XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

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Transcrição:

CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA DE FRUTOS E SEMENTES DE Cenostigma macrophyllum TUL. E SUA RELAÇÃO COM A PREDAÇÃO, ABORTO E PRESENÇA DE LÓCULOS VAZIOS ALLANNE PILLAR DIAS GONZAGA 1, HISAIAS DE SOUZA ALMEIDA², LUMA VELOSO PEREIRA¹, ANNE PRISCILA DIAS GONZAGA³, EVANDRO LUIS MENDONÇA MACHADO³. RESUMO As espécies arbóreas tropicais apresentam diferenças quanto às variações de tamanho, peso dos frutos e das sementes, tais variações podem influenciar nos processos ecológicos das espécies, como a predação. Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo principal de detectar as possíveis preferências do predador por determinadas características morfológicas dos frutos e das sementes de Cenostigma macrophyllum e ainda verificar como a produção de sementes normais e abortadas são influenciadas pela biometria e ainda, testar se frutos com maior investimento produzem maior número de lóculos vazios. A coleta dos frutos de C. macrophyllum, foi realizada no município de Carinhanha-BA. Os frutos foram mensurados quanto ao comprimento, circunferência média e peso, sendo obtido também o peso individual da casca do fruto depois de retiradas as sementes. O número de sementes predadas não apresentou correlação com nenhuma das variáveis independentes, isto demonstra que o agente predador não apresenta preferências por nenhuma das características biométricas dos frutos. As sementes abortadas não se correlacionam com o comprimento e circunferência média dos frutos, o que contraria o resultado esperado. Além disso, a biometria do fruto não apresentou correlação com a elevada taxa de lóculos vazios. Palavras-chaves: Caatinga, relações ecológicas, morfologia. INTRODUÇÃO As espécies arbóreas da família Fabaceae desenvolvem um papel importante no que se refere ao manejo de áreas degradadas, além de outros benefícios como sombreamento e o conseqüente conforto térmico aos animais (SOARES et al., 2007). Pertencente à família Leguminosoidae e à subfamília Caesalpinioideae, o gênero Cenostigma é formado por quatro espécies, dentre elas, Cenostigma macrophyllum, que apresenta hábito arbóreo (SILVA et al., 2007), seus frutos são secos e possuem deiscência barocórica. Possui relevância terapêutica, por ter suas cascas do caule, folhas e flores utilizadas popularmente para o tratamento de doenças estomacais e intestinais (SILVA et al., 2007). Embora seja conhecida popularmente, há poucas pesquisas envolvendo C. macrophyllum, principalmente envolvendo sua ecologia e caracterização morfológicas. As espécies arbóreas tropicais apresentam diferenças quanto às variações de tamanho, peso dos frutos e das sementes (MARTINS et al., 2007). Desse modo, a biometria de frutos e sementes amplia o conhecimento sobre as mesmas (SILVA et al., 2007), além de constituir um instrumento importante na detecção da variabilidade genética. A morfometria de sementes, se associada ao papel ecológico da espécie no ambiente, fornece ainda, informações relevantes sobre a sua biologia, possibilitando otimizar o manejo dos frutos e sementes (GUSMÃO et al., 2006), além de ofertar subsídios para seleção de sementes com maior potencial de germinação e vigor (MARTINS et al., 2007). A produção de sementes é um estágio crucial na vida das plantas. Muitas sofrem intensa predação, pré ou pós-dispersão, acarretando grandes efeitos no valor adaptativo das populações (GRENHA et al., 2008). A predação de sementes é um processo de interação interespecífica (BALDISSERA & GANADE, 2005) que representa uma das principais causas de mortalidade de ¹ Graduanda em Ciências Biológicas, Faculdade de Saúde Ibituruna, pillardias@gmail.com ² Doutorando em Engenharia Florestal, UFLA ³ Professorres da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

