A gestão dos resíduos solidos urbanos e sua relação com as mudanças climáticas



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Transcrição:

A gestão dos resíduos solidos urbanos e sua relação com as mudanças climáticas Danuza Gusmão Gomes de Andrade Lima (1) (1) Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, SECTMA/PE, Brasil. E-mail: danuzalima@hotmail.com Resumo: Os impactos das ações de caráter antropogênico, como o acúmulo do lixo em lixões e aterros (regulares ou não) e a não redução ou tratamento contribui com o aumento da concentração e da emissão de gases de efeito estufa, um fator agravado pelo contato com as condições climáticas (seca ou úmida) produzindo o chorume e o metano (CH4), um gás ainda mais prejudicial à atmosfera que o próprio dióxido de carbono (CO2), considerado o grande vilão do efeito estufa. Este trabalho se propõe a relacionar os efeitos da gestão dos resíduos sólidos urbanos com as alterações climáticas, ampliando o entendimento de que a eficiência e a eficácia da gestão urbana são essenciais como políticas de enfrentamento das mudanças climáticas. Palavras-chave: Gestão urbana; Gestão de resíduos sólidos; Sustentabilidade Abstract:The impacts of the actions of anthropogenic character, as the accumulation of the garbage in lixões and aterros (regular or not) and the reduction or treatment do not contribute with the increase of the concentration and the emission of effect gases greenhouse, a factor aggravated for the contact with the climatic conditions (it dries or humid) producing the chorume and the methane (CH4), a still more harmful gas to the atmosphere that the proper carbon dioxide (CO2), considered the great villain of the effect greenhouse. This work if considers to relate the effect of the management of the urban solid residues with the climatic alterations, extending the agreement of that the efficiency and the effectiveness of the urban management are essential as politics of confrontation of the climatic changes. Key-words: Urban management; Solid Waste Management; Sustainability 1. INTRODUÇÃO Pesquisas científicas vêm demonstrando que o aumento da concentração e da emissão de gases de efeito estufa é mais evidente com o passar do tempo e decorrente das atividades humanas. A expectativa é que se intensifique o Efeito Estufa com o consequente aumento das temperaturas. Neste processo, um dos fatores apontados como contribuinte, é o acúmulo dos resíduos urbanos e a não redução ou tratamento do mesmo, descartado em aterros e lixões e que podem ser reciclados ou incinerados. A disposição inadequada e o não tratamento dos resíduos domésticos e industriais quando em contato com as condições climáticas (seca ou úmida) temperatura, umidade, precipitação, ventilação produz o chorume. Este líquido preto, o chorume, é um líquido percolado produzido pela infiltração da água das chuvas e pela degradação de compostos que percolam através da massa de lixo aterrada, carreando materiais dissolvidos ou suspensos. É um dos resíduos líquidos mais tóxicos produzido pelo acúmulo do lixo e que pode contaminar por centenas de anos um lençol freático, caso não seja tratado. A decomposição de resíduos orgânicos em aterros é uma das principais fontes de emissão na atmosfera de um dos gases de maior impacto no aumento do efeito estufa o metano (CH4), um gás ainda mais prejudicial à atmosfera que o próprio dióxido de carbono (CO2), considerado o grande vilão do efeito estufa. 1

