CATARINA MONTEIRO PIRES

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Transcrição:

CATARINA MONTEIRO PIRES CENTRO DE INVESTIGAÇÃO DE DIREITO PRIVADO 04.03.2018

Informação entre órgãos de administração e de supervisão Informação dentro do órgão de administração Informação entre sócios Informação a terceiros Informação intra-grupo Dever de informação do comprador ao vendedor Dever de informação da administração da adquirente Dever de informação por parte da administração da visada

Artigo 291.º CSC Direito coletivo à informação 1. Os acionistas cujas ações atinjam 10% do capital social podem solicitar, por escrito, ao conselho de administração ou ao conselho de administração executivo que lhes sejam prestadas, também por escrito, informações sobre assuntos sociais. 2. ( ) 3. ( ) 4. Fora do caso mencionado no nº 2, a informação pedida nos termos gerais só pode ser recusada: a) Quando for de recear que o acionista a utilize para fins estranhos à sociedade e com prejuízo desta ou de algum acionista; b) Quando a divulgação, embora sem os fins referidos na alínea anterior, seja suscetível de prejudicar relevantemente a sociedade ou os acionistas; c) Quando ocasione violação de segredo imposto por lei. 5. As informações consideram-se recusadas se não forem prestadas nos quinze dias seguintes à receção do pedido. 6. O acionista que utilize as informações obtidas de modo a causar à sociedade ou a outros acionistas um dano injusto é responsável, nos termos gerais. 7. As informações prestadas, voluntariamente ou por decisão judicial, ficarão à disposição de todos os outros acionistas, na sede da sociedade.

Artigo 291.º, n.º 1, CSC: os acionistas cujas ações atinjam 10% do capital social podem solicitar (...) ao conselho de administração ou ao CAE que lhes sejam prestadas (...) informações sobre negócios sociais Direito de propriedade do acionista e direito do acionista de transmissão da sua participação social (1305.º CC, 328 CSC, entre outros) Deveres de lealdade, no interesse da sociedade, atendendo aos interesses de longo prazo dos sócios... (artigo 64.º, n.º 1 b) CSC)

Informação e confidencialidade não são fáceis de conciliar e a lei tenta encontrar soluções equilibradas que permitam que os sócios tenham a informação necessária para suportar decisões responsáveis (...) sem prejudicar o segredo do comércio das sociedades (...). Pedro Pais de Vasconcelos, A participação social nas sociedades comerciais, Almedina, 2005, p. 187.

O que a sociedade disponibiliza ao sócio tem de disponibilizar aos demais sócios (291.º n.º 7: as informações prestadas ficarão à disposição de outros acionistas na sede da sociedade)? Que outros acionistas são estes? Qual a relevância do poder societário e da percentagem de capital social? A disponibilização é imediata e sem novo filtro? Posição adotada quanto às três questões.

Artigo 292.º Inquérito judicial 1 - O acionista a quem tenha sido recusada informação pedida ao abrigo dos artigos 288.º e 291.º ou que tenha recebido informação presumivelmente falsa, incompleta ou não elucidativa pode requerer ao tribunal inquérito à sociedade. 2 - O juiz pode determinar que a informação pedida seja prestada ou pode, conforme o disposto no Código de Processo Civil, ordenar: a) A destituição de pessoas cuja responsabilidade por atos praticados no exercício de cargos sociais tenha sido apurada; b) A nomeação de um administrador; c) A dissolução da sociedade, se forem apurados factos que constituam causa de dissolução, nos termos da lei ou do contrato, e ela tenha sido requerida. 3-4- 5-6 - O inquérito pode ser requerido sem precedência de pedido de informações à sociedade se as circunstâncias do caso fizerem presumir que a informação não será prestada ao accionista, nos termos da lei.