sementes (FRANCISCO et al., 2003). A predação também pode limitar o número de sementes viáveis disponíveis podendo alterar a distribuição espacial de espécies (SILVA et al., 2007) e sua dinâmica populacional (BARTIMACHI et al., 2008). Associado aos prejuízos causados pela predação, a proporção de sementes abortadas constituem um dos grandes problemas das ciências florestais no Brasil (LINK e COSTA, 1995; OLIVEIRA e COSTA, 2009). Neste contexto, considerando a carência de estudos relacionando a morfologia de frutos e sementes aos processos ecológicos de espécies nativas, o presente estudo objetivou: (a) promover a caracterização morfológica dos frutos e sementes de Cenostigma macrophyllum; (b) testar possíveis preferências dos predadores granívoros por determinadas características morfológicas de seus frutos e sementes; (c) verificar como a produção de sementes normais e abortadas se correlacionam com a biometria dos frutos e sementes da espécie e (d) testar se frutos com maior investimento produzem maior número de lóculos vazios. MATERIAL E MÉTODOS Coleta e caracterização dos frutos e sementes Foram coletados frutos maduros de 20 matrizes, escolhidas arbitrariamente, em um fragmento florestal de Caatinga Hiperxerófila, no município de Carinhanha, BA. O município encontra-se inserido no "Polígono das Secas". Após a coleta, os frutos foram acondicionados em sacos plásticos, devidamente identificados. Em seguida foram mensurados quanto ao comprimento e circunferência média. Os frutos também foram pesados, com o uso de balança de precisão, obtendo-se o peso individual da casca e das sementes. O volume dos frutos foi estimado por similaridade com um elipsóide. As sementes foram contadas e separadas em três categorias: (a) sementes sadias, àquelas sem deformações, com coloração marrom e livre de predação de insetos; (b) sementes abortadas ou chochas, com formação anormal (OLIVEIRA & COSTA, 2009) e coloração escura; e (c) sementes predadas por insetos (SARI et al., 2005), aquelas que apresentaram orifício, indicando a presença de inseto adulto ou larva em seu interior. Além disso, foi contabilizado o número de lóculos vazios por fruto, caracterizado por vestígio de semente ausente no fruto. Criou-se uma nova variável, fundamentada nos dados acima: (d) número de sementes fecundadas, baseado na soma do número de sementes normais, predadas e abortadas, para separar dos lóculos vazios, que podem ser oriundos de formação de frutos sem fecundação, caracterizando lóculos não fecundados do ovário. Análise de dados Para testar as possíveis relações entre o ataque do inseto predador, a produção de sementes saudáveis e abortadas, assim como a presença de lóculos vazios com as características biométricas dos frutos, foram realizados testes de regressão linear, ao nível de 5% de significância. Para isto, foram utilizados frutos de C. macrophyllum com delineamento inteiramente casualizado, o tamanho e peso dos frutos foram considerados variáveis independentes. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram obtidas, um total de 225 sementes, sendo 181 normais, 24 abortadas e 20 predadas, e ainda, 116 lóculos vazios. A caracterização biométrica dos frutos (Tabela 1) apontou o menor e o maior fruto, com comprimento variando entre 6,30cm e 14,20cm, com média de 10,84cm ± 1,29cm. A circunferência média esteve entre 5,43cm e 8,13cm, com média de 6,66cm ± 0,60cm. O fruto de menor peso alcançou 5,99 e o maior,22,72g, com média de 11,82g ± 2,88g. O peso da casca variou entre 5,79g e 19,15g, com média de 10,60g ± 2,41g.

