Palavras-chave: Contabilidade ambiental. Evidenciação ambiental. Disclosure ambiental.



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Transcrição:

ANÁLISE DO CONTEÚDO AMBIENTAL DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS PUBLICADAS NO BRASIL E NOS ESTADOS UNIDOS: UM ESTUDO NAS COMPANHIAS COM ADR NÍVEL III Autores SULIANI ROVER Universidade Federal de Santa Catarina JORGE LUIZ ALVES Universidade Federal de Santa Catarina JOSÉ ALONSO BORBA Universidade Federal de Santa Catarina RESUMO A importância do meio ambiente é destacada nas mais diversas manifestações da sociedade, como a Constituição Federal de 1988, no Brasil. A Contabilidade ao mensurar e informar as repercussões ambientais da atividade da empresa cumpre seu papel como ciência social aplicada. A Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento ressalta a relevância da evidenciação das informações relacionadas aos custos e passivos ambientais, uma vez que elas fornecem explicação adicional dos itens incluídos no balanço patrimonial ou na demonstração de resultado. O presente trabalho objetiva apresentar as diferentes práticas de evidenciação ambiental nas demonstrações contábeis das companhias PETROBRAS, ARACRUZ, EMBRAER e COPEL, submetidas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e à Securities and Exchange Commission (SEC). Para tanto, busca-se conhecer e comparar a prática das empresas analisadas a respeito da evidenciação ambiental nas demonstrações contábeis publicadas no Brasil e nos Estados Unidos. Foram utilizadas as demonstrações financeiras referentes ao exercício 2003, das companhias objeto de estudo. Verificou-se que, de modo geral, a evidenciação ambiental nos informes publicados sob as normas da SEC objetivam apresentar ao usuário da informação contábil elementos que ressaltem o impacto de determinados fatos contábeis de natureza ambiental sobre o patrimônio da companhia. Nas publicações junto à CVM, por outro lado, tais evidenciações têm caráter publicitário. Palavras-chave: Contabilidade ambiental. Evidenciação ambiental. Disclosure ambiental.

2 1 INTRODUÇÃO As entidades se utilizam de recursos naturais para suprirem suas necessidades e, portanto, as repercussões ambientais das suas atividades interessam aos stakeholders, que, segundo Atkinson e outros (2000, p. 79), são pessoas, grupos de pessoas, ou instituições que definem o sucesso da empresa ou afetam sua habilidade em atingir seus objetivos. Considerando que nesse grupo existem agentes externos à entidade, o interesse destes justifica-se na exposição de Tinoco e Kraemer (2004, p.168): o preço das matérias-primas escassas, da poluição e da deposição de rejeitos, numa perspectiva macroeconômica [...] são custos ambientais usualmente não suportados pelo poluidor, mas pelo público em geral. Assim, o impacto das atividades da empresa no meio ambiente deve ser evidenciado, como destaca Ferreira (2003, p. 7): a abordagem social da contabilidade obriga-a a participar ativamente da pesquisa sobre como informar os eventos realizados pelas organizações que podem afetar o meio ambiente e, concomitantemente, cuidar da mensuração desses eventos. Contudo, afirmam Tinoco e Kraemer (2004, p. 168), existem poucos dados quantitativos disponíveis sobre o valor econômico e social total da informação de custos ambientais, já que as empresas, em sua maioria não os divulgam e muitas não os apuram. Esses custos ambientais, caso não reconhecidos no momento de seu fato gerador, representarão, no futuro, passivos ambientais não reconhecidos, ou seja, repercutirão negativamente. As empresas que têm ações negociadas nas bolsas de valores são amplamente fiscalizadas. Nesse sentido, supõe-se que as informações disponibilizadas pelas empresas com ações negociadas em bolsa representam a melhor prática de evidenciação do mercado. Considerando que as empresas atuantes no Brasil com ações negociadas nas Bolsas de Valores de São Paulo (BOVESPA) e de Nova Iorque (NYSE) divulgam suas demonstrações contábeis sob duas legislações distintas e que os impactos ambientais das atividades de cada uma delas são os mesmos a serem evidenciados aqui e no exterior, o presente estudo buscará responder à seguinte questão: quais as diferenças entre as demonstrações contábeis das companhias analisadas submetidas à CVM e à Securities and Exchange Commission (SEC) na evidenciação ambiental? Em termos de objetivos