INGRESSO, ACESSO E PERMANÊNCIA DE PESSOAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NO ENSINO SUPERIOR



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Transcrição:

INGRESSO, ACESSO E PERMANÊNCIA DE PESSOAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NO ENSINO SUPERIOR Resumo ARAUJO, Luize Bueno de UFPR luizebueno@hotmail.com ISRAEL, Vera Lúcia UFPR veral.israel@gmail.com ORQUIZA, Liliam Maria UFPR liliamorquiza@hotmail.com Eixo Temático: Diversidade e Inclusão Agência Financiadora: Não contou com financiamento O presente artigo tem como objetivo descrever as atividades de inclusão no ensino superior realizadas pelo Laboratório do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (LABNAPNE) da Universidade Federal do Paraná Setor Litoral, localizado na cidade de Matinhos - Paraná. Para Ferrari e Sekkel (2007), ainda é escassa a produção de pesquisas bem como a implantação de políticas para a inclusão de pessoas com deficiência no ensino superior. Nessa perspectiva, considera-se que promover o acesso e permanência adequados de pessoas com necessidades educacionais especiais no Ensino Superior demanda de profundas transformações no sistema educacional. O Laboratório é um espaço institucional na Universidade Federal do Paraná Setor Litoral (UFPR Litoral), sendo um dos projetos institucionais do Setor que objetiva assegurar condições de acesso e permanência da comunidade acadêmica (discentes, docentes, técnicos administrativos) que apresente alguma necessidade especial relacionada com aspecto educacional ou de acessibilidade. É estruturado a partir de uma equipe multiprofissional, com ações interdisciplinares, contando com docentes, discentes e técnicos administrativos de diversas áreas de conhecimento humano. Suas atividades resultam de um estudo da realidade local do setor e da comunidade do Litoral paranaense articulado com as ações e filosofia do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (Napne) da UFPR, localizado na sede da UFPR em Curitiba Paraná. O LABNAPNE realiza discussões entre a equipe para concretização dos apoios institucionais, entre eles assessoramento aos professores, aquisição ou adaptação de recursos, eliminação de barreiras físicas e arquitetônicas, além de capacitações e realização de eventos. Também articula essas questões com as demais esferas do ensino público do Litoral do Paraná. A criação desse espaço institucional mostra a preocupação de um ambiente acadêmico difusor de práticas inclusivas, com estratégias e ações que garantam o ingresso, acesso e permanência dessas pessoas na Universidade.

4766 Palavras-chave: Educação Inclusiva. Ensino Superior. Necessidades Educacionais Especiais. Inclusão. Deficiência. Introdução As discussões sobre modelos de Educação Inclusiva vem ocupando lugar de destaque nas pesquisas e eventos científicos da área de Educação. Porém, como ressaltam Ferrari e Sekkel (2007), em relação ao ensino superior, ainda é reduzida a produção de pesquisa e incipiente a implantação de políticas para a inclusão. Em 1988, a Constituição Federal estabelece, em seu artigo 208, inciso III, entre as atribuições do Estado, isto é, do Poder Público, o [...] atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino [...]. A partir desta data, a Constituição passa a garantir mais um direito inalienável ao cidadão brasileiro, onde o Estado brasileiro deve assumir a responsabilidade em educar a todos, sem qualquer discriminação ou exclusão social. Nessa perspectiva, considera-se que promover o acesso e permanência adequados de pessoas com necessidades educacionais especiais no Ensino Superior, com ações e estratégias específicas, é um dos mecanismos para a promoção da inclusão educacional e social, além de reafirmar o compromisso de uma Educação para Todos. De acordo com Ferreira (2007), a inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais nas instituições de ensino superior é gradativa, demanda mudanças estruturais, conceituais, comportamentais, atitudinais e administrativas da instituição e da comunidade acadêmica do ensino superior. Esta inclusão demanda também mudanças na concepção de pessoa humana indispensável à eliminação de barreiras atitudinais, comportamentais e físico-ambientais. A educação inclusiva impõe a necessidade das escolas de todos os níveis de ensino rever sua organização, seus critérios de avaliação, seus programas de aprendizagem e pedagógicos e, especialmente, a formação dos profissionais que as conduzem. Mas é, sobretudo, um processo que está em construção e se faz a cada momento que se consegue diminuir práticas rotineiras de segregação e discriminação, oferecendo oportunidades adequadas de aprendizagem e participação para aqueles indivíduos que durante o processo histórico da humanidade foram excluídos (VITALIANO, 2007).