O número total de sementes por fruto variou de 1 a 4 sementes (Tabela 1), o que conferiu uma média de 2,26 ± 0,87. Já o comprimento variou de 2,40cm a 0,30cm, com média de 1,76cm ± 0,36cm. A largura variou de 1,26cm e 1,80cm, com média de 1,26cm ± 0,31cm. A espessura, por sua vez, variou de 0,002cm a 0,50cm, com média de 0,28cm ± 0,11cm. O peso variou entre 0,001 e 1,04g, com média de 0,51g ± 0,26g. Quanto ao volume, a média foi de 0,75mL ± 0,53mL, com mínimo de 2,58mL e máximo de 3,76mL. Segundo FONTENELE et al (2007) e SILVA et al (2007) grandes amplitudes biométricas como encontradas nos frutos de C. macrophyllum podem estar associadas às variações ambientais, como também podem representar indício de alta variabilidade genética populacional. Tabela 1. Características biométricas dos frutos e sementes de Cenostigma macrophyllum, coletados em fragmento florestal de caatinga, no município de Carinhanha-BA. Característica biométrica n Mínimo Máximo Média ± erro padrão Fruto Comprimento (cm) 6,3 14,2 10,84 ± 1,29 Circunferência Média (cm) 5,43 8,13 6,66 ± 0,60 Peso do Fruto (g) 5,99 22,72 11,82 ± 2,88 Peso da Casca(g) 5,79 19,15 10,60 ± 2,41 Sementes 1 4 2,26 ± 0,87 Normais 0 4 1,77 ± 1,03 Predadas 0 3 0,20 ± 0,60 Abortadas 0 4 0,24 ± 0,64 Vazios 0 3 1,17 ± 0,94 Comprimento (cm) 224 0,30 2,40 1,76 ± 0,36 Largura (cm) 224 1,26 1,80 1,26 ± 0,31 Espessura (cm) 224 0,002 0,50 0,28 ± 0,11 Peso (g) 224 0,001 1,04 0,51 ± 0,26 Volume (ml) 224 2,58 3,76 0,75 ± 0,53 Não houve porcentagem significante de sementes predadas, representando apenas 8,92% do total das sementes encontradas. Este mesmo resultado foi observado para a espécie Hymenaea intermedia Ducke. (CRUZ et al, 2001), indicando que, a predação das sementes destas espécies podem não trazer danos significativos à dinâmica de suas populações. Além disso, em determinados casos a predação pode ser favorável à planta, facilitando as trocas gasosas e a entrada de água no interior da semente, por meio da ruptura do tegumento e facilitando a germinação (CARVALHO & NAKAGAWA, 1988; CÁCERES & MONTEIRO-FILHO, 2007). Porém, faz-se necessários testes de germinação para comprovar a viabilidades destas sementes. A porcentagem de sementes abortadas foi maior que as predadas, perfazendo 10,71% das sementes fecundadas. SARI et al (2005) observou em seu estudo com Senna multijuga que os valores de sementes predadas e abortadas, associados a outros fatores como agentes patogênicos e condições desfavoráveis do ambiente, podem influenciar drasticamente o potencial reprodutivo da planta. Das 23 correlações feitas, apenas 9 não foram significativas (Tabela 2). Por exemplo, o número de sementes predadas não apresentou correlação com nenhuma das variáveis independentes. Isto demonstra que o agente predador não apresenta preferências por nenhuma das características biométricas dos frutos.

De acordo com SCHERER & ROMANOWSKI (2005) muitos predadores não escolhem seu hospedeiro, eles apenas se alimentam, crescem e emergem de sementes selecionadas aleatoriamente pela fêmea quando os frutos ainda estão imaturos. Isto pode explicar a inexistência de correlação entre a morfometria dos frutos e a taxa de predação das sementes. Tabela 2. Regressões entre características biométricas dos frutos de Cenostigma macrophyllum, coletados em fragmento florestal de caatinga, no município de Carinhanha-BA. Variáveis Dependente (y) Independente (x) p F N r² Y= <0,001 25,550 0,209 y = 0,30878x -1,083469452 Normais <0,001 12,285 0,112 Y = 0,26664x -1,09142 Predadas Comprimento 0,145 2,162 - Abortadas (cm) 0,737 0,113 - vazios 0,718 0,131-0,024 5,243 0,051 Y = 0,325275x +0,094344598 Normais <0,001 14,240 0,128 Y = 0,60439x -2,23087 Predadas Circunferência 0,566 0,331 - Abortadas (cm) 0,065 3,498 - vazios 0,355 0,864 - <0,001 22,066 0,185 Y = 0,130896x + 0,719892 Normais Predadas Peso do fruto 0,636 0,225 - Abortadas (g) 0,016 5,999 0,058 Y = -0,062240x 1,016380 vazios 0,040 4,331 0,033 Y = -0,068043x + 1,973668 <0,001 16,664 0,147 Y = 0,139284x + 0,785094 Normais <0,001 25,942 0,211 Y = 0,196510x -0,286614 Predadas Peso da casca 0,849 0,037 - Abortadas (g) 0,048 4,026 0,039 Y = -0,061595x +0,936236 vazios 0,143 2,1818 - Abortadas Normais <0,001 17,542 0,153 Y = -0,282258x + 0,790323 vazios <0,001 53,327 0,355 Y = -0,644719x + 2,630476 Normais vazios 0,001 12,705 0,116 Y = -0,313253x + 1,734940 Abortadas vazios 0,047 4,044 0,040 Y = -0,255323x + 1,243930 Como o esperado, a produção total de sementes e a produção de sementes normais estão diretamente correlacionadas com as medidas biométricas do fruto (Tabela 2). As sementes abortadas não se correlacionam com o comprimento e circunferência média dos frutos e, o que contraria o resultado esperado. Contudo, o número de sementes abortadas mostra-se inversamente proporcional ao peso do fruto, da casca e ao número de sementes normais, evidenciando que frutos mais pesados são também aqueles com maior probabilidade de possuírem sementes sadias. Possivelmente, o baixo número de sementes predadas e a correlação negativa entre sementes abortadas e peso da casca podem estar relacionados ao elevado investimento em defesa, indicando que frutos de cascas mais pesadas e, consequentemente mais resistentes, estão menos suscetíveis à predação.