O gás proveniente dos aterros contribui consideravelmente para o aumento das emissões globais de metano. As estimativas das emissões globais de metano, provenientes dos aterros, oscilam entre 20 e 70 Tg/ano, enquanto que o total das emissões globais pelas fontes antropogênicas equivale a 360 Tg/ano, indicando que os aterros podem produzir cerca de 6 a 20 % do total de metano (IPCC, 1995 apud ALVES & VIEIRA, 2006). Segundo o Primeiro Inventário de Emissões Antrópicas de Gases de Efeito Estufa, realizado pela CETESB em 2006, as emissões de metano por resíduos sólidos no Brasil, para o ano de 1990, foram estimadas em 618 Gg, aumentando para 677 Gg no ano de 1994. As emissões totais de metano provenientes do tratamento de resíduos totalizaram 737 Gg em 1990 e 803 Gg em 1994, como apresentado na Figura 2, tendo aumentado em 9% nesse período. Com os valores apresentados podemos concluir que mais de 84 % das emissões de metano no Brasil oriundas do tratamento de resíduos são provenientes de aterros de resíduos. FIGURA 1 Emissões de metano do tratamento de resíduos no Brasil. Fonte: ALVES & VIEIRA, 2006. Mas o lixo também pode ser reaproveitado para se converter em energia, os aterros podem passar a ser geradores de energia. E a energia, hoje tão cara e sob a ameaça de escassear num futuro bem próximo, poderia ter uma fonte de abastecimento inesgotável e ecologicamente correta. De acordo com Alves & Vieira (2006), as emissões de metano provenientes da disposição e tratamento de resíduos sólidos pode ser convertido em energia e quantidades significativas de emissões anuais desse gás, produzidas e liberadas na atmosfera, são um produto secundário da decomposição anaeróbia de resíduos. As duas maiores fontes desse tipo de produção de metano são os aterros sanitários e o tratamento anaeróbio (processo biológico sob presença insuficiente de oxigênio) de águas residuárias. Em cada caso, a matéria orgânica contida nos resíduos é decomposta pela ação de bactérias, principalmente as metanogênicas que produzem o biogás composto de metano e gás carbônico. Nos países europeus, nos Estados Unidos e no Japão, gerar energia a partir do lixo é uma realidade desde os anos 1980. Esses países processam 130 milhões de toneladas de lixo, gerando energia elétrica e térmica em 650 instalações. Somente a União Européia extrai mais de 10 mil MW de cerca de 60 milhões de toneladas de lixo por ano em 400 usinas, que são capazes de produzir eletricidade para atender 27 milhões de pessoas (o equivalente a soma da população da Dinamarca, da Finlândia e da Holanda). Se o Brasil transformasse seu lixo em energia, conseguiria implantar cerca de 750 usinas, que forneceriam energia para aproximadamente 22,5 milhões de habitantes - cada 200 toneladas por dia do lixo doméstico orgânico permitiriam a implantação de uma Usina Termelétrica com a potência de três Megawatts, capaz de atender uma 2

população de 30 mil habitantes. A energia via lixo pode iluminar casas, ativar indústrias e mover carros. Isso também se refletiria positivamente na economia, não apenas com o corte de gastos que esta fonte de energia traria, mas com os recursos que captaria (fonte: www.pucpr.br). 2. OBJETIVO Este trabalho se propõe a relacionar os efeitos da gestão dos resíduos sólidos urbanos com as alterações climáticas, ampliando o entendimento de que a eficiência e a eficácia na gestão urbana são essenciais como políticas de enfrentamento das mudanças climáticas. Além de procurar estimular o debate e promover a disseminação de informações relevantes sobre o tema. 3. JUSTIFICATIVA O aumento das concentrações dos gases do efeito estufa (GEE) emitidos para a atmosfera devido ao uso dos recursos naturais pela atividade humana é a principal causa do aquecimento global e consequente mudanças climáticas. A questão dos resíduos sólidos, por ser um dos itens contribuintes para este aumento de emissão dos gases, tem suscitado o interesse de maiores informações e soluções para minimizar seu impacto. O conhecimento das suas causas relacionadas a disposição final dos resíduos tem sido, inclusive, alvo de trabalho e discussão ampliada no meio científico e profissional, tendo como resultado relatórios e inventário nacional e estadual sobre a temática. 