JUSTIÇA ELEITORAL TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SÃO PAULO

Documentos relacionados
JUSTIÇA ELEITORAL TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SÃO PAULO. REPRESENTAÇÃO (11541) - Processo nº São Paulo - SÃO PAULO

REPRESENTAÇÃO com pedido liminar

Número:

VOTE PROPAGANDA ELEITORAL NA INTERNET_

Número:

Número:

Número:

DECISÃO. 13/07/2018 Processo Judicial Eletrônico

PROJETO DE LEI Nº, DE (Do Sr. Fábio Trad)

Número:

Número:

Poder Judiciário da União Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

JUSTIÇA ELEITORAL TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SÃO PAULO

NOVAS DIRETRIZES PARA PROPAGANDA ELEITORAL NA INTERNET

Número:

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SÃO PAULO ACÓRDÃO. RECURSO NA REPRESENTAÇÃO (11541) São Paulo - SÃO PAULO

Número:

Poder Judiciário Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina 103ª Zona Eleitoral - Balneário Camboriú

Número:

Número:

Número:

JUSTIÇA ELEITORAL TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SÃO PAULO

Número:

DIREITO ELEITORAL. Propaganda Política Campanha Eleitoral Parte I. Prof. Rodrigo Cavalheiro Rodrigues

MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL NA BAHIA EXCELENTÍSSIMO JUIZ AUXILIAR DO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DA BAHIA:

SUBSTITUTIVO AO PROJETO DE LEI Nº8.612, DE O Congresso Nacional decreta: CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES PERMANENTES

Vistos, relatados e discutidos os autos do processo acima identificado, ACORDAM os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, em

Propaganda Eleitoral na Internet. PODE haver propaganda eleitoral na internet a partir do dia 16/08/2016

Tribunal Superior Eleitoral Processo Judicial Eletrônico

Número:

CAPÍTULO I DAS ALTERAÇÕES DA LEGISLAÇÃO ELEITORAL. Art o...

Número:

Número:

Número:

Número:

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. REPRESENTAÇÃO (11541) Nº (PJe) - BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL REPRESENTAÇÃO Nº CLASSE BRASÍLIA DISTRITO FEDERAL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Número:

Número:

Número:

JUSTIÇA ELEITORAL TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SÃO PAULO

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE GOIÁS REPRESENTAÇÃO Nº CLASSE 42 PROTOCOLO Nº /2014 GOIÂNIA-GO

O CONGRESSO NACIONAL decreta: CAPÍTULO I DAS ALTERAÇÕES DA LEGISLAÇÃO ELEITORAL

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL EM SÃO PAULO

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO DECISÃO MONOCRÁTICA

Número:

Conselho Nacional de Justiça CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO DECISÃO MONOCRÁTICA

PROPAGANDA ELEITORAL. ARTHUR ROLLO

COMARCA DE PORTO ALEGRE VARA CÍVEL DO FORO REGIONAL ALTO PETRÓPOLIS Av. Protásio Alves, 8144

LUCIENI PEREIRA AUDITORA DO TCU PRESIDENTE DA ANTC ENTIDADE DA REDE MCCE

DIREITO ELEITORAL. Ações Especiais Eleitorais. Prof. Karina Jaques

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Número:

Número:

Resumo das principais alterações promovidas pelas Leis nº e , de 6 de outubro de 2017, bem como seus impactos nas eleições de 2018.

Fernando Neisser

EXCELENTÍSSIMO JUIZ AUXILIAR DO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO ESTADO DE MATO GROSSO

JUSTIÇA ELEITORAL TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO RIO GRANDE DO SUL

ACORDÃOS TRIBUNAL DE ÉTICA E DISCIPLINA

Impacto do NCPC no Direito Eleitoral

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL NO RIO GRANDE DO SUL

Número:

Número:

Número:

Cartilha de Campanha:

RECLAMAÇÃO (1342) Nº (PJE) - BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL RELATOR: RECLAMANTE: RECLAMADO: DECISÃO:

