fls. 2 Registro: 2016.0000471617 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0002454-79.2014.8.26.0157, da Comarca de Cubatão, em que é apelante TRANSPORTES RODOVIÁRIOS AJR LTDA, é apelado OFICIAL DO CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS DA COMARCA DE CUBATÃO. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: prejudicado o recurso. V.U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores BERETTA DA SILVEIRA (Presidente sem voto), CARLOS ALBERTO DE SALLES E DONEGÁ MORANDINI. São Paulo, 6 de julho de 2016. Viviani Nicolau Relator Assinatura Eletrônica
fls. 3 VOTO Nº : 22861 APELAÇÃO Nº : 0002454-79.2014.8.26.0157 COMARCA : CUBATÃO APTE. APDO. : TRANSPORTES RODOVIDÁRIOS AJR LTDA : OFICIAL DO CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS DA COMARCA DE CUBATÃO JUÍZA SENTENCIANTE: SHEYLA ROMANO DOS SANTOS MOURA APELAÇÃO. MANDADO DE SEGURANÇA. Impetração contra ato do Oficial do Cartório de Registro de Imóveis, que se recusou a proceder ao registro das escrituras, com fundamento em aventada necessidade de recolhimento de diferenças a título de ITBI. Ordem denegada. Apelo da impetrante. Inadequação da via eleita e incompetência da Câmara para apreciar o pedido. Questão administrativo-registrária a ser apreciada pelo Juiz Corregedor Permanente do Cartório de Registro de Imóveis. Inteligência dos itens 40, 41 e 41.3 do Capítulo XX, Tomo II, das Normas de Serviço da Corregedoria Geral de Justiça deste Tribunal e do art. 198 da Lei nº 6.015/73 Aplicação do art. 10 da Lei nº 12.016/2009. Precedentes desta Câmara, deste Tribunal e do STJ. INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL, DE OFÍCIO, PREJUDICADO O RECURSO. (v.22861). Trata-se de mandado de segurança impetrado por AJR TRANSPORTES RODOVIÁRIOS contra ato do OFICIAL DO CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS DA COMARCA DE CUBATÃO, feito no qual sobreveio a sentença denegatória da ordem, condenando a impetrante ao pagamento das custas, sem condenação em honorários advocatícios, nos termos da Súmula 105 do STJ (fls. 156/159). Apela a impetrante objetivando o reconhecimento de seu direito líquido e certo de proceder ao registro de três imóveis que arrematou em leilão extrajudicial, mediante o recolhimento do ITBI calculado com base no valor da arrematação. Aduz ilegal a recusa do oficial em proceder ao registro com fundamento em aventada necessidade de recolhimento de diferenças a título de ITBI, cálculo a ser feito sobre o valor venal dos bens e não sobre o valor do lance da arrematação. Defende que o fato de haver lavrado as escrituras públicas com vistas a instrumentalizar a aquisição dos imóveis não retirou a eficácia da arrematação em leilão público; que o fato gerador do Apelação nº 0002454-79.2014.8.26.0157 -Voto nº 22861 DVN 2
fls. 4 ITBI foi a arrematação, instrumentalizada pelas respectivas cartas e que havendo a Municipalidade, credora do imposto, gerado as guias sobre o valor de cada arrematação, dando quitação, não cabe ao órgão registral discutir, zelar e principalmente se recusar a efetuar o registro. Enfatiza que se deve presumir a boa-fé do certame, assim como das partes e que os valores venais, na data das arrematações, eram ínfimos frente aos valores atuais (fls. 164/177). Tempestivo e preparado (fls. 178/181), o recurso foi recebido (fls. 182). O apelado não apresentou contrarrazões (cf. certidão de fls. 189). Não houve oposição ao julgamento virtual (cf. despacho de fls. 195 e petição de fls. 198). É O RELATÓRIO. AJR TRANSPORTES RODOVIÁRIOS impetrou o presente mandado de segurança contra ato do OFICIAL DO CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS DE CUBATÃO alegando, a teor da sentença, que :... que foi negado o registro de uma escritura pública para transferência dos imóveis representados pelas matrículas nº 1486, 5477 e 3121, ao impetrante, em ofensa a direito líquido e certo, eis que preenchidos todos os requisitos legais para tanto. Sustentou que adquiriu os imóveis em leilões extrajudiciais, que foram