4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O aquecimento global é a principal preocupação ambiental enfrentada pela geração atual. Os GEE provocam o desequilíbrio energético entre as radiações solares na forma de ondas curtas que incidem no topo da atmosfera e as radiações de ondas longas na faixa do infravermelho que são re-emitidas pela Terra. Como parte dessa energia é absorvida pelos GEE, ocorre um aquecimento da atmosfera maior do que aquele que seria causado somente pela radiação solar. O clima se ajusta para compensar esse desequilíbrio energético e origina o fenômeno denominado mudanças climáticas globais. Essas mudanças podem ter um reflexo negativo na sustentabilidade do homem na terra, interferindo nos ecossistemas naturais, assim como na produção de alimentos. O Brasil ocupa a 17a posição se não forem considerados os gases provenientes do processo de desmatamento. Incluindo esse tipo de emissão, passamos a ser o 5o maior emissor do planeta. Varias ações de mitigação estao sendo implementadas para atenuar o aquecimento global. 4.1. O Aquecimento Global e o Efeito Estufa O aquecimento global é um fenômeno causado pela retenção de calor acima do nível considerado normal pela atmosfera, sem que ele se dissipe adequadamente. Provocando o aumento da temperatura terrestre em todo o planeta e tem sido motivo de preocupação para a comunidade científica. Acredita-se que esse fenômeno acontece por causa de uma elevação nos níveis de dióxido de carbono na atmosfera, que aumentam devido a queima de combustíveis fósseis, além do crescimento progressivo na emissão de gases e outros processos de escala industrial, produtos químicos produzidos pelo homem durante os últimos cem anos. Isso alterou as características da atmosfera, levando à acumulação na atmosfera de gases propícios ao Efeito 3

Estufa, tais como o Dióxido de Carbono, o Metano, o Óxido de Azoto e os CFCs, fazendo com que o calor ficasse concentrado como numa estufa de onde vem o nome efeito estufa. O Dióxido de Carbono tem a capacidade que para reter a radiação infravermelha do Sol na atmosfera há muitas décadas, estabilizando assim a temperatura terrestre por meio do Efeito Estufa, que é um fenômeno natural, existe há milhões de anos e é fundamental para a existência de vida no planeta. Quando se fala portanto, nos efeitos perniciosos do Efeito Estufa, na verdade a referência é aos problemas resultantes da intensificação desse efeito. A questão que se põe é se os elevados índices de Dióxido de Carbono que se têm vindo a medir, estão com tendência para provocar um aumento na temperatura terrestre suficiente para trazer consequências graves à escala global. 4.2. Os Gases de Efeito Estufa (GEE) Os gases que apresentam maior atividade nesse processo, chamados gases de efeito estufa (GEE), são: vapor d água (H2O), dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), ozônio (O3) e clorofluorcarbonos (CFCs). Os GEE representam menos de um centésimo da atmosfera total. Quase todos esses gases têm origem na natureza, quer seja pela respiração, pela digestão anaeróbia, ou por meio de incêndios naturais, entre outros. Os gases do efeito estufa formam como que uma redoma de vidro sobre o planeta, deixando entrar a luz e aprisionando o calor. Originalmente, esses gases somavam apenas 1% do total da atmosfera. O principal deles é o dióxido de carbono (CO²), que tinha participação de 60% nessa soma. Ocorre que as principais matrizes energéticas utilizadas pelo homem nos últimos séculos utilizando a madeira, o carvão, o petróleo e o gás natural liberam carbono (C) na atmosfera e contribuem para formar mais dióxido de carbono (também conhecido como gás carbônico ou CO²), que intensifica o efeito estufa. A Figura 1 a seguir ilustra como acontece este fenômeno. FIGURA 2 O Efeito Estufa. Fonte: http://images.google.com.br/imgres Nas últimas décadas, os cientistas passaram a estudar as causas desse sobreaquecimento, alertando a comunidade internacional. Esse movimento deu origem à Convenção das Nações Unidas Sobre as Mudanças Climáticas, aprovada e iniciada na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992, a Eco-92, ou Rio-92. Segundo dados da Convenção das Nações Unidas sobre o assunto, os níveis de CO2 na atmosfera 4