NOVAS REGRAS PARA AS ELEIÇÕES DE 2016

Trata-se de obrigação de fazer proposta por João Agripino da Costa Dória

Procuradoria Regional Eleitoral do Tocantins

DIREITO ELEITORAL. Lei das Eleições Lei 9.504/97 Propaganda Eleitoral Parte IV Rádio, TV e Internet. Prof. Rodrigo Cavalheiro Rodrigues

Cartilha de. Conduta. Legal nas Eleições 2018

Cartilha de. Conduta. Legal nas Eleições 2018

Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais

Número:

Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Número:

Número:

DIREITO ELEITORAL. Lei das Eleições Lei 9.504/97 Propaganda Eleitoral Parte III. Prof. Rodrigo Cavalheiro Rodrigues

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

REPRESENTAÇÃO POR CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO

Número:

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA REGIONAL DA REPÚBLICA DA 4ª REGIÃO

Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão

Ordem dos Advogados do Brasil Seção do Estado do Rio de Janeiro Procuradoria

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DESPORTIVA

Número:

Número:

DIREITO ELEITORAL. Propaganda Política Doações para Campanha Eleitoral. Prof. Rodrigo Cavalheiro Rodrigues

Calendário Geral - Cronologia Principais datas das eleições 2018

Número:

Representantes : COLIGAÇÃO "TODOS PELO PARANÁ"

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Número:

RELAÇÃO DE CANDIDATOS CLASSIFICADOS EM: 2A. CHAMADA / 1A. OPÇÃO

Transcrição:

JUSTIÇA ELEITORAL TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SÃO PAULO REPRESENTAÇÃO (11541) - Processo nº 0605327-15.2018.6.26.0000 - São Paulo - SÃO PAULO [Cargo - Senador, Propaganda Política - Propaganda Eleitoral, Propaganda Política - Propaganda Eleitoral - Internet] RELATOR: MAURICIO FIORITO REPRESENTANTE: MARA CRISTINA GABRILLI Advogados do(a) REPRESENTANTE: ALEXANDRE LUIS MENDONCA ROLLO - SP128014, CAROLINE RODRIGUES CAVALZERE - SP255706, RENATO RIBEIRO DE ALMEIDA - SP315430, MARCELO FERREIRA MARELLA - SP126507, JANINE MENDONCA ROLLO - SP138664 REPRESENTADO: GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA., JILMAR AUGUSTINHO TATTO Advogados do(a) REPRESENTADO: LUIZ HENRIQUE KRASSUSKI FORTES - DF55084, ARMANDO CAETANO FERNANDES ALMEIDA JUNIOR - SP200142, RICARDO ANTONIO COUTINHO DE REZENDE - SP77963, MARCOS HAUSEN MARCHI - RS90520B, LIGIA FERREIRA COUTO PINTO - DF35271, PEDRO HENRIQUE LOURENCO DA COSTA - RJ218949, FELIPE MONNERAT SOLON DE PONTES RODRIGUES - RJ147325, CAMILA MEDIM ABREU FRANCA - SP262585, ELIANA RAMOS SATO - SP252812, SOLANO DE CAMARGO - SP149754, MARCELO BRITO RODRIGUES - SP185795, YUN KI LEE - SP131693, ADRIANA SEABRA ARRUDA - SP200766, FABIO ARIKI CARLOS - SP273109, ANDRE ZANATTA FERNANDES DE CASTRO - SP246556, TAE YOUNG CHO - SP174059, ALINE MOREIRA DA COSTA - SP201329, FABIO RIVELLI - SP297608, ROBERTA MUNDIM DE OLIVEIRA ARAUJO - DF27218, NAIANA DO AMARAL PORTO BRANDAO ANDRE - RJ167818, FERNANDA DABREU LEMOS - DF38641, CAIO MIACHON TENORIO - SP211036, RAFAEL DE ALMEIDA GUIMARAES - MG153287, GUILHERME CARDOSO SANCHEZ - SP257385, NATHALIA CORREA DE SOUZA - DF53490, MARCELLA ZARATTINI MARTINS - DF56095, THIAGO MAGALHAES PIRES - RJ156052, PAULO VINICIUS DE CARVALHO SOARES - SP257092, IEDA NOGUEIRA DUTRA - SP305324, RAFAEL BARROSO FONTELLES - RJ119910, MARIA ISABEL CARVALHO SICA LONGHI - SP256660, DANIEL DO AMARAL ARBIX - SP247063, CAMILA GONCALVES ROSA JUNQUEIRA - SP327647, TAIS CRISTINA TESSER - SP221494, EDUARDO BASTOS FURTADO DE MENDONCA - RJ130532, FELIPE DE MELO FONTE - RJ140467, LUIZ FERNANDO DA SILVA SOUSA - RJ198963, NATALIA KUCHAR - SP287632, FELIPE MENDONCA TERRA - RJ179757, EDUARDO LUIZ BROCK - SP91311 Advogados do(a) REPRESENTADO: MARCELO SANTIAGO DE PADUA ANDRADE - SP182596, HELIO FREITAS DE CARVALHO DA SILVEIRA - SP154003 DECISÃO Nº 80 Vistos. Trata-se de representação eleitoral, com pedido liminar, apresentada por Mara Cristina Gabrilli em face de Google Brasil Internet Ltda. e Jilmar Tatto em razão de suposta propaganda irregular. Sustenta a representante, candidata ao Senado Federal pela Coligação AceleraSP, em síntese, que o representado Jilmar Tatto está se valendo da ferramenta Google Ads, disponibilizada pelo Google, para alavancar sua candidatura e alterar a repercussão de propaganda eleitoral da representante, pois está se valendo indevidamente do nome desta, ocasionando desvio de audiência, com clara interferência na divulgação de sua plataforma eleitoral. Acrescenta que o representado Jilmar Tatto utiliza a expressão Mara Gabrilli? em seus anúncios de propaganda eleitoral para incrementar sua repercussão. Afirma que, com tal subterfúgio digital, o eleitor que busca informações acerca da representante no Google (para melhor se informar a respeito dela), acaba sendo direcionado a uma propaganda eleitoral do representado. Requer, liminarmente, seja determinado ao Google que exclua a propaganda questionada, no prazo máximo de 24h, sob pena de multa diária de R$ 10.000,00. No mérito, requer a procedência da representação, confirmando-se a exclusão permanente do conteúdo em questão, com aplicação da multa prevista no art. 23, 5º, da Resolução TSE n. 23.551/17 ao representado Jilmar Tatto (ID 1035723).