expedidas as respectivas cartas de arrematação, porém, para regularizar a situação no cartório, lavrou-se escritura denominada compra e venda. Entretanto, o registro foi negado, por irregularidades no recolhimento do ITBI, eis que apesar dos imóveis terem sido arrematados, foi lavrada escritura de compra e venda. (fls. 156). A fls. 79/81 consta ter sido deferida parcialmente a liminar pleiteada pela autora para que os títulos fossem imediatamente prenotados (escrituras acostadas às fls. 47/52, 53/58 e 59/64), e os efeitos da prenotação fossem perpetuados até o julgamento final desta ação. Dando ensejo ao presente recurso, houve Apelação nº 0002454-79.2014.8.26.0157 -Voto nº 22861 DVN 3
fls. 5 por bem o r. Juízo de origem denegar a ordem, condenando a impetrante ao pagamento de custas sem, no entanto, condená-la ao pagamento de honorários advocatícios (Súmula 105 do STJ). Respeitado o entendimento do r. Juízo de origem, a demanda proposta pela apelada não vence sequer as condições da ação. Este tema foi objeto de análise em precedente desta Câmara: Mandado de Segurança 2179606-66.2014.8.26.0000 - Relator Desembargador ALEXANDRE MARCONDES Julgamento realizado no dia 11/11/14, com participação dos Desembargadores EGIDIO GIACOIA e VIVIANI NICOLAU - registro nº 2014.0000723983. A ementa do acórdão tem o seguinte teor: MANDADO DE SEGURANÇA Recusa de pedido de averbação de ajuizamento de execução, nos termos do art. 615-A do CPC. Nota de devolução do oficial do cartório de registro de imóveis. Inexistência de direito líquido e certo. Inadequação da via eleita. Incompetência da Câmara para apreciar o pedido. Questão administrativo- registraria a ser apreciada pelo Juiz Corregedor Permanente do Cartório de Registro de Imóveis. Inteligência dos itens 40, 41 e 41.3 do Capítulo XX, Tomo II, das Normas de Serviço da Corregedoria Geral de Justiça deste Tribunal e do art. 198 da Lei nº 6.015/73 Aplicação do art. 10 da Lei nº 12.016/2009. INDEFERIMENTO LIMINAR DA PETIÇÃO INICIAL. O eminente Desembargador Relator, ALEXANDRE MARCONDES, em seu voto, deixou consignado que: É caso de indeferimento da petição inicial. Não há direito líquido e certo do impetrante a ser amparado pela via do mandado de segurança e esta Câmara não tem competência para apreciar a legalidade ou não da recusa Apelação nº 0002454-79.2014.8.26.0157 -Voto nº 22861 DVN 4
fls. 6 do registrador de proceder a averbação desejada. Ensina Celso Agrícola Barbi que enquanto, para as ações em geral, a primeira condição para sentença favorável é a existência da vontade de lei cuja autuação de reclama, no mandado de segurança isto é insuficiente; é preciso não apenas que haja o direito alegado, mas também que ele seja líquido e certo. Se ele existir, mas sem essas características, ensejará o exercício da ação por outros ritos, mas não pelo específico mandado de segurança ( Do Mandado de Segurança, Forense, 7ª Ed. pág. 5). A questão aqui discutida é de natureza eminentemente administrativo-registrária, competindo ao Juiz Corregedor Permanente do respectivo cartório processar e julgar o pedido em questão. Conforme dispõem os itens 40 e 41, Capítulo XX, Tomo II, das Normas de Serviço da Corregedoria Geral de Justiça deste Tribunal, é dever do Registrador proceder ao exame exaustivo do título apresentado. Havendo exigências de qualquer ordem, deverão ser formuladas de uma só vez, por escrito, de forma clara e objetiva, em formato eletrônico ou papel timbrado do cartório, com identificação e assinatura do preposto responsável, para que o interessado possa satisfazê-las ou requerer a suscitação de dúvida ou procedimento administrativo e não se conformando o apresentante com a exigência, ou não a podendo satisfazer, será o título, a seu requerimento e com a declaração de dúvida, remetido ao Juízo competente para dirimila. Assim, deve o impetrante requerer eventualmente ao oficial do registro de imóveis que suscite dúvida perante o juiz corregedor permanente do cartório extrajudicial, o qual apreciará a pertinência do