específicos, busca-se: a) conhecer a prática das empresas analisadas a respeito da evidenciação ambiental, nas demonstrações contábeis publicadas no Brasil; b) identificar a prática das empresas analisadas a respeito da evidenciação ambiental, nas demonstrações contábeis publicadas nos Estados Unidos; e c) comparar as práticas das empresas analisadas a respeito da evidenciação ambiental. A importância do meio ambiente é destacada nas mais diversas manifestações da sociedade. No Brasil, essa importância está explícita na Constituição Federal de 1988 CF, art. 225, caput: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Portanto, qualquer atividade geradora de impactos ambientais deve ser monitorada, seja pelo governo, seja pela sociedade. Assim, a Contabilidade ao mensurar e informar as repercussões ambientais da atividade da empresa cumpre seu papel como ciência social. Vale destacar que, conforme o 3 do art. 225 da CF, as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Ao evidenciar o passivo ambiental da empresa a Contabilidade antecipa eventuais

3 reduções do patrimônio, ao mesmo tempo em que satisfaz a exigência constitucional. A Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento UNCTAD (1997, p. 10) ressalta a relevância da evidenciação das informações relacionadas aos custos e passivos ambientais, uma vez que elas fornecem explicação adicional dos itens incluídos no balanço patrimonial ou na demonstração de resultado. Tal divulgação pode ser incluída nas outras demonstrações financeiras, nas notas explicativas ou, em certos casos, numa seção à parte das demonstrações financeiras propriamente ditas. No Brasil, de acordo com Nossa (2002, p. 92), praticamente não existem diretrizes emanadas para o disclosure ambiental. Segundo o autor, a CVM, em 1987, e o Instituto Brasileiro de Contadores IBRACON, em 1996, manifestaram-se a respeito da divulgação ambiental. Em seu parecer n 15 a CVM recomenda a inclusão, no relatório da administração, de informações sobre investimentos realizados em benefício do meio ambiente, bem assim à sua conduta frente às questões ambientais. Já o IBRACON formulou as Normas e Procedimentos de Auditoria 11, objetivando estabelecer limites entre a Contabilidade e o Meio Ambiente. Nos Estados Unidos, por outro lado, há regulação específica sobre o assunto. Diretrizes foram produzidas pelo American Institute of Certified Public Accountants AICPA, em 1996, e revisadas pelo Financial Accounting Standards Board FASB, envolvendo evidenciação: de passivos ambientais, de despesas ambientais, de ativos ambientais, de políticas contábeis e de exigências regulamentares. Diante dessa abordagem, é socialmente relevante o papel da Contabilidade na evidenciação do passivo ambiental das companhias. Contudo, como visto em Tinoco e Kraemer (2004), existem poucos dados disponíveis sobre o assunto. Nossa (2002, p. 23) afirma que empresas de pesquisas que comercializam informações relatam que as informações ambientais estão entre as mais difíceis de obter. Nesse sentido, o presente estudo visa contribuir para a discussão sobre a divulgação das questões ambientais associadas às atividades das empresas. Pretende-se, do exposto, comparar a prática adotada pelas empresas pesquisadas na evidenciação ambiental sob exigências distintas, haja vista que não é possível conceber que o mesmo impacto ambiental possa ser relevante apenas para um ou outro grupo de usuários da informação contábil, por dizer respeito a toda sociedade. 2 METODOLOGIA Nesta pesquisa foram analisados os relatórios financeiros anuais, que englobam: Relatório da Administração, Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício, Notas Explicativas às Demonstrações Contábeis e Parecer dos Auditores Independentes. Afinal, como afirma Ferreira (2003, p. 108): A Contabilidade Ambiental não é outra contabilidade; assim, todos os eventos econômicos ou fatos contábeis relativos a ações realizadas pela Entidade que, por conseqüência, causem impacto no meio ambiente, devem ser reconhecidos e registrados pelo sistema contábil. Portanto, o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado do Exercício e demais informes, as Notas Explicativas e, quando houver, o Balanço Social e a Demonstração do Valor Adicionado são as peças contábeis adequadas para evidenciar como essa questão está sendo tratada pela organização. Foram utilizadas as demonstrações financeiras padronizadas (DFP) submetidas à CVM e o formulário 20-F, submetido à SEC, referentes ao exercício 2003, da companhia

