrões técnicos, ambientais e de comercialização. 1.1 Arranjos Produtivos de Base Mineral (APL's) Dentro da política industrial conhecida como Política Industrial, Tecnológica c de Comercio Extcrior/PITCE há várias ferramentas para aumentar a competitividade dos APL's, especialmente aqueles que estão nos ambientes que foram julgados prioritários. O Governo criou um grupo intcrministerial que selecionou 400 ambientes, que reuniam características de arranjos produtivos à luz de critérios bem definidos. Segundo o SEBRAE, independentemente da dinâmica que determina a formação de um APL, a característica mais marcante, que é de fato comum a todos, é a forte aglomeração/concentração de atividadcs de um mesmo sctor em uma dada região. Dessa forma, a identificação dos mesmos passa obrigatoriamente pela análise dessa variável, pelo menos para identificar os APL's em potencial. Existem APL' s em praticamente todos os setores industriais c eles podem ser classificados por tamanho e número de empreendedores ou nível de desenvolvimento tecnológico.

855 XXII ENTMME I VIl MSHMT - Ouro Preto-MG, novembro 2007. O grupo de trabalho interministerial contou com a ajuda de acadêmicos e usou metodologia apropriada para classificar os APL's, de forma definir o suporte necessário a cada um. A partir desta experiência foi formada a Redesist no Instituto de Economia da UFRJ, oferecendo apoio às políticas para APL' s. Antes da atual política, o Ministério de Minas e Energia já havia realizado uma seleção prévia de APL's a qual determinou 200 ambientes propícios. Vinte e nove foram considerados APL's em boas, ou muito boas condições, para se desenvolverem. Cerâmica Vermelha AM-AP Opala- Região Pedro 11- Calcários do Cariri - CE Cerâmica Quartzito Ardósia- MG Ouartzito- MG Pedra Sabão - MG Talco- PR Calcário e Cal - PR Gemas e Jóias - RS Cerflmir.A Vermelh<i Gipsita-Gesso - PE f'\7~-;rl--..:...j Cerâmica Vermelha - CE. Minerais Industriais- RN PB Cerâmica. Vermelha. - SE Rocha Ornamental - BA Gemas e Jóias - MG Rocha Ornamental - ES Cerâmica Vermelha - RJ Rosha Ornamental - RJ R ochà mamental - SP Areia- SP Cerâmica de Revestimento - SC FIGURA 1: Mostra alguns APL's selecionados pelo MME. 2. Transferência de Tecnologia para Arranjos Produtivos de Base Mineral Diagnósticos prévios dos APL's revelaram problemas, tais como falta de acesso a tecnologia de baixo custo, baixos preços dos produtos comercializados e impactos ambientais muito negativos. Para reverter este quadro, o MDIC -Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio junto com o MME- Ministério de Minas e Energia passaram a apoiar ações de transferência de tecnologia aos APL's através do Fundo Setorial CT- Mineral. Como resultado o Cetem- Centro de Tecnologia Mineral foi convidado a liderar os projetos de três APLs e dar suporte técnico a outros dois, a saber: Pedras Miracema e Madeira de Santo Antônio de Pádua (Estado do Rio de Janeiro), Calcário Laminado do Cariri (Estado do Ceará), Opala do Piauí (Estado do Piauí). Outros dois nos quais o Cetem presta colaboração são o de Pedra de Sabão, em Minas Gerais e Mármore Travertino (Estado da Babia). 2.1 APL de Santo Antônio de Pádua No APL de Santo Antônio de Pádua, com a colaboração dos parceiros, dentre quais DRM/RJ, INT, SEBRAE, SENAI deu-se inicio aos processos de licenciamento ambiental para mineração. Pequenos empréstimos para os produtores locais também foram disponibilizados para apoiar a atividade, junto a Agencia de Desenvolvimento do Rio

856 Peiter C.C., Vidal F.W. H., Oliveira S. A. de Janeiro - AD RIO. Um resultado técnico importante do trabalho desenvolvido foi à transferência de tecnologia de processo de separação sólido/liquido muito simples, de baixo custo, que permite reciclar a água usada durante o corte das pedras ornamentais, a Foto I ilustra o tratamento dado aos finos, enquanto que a Foto 2 mostra uma pilha de rejeito retirado dos UTE's e cujo destino deve ser a fabricação de argamassa. O Cetem c o INT - Instituto Nacional de Tecnologia obtiveram um privilegio de patente do processo desenvolvido para o aproveitamento de resíduos sólidos provenientes do corte das rochas e seu uso na argamassa industrial. Com isso foi atraído o interesse do grupo empresarial Argamil, que atualmente está construindo uma fábrica de argamassa próxima às serrarias conforme pode ser visto na Foto 3, que mostra as futuras instalações do empreendimento. A simplicidade do processo e a sua eficácia renderam ainda ao grupo técnico vários prêmios, dentre estes o Prêmio Finep- Categoria Inovação Social/Sudeste e Menção Honrosa na Etapa Nacional. Foto L : Unidade de tratamento de efluentes das serrarias UTE's Foto 2: Resíduos sólidos retirados da lama dos UTE's Foto 3: Área das futuras instalações da fabrica de argamassa