4767 O papel e a responsabilidade social da universidade, sobretudo da universidade pública, consiste na produção de conhecimento para a formulação e o debate crítico sobre as políticas educacionais, dentro da formação de educadores, na criação de parcerias e iniciativas inovadoras com a comunidade escolar e, principalmente, na desestigmação das pessoas com necessidades educacionais especiais, fazendo a sua parte no acesso e permanência deste alunado na instituição de ensino superior (IES). Levando em consideração todas as reflexões anteriores, em 2005, a UFPR cria o Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (NAPNE) em Curitiba e, em 2008, o Laboratório do NAPNE no Setor Litoral, oficialmente formalizando espaços formativos de interação e mediação de temas relacionados com necessidades educacionais especiais no ensino superior. Inclusão na Universidade Federal do Paraná Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (NAPNE) Com o objetivo principal de manter um espaço para discussão e implementação de estratégias que garantam o ingresso, acesso e permanência de pessoas com necessidades especiais em seus cursos de graduação e do ensino profissionalizante, em 2005, a Universidade Federal do Paraná criou o seu Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (NAPNE), que atualmente conta com uma equipe multiprofissional, programa de apoio psicológico, laboratório de acessibilidade com adaptação de mobiliário, softwares e equipamentos de informática para a acessibilidade aos meios midiáticos e de tecnologia assistiva, sala de aula com acessibilidade acústica para alunos com deficiência auditiva. Ao longo destes anos de funcionamento, além do atendimento individual à comunidade universitária situada na capital do Estado, o NAPNE promoveu eventos e capacitações na área. De lá pra cá, o NAPNE consolidou suas ações, crescendo em termos de equipe, qualidade e número de atendimentos, mas sempre restrito ao público localizado em Curitiba, embora contasse com outros três campi em outras três cidades do Paraná: Palotina, Pontal do Paraná e Matinhos. UFPR Setor Litoral e o Laboratório do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades

4768 Especiais (LABNAPNE) O mais novo destes campi, também criado em 2005, localizado em Matinhos, cidade do Litoral do Paraná, já foi concebido com uma proposta política pedagógica arrojada e inovadora, onde a filosofia da inclusão perpassa todas as suas ações, sejam elas nos âmbitos social, cultural, racial, educacional, político ou religioso. No documento do Projeto Político Pedagógico (2008) da UFPR Setor Litoral encontramos: Comprometida com ideais e valores advindos de uma concepção de educação antihierárquica e anti-exclusivista a UFPR Litoral, emerge de esforços humanos que entrelaçam oportunidades a desafios que evidenciam a necessidade de ampliação das suas ações como instituição formadora, bem como de seu papel social. Para o desenvolvimento dessa proposição coube retomar o compromisso dessa instituição com o Estado que, historicamente, tanto a apóia como a provoca a revalidar suas estratégias de evolução e permanência, construindo o estrato mantenedor da relação instituição e sociedade (UFPR SETOR LITORAL, 2008, p.2) Acompanhando esta tendência, um grupo interdisciplinar na UFPR Setor Litoral empreende esforços no sentido de institucionalizar as ações de inclusão no campus. A ideia foi assegurar as condições de acesso daqueles que apresentem alguma necessidade especial relacionada ao aspecto educacional e de acessibilidade, seja este membro da comunidade universitária, seja um estudante, seja um técnico administrativo ou um professor. Em entendimento com o NAPNE da UFPR da capital, no segundo semestre de 2008, então, é criado um espaço de acesso, apoio e estudos de inclusão, denominado LABNAPNE (Laboratório do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais da UFPR Setor Litoral), cujo objetivo principal é estender as ações do Núcleo à comunidade universitária especificamente e à comunidade litorânea do Paraná por extensão. Contudo, como o Projeto Político Pedagógico da UFPR Setor Litoral exige uma sintonia fina com a realidade local, buscando a inclusão de todos, de forma ampla e irrestrita, cabe ao LABNAPNE Litoral a tarefa de equacionar as questões não só de acesso e permanência no ensino superior das pessoas com necessidades especiais, como também articular esta questão nas demais esferas do ensino público regional, já a partir do ensino fundamental, além de conhecer, compreender, propor e agir nas bases de formação e divulgação de políticas públicas na área da educação inclusiva. Uma vez que a universidade