estão crescendo 10% a cada 20 anos. A temperatura média do planeta já subiu 6 graus no século 20 e as projeções indicam que subirá entre 1,4 grau e 5,8 graus até o ano 2100, se nada for feito para deter o processo, segundo informe oficial do portal de internet da Convenção. O Tratado de Quioto pretende reduzir as emissões de carbono, particularmente as geradas por atividades industriais e veículos de transporte. Objetiva também estimular todos os tipos de projetos que preservem ou ampliem a capacidade do ambiente de absorver o CO2 ou outros gases causadores da intensificação do efeito estufa (ozônio, O3 ou metano, CH4, por exemplo), por meio do mercado de créditos de carbono. 4.3. A Geração de Metano por Resíduos Sólidos No Brasil, segundo Alves & Vieira (2006), é estimada em 54 mil toneladas a geração diária de resíduos sólidos municipais no país, com uma composição que varia de acordo com a região. Uma cidade brasileira gera entre 0,4 e 0,7 kg/hab/dia. Segundo a Pesquisa Nacional sobre Saneamento Básico (2000), referência nacional e fonte principal de dados sobre a gestão de resíduos sólidos e limpeza urbana no Brasil, a disposição e o tratamento de resíduos sólidos distribuem-se da seguinte forma: 69% depositados em lixões a céu aberto, 13% em aterros controlados, 13,8 % em aterros sanitários, 4,2% têm outra destinação, como as usinas de compostagem e a incineração. FIGURA 3 Destino final dos RSU tendo como referência o número de municípios. Fonte: PNSB, 2000. Ainda conforme Alves & Vieira (2006), a disposição e acúmulo de lixo em aterros ou lixões gera Metano quando submetido a condições ambientais favoráveis, o que varia de local para local, de acordo com fatores como quantidade de resíduos, tempo do depósito, presença de ambiente anaeróbio, materiais tóxicos, acidez e condições de construção e manejo. Um aterro de resíduos sólidos pode ser considerado como um reator biológico onde as principais entradas são os resíduos e a água e as principais saídas são os gases e o chorume. Neste sentido, os aterros sanitários foram os principais, dentre os primeiros projetos de Créditos de Carbono para a redução de emissão de metano gerado por resíduos, sendo ainda avaliado por pesquisas o potencial de geração de Aterro sanitário. O Biogás gerado pode ser perigoso caso não tenha o tratamento e uma forma de prevenção e controle das emissões adequadas. Em altas concentrações pode provocar sérias explosões. 5

O biogás é uma mistura gasosa resultante da degradação anaeróbia da matéria orgânica dos resíduos sólidos depositados em aterros sanitários e dos efluentes industriais e esgotos domésticos tratados pelo processo anaeróbio. Essa mistura gasosa é formada principalmente por metano e dióxido de carbono, em média, em partes iguais. Quanto maior a fração de metano, mais energia por unidade de massa o biogás contém. Há ainda outras substâncias, como o gás sulfídrico, causador de mau cheiro, traços de siloxinas, que reduzem a vida útil dos equipamentos de uso energético, e vapor d água. No Brasil vários programas estudam os aspectos da obtenção, tratamento e uso do biogás como fonte alternativa de energia e forma de contribuição para o desenvolvimento sustentado. 4.4. Política Pública no Panorama Nacional Existe no Brasil, um movimento do meio técnico e científico, no sentido de aprofundar os estudos e as informações quanto as emissões dos gases estufa provenientes dos resíduos sólidos. Importante também destacar como motivador para este trabalho, o fato de que Recife, segundo dados do Grupo de Resíduos Sólidos (GRS/UFPE), se encontra em 3º lugar entre as capitais do Nordeste do Brasil, depois de Salvador e Fortaleza, na emissão de CO2 equivalente. Além do panorama Nacional, visto que desde 1998 a CETESB e o MCT publicaram a primeira versão do inventário. Vários artigos divulgaram no Brasil e no exterior a experiência obtida com esse trabalho, os dados reunidos durante sua realização e o esboço das propostas iniciais de estudos para a recuperação e o uso energético do metano contido no biogás. Também foi criado um banco de dados de locais com geração de metano pelo tratamento de resíduos no País e uma publicação com os resultados da análise desse banco de dados, o Inventário brasileiro de gás metano gerado por resíduos: relatório dos bancos de dados