O diploma e o exercício da profissão de Jornalista. A intenção deste artigo é de forma imparcial trazer as verdadeiras informações sobre o caso, sem opinar ou influenciar no mérito (motivo) da discussão, mas torna claro do que se trata, ao final, posicionando-se a respeito das questões jurídicas atinentes ao fato e esclarecer questões práticas da maioria dos profissionais da área, focando nas seguintes questões: 1) Afinal de contas, o que realmente aconteceu? 2) Porque a obrigatoriedade não foi aceita? 3) Como adquirir o MTB (registro no ministério do trabalho) atualmente? 1. Onde nasceu e quais funções são consideradas exercício do Jornalismo. Em 1969, foi criado o Decreto lei nº 972 que dispõe sobre o exercício da profissão de jornalista, que no seu art. 4º, inciso V, traz a seguinte redação: Art 4º O exercício da profissão de jornalista requer prévio registro no órgão regional competente do Ministério do Trabalho e Previdência Social que se fará mediante a apresentação de: V - diploma de curso superior de jornalismo, oficial ou reconhecido registrado no Ministério da Educação e Cultura ou em instituição por este credenciada, para as funções relacionadas de "a" a "g" no artigo 6º. As funções que dependem desta pré-requisito são, de acordo com o art. 6º, alíneas a a g do respectivo decreto são: a) Redator: redigir editorias, cronicas ou comentários; b) Noticiarista: redigir matéria de caráter informativo, desprovida de apreciação ou comentários; c) Repórter: colher notícias ou informações, preparando-as para divulgação; d) Repórter de Setor: colher notícias notícias ou informações sobre assuntos pré-determinadas, preparando-as para divulgação; e) Rádio-Repórter: difusão oral de acontecimento ou entrevista, comentário ou crônica pelo rádio ou televisão; f) Arquivista-Pesquisador: organizar e conservar culturalmente e tecnicamente o arquivista redatorial, procedendo à pesquisa dos respectivos dados para a elaboração de notícias; g) Revisor: rever as provas tipográficas de matéria jornalística;
As seguintes funções, presentes na alíneas h, i, j e l, respectivamente, Ilustrador, Repórter-Fotográfico, Repórter-Cinematográfico e Diagramador não se enquadram na exigência do diploma. 2. Discussão no Supremo Tribunal Federal. O STF apreciou a constitucionalidade do Decreto Lei 972/69, apenas em relação ao artigo 4º, inciso V, pois o restante do decreto encontra-se em vigor, ou seja, foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988. No julgamento do Recurso Extraordinário 511.961/SP, de relatória do Ministro Gilmar Mendes, que foi seguido pelos demais ministros, o Supremo Tribunal Federal em 2009, declarou a inconstitucionalidade do artigo em questão e declarou a não exigência do diploma para o exercício das respectivas funções. Concluo, portanto, no sentido de que o art. 4o, inciso V, do Decreto-Lei n. 972, de 1969, não foi recepcionado pela Constituição de 1988 Não se esqueça que, tal como o Decreto-Lei n. 911/69 - que equiparava, para todos os efeitos legais, inclusive a prisão civil, o devedor fiduciante ao depositário infiel na hipótese do inadimplemento das obrigações pactuadas no contrato de alienação fiduciária em garantia - o qual foi declarado inconstitucional por esta Corte no recente julgamento dos Recursos Extraordinários n. 349.703 (Relator para o acórdão Ministro Gilmar Mendes) e n. 466.343 (Relator Ministro César Peluso)31, o Decreto-Lei n. 972, também de 1969, foi editado sob a égide do regime ditatorial instituído pelo Ato Institucional n. 5, de 1968. Também assinam este Decreto as três autoridades militares que estavam no comando do pais na época: os Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar, usando das atribuições que lhes conferiu o Ato Institucional n. 16, de 1969, e o Ato institucional n. 5, de 1968. Está claro que a exigência de diploma de curso superior em jornalismo para o exercício da profissão tinha uma finalidade de simples entendimento: afastar dos meios de comunicação intelectuais, políticos e artistas que se opunham ao regime militar. Fica patente, assim, que o referido ato normativo atende a outros valores que não estão mais vigentes em nosso Estado Democrático de Direito. Assim como ficou consignado naquele julgamento, reafirmo que não só o Decreto-Lei n. 911/1969, como também este Decreto-Lei n. 972/1969 não passaria sob o crivo do Congresso Nacional no contexto
