EIXO TEMÁTICO: Tecnologias MONITORAMENTO DE RESÍDUOS RECICLÁVEIS NO CAMPUS "LUIZ DE QUEIROZ" Joyce Stenico 1 Renato Massami Chiba 2 Charles Albert Medeiros 3 Weslley Santos da Silva 4 Ana Maria de Meira 5 RESUMO: Um dos grandes problemas socioambientaisque aflige hoje a humanidade é o descarte e a disposição inadequada de resíduos sólidos. Em 2010, foi aprovada a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que auxilia no que diz respeito à prevenção a geração, logística reversa, e destinação adequada. O diagnóstico dos resíduos recicláveis do campus Luiz de Queiroz tem por finalidade controlar e fornecer uma maior transparência de como a comunidade universitária está lidando com a questão da prevenção da geração, separação e manejo desses materiais. Depois de realizadas pesagens semestrais com os resíduos recicláveis gerados pelo Campus da USP de Piracicaba é possível obter a quantidade coletada de quatro categorias: papéis, papelão, outros recicláveis e rejeitos. Este procedimento fornece a base para analisar a qualidade dos recicláveis que é obtida através da porcentagem de rejeito presente no total estudado. Após a observação dos resultados, verifica-se que entre os anos de 2010 e 2013 tal porcentagem está de acordo com o esperado pelo Programa USP Recicla, mas no primeiro semestre de 2014 os dados estão acima do desejado, atribuídos principalmente a obras, redução da quantidade de funcionários de limpeza e implantação de novas lixeiras. O diagnóstico e monitoramento, aliados a processos educativos constituem-se como ferramentas essenciais para o gerenciamento de resíduos sólidos e o entendimento da população em relação a coleta seletiva.verifica-se que há a necessidade de maior frequência de monitoramentos, processos educativos e mecanismos de co-responsabilização que precisam ser implantados no Campus para maior qualidade e envolvimento no processo. Palavras-chave: monitoramento, universidade, coleta seletiva. 1. INTRODUÇÃO Um dos grandes problemas socioambientais que afeta a humanidade nos dias de hoje é o descarte e a disposição inadequada de resíduos sólidos. No Brasil, segundo o Panorama de Resíduos Sólidos da ABRELPE, são coletadas atualmente 181.288 toneladas de resíduos sólidos por dia, o que corresponde a cerca de 1 kg de resíduos por pessoa por dia. Em um país de tamanho continental como o Brasil, esse número cresce cada vez mais com o passar dos anos e, infelizmente, quase a metade do que é coletado tem destino impróprio (ABRELPE, 2012). 1 Graduanda de Gestão Ambiental, ESALQ-USP. joyce.stenico@gmail.com 2 Graduando de Gestão Ambiental, ESALQ-USP. renato.chiba@usp.br 3 Graduando de Gestão Ambiental, ESALQ-USP. charles.medeiros@usp.br 4 Graduando de Gestão Ambiental, ESALQ-USP. weslley.santos.silva@usp.br 5 Educadora Ambiental do Programa USP Recicla. ammeira@usp.br
Segundo dados da Prefeitura de Piracicaba (2014), são encaminhados mensalmente pelo município à Cooperativa "Reciclador Solidário" (cooperativa de recicláveis da cidade) uma média de 200 toneladas de materiais potencialmente recicláveis e, dessa quantidade total, aproximadamente 20% (40 toneladas) é classificada como rejeito e é enviada ao aterro sanitário particular, localizado em Paulínia- SP. Em 2010, foi aprovada a Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010), que vem auxiliando no que diz respeito as diretrizes para prevenção a geração, logística reversa, e destinação adequada dos resíduos. Todavia, ainda que a disposição final desses resíduos seja adequada, o seu descarte em si já é um problema, visto que muitos desses materiais poderiam ter a sua geração evitada, serem aproveitados e no futuro reciclados. Basicamente é esta a ideia presente no princípio dos 3R s (Reduzir, Reutilizar e Reciclar) difundida pelo programa USP Recicla, um Programa institucional criado pela Universidade de São Paulo, em 1994, dentro de todos os Campi da USP. A priori é necessário reduzir o consumo, pensar se o que vai ser comprado é realmente necessário; depois, deve-se buscar formas de reaproveitar algo que já não tem mais sua utilidade original. E, por último, reciclar o resíduo, para que estes tenham um novo aproveitamento e não sejam descartados (SUDAN et al, 2013). O monitoramento dos resíduos recicláveis do Campus Luiz de Queiroz tem por finalidade buscar o controle e uma maior transparência de como a comunidade universitária está lidando com a questão da prevenção da geração, separação e manejo dos materiais potencialmente recicláveis. 2. METODOLOGIA O levantamento de dados referente ao monitoramento da qualidade e quantidade de resíduos gerados foi realizado no campus Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, situado no município de Piracicaba. O campus compreende uma população de cerca de 5 mil usuários, entre servidores docentes, não docentes, estudantes e prestadores de serviços (ANUÁRIO ESTATÍSTICO USP, 2013). A coleta de material reciclável no campus Luiz de Queiroz acontece diariamente, e é distribuída de maneira escalonada entre os entrepostos, que são as lixeiras de alvenaria de uso interdepartamental, instaladas no campus desde 2013. O transporte e infraestrutura da coleta seletiva são fornecidos pela Prefeitura do Campus, órgão responsável pela infraestrutura e manutenção do patrimônio. Para a análise dos resíduos são realizados monitoramentos, com periodicidade trimestral, por meio de pesagens, verificação qualitativa e quantitativa dos materiais coletados, visitas in loco, entrevistas e intervenções educativas nas Unidades/setores. O trabalho de análise dos recicláveis é realizado em etapas, descritas a seguir.