de resíduos sólidos e efluentes líquidos. No final de 2001 as duas entidades e a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo firmaram um convênio e produziram um programa de computador que simula a recuperação do biogás. Este ano, em abril, foi realizada em Recife a IV Reunião da Rede Nacional de Inventário de GEE do Setor de Resíduos e Efluentes, para discutir os estudos que vêm sendo desenvolvidos no âmbito do Grupo de Resíduos Sólidos (GRS/UFPE) na elaboração do Inventário Estadual de emissões de CH4. A importância dos inventários de emissões dos gases estufa é identificar, qualificar e quantificar as fontes de emissão de GEE. É a forma que o Brasil deverá conhecer seu perfil real de emissões de gases do efeito-estufa. Todos os países signatários da Convenção do Clima têm que apresentar inventários de emissões de gases-estufa. As nações ricas, com metas de corte de emissões definidas no Protocolo de Kyoto, devem fazer este relato todos os anos; os países em desenvolvimento, como o Brasil, apenas periodicamente. Contam, para isso, com recursos do GEF, um fundo financiado pelas nações industrializadas. Com este dinheiro produzem o inventário e também a Comunicação Nacional, uma informação mais ampla onde se tornam conhecidas todas as ações que um país está tomando para combater a mudança climática. O inventário é fundamental para que se entenda quem contribui com o quê e, assim, traçar políticas públicas que procurem reduzir as emissões. Um estudo bem feito, num país das dimensões do Brasil, é complexo. A precariedade das nossas bases de dados tem como exemplo a dificuldade de definir as emissões de gases-estufa produzidas no tratamento de resíduos e efluentes. Pelos dados do IBGE, o Brasil produz 228 mil toneladas de resíduos por dia. Pelas 6

estatísticas da associação das empresas do setor, a Abrelpe, o volume é de 140 mil toneladas. Mas segundo João Wagner da Silva Alves, responsável pela análise do setor na Cetesb, os dados do IBGE, neste caso, não são a melhor informação. 5. MÉTODO A abordagem metodológica deste trabalho baseia-se em uma pesquisa, quanto aos objetivos, do tipo exploratório descritivo com uma abordagem qualitativa, permitindo, desta forma, ao investigador aumentar sua experiência em torno do problema. Deste modo, o trabalho iniciou-se com uma pesquisa bibliográfica para verificação, estudo e seleção de tecnologias já existentes sobre geração de energia a partir da combustão do metano. Como metodologia utilizada no desenvolvimento do trabalho foram realizadas as seguintes etapas: a) Pesquisa bibliográfica; b) Construção de um marco conceitual na perspectiva da sustentabilidade; c) Elaboração de elementos de análise; d) Discussão dos elementos de análise e resultados preliminares. Essa pesquisa se caracteriza, quanto aos procedimentos, como bibliográfica. Foi realizado um levantamento do acervo referente ao tema estudado. Para tanto foram consultados livros, artigos científicos, trabalhos e pesquisas que tratam do assunto. Também foram incluídas algumas observações coletadas em palestras e seminários. O intuito de uma pesquisa bibliográfica é colocar o cientista em contato com o que foi produzido sobre determinado assunto, inclusive através de conferências (LAKATOS E MARCONI, 1996). Para que se pudesse obter um entendimento mais acurado do tema, que é complexo, foi necessária a busca em fontes variadas. Sendo assim, se acredita ter conseguido abarcar fontes de naturezas diversas e, em razão disso, chegar a um conhecimento mais abrangente do objeto pesquisado. De acordo com Gil (1994, p. 71) A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Sendo assim, a pesquisa bibliográfica permitiu conhecer a atualidade do debate acerca do tema objeto de estudo. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados obtidos com o desenvolvimento do trabalho são informações específicas sobre um dos problemas ambientais e um dos causadores do aquecimento global. Com base nos estudos de referência, contribui para verificar, que lixões, mesmo com o processo de transformação em aterro controlado, causam maiores impactos negativos ao meio ambiente, a tendência é causar um maior comprometimento do meio ambiente, visto que neste tipo de destinação não existe nenhum sistema de tratamento de chorume ou dos gases, ou seja, não exercem nenhum controle de percolados e de emissão de metano. Neste sentido, o monitoramento dos gases, em aterros sanitários, além de avaliar o processo de decomposição da matéria orgânica em conjunção com os demais parâmetros monitorados, permite estimar a composição dos gases liberados para atmosfera. 7

