QUALIDADE DA ÁGUA E DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA: O CASO DOS MUNICÍPIOS DE BARRA BONITA E IGARAÇU DO TIETÊ - SP

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Transcrição:

EIXO TEMÁTICO: Ciências Ambientais e da Terra QUALIDADE DA ÁGUA E DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA: O CASO DOS MUNICÍPIOS DE BARRA BONITA E IGARAÇU DO TIETÊ - SP Daniele Toyama 1 Marcela Bianchessi da Cunha Santino 2 Angela Terumi Fushita 3 RESUMO: Se a qualidade de um recurso hídrico não está adequada aos seus usos, a água pode tornar-se uma provedora de doenças. O presente estudo realizou um levantamento das doenças de veiculação hídrica associadas às variáveis limnológicas coliformes fecais, demanda bioquímica de oxigênio e nitrogênio, presentes nas amostras de água coletadas nos municípios de Barra Bonita e Igaraçu do Tietê (SP), no rio Tietê. Foram analisadas as áreas de cobertura por macrófitas no rio Tietê nesses municípios. Notou-se que a baixa qualidade da água na área de estudo apresentou relação com a incidência, ocorrência e mortalidade por doenças de veiculação hídrica, revelando a necessidade de intervenção nas atividades de contato primário que ocorrem nos municípios, além do fato de que a cobertura de macrófitas relacionou-se com a grande incidência de dengue em 2001. Palavras-chave: Macrófitas. Saúde pública. Usos da água. 1. INTRODUÇÃO A água, recurso indispensável para manutenção da vida, pode transmitir doenças nos humanos se utilizada em condições não apropriadas (i.e. contaminada) ou quando há a presença de vetores que se desenvolvem na água (SES/SP, 2009). A água pode conter metais, fertilizantes, agrotóxicos e microrganismos e quando utilizada pela população, para ingestão ou para atividades recreativas de contato primário, pode causar problemas de saúde pública. Ao se considerar a contaminação microbiológica da água, a resolução CONAMA nº 274, de 29 de novembro de 2000, que define os critérios de balneabilidade em águas brasileiras, determina como imprópria para contato primário as águas com mais de 2.500 coliformes fecais por 100 mililitros na amostragem de água. A falta ou ineficiência de saneamento básico leva a proliferação de doenças de veiculação hídrica (MENDONÇA e MOTTA, 2007). De acordo com a SES/SP (2009), as doenças comumente relacionadas à ingestão de água contaminada são cólera, febre tifóide, hepatite A e doenças diarreicas; as doenças causadas pela água contaminada por esgoto, fezes ou urina de animais são esquistossomose e leptospirose, e por fim, as doenças causadas por vetores que se desenvolvem na água são a dengue, febre amarela, filariose, malária e algumas encefalites. A ocorrência de extensos bancos de macrófitas pode causar problemas de saúde pública, uma vez que essas plantas podem servir de habitat para vetores de enfermidades de transmissão indireta, como a 1 Discente Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental. UFSCar. <danitoyama01@gmail.com> 2 Docente Departamento de Hidrobiologia. UFSCar. <cunha_santino@ufscar.br> 3 Pós-doutoranda - Departamento de Hidrobiologia. UFSCar. <angela_fushita@yahoo.com.br>

