Registro: 2018.0000364070 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1004771-34.2016.8.26.0037, da Comarca de Araraquara, em que é apelante SALÃO AFRO BELEZA NEGRA - ME, é apelada MICHELLE PEREIRA DE LIMA (E SEU MARIDO). ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 1ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores RUI CASCALDI (Presidente) e LUIZ ANTONIO DE GODOY. São Paulo, 17 de maio de 2018. Augusto Rezende Relator Assinatura Eletrônica
Apelação nº 1004771-34.2016.8.26.0037 Apelante: Salão Afro Beleza Negra ME. Apelada: Michelle Pereira de Lima (e seu marido) Comarca: Araraquara Juiz: João Roberto Casali da Silva Voto nº 6.164 Indenizatória Direito à imagem Utilização de foto da autora, sem sua autorização, como propaganda em rede social e em banner na fachada do estabelecimento comercial da ré Inadmissibilidade - Artigo 5º, inciso X, da CF Ressarcimento que não depende da demonstração de prejuízo Súmula nº 403, do STJ Ausência de utilização vexatória ou negativa da imagem - Indenização devida Parte vencida beneficiária da assistência judiciária gratuita Fato que não impede sua condenação aos ônus da sucumbência, mas impõe a suspensão de sua exigibilidade, nos termos do art. 98, 3º, do CPC Recurso não provido. Relatório Trata-se de recurso de apelação interposto em face da sentença de fls. 233/236, cujo relatório se adota, que julgou procedente o pedido inicial para condenar a ré ao pagamento da quantia de R$ 14.055,00, a título de indenização por uso indevido da imagem, com correção monetária a partir da data da prolação do Apelação nº 1004771-34.2016.8.26.0037 -Voto nº 6.164 2
julgado e juros de mora a contar da citação, e estabeleceu a obrigação de fazer pleiteada no item c da exordial (proibir a utilização da imagem da autora em qualquer site, banner, panfleto, sem a sua autorização), sob pena de multa a ser fixada em eventual execução do julgado. Apela a ré. Alega que não houve abuso, ofensa, comercialização da imagem da autora, e ainda foi adquirida em local público. Aduz que foi a apelada que fotografou, postou e dispôs de sua imagem na web. Defende que não houve qualquer dano para a autora, a imagem foi utilizada por curto espaço de tempo. Assevera que é beneficiária da assistência judiciária e não pode ser condenada aos ônus da sucumbência. O recurso foi processado, e dispensado de preparo, em virtude da recorrente ser beneficiária da assistência judiciária gratuita. Contrarrazões apresentadas a fls. 310/322. É o relatório. Argumentação e dispositivo No que tange a proteção do direto à imagem saliente-se o artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal preceitua que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou Apelação nº 1004771-34.2016.8.26.0037 -Voto nº 6.164 3
moral decorrente de sua violação. Cabe assinalar que a tutela desse direito, prescinde de prova de ofensa à honra, já que a finalidade da proteção à imagem é coibir sua violação, ou uso desautorizado, independentemente de repercussão na reputação do titular. O direito à imagem é dissociável de outros semelhantes, tais como a honra e a intimidade, situados na esfera extrapatrimonial, mas passíveis de compensação pecuniária. O Superior Tribunal de Justiça já deixou assentado que o direito à imagem reveste-se de duplo conteúdo: moral, porque direito de personalidade; patrimonial, porque assentado no princípio segundo o qual a ninguém é lícito locupletar-se à custa alheia, e, em se tratando de direito à imagem, a obrigação da reparação decorre do próprio uso indevido do direito personalíssimo, não havendo de cogitar-se da prova da existência de prejuízo ou dano, nem a conseqüência do uso, se ofensivo ou não, qualificando-se o direito à imagem como direito de personalidade, extrapatrimonial, de caráter personalíssimo, por proteger o interesse que tem a pessoa