4769 assume um papel de relevância enquanto organização educacional num cenário político econômico e social de mudanças. Como coloca Mendes (2006), cada comunidade deve buscar a melhor forma de definir e fazer a sua própria política de inclusão escolar, respeitando as bases históricas, legais, filosóficas, políticas e também econômicas do contexto no qual ela irá efetivar-se. Percebendo-se como uma instância de fomentos públicos, a UFPR Litoral alicerça seus compromissos com as regiões do Estado do Paraná, localizadas no litoral e região do Vale do Ribeira, que se mostram ávidas por oportunidades de um desenvolvimento sócio-econômico e cultural. O foco desse apoio passa a se dirigir aos lugares onde os acordos de poderes públicos podem fazer diferença, se gestados em prol de uma educação universitária, pública e gratuita, com vistas a tecer e disponibilizar os produtos da ciência e do conhecimento especializado para um desenvolvimento sustentável (UFPR SETOR LITORAL, 2008, p.2). De acordo com Castanho (2007), as pesquisas tem revelado a existência de alunos com NEE (Necessidades Educacionais Especiais) no ensino superior como uma situação crescente, porque estes cada vez mais estão tendo oportunidades de acesso ao conhecimento. No entanto, como são alunos que apresentam características especiais, apesar da acessibilidade é também imprescindível garantir meios para a permanência e a saída por diplomação por conclusão de curso superior destas pessoas. Para atingir este amplo objetivo, o LABNAPNE também foi composto por uma equipe multidisciplinar, contando com especialistas em diferentes áreas do conhecimento humano, tais como educação, educação especial, fisioterapia, psicologia, arquitetura, língua de sinais, serviço social, entre outras. A equipe do Laboratório do NAPNE da UFPR Setor Litoral também é composta por todas as três categorias da comunidade universitária: docentes, discentes e técnicos administrativos. Ações do LABNAPNE São realizadas discussões entre a equipe para concretização dos apoios institucionais, entre eles assessoramento aos professores, aquisição ou adaptação de recursos, eliminação de barreiras físicas e arquitetônicas, além de capacitações e realização de eventos, com o intuito de sensibilizar as pessoas sobre as questões de diversidade, acessibilidade e sociedade inclusiva e, dessa forma, eliminar as barreiras atitudinais, comportamentais, físicas e

4770 ambientais. O Laboratório atende individualmente as demandas que ali chegam pela comunidade acadêmica, no caso de pessoas com necessidade educacional especial procurar esse espaço. O LABNAPNE também está envolvido no mapeamento das pessoas com necessidades especiais da UFPR Setor Litoral, por meio de questionários que estão sendo aplicados para toda a comunidade universitária. As ações do Laboratório se estendem à educação pública do Litoral do Paraná, uma vez que membros da sua equipe participam regularmente das reuniões e discussões do Núcleo Regional de Educação de Paranaguá, que reúne os sete municípios do Litoral do Paraná. São especialistas na área de educação especial que fazem a ligação das demandas dos municípios com o Laboratório. Algumas ações coletivas desenvolvidas durante o período de funcionamento do Laboratório: I Festival de Dança e Diversidade, esse evento marcou a inauguração do LABNAPNE e contou com apresentações artísticas na linguagem da dança, teatro, artes visuais e música, de alunos de escolas especiais, escolas regulares com alunos incluídos e grupos de dança com artistas dessa área. Participaram desse evento a comunidade acadêmica e a comunidade local do Litoral do Paraná. Outra intervenção realizada foi a Capacitação dos motoristas da UFPR Setor Litoral, que teve como objetivo capacitar este grupo para realizar adequadamente o transporte de pessoas com deficiências. As atividades englobaram a sensibilização desses profissionais sobre a importância do seu papel no processo de inclusão; orientações sobre os manejos específicos e orientação sobre a aplicação de estratégias de locomoção e transporte dessas pessoas. A formação realizada abordou conceitos básicos e essenciais sobre as deficiências e necessidades derivadas das mesmas, processo de inclusão, questões relativas à acessibilidade, com o objetivo de que os motoristas da instituição sejam capazes de realizar um trabalho efetivo durante o transporte de pessoas com deficiências. Na Feira de Profissões da UFPR Setor Litoral o LABNAPNE teve um espaço para divulgação das suas atividades, pois muitas vezes as pessoas com

4771 deficiência não procuram a Universidade por não conhecerem as práticas desenvolvidas para a permanência dessas pessoas no ensino superior. Aproveitando a expressiva circulação de pessoas, o Laboratório desenvolveu o Caminho da Inclusão, com o objetivo de sensibilizar os participantes sobre a questão das PNE's. Durante esse percurso as pessoas presenciaram diferentes sensações e puderam, dessa forma, aguçar diferentes sentidos, tátil, auditivo, visual e mental. Outro evento promovido pelo LABNAPNE foi o I Seminário de Educação Inclusiva, que contou com vários especialistas da área, além de representantes de Escolas Estaduais, Municipais e Escolas Especiais dos Municípios do Litoral Paranaense, instituições de ensino superior e da comunidade da UFPR Litoral em geral. O evento proporcionou um espaço para discussão da temática e conhecimento das ações desenvolvidas no Litoral. O tema era Os Desafios do Processo de Inclusão Escolar, distribuído nas áreas da Deficiência Visual, Surdez, Altas Habilidades/Superdotação, Deficiência Intelectual, Deficiência Física/Saúde e Envolvimento Parental: família e inclusão. Desenvolveu-se uma discussão coletiva sobre a inclusão escolar em todos os níveis de ensino, da educação infantil ao ensino superior, levantando-se os pontos que favoreciam ou dificultavam o processo de inclusão escolar. Historicamente, o pensamento acerca das necessidades educacionais especiais modificou-se ao longo dos últimos cinqüenta anos. Segundo Clough citado por Almeida (2007?), cada sociedade apresenta um estágio evolutivo particular, mas é possível apresentar uma visão histórica global representada abaixo. 1950 1960 1970 1980 1990 Legado psico-médico Resposta sociológica Abordagens Curriculares Estratégias de melhoria da escola Crítica aos estudos da deficiência 1. O legado psico-médico: (predominou na década de 50) vê o indivíduo como tendo de algum modo um deficit e por sua vez defende a necessidade de uma educação especial para aqueles indivíduos.