malária, a dengue e a febre amarela (APARICIO e BITENCOURT, 2015). Os municípios de Barra Bonita e de Igaraçu do Tietê estão localizados no interior de São Paulo, às margens do rio Tietê. As cidades possuem juntas 58.608 habitantes e área de 247,868 km² (IBGE, 2010). Motivadas pelas atividades turísticas, utilizam o Tietê para navegação, atividades recreativas de contato primário e pesca. Em 2015 o Índice de Qualidade das Águas (IQA) foi classificado como regular (TOYAMA e CUNHA-SANTINO, 2016) no trecho do rio Tietê nesses dois municípios, mostrando que o uso da água é impróprio para as atividades de contato primário que são frequentemente observadas nessa região. Segundo a SOS Mata Atlântica (2016), a qualidade da água no período de 2013 a 2016 no rio Tietê em Barra Bonita variou entre regular e ruim. Assim, nota-se a importância de se investigar a ocorrência das doenças de veiculação hídrica nesses municípios e verificar se existe relação tanto com a qualidade da água, quanto com a presença de bancos de macrófitas aquáticas que podem atuar como locais de desenvolvimento de vetores de doenças de veiculação hídrica. O objetivo deste trabalho foi analisar aspectos da qualidade da água e da área de cobertura por macrófitas aquáticas em um trecho do rio Tietê e verificar se há relação com a ocorrência de doenças de veiculação hídrica nos municípios de Barra Bonita e de Igaraçu do Tietê 2. MATERIAIS E MÉTODOS Para o levantamento da ocorrência das doenças de veiculação hídrica foi realizado um levantamento das doenças registradas entre os anos de 2001 a 2012, na base de dados do Laboratório de Informação em Saúde, onde estão disponibilizadas informações de doenças de veiculação hídrica nos municípios brasileiros. As coletas das amostras de água foram realizadas em janeiro de 2016, na subsuperfície (ca. 15 cm) em três pontos distintos sendo: P1 (22 30 55 S, 48 32 22 W) jusante a barragem de Barra Bonita, próximo a prainha, P2 (22 30 0 S, 48 33 25 W) Centro Turístico de Barra Bonita e P3 (22 30 22 S, 48 37 23 W) após a zona urbana dos municípios. A DBO 5 foi analisada pelo método polarográfico, os coliformes fecais por detecção em gel desidratado e o nitrogênio por quimioluminescência. Para análise das macrófitas, foi utilizado o software Arc Gis 10.2.2 para delimitar a área de ocupação das espécies (e.g. Pistia stratiotes, Eichhornia azurea) no trecho do rio Tietê da área de estudo, nas estações seca e chuvosa dos anos de maior incidência das doenças de veiculação hídricas verificadas na pesquisa bibliográfica. Foram utilizadas imagens de satélite LANDSAT 5 sensor TM, composição RGB das bandas infravermelho próximo, vermelho e verde, órbita 220 e ponto 76, com datas de passagem 16/04/2001, 25/10/2001, 12/08/2003, 19/01/2004, 17/04/2007, 08/09/2007, 09/04/2010, 19/11/2010 e 27/03/2011, 19/09/2011.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ISSN 2358-8012 A Tabela 1 apresenta a relação de doenças de veiculação hídrica registradas em Barra Bonita e Igaraçu do Tietê, entre os anos de 2001 e 2012. A Tabela 2 mostra os resultados das análises de coliformes fecais, DBO 5 e nitrogênio total e a Tabela 3 traz a área e porcentagem de cobertura por macrófitas no rio Tietê no trecho estudado. Tabela 1. Taxa de internação, mortalidade e incidência de doenças de veiculação hídrica em Barra Bonita e Igaraçu do Tietê (Fonte: LIS, 2016). Doenças de veiculação hídrica Taxa de internação (por 100.000 habitantes) Doença Barra Bonita Igaraçu do Tietê Ano Amebíase - 4,3 2011 Dengue 8,4-2001 5,5 4,4 2002 13,5 8,6 2003 2,7-2004 2,6-2005 5,1 16,6 2007 8,3-2008 14,2 8,6 2010 17,0 8,5 2011 Filariose 2,8-2000 Leptospirose - 4,2 2008 Taxa de mortalidade (por 100.000 habitantes) Diarreia (em menores de 5 anos) - 4,4 2001 2,7 4,4 2003 2,8 4,4 2011 Taxa de incidência (por 100.000 habitantes) Dengue 423,2 13,1 2001 11,0 21,8 2002 35,2 13,0 2003 2,6 4,2 2005 5,1-2006 27,9 12,4 2007 5,5-2008 2,8 4,1 2009 34,0 34,2 2010 19,9 38,4 2011 5,7 8,5 2012 Esquistossomose 8,4 13,1 2001 19,0 8,6 2003 13,4 4,3 2004 2,6 4,2 2005 2,6 4,2 2006 10,1-2007 5,5 8,3 2008 Hepatite A - 4,2 2005-4,2 2006-8,3 2007 Leptospirose 2,8-2009 2,8-2011