2.1. Etiquetagem e Coleta. Para as análises, todos os recicláveis gerados no campus durante uma semana são devidamente etiquetados. Para isto, os estagiários orientam as equipes de limpeza que na semana seguinte será obrigatoriamente necessária a etiquetagem com os nomes dos departamentos e seções de origem em que elas estão trabalhando. Caso as faxineiras não estejam no local no dia da orientação, o procedimento é organizado em conjunto com o membro local do USP Recicla (nomeado por Portaria da USP) e a secretária local. Após 5 dias úteis de geração, esses materiais, já etiquetados, são transportados para o Galpão do USP Recicla, local este onde serão triados, analisados e pesados. 2.2. Separação e Pesagem No Galpão, uma equipe de estagiários, utilizando os EPIs necessários (botas, luvas e máscaras), abrem todos os sacos de recicláveis e fazem a separação dos materiais em quatro categorias: papéis, papelão, demais recicláveis (plásticos, vidros, metais etc.) e são verificados entre esses a presença de rejeitos (resíduo não reciclável). Após a devida separação são feitas pesagens gerando dados para a análise. 2.3. Análise e Retorno dos Dados. São realizadas duas pesagens por semestre e calculada uma média para esses dados. Atualmente, é considerado em 5% o nível máximo permitido de mistura de rejeito nos recicláveis entre os resíduos destinados a reciclagem no campus de Piracicaba. Índice este estabelecido a partir de dados históricos do Programa USP Recicla do campus Luiz de Queiroz. Os resultados obtidos nos diagnósticos são retornados em relatórios anuais, para os chefes de departamentos/setores e para os membros da comissão do USP Recicla do Campus de Piracicaba. Tais relatórios apresentam dados que comparam as pesagens ocorridas nos períodos, descrevem a situação dos resíduos do departamento/setor e apresentam sugestões para melhorias. O objetivo é que estes sejam apresentados à comunidade local e discutidos em seus respectivos conselhos. Um fator importante para a qualidade do processo e baixo índice que rejeitos presentes nos recicláveis é o componente educativo, com a sensibilização da comunidade do campus quanto a temática ambiental, tendo como eixo central o conceito dos 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar). Portanto, o projeto visa também verificar os locais que necessitam de mais monitoramentos e intervenções educativas, por apresentarem uma situação problemática quanto a qualidade dos resíduos e problemas com a infraestrutura, que podem estar prejudicando a coleta seletiva. Essas informações inclusive já foram utilizadas por comissões da Unidade, como indicadores ambientais e também de forma piloto como componentes para distribuição orçamentária para Departamentos da ESALQ.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O campus gera atualmente 1,5 toneladas de materiais recicláveis por semana, o que corresponde anualmente a cerca de 70 toneladas de materiais recicláveis no Campus "Luiz de Queiroz", que são encaminhados para Cooperativa de Catadores do Município, por meio de convênio firmado com a Universidade e incentivado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010). A maioria dos recicláveis é gerada pela ESALQ (63%), seguida pela Prefeitura do Campus (21%), e por fim, CENA e DTI-LQ somam juntos 16% (14% e 2% respectivamente). Para uma melhor discussão e didática serão apresentados o resumo dos dados referentes aos recicláveis gerados em todo o Campus, somados todas as seções, departamentos e unidades (ESALQ, Prefeitura do Campus, CENA e DTI-LQ). Entretanto, nos arquivos do Programa USP Recicla estão disponíveis os dados por setor, seção, departamento, unidade, abertos para a consulta. A tabela e gráfico a seguir apresentam as quantidades e totais dos materiais e a porcentagem dos rejeitos presentes nos recicláveis, respectivamente coletados e analisados nas semanas de pesagens. Tabela1: Médias de todos os materiais (papéis, papelão, outros recicláveis e rejeito) e os totais gerados em uma semana (5 dias úteis) na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. MÉDIA EM QUILOS (Kg) DO TOTAL DE MATERIAS ANALISADOS POR ANO 2010 2011 2012 2013 2014* Papel 729,15 662,80 389,82 704,69 701,19 Papelão 331,18 337,34 249,92 327,34 505,36 Recicláveis 163,34 124,90 119,58 180,61 308,89 Rejeito 88,43 74,63 46,35 55,73 182,81 Total 1.312,10 1,199,67 805,67 1.268,37 1.698,25 *Dados analisados até o momento Fonte: Arquivo do USP Recicla. Calculado pelos autores. Gráfico 1. Porcentagens das médias de rejeito presente nos recicláveis durante os anos de 2010 e 2014 (primeiro semestre). Fonte: Calculado pelos autores.