A liminar foi deferida para determinar a suspensão da veiculação do anúncio impugnado (ID 1042447). Citado, o representado Jilmar Tatto apresentou defesa, informando o cumprimento da liminar. Requer, preliminarmente, a reconsideração da decisão, a fim se revogar a liminar concedida. Ainda preliminarmente, sustenta a existência de coisa julgada produzida na representação nº 0605243-37.2018.6.26.0000. Alega a regularidade da propaganda, ante a legalidade da ferramenta de priorização de conteúdo, que se encontra disponível a todos. Afirma que a Cartilha do TSE sobre Propaganda Eleitoral na Internet indica a possibilidade do uso da ferramenta do Google AdWords, sem qualquer restrição quanto às palavras-chaves passíveis de serem atreladas ao contratante. Sustenta que direitos de personalidade (como o nome) de homens públicos e postulantes de cargos eletivos merecem proteção jurídica mais débil, não existindo impedimento para que se faça uso de seus nomes em qualquer tipo de propaganda, pois a comparação é da essência das democracias e das eleições. Diz, ainda, que qualquer pesquisa no buscador da Google com nomes de mercados competitivos traz retorno não só do nome pesquisado, mas também de concorrentes, o que é próprio do mecanismo da priorização de buscas ofertados genericamente pelo Google, não existindo razão para se impedir a conduta do representado. Alega que a candidata Gabrilli não se interessou pelo mecanismo lícito de propaganda e quer impedir que outros façam uso dele, em afronta à liberdade de propaganda e à própria liberdade de empresa da Google. Por fim, sustenta a inexistência de previsão legal para aplicação de multa (ID 1047571). O Google apresentou defesa, sustentando, preliminarmente, a existência de coisa julgada, na medida em que a pretensão da representante contém argumento já ventilado na representação nº 0605243-14.2018.6.26.0000. No mérito, afirma que o impulsionamento contratado atende a todas as exigências da legislação e não se qualifica como propaganda eleitoral negativa, por se tratar de mera comparação e apresentação de alternativa que é típica do jogo democrático e não fere a lisura do pleito eleitoral (ID 1054716). A D. Procuradoria Regional Eleitoral manifestou-se pela procedência parcial da representação, para reconhecer a regularidade da propaganda, mas rejeitar o pedido de condenação em multa (ID 1058900). É o relatório. Fundamento. Trata-se de representação eleitoral, com pedido liminar, apresentada por Mara Cristina Gabrilli em face de Google Brasil Internet Ltda. e Jilmar Tatto em razão de suposta propaganda irregular. Segundo a peça inicial, o representado Jilmar Tatto está se valendo de ferramentas digitais não disponibilizadas pelo Google para alterar a repercussão de propaganda eleitoral da representante, pois está se valendo do nome desta para obter, às suas custas, priorização paga de conteúdos resultantes de buscas na internet. Acrescenta que o representado Jilmar Tatto utiliza a expressão Mara Gabrilli? em seus anúncios de propaganda eleitoral para incrementar sua repercussão, razão pela qual deve ser retirada a URL https://www.google.com.br/search?q=mara+gabrilli&rlz=1c1sqjl_pt- BRBR806BR806&ei=8XSNW6nGAYKGwgTc2p_QCw&start=10&sa=N&biw=1662&bih=925. Pois bem.

