Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Municipal do Cadaval Exmas Senhoras e Senhores Deputados Municipais Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal do Cadaval Exma. Senhora e Senhores Vereadores Exmos. Convidados civis e militares Minhas Senhoras e Meus Senhores Cadavalenses! A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista. Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação revolucionária e o início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa ( ) ( ) A República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas e no respeito e na garantia de efectivação dos direitos e liberdades fundamentais, que tem por objectivo a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa. (Fim de citação da CRP) Foi-me proposto transmitir-vos nesta sessão solene, evocativa do 35.º aniversário do 25 de Abril, como e em que medida a revolução dos cravos influenciou as gerações nascidas na década de 70 e seguintes (as chamadas gerações livres) e, acrescento eu, discorrer sobre as razões que levam a que o 25 de Abril, apesar de ser o acto fundador da nossa contemporaneidade com a Europa e o mundo democrático, seja hoje um acontecimento cada vez mais ignorado pelos portugueses sobretudo as gerações mais jovens com 1
honrosas excepções, como as que tivemos a oportunidade de verificar aqui hoje, através da participação nesta cerimónia dos jovens alunos das escolas, os quais felicito. E aproveito, dado que alguns dos jovens aqui presentes, leram, na sua intervenção, um poema de Abril escrito pela minha tia, Isabel Pereira, para homenageá-la por ter sido uma das pessoas que maior influência teve na minha formação e nos valores que defendo. Iniciei, pois, esta minha intervenção, lendo-vos algumas das referências que a Constituição da República Portuguesa faz ao 25 de Abril e aos mais nobres valores que lhe estão associados liberdade e democracia. Fi-lo com a intenção de vos ilustrar como os valores de Abril estão patentes na nossa lei fundamental e acredito que fortemente enraizados nas nossas mais simples acções diárias. Vivemos numa democracia representativa, onde o povo expressa a sua vontade através da eleição de representantes, que tomam decisões em nome daqueles que os elegeram, e em que existe o chamado primado da lei A lei está acima de tudo o resto. É um facto que as gerações mais novas, como a minha, não sabem exactamente como era viver antes do 25 de Abril de 1974; como era viver num País sem liberdades e sem democracia; um País com os índices de desenvolvimento próprios do Terceiro Mundo, com uma população pobre, mal alimentada, a habitar mal; uma emigração sem precedentes: mais de um milhão e meio de portugueses em 15 anos 2
(60-74); um País sem vias de comunicação, sem educação, saúde e segurança social para todos; um país que alimentava uma obsoleta guerra colonial, com consequências devastadoras, tanto sociais como económicas e políticas. E não temos esse conhecimento, em minha opinião, por duas ordens de razões: Uma de ordem lógica: não vivemos, não testemunhámos esse período da nossa história recente. Logo, não podemos senti-lo da mesma forma que o sentem aqueles que o viveram. Mas também não temos uma consciência mais clara, porque o nosso sistema educativo, os meios de comunicação social e a nossa classe política não souberam ou não quiseram dar-lhe ao longo dos últimos 35 anos o devido realce. No entanto, tal não significa que o espirito de Abril nos seja indiferente ou que não queiramos viver Abril. Antes pelo contrário, Abril faz parte de nós. Na verdade, Viver o 25 de Abril de 1974 não se resume ao facto de se ter passado ou não temporalmente por esse dia. Viver a revolução de Abril é viver com sentido crítico, opiniões livres, participação cívica (em qualquer das suas formas), respeito pelos outros; é ter um genuíno sentido de justiça, de solidariedade e de humanismo; é amar a liberdade; é ser inconformista. 3