De acordo com os padrões estabelecidos pelo Programa USP Recicla (tolerância de 5% de rejeito presente nos recicláveis) entre os anos de 2010 e 2013 há uma porcentagem considerada adequada, pois está próxima do desejado e melhorando a cada ano, mas o primeiro semestre de 2014 verifica-se um resultado muito acima do esperado. Mas, ao comparar os dados da Prefeitura Municipal de Piracicaba com os do Campus de Piracicaba, há uma diferença significativa em relação a qualidade de materiais recicláveis gerados pela Universidade, pois como demonstrado na tabela 1 e na figura 1, a quantidade e porcentagem de rejeito é muito menor do que a média do município, que chega a 40% de rejeito. No entanto, o ano de 2014, verifica-se que os dados estão muito fora das metas esperadas pelo Programa USP Recicla. Acredita-se que tal resultado possa ser influenciado por diversos aspectos, tais como: construções de novos prédios e reformas no Campus, totalizando 20 grandes empreendimentos, e a falta de fiscalização da triagem adequada dos resíduos gerados por estes; redução e não renovação de contrato de 138 funcionários da equipe de limpeza, pois através de observações acredita-se que estes funcionários, que atualmente somam 60, contribuam para a qualidade dos recicláveis, pois alguns acabam triando os materiais antes de serem enviados para a coleta; e a implantação de novas lixeiras de alvenaria no Campus, que são de uso compartilhado entre Departamento, mas ainda verifica-se equívocos com relação ao uso das mesmas. e deposito de recicláveis em compartimentos destinados a rejeitos. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O diagnóstico e monitoramento, aliados a processos educativos e mecanismos institucionais de co-responsabilização constituem-se como ferramentas essenciais para o gerenciamento de resíduos sólidos e contribuem para o entendimento da população com relação ao manejo de resíduos e uso consciente de recursos. Portanto, verifica-se através dos dados de 2014 que há a necessidade de maior frequência e implantação destes para a melhor qualidade e envolvimento do processo. O Campus de Piracicaba alcançou muitos avanços com relação ao cuidado com os resíduos, mas ainda enfrenta diversos desafios para a manutenção da qualidade destes e constata-se a necessidade de implementação de uma política de resíduos para a USP, a partir da Política Nacional de Resíduos. Entende-se que a Universidade deva ser espaço de referência no gerenciamento de resíduos, não apenas pelo cumprimento de aspectos legais, mas na formação de cidadãos mais comprometidos e engajados com a melhoria da qualidade de vida.
REFERÊNCIAS ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA USP. Universidade de São Paulo. Dados de 2013. Disponível em <https://uspdigital.usp.br/anuario/anuariocontrole>. Acesso em 31 de Julho 2014. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LIMPEZA PÚBLICA. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. 2012. Disponível em < http://www.abrelpe.org.br > Acesso em: 23 de Junho de 2014. COOPERATIVA RECICLADOR SOLIDÁRIO. Dados referentes aos recicláveis. Informações fornecidas em: 31 de Julho de 2014. PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE PIRACICABA. Secretaria de Defesa do Meio Ambiente. Disponível em <http://www.sedema.piracicaba.sp.gov.br> Acesso em: 31 de Julho de 2014. PROGRAMA USP RECICLA. Dados referentes aos recicláveis. Informações fornecidas em: 23 de Junho de 2014. SUDAN, D. et al. Revirando o tema lixo. Vivencias em Educação Ambiental e Resíduos Sólidos. Universidade de São Paulo. Programa USP Recicla.SGA. São Paulo. 2013. 253p.