Inicialmente, de rigor a rejeição da preliminar de coisa julgada. De fato, nos autos da Representação nº 0605243-37.2018.6.26.0000, com as mesmas partes do presente feito, restou consignado na decisão monocrática ID 1028538, transitada em julgado em 09.09.2018: Como se sabe, segundo o princípio da congruência, o magistrado deve decidir a lide dentro dos limites objetivados pelas partes, ou seja, deve observar o pedido e a causa de pedir. No caso, a causa de pedir é a suposta utilização, por parte do candidato Jilmar Tatto, de ferramentas digitais não disponibilizadas pelo Google para alterar a repercussão da propaganda eleitoral, bem como da priorização de conteúdo contratada pela representante ao utilizar a expressão Mara Gabrilli?. Assim, a inicial aponta duas irregularidades: (i) impulsionamento realizado por ferramentas não disponibilizadas pelo Google e (ii) utilização de impulsionamento pago pela representante Mara Gabrilli por parte do representado Jilmar Tatto. Já o pedido consiste na remoção definitiva da URL https://www.google.com.br/search? q=mara+gabrilli&rlz=1c1sqjl_pt- BRBR806BR806&ei=8XSNW6nGAYKGwgTc2p_QCw&start=10&sa=N&biw=1662&bih=925, em razão da ilicitude da prática, com aplicação da multa prevista no art. 23, 5º, da Resolução TSE n. 23.551/17. Ressalta-se que a URL supracitada está vinculada aos resultados apresentados pela pesquisa Google quando digitado o termo Mara Gabrilli, que conta com mais de 193 (cento e noventa e três) mil resultados. Assim, a presente decisão limita-se à análise de eventual utilização, pelo representado Jilmar Tatto, de ferramentas digitais não disponibilizadas pelo Google para alterar a repercussão da propaganda eleitoral e utilização da priorização de conteúdo paga pela representante em seu benefício, com a consequente remoção da URL https://www.google.com.br/search?q=mara+gabrilli&rlz=1c1sqjl_pt- BRBR806BR806&ei=8XSNW6nGAYKGwgTc2p_QCw&start=10&sa=N&biw=1662&bih=925. Com isso, não será analisado, nestes autos, o conteúdo ou forma da propaganda eleitoral veiculada pela página do candidato Jilmar Tatto, via impulsionamento, pois, como afirmado pela representante na inicial Não se tem aqui qualquer questionamento acerca do conteúdo em si da propaganda eleitoral do réu Jilmar. (...) Ressalta-se, ainda, que o impulsionamento nos termos em que contratado, ao vincular o nome da candidata à propaganda realizada pelo representado Jilmar Tatto, embora questionável, não foi objeto da presente representação, razão pela qual não foi analisado. Não obstante, poderá ser objeto de eventual futura representação. (...) Isto posto, julgo improcedente a representação eleitoral. Logo, verifica-se que a própria decisão prolatada naqueles autos fixou o alcance da discussão ventilada (legalidade da forma de contratação), ressalvando, expressamente, a possiblidade de análise dos fatos sob o prisma do conteúdo da propaganda. Feitas essas considerações, passa-se à análise do mérito.