3. Como tudo começou. do atual Estado constitucional, em que são assegurados direitos e garantias fundamentais a todos os cidadãos. (STF, Gilmar Mendes, 2009). Em um primeiro momento, o Ministério Público Federal MPF, e o Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no estado de São Paulo SERTESP, foram contra a decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, proferida na Ação Civil Pública 25946-3, decorrente de ação civil pública ajuizada contra uma decisão administrativa da União, que impediu o exercício da atividade jornalística devido a falta de diploma. Posteriormente, o juiz de primeira instância da 16ª vara cível federal, manifestou-se a favor do pedido do ministério público. Entretanto, a União recorreu e o TRF 3ª região reformou a decisão do juiz de primeira instância manifestando-se a favor da exigência do diploma. Ao final, após a decisão do TRF, o MPF e a SERTESP recorreram ao Supremo Tribunal Federal, que declarou a não recepção do respectivo artigo, pugnando pela não exigência do diploma para o exercício da profissão. 4. Nova proposta de mudança. A fim de atender o novo cenário jurídico, tramita no legislativo a Proposta de Emenda Constitucional nº 33 de 2009. Inciado no Senado Federal, pelo Senador Antônio Carlos Valadão, a proposta busca, acrescentar o artigo 220-A à Constituição Federal, para trazer as seguintes soluções ao caso: a) Que o exercício da provisão de Jornalista seja privativa do portador de diploma do curso superior de comunicação social com habilitação em jornalismo, devidamente reconhecido pelo Ministério da Educação; b) Que aqueles que até a data de promulgação da Emenda Constitucional comprovem o efetivo exercício da profissão e também os jornalista provisionados (que já tem registro profissional perante o órgão competente) não serão obrigado a possuir diploma para o exercício da profissão. c) Que o diploma não é exigido para o colaborar (aquele que sem relação de emprego produz trabalho técnico, cientifico ou cultural, relacionado com a sua especialização, para ser divulgado como o nome e qualificação do autor). Art. 1º A Constituição Federal, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 220-A:
Art. 220-A O exercício da profissão de jornalista é privativo do portador de diploma de curso superior de comunicação social, com habilitação em jornalismo, expedido por curso reconhecido pelo Ministério da Educação, nos termos da lei. Parágrafo único. A exigência do diploma a que se refere o caput é facultativa: I ao colaborador, assim entendido aquele que, sem relação de emprego, produz trabalho de natureza técnica, científica ou cultural, relacionado com a sua especialização, para ser divulgado com o nome e qualificação do autor; II aos jornalistas provisionados que já tenham obtido registro profissional regular perante o Ministério do Trabalho e Emprego. (PEC Nº 33/2009, Senado Federal) A proposta de emenda já foi aprovada pelo Senado Federal e encontrase em tramitação na Câmara dos Deputados (PEC 206/2012), ocasião em que já foi aprovada na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e seguirá para a CCR (Comissão de Constituição e Revisão). Além disso temos outras iniciativas de proposta de origem da Câmara dos Deputados, que pugnam pela obrigatoriedade (PEC 386, 388 e 389 2009), todas com um texto mais simplista, fundamentado pela liberdade