As principais contribuições para a redução e o controle do problema devem partir da atenção para a importância das políticas públicas e o compromisso dos governos municipais com a efetiva e eficaz gestão dos resíduos urbanos, que quando não tratados adequadamente possuem o poder de transformar as cidades em verdadeiros lixões a céu aberto. Além do viés da educação ambiental com recomendações possíveis de serem postas em prática pela sociedade em geral, como a contribuição da população quanto a redução do lixo gerado contribuindo com a redução da emissão de gases de efeitos estufa, o aumento do sistema de coleta seletiva e reciclagem, a recuperação do gás metano nos aterros sanitários. E importante perceber que face à mudança do clima, há três atitudes possíveis de serem levadas em consideração: A inação não fazer nada e aceitar os danos futuros; a adaptação quando possível, adaptar-se a um novo clima; e a mitigação das emissões reduzir as emissões líquidas antrópicas de gases de efeito estufa. Sendo ponderadas estas atitudes possíveis, deve ser admitido que a adaptação é fundamental, sem dúvida não há como retroagir de uma condição alcançada. Os efeitos do aquecimento global podem se tornar irreversíveis e, daí, a importância de se conhecer a questão e de, principalmente, reduzir as emissões dos gases poluentes. Mitigação tem sido a proposta pelo Painel Intergovernamental em Mudança do Clima (IPCC) como uma forma de reduzir o prejuízo associado aos impactos negativos da mudança climática. E a melhor forma de mitigação é a redução das emissões de gases de efeito estufa, favorecendo o uso de energias menos poluidoras que podem substituir o combustível fóssil, ou reduzindo ao mínimo desmatamentos e queimadas. Mas isso não ajuda a reduzir o volume do que já está na atmosfera acumulado por muitos anos de poluição. Portanto, o entendimento deve ser de que a busca, na condição atual, é mitigar a ampliação e a piora da atual condição. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, S. J. W., VIEIRA, S. M. M. Primeiro Inventário Brasileiro de Emissões Antrópicas de Gases de Efeito Estufa. Relatórios de Referência. Emissões de Metano no Tratamento e na Disposição de Resíduos. Elaborado por: Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CETESB, São Paulo SP. 2006. CETESB, Secretaria do Meio Ambiente. Biogás: projetos e pesquisas no Brasil. Organização: Josilene Ticianelli Vannuzini Ferrer. Responsável técnico: João Wagner Silva Alves. São Paulo: SMA, 2006. 184 p. FIRMO, A. L. B. & RODRIGUES, T. S. N. Inventário de Emissões de Metano pelo Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos, no Período de 1990 a 2005. Trabalho apresentado na IV Reunião da Rede Nacional de Inventário das Emissões de Gases de Efeito Estufa do Setor de Resíduos Sólidos Urbanos realizada no dia 02/03 de abril de 2009. Recife, PE. PNSB, (2000). Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Espaço reservado aos autores para os devidos agradecimentos na realização do trabalho (caso pertinente). 8

Agradeço ao Profº. Dr. José Fernando Jucá (Coordenador) e a Alessandra Firmo (mestranda) do Grupo de Resíduos Sólidos - GRS/UFPE, pela colaboração nos dados apresentados neste trabalho. Agradeço também ao João Wagner Silva Alves, Engenheiro da divisão de questões globais da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb). Responsável pela coordenação da organização de dados e informações sobre os gases provenientes do tratamento de resíduos doméstico e comercial (lixo). 9