4 objeto de estudo. Esses documentos estão disponíveis para consulta nos sítios da empresa ou dos organismos fiscalizadores. Inicialmente foram identificadas, no sítio da NYSE, as empresas listadas que atuam no Brasil. Essas companhias possuem American Depositor Receipt (ADRs), que vêm a ser recibos representantes de ações de uma corporação estrangeira emitidos e assegurados por um banco dos Estados Unidos. Como esses recibos são cotados em dólares americanos e negociados como qualquer outra ação, eles facilitam ao investidor a diversificação internacional de seus títulos. As empresas listadas na NYSE são classificadas em três níveis de ADR: I, II, III. As empresas que possuem ADR I não precisam atender às normas contábeis da SEC. Por essa razão, as companhias nesse nível não foram analisadas neste trabalho. As detentoras de ADR II devem publicar suas demonstrações financeiras de acordo com as normas da SEC, adotando os Princípios Contábeis Geralmente Aceitos dos Estados Unidos (USGAAP). Elas não podem emitir novos papéis para a captação de recursos, porém é permitida a negociação em bolsa de seus recibos de depósito. Diante dessa limitação, as empresas classificadas neste nível não foram analisadas neste trabalho. As empresas classificadas com ADR III atendem as exigências da SEC para emissão de novos papéis visando captação de recursos. Encontravam-se nessas condições, à época da pesquisa, a Aracruz Celulose (ARACRUZ), a Companhia Paranaense de Energia (COPEL), a Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. (EMBRAER), a Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), a Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS) e o Unibanco S.A. Podemos identificar neste grupo setores considerados agressivos ao meio ambiente pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conforme destaca Kraemer (2000, p. 20): os setores [...] mais poluentes [...] são: as indústrias químicas, de papel e celulose, de ferro e aço, de metais não ferrosos (por ex: alumínio), de geração de eletricidade, de automóveis e de produtos alimentícios. Assim, esta pesquisa selecionou como amostra as empresas Petrobras, Embraer, Copel e Aracruz, representantes desses setores poluentes. Para a realização da pesquisa foram utilizadas as Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP), submetidas à CVM, e as informações do formulário 20-F, submetido à SEC, referentes ao exercício findo em 31 de dezembro de 2003. Tais documentos foram obtidos no sítio das empresas objeto de estudo. O formulário 20-F, explicam Tinoco e Kraemer (2004, p. 232), abrange: informações específicas sobre a empresa; análise das perspectivas operacionais e financeiras; dados sobre conselheiros, administradores e empregados; demonstrações financeiras consolidadas (dos três últimos exercícios) e demais informações financeiras, inclusive notas explicativas; informações adicionais, como atos constitutivos e estatuto social; divulgações quantitativas e qualitativas sobre risco de mercado. O quadro 1 apresenta o resumo das informações disponíveis nesses dois relatórios. DFP 20-F o Informações sobre a empresa. o Informações sobre a empresa. o Demonstrações financeiras. o Análise das perspectivas operacionais e o Parecer dos auditores independentes. financeiras. o Relatório da administração. o Dados sobre conselheiros, administradores e o Notas explicativas às demonstrações empregados. contábeis. o Demonstrações financeiras e demais o Descrição das informações alteradas. informações financeiras, inclusive notas explicativas. o Informações adicionais, como atos constitutivos e estatuto social. o Divulgações quantitativas e qualitativas sobre risco de mercado. Quadro 1 Comparativo entre o conteúdo das DFP e do relatório 20-F Fonte: elaborado pelo autor