de informação são a favor da exigência do diploma, veja: (a) PEC 386 de 2009 da Câmara dos Deputados. Art. 1º. A presente Emenda Constitucional estabelece a necessidade de curso superior em jornalismo para o exercício da profissão de Jornalista. Art. 2º. O 1º, do 220 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação: 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, atendido o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV e observada a necessidade de diploma de curso superior de jornalismo, devidamente registrado nos órgãos competentes, para o exercício da profissão. (NR) (b) PEC 388 de 2009, da Câmara dos Deputados, apensada a PEC 386/2009. As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do ar. 60 da Constituição Federal promulgam a
seguinte emenda ao texto constitucional: Art. 1º) - A presente Emenda Constitucional estabelece a necessidade de curso superior em jornalismo para o exercício da profissão de Jornalista. Art. 2º) - O 1º, do art. 220 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação: 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X. XIII e XIV e atendida à necessidade de diploma de curso superior de jornalismo, devidamente registrado nos órgãos competentes para o exercício da profissão. (PEC 388/2009, Câmara dos Deputados, apensada a PEC 386/2009.) (c) PEC 389/2009, da Câmara dos Deputados, apensada à PEC 386/2009. Artigo único. Dê-se ao 1º do art. 220 da Constituição Federal a seguinte redação: Art. 220... 1º Para o exercício da profissão de jornalista será obrigatório diploma de curso superior de jornalismo, devidamente registrado no órgão regional competente, e nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV. (NR) 5. Como funciona o trâmite de uma Emenda Constitucional. Para alterar a Constituição Federal é necessária a aprovação de um projeto de emenda constitucional PEC, marcada por sua rigidez de aprovação, por isso a Constituição Brasileira é considerada rígida. A tramitação, após sua apresentação, na casa iniciadora (que pode se tanto a Câmara dos Deputados, quanto o Senado Federal), ocorre da seguinte forma: 1º É analisada pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça e de Redação) da casa iniciadora, que leva em consideração a constitucionalidade, legalidade e a técnica legislativa, se aprovada segue para a próxima etapa. 2º Será analisada por um Comissão Especial responsável pela análise da pertinência do conteúdo. Ainda na casa iniciadora, se aprovada seguirá para a
votação. 3º Segue para o Plenário do órgão, onde será votada em dois turnos, por 3/5 dos membros. Se aprovada na Casa Iniciadora, segue para a Casa Revisora, que poderá ser a Câmara dos Deputados ou o Senado Federal. 4º Vai para o casa revisora e, primeiramente, será analisada por sua CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania). Após sua aprovação segue para votação. 5º Segue ao Plenário, onde será votada em 2 turnos por 3/5 dos senadores, isto é, 49 votos favoráveis do total de 81 senadores. Será a casa revisora o Senado Federal, caso a iniciadora seja a Câmara dos Deputados ou será a casa revisora a Câmara, caso a casa iniciadora seja o Senado Federal. O quórum de votos para aprovação deve ser de 3/5 (maioria qualificada) será, no Senado Federal, 49 (dentre 81 senadores) e, na Câmara dos Deputados, 308 (dentre os 513 deputados). 6. Atualmente, para se obter o diploma, os seguinte critérios devem ser analisados. 1 JORNALISTA (Dec-Lei 972/69; Dec. 83.284/79) JORNALISTA PROFISSIONAL DIPLOMADO - Cópia autenticada (ou Original e Cópia) do Cadastro de qualificação civil da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS); Casamento (se houver alteração de nome); 1 Site do Ministério do Trabalho e Emprego (Disponível em: http://portal.mte.gov.br/data/files/ff8080812c2c7051012c2c8571ab72f8/jornalista.pdf ) acessado em 22 de Dezembro de 2013.