de opor-se à divulgação dessa imagem, em circunstâncias concernentes à sua vida privada (Embargos de Divergência em Recurso Especial EREsp 230268/SP; Relator Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira; Órgão Julgador Segunda Seção; Data do Julgamento 11/12/2002; Data da Publicação/Fonte DJ 04/08/2003; p. 216; RDR vol. 27; p. 266; RSSTJ; vol. 38; p. 57). No caso dos autos, a demanda foi ajuizada em decorrência da imagem da autora ter sido utilizada, sem sua autorização, como propaganda em rede social e em banner na fachada do estabelecimento comercial da ré. Apelação nº 1004771-34.2016.8.26.0037 -Voto nº 6.164 4
Ainda que a foto da autora não esteja diretamente vinculada à venda de produtos da ré, não se pode olvidar que sua exposição no site da empresa e na fachada do estabelecimento comercial serviu para incrementar os negócios, trazendo lucros à empresa. Tal material de divulgação produz benefícios indiretos, na medida em que fortalece a marca da empresa, alavancando a possibilidade de angariar clientela, razão pela qual, conclui-se que a finalidade lucrativa está embutida, mesmo que indiretamente. Além disso, a ré admitiu que utilizou a imagem da autora, sem qualquer autorização, mas entende que agiu corretamente porque a autora é figura pública, visto que sua imagem é muito difundida na web. Porém, a publicação de fotos da autora em outros sites, não autoriza a ré, ou qualquer pessoa, a copiar e utilizar a mesma foto para fins de propaganda em seu estabelecimento comercial, sem a respectiva autorização. Assim, resta configurado o ato ilícito, sendo o caso de indenizar a autora pelos danos morais experimentados que derivam inexoravelmente do próprio fato ofensivo, de tal modo que, provada a ofensa, automaticamente está demonstrado o dano moral à guisa de uma presunção material. A este respeito o Superior Tribunal de Justiça editou a súmula 403, que prevê: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais. Em caso assemelhado, esta C. Corte assim decidiu: Apelação nº 1004771-34.2016.8.26.0037 -Voto nº 6.164 5
USO INDEVIDO DE IMAGEM - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - Exposição de foto da autora sem a autorização necessária - Responsabilidade da ré que não cuidou de obter a devida autorização - Dano moral presumido - Desnecessidade de demonstração dos prejuízos, que residem na própria utilização indevida da fotografia - Violação do direito de imagem - Veiculação da imagem da autora em catálogos, peças publicitárias, revistas - Dano configurado com a mera exposição da imagem, sem expressa autorização - Indenização devida - Majoração - Cabimento - Fixação no valor equivalente a 50 (cinquenta) salários mínimos, vigentes na data do efetivo pagamento - Recurso adesivo parcialmente provido (Apelação nº 0105977-31.2007.8.26.0100, Relator Salles Rossi; Comarca São Paulo; Órgão julgador 8ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento 27/06/2012). De outro lado, não houve específica impugnação quanto ao valor da indenização arbitrada pelo juízo de primeira instância e, portanto, este tema não será reapreciado nesta oportunidade, em observância ao tantum devolutum quantum appellatum. Por fim, ressalta-se que o fato de a parte vencida ser beneficiária da assistência judiciária gratuita não impede sua condenação aos ônus sucumbenciais, devendo ser suspensa sua exigibilidade, conforme preceitua o art. 98, 3º, do CPC. Por essas razões, a r. sentença deve ser mantida, sendo que dela não consta na parte dispositiva que a exigibilidade da condenação quanto aos ônus sucumbenciais (custas processuais e honorários advocatícios) dar-se-á, nos termos do art. 98, 3º, do CPC. Apelação nº 1004771-34.2016.8.26.0037 -Voto nº 6.164 6
Ante o exposto, nego provimento ao recurso. Augusto Rezende Relator Apelação nº 1004771-34.2016.8.26.0037 -Voto nº 6.164 7