5 Vale destacar que as informações relativas ao meio ambiente estão dispersas nas demonstrações financeiras. Segundo Epstein (1996, p. 107), há diversas escolhas para esse diclosure: a) evidenciação de passivos ambientais; b) evidenciação de custos operacionais correntes ambientais; c) evidenciação de desembolsos correntes de capital (associados ao meio ambiente); d) evidenciação de passivos ambientais incluídos sob a rubrica outras obrigações ao contrário de segregá-los; e) identificação segregada das obrigações ambientais no Balanço Patrimonial. Assim, buscou-se a informação ambiental nessas diversas formas. A utilização da técnica de análise de conteúdo auxilia nessa busca. 2.1 Análise de Dados Este estudo foi desenvolvido com base na análise de conteúdo. Bardin (1977, p. 34), a define como Um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo das mensagens, indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) das mensagens. O autor ressalta que o objetivo da análise de conteúdo é a manipulação de mensagens (conteúdo e expressão desse conteúdo), para evidenciar os indicadores que permitam inferir sobre uma outra realidade que não a da mensagem. Demarcada a amostra, constitui-se o que Bardin (1977) denomina corpus, isto é, o conjunto de documentos submetidos aos procedimentos analíticos. De acordo com Nossa (2002, p. 172), a análise de conteúdo é uma das várias técnicas que pode ser utilizada na análise de textos. Embora pouco utilizada nas pesquisas contábeis de modo geral, essa técnica é aplicável à contabilidade ambiental, sendo utilizada especialmente na literatura internacional. Nesta pesquisa optou-se por uma adaptação da estrutura de análise de conteúdo proposta por Nossa (2002, p. 176), compreendendo: categorias e subcategorias e unidade de registro. 2.2 Categorias e Subcategorias De acordo com Bardin (1977, p. 103), a codificação corresponde a uma transformação dos dados brutos do texto (...) que, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação de conteúdo (...) susceptível de esclarecer o analista acerca das características do texto, que podem servir de índices. É por meio das categorias que o conteúdo da mensagem será classificado e quantificado (FREITAS e JANISSEK, citado por NOSSA, 2002, p. 176). Essas categorias e subcategorias originam-se do documento objeto de análise ou do conhecimento da área pesquisada. Neste estudo utilizou-se uma adaptação de Nossa (2002). Assim, as categorias e subcategorias utilizadas no desenvolvimento deste trabalho foram: A) Política Ambiental A.1) Ações efetivas A.2) Declaração de intenções

6 A.3) Gestão ambiental (incluindo ISO 14.000) B) Impactos Ambientais B.1) Resíduos B.2) Poluição B.3) Reciclagem B.4) Contaminação e recuperação de terras, águas e ar C) Energia C.1) Uso eficiente C.2) Utilização de resíduos na produção de energia D) Informações Financeiras Ambientais D.1) Despesas e investimentos ambientais D.2) Passivos, provisões e contingências ambientais D.3) Seguro ambiental 2.3 Unidade de Registro De acordo com Bardin (1977, p. 103), a unidade de registro é a unidade de significação a codificar e corresponde ao segmento de conteúdo a considerar como unidade de base, visando a categorização e a contagem frequencial. O autor cita como exemplos a palavra, o tema, o objeto, o personagem, o acontecimento, o documento. Nossa (2002, p. 177) destaca que neste tópico deve ser definida a quantidade da evidenciação apresentada em cada categoria. A adoção de sentença como unidade de registro é indicada para a leitura de conteúdos ambientais, conforme Milne e Adler, citado por Nossa (2002, p. 178). Nesse sentido, o presente estudo adotou a orientação dos autores. 3 A CONTABILIDADE E O MEIO AMBIENTE A partir da realização, em 1992, da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento RIO 92, no Rio de Janeiro, Brasil, passou-se a falar da era do ecobusiness, para enfatizar, ironiza Alexandre (2000, p. 20), a incorporação da questão ambiental aos negócios. A preocupação com o meio ambiente, porém, é referida desde a década de 1960. Nossa (2002, p. 40) registra a assinatura, em 1962, do Tratado de Proibição Parcial de Testes Nucleares, firmado entre EUA, União Soviética e Grã-Bretanha. O autor destaca que na década seguinte, considerada a fase do controle ambiental, surgiram os primeiros movimentos ambientalistas, dentre os quais: o Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP), a Diretoria do Meio Ambiente da OECD (Organization for Economic Cooperation and Development), o Relatório da Comissão da Comunidade Européia para a Proteção do Meio Ambiente e do Consumidor e a Comissão do Meio Ambiente da Otan (CCMS). Ainda nos anos 1970 o governo brasileiro instituiu a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), órgão de controle vinculado ao Ministério do Interior. Foi nessa década que surgiu a Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental (CETESP), em São Paulo, e a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), no Rio de Janeiro. Na década de 1980, de acordo com Nossa (2002, p. 41), as preocupações ambientais já penetravam em algumas empresas, que passaram a incluir em seu planejamento estratégico