- Cópia autenticada (ou Original e Cópia) de Comprovante de Residência (conta de água, luz ou telefone); - Cópia autenticada (ou Original e Cópia) do Diploma (para registro DEFINITIVO) OU de Certidão de Conclusão + Termo de Compromisso* (para registro PROVISÓRIO) do Curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo reconhecido na forma da Lei; - Carteira de Trabalho para a anotação do registro. REPÓRTER FOTOGRÁFICO, REPÓRTER CINEMATOGRÁFICO, ILUSTRADOR e DIAGRAMADOR (funções técnicas) - Cópia autenticada (ou Original e Cópia) do Cadastro de qualificação civil da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS); Casamento (se houver alteração de nome); - Cópia autenticada (ou Original e Cópia) de Comprovante de Residência (conta de água, luz ou telefone); - Cópia autenticada (ou Original e Cópia) do Comprovante de Escolaridade de nível médio ou superior (2º ou 3º grau); - Parecer favorável do sindicato representativo da categoria;
- Carteira de Trabalho para a anotação do registro. REGISTROS ESPECIAIS (Art. 4, 1º do Decreto-Lei 972/69) JORNALISTA COLABORADOR - Cópia autenticada (ou Original e Cópia) do Cadastro de qualificação civil da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS); Casamento (se houver alteração de nome); - Cópia autenticada (ou Original e Cópia) de Comprovante de Residência (conta de água, luz ou telefone); - Declaração de empresa jornalística, informando do seu interesse pelo registro de colaborador do requerente, onde conste a sua especialização, remuneração contratada e pseudônimo, se houver; - Carteira de Trabalho para a anotação do registro. JORNALISTA DE SERVIÇO PÚBLICO
- Cópia autenticada (ou Original e Cópia) do Cadastro de qualificação civil da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS); Casamento (se houver alteração de nome); - Cópia autenticada (ou Original e Cópia) de Comprovante de Residência (conta de água, luz ou telefone); - Cópia autenticada (ou Original e Cópia) do Diploma do Curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo; - Ato de nomeação para o cargo em emprego com as atribuições de Jornalista; - Carteira de Trabalho para a anotação do registro. JORNALISTA PROVISIONADO - Cópia autenticada (ou Original e Cópia) do Cadastro de qualificação civil da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS); Casamento (se houver alteração de nome);
- Cópia autenticada (ou Original e Cópia) de Comprovante de Residência (conta de água, luz ou telefone); - Cópia autenticada (ou Original e Cópia) do Diploma de nível médio ou superior (2º ou 3º grau); - Declaração fornecida pela empresa jornalística ou a que ela seja equiparada, da qual conste a função a ser exercida e o salário correspondente; - Declaração da entidade sindical representativa da categoria com base territorial no município de trabalho do interessado onde conste que não há jornalista associado ao sindicato, domiciliado naquele município, disponível para contratação; - Carteira de Trabalho para a anotação do registro. Atenção: Registro com caráter provisório, válido por 03 (três) anos, renovável somente mediante a apresentação de toda a documentação exigida inicialmente. DIRETOR DE EMPRESA JORNALÍSTICA - Cópia autenticada (ou Original e Cópia) do Cadastro de qualificação civil da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS); Casamento (se houver alteração de nome); - Cópia autenticada (ou Original e Cópia) de Comprovante de Residência (conta de água, luz ou telefone);
- Cópia autenticada (ou Original e Cópia) da Prova de registro civil ou comercial da empresa jornalística, com o inteiro teor de seu ato constitutivo; - Cópia autenticada (ou Original e Cópia) da Prova de depósito do título da publicação ou da agência de notícias no órgão competente do Ministério da Indústria e Comércio (Pedido de registro da marca no INPI); - 30 exemplares de jornal ou 12 exemplares de revista ou 30 recortes/cópias de notícias, com datas diferentes de divulgação; - Carteira de Trabalho para a anotação do registro. Atenção: No caso de empresa nova, o ministério fará registro provisório válido por 02 (dois) anos, tornando-se definitivo após a apresentação dos exemplares solicitados. DIRETOR DE EMPRESA NÃO JORNALÍSTICA - Cópia autenticada (ou Original e Cópia) do Cadastro de qualificação civil da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS); Casamento (se houver alteração de nome); - Cópia autenticada (ou Original e Cópia) de Comprovante de Residência (conta de água, luz ou telefone); - Cópia autenticada (ou Original e Cópia) da Prova de
depósito do título da publicação ou da agência de notícias no órgão competente do Ministério da Indústria e Comércio (Pedido de registro da marca no INPI); - Carteira de Trabalho para a anotação do registro. 7. Conclusão. Ao nosso ver, a decisão do STF não tratou do cerceamento do direito de exercício da profissão, foi uma atitude no sentido de que o Poder Legislativo tomasse uma decisão, já que nosso atual cenário é marcado por uma enorme inércia legislativa, exemplo disso é a mais nova forma de controle de constitucionalidade por meio da ADO Ação direta de Inconstitucionalidade por omissão. Logo, a decisão foi ilustre e teve um resultado positivo, que levou a atividade legislativa, por isso o nascimento das Propostas de Emendas à Constituição, que trazem soluções justa as casos, dando a oportunidade para aqueles que já obtêm o registro para continuarem a trabalhar e, também, atentando-se para a valorização do diploma após a entrada em vigor da emenda.