857 XXII ENTMME I VII MSHMT - Ouro Preto-MG, novembro 2007. 2.2 APL do Calcário do Cariri A intervenção do Cctcm no APL de calcário do Cariri contou com as seguintes parcerias: CODECP, SECITECE, SEBRAE-CE, URCA e o CENTEL, o que vem possibilitando melhorar a exploração do calcário laminado para produção de pisos, ladrilhos c mobiliário. Entretanto, persiste um sério problema por se tratar de uma reserva única no mundo com registros fosseis do período Cretáceo, o que tem provocado crítica de paleontólogos quanto à existência da mineração neste APL. Por outro lado, cabe ao DNPM (Departamento Nacional da Produção Mineral) fiscalizar estas áreas e coibir o contrabando dos mesmos. Atualmente, se encontra em fase de proposição um T AC - Termo de Ajustamento de Conduta, que poderá permitir ás pequenas empresas agrupadas em APL a prosseguir com a atividade cxtrativa. Os mineradores também contam com um suporte técnico do Cetem c do Centec (Centro de Ensino Tecnológico do Ceará) para aprimoramento do beneficiamento mineral, a Foto 4 mostra como a cxtração da pedra era feita de forma rudimentar, atualmente a cxtração vem passando por modernização como pode ser visto na Foto 5, porém os mineradores devem receber ainda, para uso cooperativo, máquinas especialmente projetadas c construídas, que permitem esquadrcjamento das lajes (Foto 7) e a sua calibração (Foto 6), o que vem a agregar valor e qualidade ao produto final. Foto 4: Extração manual da Pedra Cariei Foto 5: Extração semi mecanizada da Pedra Cariei o Foto 6: Calibradora de espessura para Pedra Cariri (projeto conjunto Granimarmo c CETEM) Foto 7: Máquina de csquadrejamento de Pedra Cariri (projeto conjunto Granimarmo c CETEM)

858 Peiter C.C., Vidal F.W. H., Oliveira S. A. 2.3 APL de Opala de Pedro II O APL da Opala de Pedro II possui características um pouco diferentes dos arranjos anteriores. Durante muitos anos uma mincradora de grande porte trabalhou na denominada Mina do Boi Morto. Após explorarem as principais ocorrências, foi deixado pela mineradora um enorme bota-fora onde os pequenos mineradores passaram a trabalhar Foto 8. As opalas contidas no mesmo foram consideradas desinteressantes pela empresa. O Cetem em conjunto com outros parceiros estaduais do Piauí e da cidade de Pedro II estão desenvolvendo e implantando técnicas destinadas a extração segura para os garimpeiros autorizados a aluarem no bota-fora da mina do Boi Morto, a Fig. 2 mostra a carta ambiental da área a ser recuperada. Por outro lado, os joalheiros locais desenvolveram uma nova forma de aproveitar fragmentos de opala obtidos, que uma vez unidos por uma resina resultam cm pequenas peças que podem ser lapidadas pelos artesões locais (Foto 9) e vendidas com valor agregado bastante atraente. Um novo projeto, já aprovado pelo Edital Scbrae/Finep 2006, deve ter inicio em breve para apoio efetivo a lapidação. Foto 8~Extração de Opalas ainda na forma de garimpo Foto 9: Jóias feitas a partir de fragmentos de Opalas Figura 2: Plano de gercnciamento de rejeito

859 XXII ENTMME I VII MSHMT- Ouro Preto-MG, novembro 2007. 3. Conclusões: Para o Cetem o trabalho de extensão tecnológica para APL's representou uma ótima oportunidade para transferir conhecimento para comunidades de mineradores artesanais e de pequeno porte, as quais foram por muitos anos excluídas dos programas governamentais. A colaboração do Cetem junto a varias parcerias formadas nos Estados tem possibilitado a continuação das atividades da pequena mineração, bem como tem melhorado seus indicadores de sustentabilidade promovendo incremento na qualidade de vida das comunidades que dependem da atividade mineral. 4. REFERÊNCIAS 1. For clusters economic : http:://www.redesist.ie.ufrj.br. 2. Arranjo Produtivo Local de Santo Antonio de Pádua: http://www.cctem.gov.br/retecmin) 3. PEITER, C. C.; VILLAS-BOAS, R.C.; SHINY A, W. /mplementing a consensus building methodology to address impacts associatcd with small mining and quarry operation. ln: MINING ANO ENVIRONMENT II. Sudbury: Laurentian University, 1999. V. 3, p. 981-990. 4. PEITER, C.C. Abordagem Participativa na Gestão de Recursos Naturais. São Paulo. EPUSP, 2000. Tese de Doutorado. Versão resumida en: http://www.cetem.gov.br/publicacao/ce!em SED 5l.pdf 5. CETEM/MCT. Brasil Quinhentos Anos: A Construção do Brasil e da América Latina pela Mineração. F. F. Lins, F.E. Loureiro e G. A. S.C. Albuquerque (Editores). Rio de Janeiro, CETEM/MCT, 2000. 254p. 6. DNPM/MME. Anuário Mineral Brasileiro 2005. http://www.dnpm.gov.br/, link para Economia Mineral 7. Vida! F.W. H. 63" Semana de Engenharia. Painéis da Modalidade "Geologia e Engenharia de Minas". Ministério de Minas e Energia, Brasília, 2006.