4772 2. A resposta sociológica: (predominou na década de 60) representa a crítica ao legado psico-médico, e defende uma construção social de necessidades educacionais especiais. 3. Abordagens Curriculares: (predominou na década de 70) enfatiza o papel do currículo na solução - e, para alguns escritores, eficazmente criando - dificuldades de aprendizagem. 4. Estratégias de melhoria da escola: (predominou na década de 80) enfatiza a importância da organização sistêmica detalhada na busca de educar verdadeiramente. 5. Crítica aos estudos da deficiência: (predominou na década de 90) frequentemente elaborada por agentes externos à educação, elabora uma resposta política aos efeitos do modelo exclusionista do legado psico-médico. Conforme Vitaliano (2007), a formação pedagógica dos professores universitários deve ser pensada de modo a contribuir para que estes desenvolvam uma prática pedagógica mais reflexiva e comprometida ética e politicamente com as exigências do contexto atual. Portanto, identificar a população com deficiência, avaliar o atendimento educacional especializado desenvolvido pelo professor e produzir conhecimentos que contribuam para a quebra de barreiras sociais e escolares à inclusão no nível superior de educação constituem nossas metas. Também há a preocupação em ampliar, atualizar, aprimorar e estender interna e externamente serviços e recursos existentes no Laboratório, para que se torne um ambiente acadêmico difusor de práticas inclusivas. Considerações Finais A inserção de pessoas com necessidades especiais no ensino superior é um novo desafio. Segundo Castanho (2007), há evidências que as Universidades e Centro Universitário têm dispensado esforços mais direcionados ao acesso, isto é, no concurso vestibular, podendose afirmar que não há ações mais concretas que favoreçam a permanência dos alunos no ensino superior. No entanto, nota-se a que a atuação do LABNAPNE oportuniza um espaço para conhecer, compreender, propor e agir, conforme o Projeto Político Pedagógico do nosso Setor Litoral da UFPR, na recepção, mediação, planejamento, discussão e implementação de ações e estratégias que garantam o ingresso, acesso e permanência dessas pessoas na Universidade.

4773 Atualmente, o Laboratório está desenvolvendo intervenções pautadas na discussão da diversidade, inclusão e desestigmação das pessoas com deficiência. Essa construção de um espaço inclusivo não pode ser padronizada, e sim construída e reconstruída a partir da experiência e do reconhecimento das diferenças e da diversidade humana. Pensar a inclusão das pessoas com necessidades especiais no ensino superior deve propor alternativas que vão além das normas, decretos, portarias e apontar caminhos para que essa inclusão seja possível, e de fato ocorra em uma dimensão que transcenda o nível do discurso e alcance a prática. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. da S. R. A escola inclusiva do século XXI: as crianças podem esperar tanto TEMPO? [2007?] Disponível em: http://br.monografias.com/trabalhos906/a-escola-inclusiva/aescola-inclusiva.shtml. Acesso em: 09/07/2009. CASTANHO, Denise Molon. Política para inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais: um estudo em universidades e centro universitário de Santa Maria RS. Tese (Mestrado em Educação). Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria RS, 2007. FERRARI, Marian A. L. Dias; SEKKEL, Marie Claire. Educação inclusiva no ensino superior: um novo desafio. Psicologia ciência e profissão, v. 27, n.4, p.636-647, 2007. FERREIRA, Solange Leme. Ingresso, permanência e competência: uma realidade possível para universitários com necessidades educacionais especiais. Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, v.13, n.1, p.43-60, jan./abr. 2007. MENDES, Enicéia Gonçalves. A radicalização do debate sobre inclusão escolar no Brasil. Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro, v.11, n.33, p.387-405, set./dez. 2006. VITALIANO, Célia Regina. Análise da necessidade de preparação pedagógica de professores de cursos de licenciatura para inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais. Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, v.13, n.3, p.399-414, set./dez. 2007. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Setor Litoral. Projeto político pedagógico. Matinhos, 2008.