Uma das mais significativas alterações introduzidas pela minirreforma eleitoral da Lei 13.488/2017 foi a permissão de veiculação de propaganda paga na internet por meio de mecanismos de impulsionamento de conteúdo. De fato, com a nova redação, a Lei das Eleições prevê uma exceção à vedação à veiculação de propaganda eleitoral na internet, qual seja, o impulsionamento de conteúdos na internet, desde que contratado por partidos, coligações, candidatos e seus representantes diretamente com provedor da aplicação de internet e identificado de forma inequívoca. A respeito, confira-se a redação dos arts. 57-B, 3º a 5º e 57-C, caput e 2º e 3º, da Lei nº 9.504/97, que foram reproduzidos no art. 23, 3º a 5º e art. 24, caput e 2º e 3º, da Resolução TSE nº 23.551/17: Art. 57-B. (...) 3o É vedada a utilização de impulsionamento de conteúdos e ferramentas digitais não disponibilizadas pelo provedor da aplicação de internet, ainda que gratuitas, para alterar o teor ou a repercussão de propaganda eleitoral, tanto próprios quanto de terceiros. 4o O provedor de aplicação de internet que possibilite o impulsionamento pago de conteúdos deverá contar com canal de comunicação com seus usuários e somente poderá ser responsabilizado por danos decorrentes do conteúdo impulsionado se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente pela Justiça Eleitoral. 5o A violação do disposto neste artigo sujeita o usuário responsável pelo conteúdo e, quando comprovado seu prévio conhecimento, o beneficiário, à multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais) ou em valor equivalente ao dobro da quantia despendida, se esse cálculo superar o limite máximo da multa. Art. 57-C. É vedada a veiculação de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga na internet, excetuado o impulsionamento de conteúdos, desde que identificado de forma inequívoca como tal e contratado exclusivamente por partidos, coligações e candidatos e seus representantes. (...) 2o A violação do disposto neste artigo sujeita o responsável pela divulgação da propaganda ou pelo impulsionamento de conteúdos e, quando comprovado seu prévio conhecimento, o beneficiário, à multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais) ou em valor equivalente ao dobro da quantia despendida, se esse cálculo superar o limite máximo da multa. 3o O impulsionamento de que trata o caput deste artigo deverá ser contratado diretamente com provedor da aplicação de internet com sede e foro no País, ou de sua filial, sucursal, escritório, estabelecimento ou representante legalmente estabelecido no País e apenas com o fim de promover ou beneficiar candidatos ou suas agremiações. Por sua vez, o conceito de impulsionamento de conteúdo é dado pelo art. 32, inc. XIII, da Resolução TSE nº 23.551/2017: o mecanismo ou serviço que, mediante contratação com os provedores de aplicação de internet, potencializem o alcance e a divulgação da informação para atingir usuários que, normalmente, não teriam acesso ao seu conteúdo. Deve-se asseverar, ainda, que o artigo 26, 2º, da Lei das Eleições, reproduzido no art. 7º do citado art. 23 da Resolução, inclui como modalidade de impulsionamento de conteúdo a priorização paga de conteúdos resultantes de aplicações de busca na internet.