7 a preocupação ambiental. É nesse período que a ONU divulga o relatório Nosso Futuro Comum, sugerindo que as futuras gerações não disporão dos recursos necessários à sua sobrevivência. É nessa década, ressalta Nossa, que é criada, no Brasil, a Política Nacional do Meio Ambiente, obrigando a Análise de Impactos Ambientais para certas atividades. Na década seguinte, comenta o autor, conhecida como Fase da Gestão Ambiental, foi promulgada a Carta de Roterdã contendo dezesseis princípios ambientais. Também nesse período foi realizada a RIO 92, resultando na produção da Agenda 21 e emitida a Norma Internacional NBR ISO 14.000. A crescente preocupação ambiental elevou a importância da pesquisa relacionada ao meio ambiente. Geógrafos, sociólogos, historiadores, engenheiros, entre outros, voltaram seus olhos para um dos bens mais valorizados a partir, principalmente, da segunda metade do século passado. Os contadores também desenvolveram trabalhos na área verde. Nesse sentido podemos citar os exemplos de Gamble e outros (1996), de Milne e Adler (1999), no exterior, e de Paiva (2001), Nossa (2002 e 2003), Ferreira (2003), Borba e Nazário (2003), Tinoco e Kraemer (2004), no Brasil. Contudo, existem poucas normas direcionadas à evidenciação ambiental nas demonstrações contábeis. De acordo com a Comissão de Normalização Contabilística de Portugal CNC (2002, p. 3), o IASC [atual IASB International Accounting Standards Board] publicou diversas Normas Internacionais de Contabilidade que estabelecem disposições e princípios contabilísticos aplicáveis ao tratamento das matérias ambientais. Entretanto, ressalta o documento, não existe qualquer norma internacional de Contabilidade que trate exclusivamente de matérias ambientais. Exemplo de aplicabilidade da norma geral à contabilidade ambiental é a definição de passivo. De acordo com o Financial Accounting Standards Board FASB, citado por Hendriksen e Van Breda (1999, p. 410), passivos são sacrifícios futuros prováveis de benefícios econômicos resultantes de obrigações presentes de uma entidade no sentido de transferir ativos ou serviços para outras entidades no futuro em conseqüência de transações e eventos passados. Assim, o CNC (2002, p. 9) recomenda o reconhecimento de um passivo ambiental Quando seja provável que uma saída de recursos incorporando benefícios econômicos resulte da liquidação de uma obrigação presente de caráter ambiental, que tenha surgido em conseqüência de acontecimentos passados e se a quantia pela qual se fará essa liquidação puder ser mensurada de forma fiável. Contudo, enfatizam Tinoco e Kraemer (2004, p.167): Com referência ao registro, ao reconhecimento e à evidenciação das provisões ambientais nas demonstrações contábeis deve mencionar-se que a grande maioria das legislações tributárias e mesmo comerciais de diferentes países, inclusive do Brasil, só permite o correspondente registro quando pagar as indenizações decorrentes de danos causados ao meio ambiente, ou quando existem fortes evidências de danos que terão de ser ressarcidos ou indenizados. A preocupação constante com o meio ambiente e as exigências relacionadas à conservação ambiental sinalizam para a mudança desse quadro. Estudos recentes têm revelado o atual estágio da divulgação a respeito do meio

8 ambiente nas demonstrações contábeis das empresas brasileiras. Optou-se por apresentar aqui apenas os exemplos mais recentes dessa produção; porém, datam do início dos anos 1990 os primeiros estudos nesta área no Brasil. Tinoco e Kraemer (2004) apresentam informações sobre o desempenho socioambiental de cinco empresas atuantes no território nacional, quais sejam, Companhia Siderúrgica Paulista (COSIPA), Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS) e Brasil Telecom. Nossa (2002) apresentou uma análise do conteúdo de relatórios ambientais das empresas Votorantim Celulose e Papel, Aracruz Celulose, Suzano, International Paper, Bahia Sul, Ripasa, Cenibra, Santher, Klabin e Rigesa. Esta pesquisa analisou, ainda, o conteúdo dos relatórios ambientais de empresas internacionais no setor de Papel e Celulose. Ribeiro e Souza (2003) desenvolveram um estudo sobre os impactos ambientais no patrimônio da Petrobrás. Segundo as autoras, o provisionamento dos passivos ambientais reduziria o lucro da empresa em 2.932.907, no exercício de 2000, e em 3.886.080, no exercício seguinte (valores em milhares de reais). 