pedido formulado pelo apresentante, conforme disposto no artigo 198 da Lei de Registros Públicos, ou suscitar dúvida inversa. Em casos semelhantes, tanto o C. Superior Tribunal de Justiça como esta Corte têm reconhecido a competência do juiz corregedor do cartório extrajudicial para dirimir questões referentes a pedidos de registro e/ou averbação: COMPETENCIA. REGISTRO DE IMOVEIS. DUVIDA SUSCITADA PELO OFICIAL DO REGISTRO IMOBILIARIO. EM FACE DE SUA NATUREZA ADMINISTRATIVA, O PROCEDIMENTO DE DUVIDA DEVE SER DECIDIDO PELO JUIZO ESTADUAL CORREGEDOR DO CARTORIO DE REGISTRO DE IMOVEIS, QUE O FORMULOU. CONFLITO CONHECIDO, DECLARADO COMPETENTE O Apelação nº 0002454-79.2014.8.26.0157 -Voto nº 22861 DVN 5
fls. 7 SUSCITADO (STJ, CC 4840/RJ, 2ª Seção, Rel. Min. Barros Monteiro, j. 08/09/1993). MANDADO DE SEGURANÇA - Pedido de registro de formal de partilha - Nota de Devolução - Cumprimento de exigências - Dúvida a ser apresentada perante o Corregedor Permanente do Cartório de Registro de Imóveis - Questão registraria - Art. 198 da Lei nº 6.015/73 -Além disso, inadequação da via eleita - Ausência de direito líquido e certo - Petição inicial indeferida - Recurso não provido (TJSP, Apelação nº 0022175-11.2010.8.26.0269, 6ª Câmara de Direito Público, Rel. Des. Reinaldo Miluzzi, 20/06/2011). Agravo de instrumento Inventário - Título devolvido pelo Oficial do Registro de Imóveis, que apresentou exigências a serem cumpridas - Decisão que determinou o cumprimento das exigências - Recurso da interessada - Questão que desafia suscitação de dúvida perante o Juiz Corregedor - Inteligência do art. 198 da Lei n.º 6.015/73 (Lei de Registros Públicos) - Precedentes desta Corte - Decisão mantida. AGRAVO DESPROVIDO (TJSP, Agravo de Instrumento nº 2016386-86.2014.8.26.0000, 7ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Miguel Brandi, j. 16/05/2014). AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. MANDADO PARA OUTORGA DE ESCRITURA. NOTA DE DEVOLUÇÃO. EXIGÊNCIAS FEITAS PELO OFICIAL DE REGISTRO DE IMÓVEIS. QUESTÃO DE NATUREZA REGISTRÁRIA, A SER DIRIMIDA PELO JUIZ CORREGEDOR. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. "Mandado para outorga de escritura" expedido em fase de cumprimento de sentença. Nota de devolução do Oficial de Registro de Imóveis, contendo exigências necessárias para a efetivação do ato registral. 2. Inconformismo do autor/agravante que deve ser manifestado perante o órgão corregedor competente. Questão de natureza registrária. Precedentes. 3. Agravo de instrumento não provido (TJSP, Agravo de Instrumento nº 2052878-14.2013.8.26.0000, 9ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Alexandre Lazzarini, j. 11/02/2014). AGRAVO DE INSTRUMENTO - Pedido de registro de formal de partilha - Nota de devolução pelo oficial do Cartório de Registro de Imóveis - Cumprimento de exigências - Questão registrária - Dúvida a ser apresentada perante o Corregedor Permanente do Cartório de Registro de Imóveis Apelação nº 0002454-79.2014.8.26.0157 -Voto nº 22861 DVN 6
fls. 8 competente - Inteligência do art. 198 da Lei nº 6.015/73 - Recurso a que se nega provimento (TJSP, Agravo de Instrumento nº 0016912-24.2013.8.26.0000, 9ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Jayme Martins de Oliveira Neto, j. 09/04/2013). Destaca-se que a ilegitimidade de parte é matéria de ordem pública, e que seu reconhecimento pode ser feito em qualquer fase do processo e, inclusive, de ofício. Concluindo, impõe-se, de ofício, indeferir a petição inicial e, como consequência, cassar a liminar deferida initio litis (fls. 79/81), mantendo a sucumbência nos moldes em que fixada na origem. Ante o exposto, dada a inexistência de direito líquido e certo, a inadequação da via eleita e a incompetência absoluta desta Câmara para apreciar o pedido, com fundamento no artigo 10 da Lei nº 12.016/09, INDEFERE-SE, de ofício, a petição inicial do presente mandado de segurança, PREJUDICADO O RECURSO. VIVIANI NICOLAU Relator Apelação nº 0002454-79.2014.8.26.0157 -Voto nº 22861 DVN 7