A informação a prestar por via judicial pode visar informação de complexidade muito diferenciada: pode referir-se a dados e documentos mais simples e acessíveis, como convocatórias e atas (cf. artigos 288.º, b) do CSC) como a documentos ou informações mais densas e problemáticas, como as que dizem respeito a negócios sociais, sejam eles quais forem (artigo 291.º, n.º 1) É um falso processo de jurisdição voluntária. É também duvidoso que o tribunal decida de acordo com a solução que julgue mais conveniente, sem estar sujeito a critérios de legalidade estrita. Os critérios resultam do Código das Sociedades Comerciais, nomeadamente do artigo 292.º, n.º 4. A expressão inquérito é enganosa: o inquérito não é um verdadeiro e simples inquérito, é muito mais do que isso. É uma reação que pode envolver destituição e responsabilidade de administradores e, até, a dissolução da sociedade. A intervenção judicial é de grau muito variável e pode ser profunda. O administrador nomeado pelo tribunal pode propor ações de responsabilidade não solicitadas pelos sócios.

Determinação do risco Determinação das declarações e garantias Clarificação do preço Obtenção de um retrato da sociedade

Administrador da sociedade compradora tem o dever de realizar auditoria? O administrador da sociedade visada tem o dever de colaborar na auditoria? Se sim, quais os limites? Se sim, quais as consequências da sua recusa?

O dever de cuidado do administrador: obtenção de informação e decisão racional Casos comuns e casos especiais Relevância do tipo de negócio, da vantagem que se pretende adquirir e da percentagem do capital social a adquirir

O princípio geral numa sociedade anónima é a reserva ou é a informação? A recusa de informação fundamenta-se em termos gerais, numa espécie de cláusula de salvaguarda ou de proteção assente na tutela do interesse da sociedade e visando permitir ao órgão de administração recusar a informação quando haja receio de que a sua prestação pudesse atentar contra qualquer daquele interesse (Ac. do STJ de 24.4.2014) Da posição negativista de Lutter (princípio do segredo) a ponderações intermédias O direito do acionista à informação como base ou uma construção à margem do artigo 291.º? Posição adotada.

Com disponibilização de informação indevida: possível responsabilidade perante os acionistas e perante sociedade Direito de propriedade do acionista e direito do acionista de transmissão da sua participação social (1305.º CC, 328 CSC, entre outros) vs. interesse social/ Deveres de lealdade, no interesse da sociedade, atendendo aos interesses de longo prazo dos sócios... (artigo 64.º, n.º 1 b) CSC) Sem disponibilização de informação devida: possível responsabilidade perante o sócio vendedor Contudo, a sociedade compradora não tem uma pretensão de auditoria perante a sociedade vendedora

Responsabilidade perante os sócios, artigo 79.º: (...) os administradores respondem também, nos termos gerais, para com os sócios e terceiros pelos danos que diretamente lhes causarem no exercício das suas funções. Dano direto e indireto: a visão dominante (dano: imediação de esferas) e a visão minoritária (conduta: qualificação) Presunção de culpa

Decisão de gestão: análise custo-benefício Parâmetros do artigo 291.º? Exemplos de dever de revelar informação Quando a alienação projetada não tem solidez mínima? Diferenciação de casos no universo da contratação mitigada. Quando a alienação projetada tem elevado risco de não concretização (direitos de preferência/ autorizações de terceiros)? Quando for de recear que o terceiro vise prejudicar relevantemente a sociedade ou os seus acionistas

Neutralidade vs não neutralidade da administração quanto ao negócio em curso Decisão colegial Decisão autónoma: a relação administração-acionista. O problema das instruções vinculantes.

O que a sociedade disponibiliza ao sócio tem de disponibilizar aos demais sócios? 291.º n.º 7: as informações prestadas ficarão à disposição de outros acionistas na sede da sociedade Que outros sócios são estes? Qual a relevância do poder societário e da percentagem de capital social? A disponibilização é imediata e sem novo filtro? Posição adotada quanto às três questões. O que a sociedade disponibiliza ao terceiro potencial adquirente tem de disponibilizar aos demais sócios? Posição adotada.

2018.04.03 Centro de investigação de direito privado