4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS As informações desta seção foram extraídas dos relatórios financeiros anuais das companhias analisadas submetidos à CVM, no Brasil, e à SEC, nos Estados Unidos. Inicialmente foram identificadas palavras-chave associadas ao tema de interesse, procedendose à leitura dos excertos cujo conteúdo fosse de relevância para o estudo. A Tabela 1 contém essas palavras-chave e o número de ocorrências de cada uma delas, nas demonstrações publicadas junto à CVM e à SEC. Vê-se que a freqüência dessas palavraschave diverge nas publicações das empresas, consideradas individualmente ou em conjunto. Tabela 1 Comparativo das ocorrências de expressões associadas ao meio ambiente. Palavra-chave Ocorrências nas DFP da CVM Ocorrências no formulário 20-F PETR EMBR ARAC COPEL PETR EMBR ARAC COPEL meio ambiente e variações 32 2-2 29 3 9 4 ambiental e variações 57 5 12 13 51 8 41 44 gestão ambiental e variações 6 - - 2 3 - - - impacto ambiental e variações 2 - - - 6-1 4 resíduo e variações 9-4 2 3 - - - poluição e variações 3 - - - 6-1 - ecologia e variações 0-1 1 1 - - - TOTAIS 109 7 17 19 99 11 52 52 Fonte: elaborado pelos autores A Tabela 2, disponível no apêndice deste estudo, apresenta a freqüência das categorias e subcategorias utilizadas no estudo. Embora o total de ocorrências coincida em três das empresas analisadas, isso não significa que a qualidade da evidenciação é a mesma. As empresas adotam política ambiental, conforme se depreende da análise da categoria política ambiental. Contudo, nenhuma ocorrência associada a esta categoria foi verificada na empresa ARACRUZ. Não obstante, esta companhia apresentou ocorrências para a subcategoria ações efetivas, a qual, neste estudo, está vinculada à política ambiental das entidades. Nesta subcategoria foi verificada a maior incidência de sentenças associadas, representando 24% do total encontrado, com destaque para as empresas Petrobras e Aracruz. Enquanto a primeira enfatizou as ações efetivas no formulário 20-F (seis contra dez), a

9 segunda o fez nas demonstrações submetidas à CVM (onze contra três). À exceção da Aracruz, que não fez menção nos documentos analisados, todas as empresas têm algum programa com vistas à obtenção ou manutenção do certificado ISO 14000, informação vinculada à subcategoria gestão ambiental. A categoria política ambiental, associada às respectivas subcategorias, representa 41% das informações vinculadas ao meio ambiente, quando se considera o conjunto das empresas. A categoria impactos ambientais, quando considerada em conjunto com as subcategorias a ela associadas, representa 29% do total de ocorrências de sentenças vinculadas ao meio ambiente, tomando-se por base a amostra de empresas em estudo. Deste total, 17% devem-se às evidenciações da Petrobras. Destaque às sentenças associadas às subcategorias resíduos (7 na CVM e 3 na SEC) e poluição (3 na CVM e 5 na SEC). A categoria energia, com ocorrências identificadas na Petrobras, Embraer e Aracruz, apresentou a menor incidência de sentenças vinculadas, representando 8% das sentenças encontradas. Tendo em vista que os documentos analisados referem-se a um período pós-crise energética no Brasil, a pequena incidência dessas referências deve ser considerada nesse contexto, o que agrava a ausência informativa. As informações disponíveis sob a categoria informações financeiras e ambientais foram encontradas, quase que em sua totalidade, nos documentos da Petrobras. Embraer e Copel apresentaram uma incidência nas subcategorias vinculadas a esta categoria, enquanto a Aracruz não fez referência a esta categoria ou suas subcategorias. Nesta categoria foram encontradas as maiores divergências nas práticas de evidenciação ambiental da Petrobras, quando se comparam as publicações junto à CVM e à SEC. O quadro 2 apresenta o número de sentenças associadas às subcategorias da categoria informações financeiras ambientais na Petrobras. Subcategoria CVM SEC D.1) Despesas e investimentos ambientais 3 3 D.2) Seguro ambiental 1 1 D.3) Passivos, provisões e contingências ambientais 6 16 Quadro 2 Ocorrências das subcategorias da categoria informações financeiras