Diante desses elementos, afirma a doutrina que o impulsionamento de conteúdos configura-se como uma espécie de propaganda paga na internet na qual um conteúdo universalmente acessível e disponível tem a sua visibilidade aumentada por injeção de receita na plataforma na qual ele está inserido (Direito Eleitoral na Era Digital, Francisco Brito Cruz...[et al.], Belo Horizonte: Letramento, 2018, p. 62). Nesse contexto, constata-se que, com a última reforma, a legislação eleitoral passou a autorizar duas espécies de propaganda paga na internet: (a) a contratação de resultados patrocinados em mecanismos de busca e plataformas de produção de conteúdo, como anúncios no Google e Youtube, e (b) o impulsionamento de conteúdos nas redes sociais, como posts patrocinados no Facebook, Instagram e Twitter. Feitas essas considerações iniciais, necessárias frente a novidade e importância do tema, verifica-se que a presente representação objetiva o reconhecimento de irregularidade na veiculação de propaganda paga na internet na modalidade de impulsionamento de conteúdo. No caso dos autos, este magistrado, ao realizar, em 09.09.2018, a busca do nome da candidata Mara Gabrilli no dispositivo de busca Google, obteve, no topo da primeira página de resultados, além de diversos sítios relacionados à candidata, o seguinte conteúdo patrocinado: Mara Gabrilli? Conheça Jilmar Tatto Anúncio www.jilmartatto.com.br/ Criador do Bilhete Único, Corredores de Ônibus e Ciclovias. Conheça Jilmar Tatto. Propaganda Eleitoral - Pago por Cnpj: 31234239000150. E, ao clicar no aludido conteúdo, este magistrado foi direcionado a URL https://jilmartatto.com.br/2018/09/01/jilmar-tatto-o-melhor-candidato-a-senador/, que tem o seguinte texto: Conheça Jilmar Tatto, o melhor candidato a senador! por jilmarta set 1, 2018 Sem categoria 0 Comentários Estava procurando por Mara Gabrilli no Google? Temos uma opção melhor e mais alinhada com o que o povo de São Paulo precisa. Conheça jilmar Tatto, o senador do Lula. Criador do Bilhete Único, Corredores de Ônibus, Ciclovias e muito mais Veja algumas propostas de Jilmar no texto abaixo. (...) Logo, verifica-se que o representado Jilmar Tatto, apesar de utilizar ferramenta permitida pela lei, vem se utilizando do nome da candidata Mara Gabrilli para, de forma indevida, ser encontrado no mecanismo de buscas Google. De fato, conforme reconhecido pelo Google, e já asseverado nos autos da citada Representação 0605243-37.2018.6.26.0000, o impulsionamento objeto dos autos atende aos requisitos formais estabelecidos na lei, sendo formalmente lícito, pois foi (i) contratado por candidato; (ii)

proporcionado por uma ferramenta digital (Google Ads) disponibilizada pelo próprio provedor da aplicação de internet; (iii) além de constar do conteúdo patrocinado a expressão Propaganda Eleitoral e o CNPJ do contratante. Ocorre que, ante as peculiaridades do caso concreto, o impulsionamento, apesar de contratado por meio formalmente lícito, fere substancialmente a lei eleitoral. Com efeito, o candidato Jilmar Tatto, em evidente abuso de direito, fez uso de modalidade lícita de propaganda para, por meio de um claro estratagema, desviar em seu proveito o espaço da candidata adversária. Dispõem o citado art. 57-C, 3º, da Lei das Eleições que o impulsionamento, dentre outros requisitos, somente pode ser feito em benefício da candidatura contratante, vedando-se, por consequência, sua utilização em prejuízo das candidaturas adversárias. E, no caso, é evidente que o conteúdo impulsionado se utilizou do interesse dos eleitores na candidatura adversária para atrair a atenção para a candidatura do representado, prejudicando, inequivocamente, o alcance e a repercussão da propaganda eleitoral da representante. De fato, o eleitor, ao buscar o nome de Mara Gabrilli no mecanismo de busca Google, intenciona obter informações acerca da representante, candidata ao Senado, e não de seus adversários. No entanto, em razão do artifício utilizado pelo representado, ao realizar a consulta, o primeiro resultado a aparecer para o eleitor é o nome de Jilmar Tatto, a demonstrar que o conteúdo impulsionado se utiliza do nome da adversária para capturar seus pretensos eleitores, com notória repercussão negativa em sua propaganda. A respeito, mister a transcrição da perspicaz análise do representante do Ministério Público Eleitoral (ID 1058900, p. 6): É evidente que se um grupo de eleitores meticulosamente escolhidos pela campanha de Jilmar Tatto pesquisassem o nome da representante, seriam direcionados para resultados do seu site de campanha. Ou seja, esse anúncio do representado não age em benefício puro de sua candidatura, divulgando sua plataforma, mas visa, de uma vez só, desviar a atenção da campanha da sua adversária ao Senado, e diminuir a visualização do conteúdo por ela produzido e disponibilizado na internet. O uso de mecanismos de SEO e SEM* para aumentar sua visibilidade deve ser limitado à difusão das próprias ideias, não como uma forma de invadir o espaço virtual das demais candidaturas. Se isso fosse válido, grandes campanhas poderiam soterrar os resultados de buscas dos adversários com menos recursos pelo uso de anúncios pagos e impulsionamento de links. (...) O que se tem é nítida tentativa de desvio de atenção, prejudicando o conteúdo direto da candidatura procurada pelo eleitor. Pois o anuncio só é veiculado a quem ativamente procura por informações da candidatura de Mara Gabrilli e é direcionado à página política de Jilmar Tatto. (...) Apesar de atendidos os requisitos formais da divulgação, ao posicionar o anúncio acima do conteúdo orgânico da candidatura, a prática viola a legislação eleitoral, ao interferia na difusão da plataforma adversária de maneira artificiosa. * SEO é a sigla para Search Engine Optmization, que significa otimização para mecanismos de busca, ou otimização de sites. SEO é o conjunto de estratégias com o objetivo de potencializar e melhorar o posicionamento de um site nas páginas de resultados naturais (e orgânicos) nos sites de busca. SEM é