A biometria do fruto não apresentou correlação com a elevada taxa de lóculos vazios. Talvez, a presença destes possa ser explicada pela fusão de carpelos originando os lóculos, e ocorre a formação dos ovários, que por diversos fatores exógenos, como um número insuficiente de agentes polinizadores para a área, não foram fecundados. No entanto, faz-se necessária a realização de estudos mais detalhados para a confirmação desta hipótese, não havendo referências na literatura. CONCLUSÃO Não há diferenças marcantes entre a morfologia de sementes normais e predadas. Além disso, não foi observado a preferência dos predadores pelas características morfológicas das sementes ou frutos, contrariando as expectativas de que o predador escolheria sementes com maiores dimensões. A taxa de aborto, nessa espécie, também não é influenciada pelo tamanho dos frutos. No entanto, é influenciada pelo peso. É possível perceber que não há relação entre o tamanho do fruto e a presença de lóculos vazios. AGRADECIMENTOS Ao professor doutor Rubens Emanuel dos Santos, da Universidade Federal de Lavras, por colaborar na identificação da espécie e à Coordenação dos laboratórios da Faculdade de Saúde Ibituruna, por ceder os equipamentos necessários para realização deste trabalho. REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO BALDISSERA, R. & GANADE, G. Predação de sementes ao longo de uma borda de Floresta Ombrófila Mista e pastagem. Acta Botânica Brasílica, v. 19, n. 1, p. 161-165. 2005. BARTIMACHI, A.; NEVES, J.; PEDRONI, F. Predação pós-dispersão de sementes do angico Anadenanthera falcata (Benth.) Speg. (Leguminosae-Mimosoideae) em mata de galeria em Barra do Garças, MT. Revista brasileira de Botânica. v.31, n.2, p. 215-225. 2008. CÁCERES, N. C. & MONTEIRO-FILHO, E. L. A. Germination in seed species ingested by Opossuns: Implications for seed dispersal and forest conservation. Brasilan Archives of bilogy and technology. v. 50, p. 921-928. 2007. CARVALHO, M. N. & NAKAGAWA J. Sementes: Ciência, tecnologia e produção. 3ª edição. Ed. Fundação Cargill. Campinas. 1988. FONTENELE, A. C. F.; ARAGÃO, W. M.; RANGEL, J. H. A. Biometria de frutos e sementes de Desmanthus virgatus (L) Willd Nativas de Sergipe. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 1, p. 252-254, jul. 2007 FRANCISCO, M.R., OLIVEIRA, V. & GALETTI, M. Massive seed predation of Pseudobombax grandiflorum (Bombacaceae) by parakeets Brotogeris versicolurus (Psittacidae) in a forest fragment in Brazil. Biotropica, v. 34, p. 613-615. 2003. GRENHA, V.; MACEDO, M. V; MONTEIRO, R. F. Predação de sementes de Allagoptera arenaria (Gomes) O Kuntze (Arecaceae) por Pachymerus nucleorum Fabricius (Coleóptera, Chrysomelidae, Bruchinae). Revista Brasileira de Entomologia, v. 52, p. 50-56. 2008. GUSMÃO, E.; VIEIRA, F. A.; JUNIOR FONSECA, E. M. Biometria de frutos e endocarpos de murici (Byrsonima verbascifolia Rich. ex A. Juss.). Cerne, Lavras, v. 12, n. 1, p. 84-91, jan./mar. 2006.

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