Estou convencido de que é assim que a maioria de nós, cidadãos criados no alvor de Abril, vivemos a revolução. Diariamente, dinamicamente difundindo e defendendo com as nossas acções os valores da liberdade e da democracia. No entanto, assistimos nos últimos anos a um acentuado desinteresse dos jovens e porque não dizê-lo, da população em geral pela actividade política, o que é preocupante. É aquilo a que alguém chamou melancolia democrática, traduzida pela indiferença e a descrença perante a política. Temos pois, todos nós, o dever de parar para pensar e interrogarmonos sobre a génese dessa apatia. Porquê? Com a democratização, a sociedade portuguesa conheceu uma profunda transformação. O país dotou-se de grandes equipamentos colectivos: auto-estradas, saneamento básico, distribuição de electricidade e água canalizada, entre outros Com o decorrer dos anos, a classe política também mudou. Aos autores políticos, homens e mulheres obreiros empenhados na construção de um Portugal moderno, juntaram-se os actores políticos, os que viram na política uma oportunidade pessoal. É este segundo género que mina a credibilidade do sistema, que afasta os mais aptos, competentes, honestos; que alimenta o clientelismo, a corrupção; que põe em perigo a democracia. 4
Compete-nos a nós, aos que acreditam que estar na política é servir e não servir-se, a responsabilidade de fazer dela um instrumento cada vez mais nobre, e, através de uma sólida educação, despertar a consciência cívica e moral dos nossos filhos (chaves do futuro), para a importância da continuação da democracia em Portugal. Aproximam-se três actos eleitorais, um dos quais (eleições autárquicas) com influência directa na vida da nossa comunidade local. Temos, pois, todos nós, eleitos locais, e todos aqueles que concorrerão nas próximas eleições autárquicas, uma boa oportunidade e também a responsabilidade de contribuir para inverter a imagem negativa que impende sobre os políticos e a forma de fazer política. Decisivo será: utilizar uma linguagem de verdade; agir com transparência; gerir com rigor os dinheiros públicos; assumir o compromisso de prestar contas aos eleitores de modo permanente e não apenas quando há eleições; dar voz aos problemas das pessoas; privilegiar o debate das ideias; respeitar os adversários Enfim, honrar as promessas feitas. 5
Se o fizermos, estaremos a contribuir para a dignificação da política, para o reforço da relação de confiança que se quer entre eleitos e eleitores e para o aumento dos níveis de envolvimento dos jovens concelhios na actividade política. A todos os outros Cadavalenses, faço aqui um apelo: Votem! Votem no projecto político que julgarem melhor, mas votem! Só assim estarão a honrar a memória de todos aqueles que arriscaram a vida para que houvesse democracia. Não votar é deixar morrer o espírito do 25 de Abril. Exmo. Senhor Presidente Ilustres convidados Minhas Senhoras e Meus Senhores, Quero concluir homenageando todos os militares de Abril, porque a eles se deve a liberdade de que hoje legitimamente usufruímos, lendo-vos alguns fragmentos de um texto da autoria de Fernando Salgueiro Maia, escrito pouco tempo antes da sua morte: Tendo a consciência de que a guerra era injusta e sem solução, que o regime era opressivo e sem capacidade de reconversão, que as Forças Armadas tinham conseguido o impossível para garantir ao Poder a capacidade de diálogo que ele recusava; só restava a sublevação, mesmo sabendo os riscos que ela acarretava. 6
( ) Farto de quase 50 anos de opressão, Farto de incompetência Farto de fabricar carne para canhão Farto de ajudar meia duzia de glutões a comer à conta do orçamento, Farto de «lutar» por causas perdidas, Decidi dizer «Basta!» ( ) Depois do primeiro sinal de rádio «E depois do Adeus», começámos acordando o pessoal, que se convenceu estar perante mais uma instrução nocturna. Reunidos na maior sala que a Unidade tinha, ao pessoal que me estava directamente subordinado expliquei que na vida há momentos que pela sua importância nos transcendem; assim perante o estado de negação de Liberdade e de injustiça que tinhamos atingido, perante as nulas esperanças em melhores dias, havia que mudar o regime, não para nos substituirmos ao regime anterior, mas para, dando liberdade e democracia, garantir ao povo a escolha do destino colectivo. Para desanuviar, declarei que havia várias modalidades de Estado, os liberais, os sociais-democratas, os socialistas, mas nenhum pior que o estado a que chegámos, pelo que urgia acabar com ele.. ( ) Pelas três horas da manhã de 25 de Abril, saímos da Escola Prática de Cavalaria em direcção a Lisboa. 7
O Resto da História, Senhor Presidente, minhas senhoras, meus senhores, já todos vós conheceis Disse. 8