Tabela 2. Variáveis limnológicas das amostras de água do rio Tietê entre os municípios de Barra Bonita e Igaraçu do Tietê. Variável Ponto P1 P2 P3 DBO5 (mg/l) 3,25 2,53 2,76 Nitrogênio total (mg/l) 3,383 3,030 3,135 Coliformes fecais (UFC/100 ml) 16.000 76.800 28.800 Tabela 3. Área e porcentagem de ocorrência de macrófitas nos anos de maior incidência de doenças no trecho do rio Tietê localizado entre os municípios de Barra Bonita e Igaraçu do Tietê. Ano Seca Cheia Área (ha) % Área (ha) % 2001 60,21 17,51 92,14 26,79 2003/2004 61,36 17,84 81,04 23,56 2007 58,04 16,87 59,32 17,27 2010 54,11 15,73 60,41 17,56 2011 43,90 12,76 49,93 14,52 No trecho estudado observou-se a presença de coliformes fecais categorizando-o como impróprio para as atividades de contato primário (CONAMA 274/2000). Os coliformes fecais são indicadores da qualidade sanitária uma vez que residem no trato gastrointestinal de animais de sangue quente, assim pode-se inferir sobre a presença de patógenos no ambiente (ASHBOLT et al, 2001), dessa forma, os valores elevados desses organismos mostram a contaminação microbiológica. O nitrogênio pode ser aduzido no ambiente aquático por descarte de esgoto sem tratamento, poluição difusa por escoamento de fertilizantes, bem como escoamento da água superficial nas áreas urbanizadas. As concentrações de DBO 5 da água nos P2 e P3 não ultrapassaram o limite estabelecido (3 mg/l) do corpo hídrico na Classe 1, sendo que apenas o P1 se enquadrou na Classe 2 (CONAMA 357/2005). Com relação ao levantamento de doenças de veiculação hídrica (Tabela 1), entre os anos de 2001 e 2012 foram registradas sete doenças, sendo duas transmitidas por vetores, duas por contato e três por ingestão da água. Foram registradas mortes por diarreia (doença provocada pela ingestão da água contaminada por patógenos) em ambos os municípios e a incidência de hepatite A, também provocada pela ingestão da água contaminada. A incidência de esquistossomose é provocada pelo contato direto com a água e a dengue é transmitida por vetores. Nos anos de maior incidência de doenças de veiculação hídrica, a ocupação de macrófitas aquáticas no canal do rio Tietê variou na estação de seca (baixas precipitações atmosféricas) entre 12,76% a 17,87% da lâmina d água no trecho estudado e entre 14,52% a 26,79% na estação chuvosa, com maior porcentagem de cobertura no ano de 2001. Nesse ano, o registro de ocorrência da dengue foi maior, com 423,2 e 13,1 casos de dengue a cada 100 mil habitantes nos municípios de Barra Bonita e Igaraçu do Tietê, respectivamente. O município de Barra Bonita não possui um sistema de tratamento de esgoto (TOYAMA e CUNHA-SANTINO, 2016) indicando que a contaminação da água do rio Tietê é proveniente principalmente do descarte inadequado do mesmo, levando a incidência das doenças registradas, principalmente as de contato e ingestão da água, tornando-se uma questão de saúde pública.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo mostrou que existe a ocorrência de doenças de veiculação hídrica nos municípios de Barra Bonita e Igaraçu do Tietê, causando mortalidade infantil em 2001, 2003 e 2011 por diarreia. A alta incidência de dengue em 2001 pode estar relacionada com a área de cobertura por macrófitas aquáticas. A má qualidade da água foi revelada na ausência de tratamento de esgoto de Barra Bonita e pela alta incidência de coliformes fecais jusante a barragem de Barra Bonita (próximo a prainha de Igaraçu do Tietê), local intensamente explorado pela população para nadar e pescar e no Centro Turístico de Barra Bonita, que recebe um grande fluxo de turistas. Deve-se considerar que o número de ocorrência dessas doenças pode ser maior, uma vez que os turistas e excursionistas que visitam o local podem entrar em contato com a água, e retornam para suas cidades de origem, fazendo com que o registro da doença ocorra em outro município. Existe, portanto, a necessidade de realizar uma melhor gestão dos recursos hídricos e controle das atividades realizadas nas águas, como medida de manutenção da saúde pública. REFERÊNCIAS APARICIO, C.; BITENCOURT, M. D. Resposta espectral de macrófitas aquáticas. In: POMPÊO, M.; et al. Ecologia de reservatórios e interfaces. Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. ASHBOLT, N.J.; GRABOW, W.O.K.; SNOZZI, M. Indicators of microbial water quality. In: FEWTRELL, L.; BARTHRAM, J. Water Quality: Guidelines, Standards and Health. IWA Publishing. Londres, 2001. 289 316 p. BRASIL. Ministério da Saúde. LIS Laboratório de Informação em Saúde. ICICT FioCruz. Disponível em: <www.geoprocessamento.ic.ict.fiocruz.br/svs/água/atlas.htm>. Acesso em fevereiro de 2016. BRASIL. Resolução CONAMA nº 274, de 29 de novembro de 2000. Publicada no DOU nº 18, de 25 de janeiro de 2001. Seção 1, 70-71 p. Disponível em < http://www.mma.gov.br/port/conama/legislacao/conama_res_cons_2000_274.pdf>. Acesso em março de 2016. BRASIL. Resolução CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005. Publicada no DOU nº 53, de 18 de março de 2005. 58-63 p. Disponível em < http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459>. Acesso em maio de 2016. MENDONÇA, M. J. C.; MOTTA, R. S. Saúde e Saneamento no Brasil. Planejamento e Políticas Públicas. v. 30. 15-30 p. jun/dez, 2007. IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE Cidades: Barra Bonita e Igaraçu do Tietê. Censo 2010. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br>. Acesso em outubro de 2015. SES/SP. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Coordenadoria de Controle de Doenças. Centro de Vigilância Epidemiológica. Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar. Doenças relacionadas à água ou de transmissão hídrica Perguntas e Respostas e Dados Estatísticos Informe Técnico. 2009. Disponível em: <ftp://ftp.cve.saude.sp.gov.br/doc_tec/hidrica/doc/dta09_pergresp.pdf>. Acesso em maio de 2016. SOS Mata Atlântica. Observando o Tietê. Disponível em < http://sosobstiete.znc.com.br/grupos/37a/>. Acesso em maio de 2016.

TOYAMA, D.; CUNHA-SANTINO, M. B. Análise da qualidade da água no reservatório de Barra Bonita e em um trecho a jusante no rio Tietê (SP). In: IV JORNADA DE GESTÃO E ANÁLISE AMBIENTAL, 2016, São Carlos, SP. Anais... São Carlos: UFSCar, 2016.