uma forma de marketing na internet, que tem objetivo de promover websites pelo aumento da sua visibilidade nas páginas de resultados (SERPs), através do uso de publicidade paga, fazendo com que a empresa fique nas primeiras posições dos resultados de busca por palavras-chave relacionadas. Destarte, resta evidente que, apesar de lícita na forma, a propaganda impugnada é ilícita por seu conteúdo, pois feita com notória finalidade de prejudicar a candidatura da representante, ferindo o disposto no art. 57-C, 3º, in fine, da Lei das Eleições, repetido pelo art. 24, 3º, da Res. TSE 23.551/17. Ademais, a utilização indevida do nome da representante para direcionar a pesquisa no mecanismo de busca para o nome do representado corresponde a meio publicitário destinado a criar, artificialmente, na opinão pública, estados mentais, emocionais ou passionais, expediente que encontra vedação no art. 242 do Código Eleitoral. Em razão do disposto, de rigor o reconhecimento da irregularidade da propaganda veiculada, por violação no disposto no art. 57-C, 3º, da Lei das Eleições, razão pela qual se confirma a liminar para determinar a exclusão permanente da propaganda. Por conseguinte, configurada a infração do disposto no art. 57-C, 3º, da Lei das Eleições, e ante o alcance do meio empregado, ao atingir eleitorado de outra candidata ao mesmo cargo em benefício próprio no mecanismo de busca líder mundial de mercado, condena-se o representado Jilmar Tatto ao pagamento da multa prevista no 2º do mesmo dispositivo, fixando-a, em atenção aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, no montante de R$ 10.0000,00 (dez mil reais). Por fim, considerando que, nos termos do art. 57-B, 4º, da Lei das Eleições, a responsabilidade do provedor de aplicação de internet por danos decorrentes do impulsionamento somente se dá se descumprir ordem judicial, situação inocorrente na espécie, julga-se improcedente a representação com relação ao Google. DECIDO. Ante o exposto, julgo improcedente a representação com relação ao Google e julgo procedente a representação com relação a Jilmar Tatto, para reconhecer a irregularidade da propaganda impugnada por violação ao art. 57-C, 3º, da Lei 9.504/97, determinar sua exclusão definitiva e condená-lo ao pagamento da multa prevista no art. 57-C, 2º, da Lei 9.504/97, no montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais). P. R. I. e C. São Paulo, 13 de setembro de 2018. MAURICIO FIORITO Juiz Auxiliar da Propaganda Eleitoral

Assinado eletronicamente por: MAURICIO FIORITO 13/09/2018 19:24:26 https://pje.tre-sp.jus.br:8443/pje-web/processo/consultadocumento/listview.seam ID do documento: 1068522 18091319193844600000001037736 IMPRIMIR GERAR PDF