ambientais na Petrobras Fonte: elaborado pelo autor Na subcategoria despesas e investimentos ambientais, a Petrobras divulgou informações convergentes, quantificando monetariamente as ações associadas. Ressalve-se que, no Brasil, ao destacar o investimento em modernização de postos de distribuição, no suporte aos clientes e em programas de SMS, não houve definição do quanto coube a cada uma dessas ações. Nas publicações junto à CVM e à SEC da Petrobras foram identificadas seis e dezesseis ocorrências, respectivamente, associadas à subcategoria passivos, provisões e contingências ambientais. Foi nesta subcategoria que houve inconsistência nas informações. No Brasil e nos Estados Unidos, divulgou-se que possíveis despesas para corrigir ou mitigar eventuais efeitos ambientais não devem influenciar significativamente as operações da companhia. Contudo, nos Estados Unidos, segundo a administração da entidade, caso uma ou mais das responsabilidades em potencial decorrentes de acidentes ambientais resultem em efetiva multa ou responsabilidade civil ou penal, as operações da empresa poderão ficar prejudicadas. Exceto pela divergência acima descrita, todos os dados disponíveis nas DFP publicadas junto à CVM estão presentes no formulário 20-F. Este, contudo, complementa a informação, trazendo dezesseis informações acerca de ocorrências ambientais que podem

10 afetar o patrimônio da empresa. Essas informações adicionais no relatório 20-F vêm acompanhadas de quantificação monetária e da situação das pendências judiciais ou administrativas. Desse total, 43% referem-se a valores contestados pela empresa, sem definição do resultado dessa contestação. Para 29% delas foi apresentada defesa, sendo que até o encerramento do exercício nenhuma havia sido apreciada. Em 21% das ocorrências, de acordo com a empresa, não é possível definir a responsabilidade individual da companhia e, por conseguinte, o impacto de eventuais decisões desfavoráveis sobre o patrimônio da entidade. Finalmente, 7% das ocorrências dizem respeito a valores que podem ser reduzidos em até 90% mediante cumprimento de termo de compromisso firmado com os órgãos ambientais. É oportuno destacar que as informações obtidas foram encontradas, sem exceção, ou no relatório da administração ou nas notas explicativas. Nenhum dado está textualmente associado ao meio ambiente nas demonstrações contábeis propriamente ditas. 5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES A presente pesquisa objetivou identificar as diferenças entre as demonstrações contábeis das companhias Petrobras, Embraer, Aracruz e Copel submetidas à CVM e à SEC na evidenciação ambiental. Para tanto, utilizou-se a técnica de análise de conteúdo. A partir da leitura das demonstrações contábeis da companhia analisada, pode-se identificar similaridades e divergências na forma de evidenciação ambiental. Verificou-se similaridade na freqüência das sentenças associadas ao meio ambiente nas demonstrações das empresas. Neste sentido, as ocorrências na Petrobrás (48), na Embraer (3), da Aracruz (14) e Copel (6, na CVM, e 8 na SEC). Com base no conteúdo analisado, verificou-se que a prática de evidenciação, no Brasil, está associada à publicidade. Apresenta-se, como exemplo, o número de ocorrências associadas à subcategoria ações efetivas da Petrobras, que foi inferior nas DFP submetidas à CVM em comparação ao encontrado no formulário 20-F (seis contra dez). Por outro lado, o número de ocorrências associadas à subcategoria declarações de intenções, nesta mesma empresa, nas DFP da CVM superaram o disponível no formulário 20-F (oito contra uma). Ou seja, no Brasil foi priorizada a divulgação das intenções em detrimento daquilo efetivamente realizado. Contudo, este estudo não levou em consideração aspectos sociais, culturais ou econômicos na análise descrita. Embora justificável diante das dimensões desta pesquisa, esta é uma limitação que se deve considerar durante a leitura. Futuros estudos podem abordar essas questões. Por fim, é importante destacar, também, que, uma vez que o objetivo do trabalho era comparar a prática adotada pela empresa na evidenciação ambiental e não as normas a esse respeito nos dois países, estas não foram consideradas na análise realizada. Acredita-se que uma abordagem do problema sob a ótica normativa traga esclarecimentos ao tema, corroborando ou refutando os dados apresentados ao longo deste estudo.

11 REFERÊNCIAS ALEXANDRE, Agripa Faria. A perda da radicalidade do movimento ambientalista brasileiro: uma contribuição à crítica do movimento. Blumenau/Florianópolis: Edifurb/Editora da UFSC, 2000. ATKINSON, Anthony A. e outros. Contabilidade gerencial. Tradução de André O. M. Du Chenoy Castro. São Paulo: Atlas, 2000. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. BORBA, José Alonso; NAZÁRIO, Leslie. Contabilidade ambiental: a preocupação empresarial com o meio ambiente através da evidenciação da terminologia comumente empregada nas demonstrações contábeis publicadas no Brasil. In:ENANPAD, 27., 2003, Atibaia. Anais... São Paulo: ANPAD, 2003. 1 CD-ROM BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 4. ed. São Paulo: Iglu, 2004. COMISSÃO DE NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA. Directriz contabilística n 29 Matérias Ambientais. Lisboa, 2002. Disponível em <http://www.cnc.min-financas.pt>. Acesso em: 22 nov. 2004. EPSTEIN, Marc J. Measuring corporate environmental performance. New York: McGraw-Hill, 1996. FERREIRA, Aracéli C. de S. Contabilidade ambiental. São Paulo: Atlas, 2003. HENDRIKSEN, Eldon S.; VAN BREDA, Michael F. Teoria da contabilidade. Tradução de Antônio Zoratto Sanvicente. São Paulo: Atlas, 1999. KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. Contabilidade ambiental como sistema de informações. Revista Pensar Contábil. Rio de Janeiro, n.º 09, p. 19-26, agosto-outubro de 2000. NOSSA, Valcemiro. Disclosure ambiental: uma análise do conteúdo dos relatórios ambientais de empresas do setor de papel e celulose em nível internacional. 2002. 246 p. Tese (Doutorado em Controladoria e Contabilidade) Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, São Paulo, 2002. NOSSA, Valcemiro; CARVALHO, Luiz N. G. de. Uma análise do conteúdo do disclosure ambiental de empresas do setor de papel e celulose em nível internacional In:ENANPAD, 27., 2003, Atibaia. Anais... São Paulo: ANPAD, 2003. 1 CD-ROM PAIVA, Paulo Roberto. Evidenciação de gastos ambientais: uma pesquisa exploratória no setor de celulose e papel. 2001. 171 p. Dissertação (Mestrado em Controladoria e Contabilidade) Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, São Paulo, 2001.

12 RIBEIRO, Maisa de Souza; SOUZA, Ana Lucia Bertoli. Passivo ambiental: estudo de caso da Petróleo Brasileiro S.A Petrobrás. In: ENANPAD, 27., 2003, Atibaia. Anais... São Paulo: ANPAD, 2003. 1 CD-ROM TINOCO, João Eduardo P.; KRAEMER, Maria Elisabeth P. Contabilidade e gestão ambiental. São Paulo: Atlas, 2004. UNCTAD/ISAR United Nations Conference on Trade and Development Intergovernamental Working Group of Experts on International Standards of Accounting and Reporting. Environmental financial accounting and reporting at the corporate level. United Nations: Geneva, 1997. Disponível em: <www.unctad.org>. Acesso em: 25 ago 2004.

13 APÊNDICE Tabela 2 Freqüência das categorias e subcategorias nas empresas pesquisadas. CATEGORIA SUBCATEGORIA PETROBRÁS EMBRAER ARACRUZ COPEL CVM SEC CVM SEC CVM SEC CVM SEC TOTAIS % Política Ambiental 1 1 1 - - - 1 1 5 3% Ações Efetivas 6 10 - - 11 3 2 3 35 24% Declaração de intenções 8 1-1 - - - - 10 7% Gestão ambiental (incluindo ISO 14.000) 3 3 1 1 - - 1 1 10 7% Impactos Ambientais 2 5 - - - 1-2 10 7% Resíduos 7 3 - - 1-1 - 12 8% Poluição 3 5 - - 1 1 - - 10 7% Reciclagem 1 - - - - 3 1-5 3% Contaminação e recuperação de terras, águas e ar 5 - - - - - - - 5 4% Energia - - 1-1 6 - - 8 6% Uso eficiente 1 - - - - - - - 1 1% Utilização de resíduos na produção de energia 1 - - - - - - - 1 1% Informações Financeiras Ambientais - - - - - - - - - - Despesas e investimentos ambientais 3 3-1 - - - - 7 5% Passivos, provisões e contingências ambientais 6 16 - - - - - 1 23 16% Seguro ambiental 1 1 - - - - - - 2 1% TOTAIS 48 48 3 3 14 14 6 8 144 - PERCENTUAL 33% 33% 2% 2% 10% 10% 4% 6% - 100% Fonte: Elaborado pelos autores.