Fauna artrópode em estufa de produção hidropónica de morangos

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Transcrição:

Fauna artrópode em estufa de produção hidropónica de morangos Arthropod fauna in hydroponic production of strawberries Celina Santos 1,*, Cristina Amaro da Costa 1, Ricardo Petersen Silva 2 e Anabela Nave 1 1 Escola Superior Agrária de Viseu/ Instituto Politécnico de Viseu, Quinta da Alagoa Estrada de Nelas, Ranhados, 3500 606, Viseu, Portugal 2 Von Witzleben Str. 14. 40764 Langenfeld, Alemanha (*E mail: celinasantos36@hotmail.com) http://dx.doi.org/10.19084/rca16187 Recebido/received: 2016.12.22 Recebido em versão revista/received in revised form: 2017.05.18 Aceite/accepted: 2017.05.30 RESUMO A hidroponia contribui para ultrapassar constrangimentos na produtividade dos solos ou no consumo excessivo de fatores de produção, permitindo uma antecipação e prolongamento das produções, assim como uma maior rentabilidade económica. Com vista a compreender o modo como estas mudanças podem afetar os organismos vivos presentes neste ecossistema, em particular as populações de artrópodes (pragas e auxiliares) realizou se este ensaio. Efetuou se uma monitorização semanal entre março e junho de 2015, com vista a obter informação sobre a fauna artrópode presente numa estufa de produção hidropónica de morangos, em sistema superintensivo, localizada no distrito de Viseu. Por observação visual identificaram se 2391 artrópodes, distribuídos por duas classes, sete ordens e nove famílias. Através de armadilhas cromotrópicas adesivas identificaram se 6429 artrópodes distribuídos em quatro classes, 14 ordens e 174 morfoespécies. As classes representadas foram Arachnida, Entognatha, e Malacostraca, com maior abundância da classe (6271 insetos de nove ordens). Palavras chave: auxiliares, Fragaria L., monitorização, proteção integrada. ABSTRACT Hydroponics contributes to overcoming constraints on soil productivity or the excessive consumption of production factors, allowing anticipation and prolongation of production, as well as greater cost effectiveness. This assay was carried out in order to understand how these changes may affect the living organisms that exist in this ecosystem, in particular the arthropod population (pests and beneficials). A weekly monitoring was carried out between March and June 2015, in order to identify the arthropod fauna present in a hydroponic strawberry production in a superintensive system, located in Viseu district. By visual observation we were able to identify 2391 arthropods, distributed by two classes, seven orders and nine families. Through adhesive chromotropic traps, 6429 arthropods were identified, distributed in four classes, fourteen orders and 174 morpho species. The classes represented were: Arachnida, Entognata, and Malacostraca, with greater abundance of the class (6271 insects of nine orders). Keywords: beneficial arthropods, Fragaria L., monitoring, integrated protection. INTRODUÇÃO Em Portugal, o número de produtores de morango em substrato tem vindo a aumentar significativamente (Palha et al., 2013). Novas metodologias de produção em sistema superintensivo (com maiores densidades de plantação) revelam se cada vez mais atrativas devido à possibilidade de, numa mesma área, se poder instalar cerca do triplo do número de plantas do correspondente na cultura em solo (Faiões, 2013). Esta tecnologia, aliada a um conjunto de equipamentos específicos, permite criar condições favoráveis ao aumento da produção por área e à antecipação e prolongamento da época de colheita. Neste tipo de sistemas, algo artificiais, serão de prever alterações no conjunto de populações de outros seres vivos, em particular no nível Revista de Ciências Agrárias, 2017, 40(Especial): 119-124 119

das populações de artrópodes (pragas e auxiliares), o que poderá comprometer a proteção da cultura e a sua rentabilidade. Estudos realizados na cultura do morangueiro em solo, quer em sistema protegido (estufa) quer ao ar livre, mostraram que a infraclasse Acari e a ordem Thysanoptera incluem espécies que frequentemente causam prejuízos na cultura, quando não são atempadamente identificadas e controladas, como, por exemplo, as espécies Tetranychus urticae (Koch) e Frankliniella occidentalis (Pergande), respetivamente (Nunes et al., 2001). Além destas, diversas espécies das ordens Coleoptera, Lepidoptera e Hemiptera (família Aphididae) podem surgir na cultura de morango e levar à necessidade de intervenção (Palha et al., 2005; Lopes e Simões, 2006). A presença frequente de insetos das ordens Hymenoptera e Neuroptera é também relevante pois constitui um importante fator de limitação natural de algumas pragas (Aguiar et al., 2005). Além destes, a presença de alguns artrópodes da classe Arachnida e de insetos das ordens Coleoptera, Diptera, Hemiptera e Thysanoptera é também considerada como fator de limitação natural (Palha et al., 2005). Assim, considerando que o conhecimento da diversidade de artrópodes numa cultura é essencial para a definição de adequadas estratégias para a sua proteção, procedeu se à caracterização da fauna artrópode presente numa estufa de produção de morangos em substrato e sistema superintensivo. Relativamente às armadilhas cromotrópicas, colocou se, em cada bordadura longitudinal de cada cultivar da área monitorizada uma armadilha azul e uma amarela de modo a ficarem alternadas (Figura 1). Estas foram analisadas e substituídas semanalmente. MATERIAL E MÉTODOS O ensaio decorreu entre 4 de março e 3 de julho numa estufa de produção de morangos (cultivares Festival e San Andreas) em hidroponia em modo superintensivo na região de Midões, concelho de Tábua, distrito de Viseu. A monitorização foi realizada por observação visual de plantas e através da captura de artrópodes em armadilhas cromotrópicas adesivas, amarelas e azuis. Com a utilização destes dois métodos assegurou se a amostragem tanto de artrópodes ápteros como de espécies aladas (Lopes e Simões, 2006). Para observação visual das plantas recolheram se, semanalmente, 100 folhas de cada uma das cultivares num percurso em ziguezague. Figura 1 - Esquema representativo do campo de ensaio e localização das armadilhas cromotrópicas. As amostras recolhidas pelos dois métodos foram observadas à lupa binocular, registando se a presença/ausência de cada espécie/morfotipo. A identificação dos artrópodes foi feita até à ordem e, quando possível, família e espécie ou morfotipo. Para a identificação taxonómica utilizou se Barrientos (2004). Os dados relativos às observações visuais das armadilhas cromotrópicas foram analisados com recurso ao programa IBM SPSS Statistics para Windows, versão 23.0. Para identificar possíveis 120 Revista de Ciências Agrárias, 2017, 40(Especial): 119-124

relações entre cultivares, armadilhas cromotrópicas e artrópodes presentes utilizou se a análise dos componentes principais com recurso ao programa CANOCO 4.5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observação visual Através da observação visual identificaram se, no total, 2391 artrópodes distribuídos por duas classes, oito ordens e 10 famílias (Quadro 1). A ordem Prostigmata (infraclasse Acari) destacou se com 1898 capturas de organismos da família Tetranychidae, tal como se esperava, uma vez que esta ordem inclui algumas espécies que são consideradas as pragas mais importantes na cultura do morangueiro, como T. urticae (Nunes et al., 2001). Relativamente à ordem Thysanoptera, à qual pertence a espécie F. occidentalis, que é uma das pragas chave desta cultura, a sua presença foi discreta, com apenas 23 indivíduos capturados. Esse reduzido número poderá dever se ao método definido, uma vez que a observação foi feita apenas nas folhas e não incluiu a observação da coroa ou flores (locais de predileção destes organismos). Além dos referidos capturaram se 317 organismos nocivos da ordem Hemiptera (famílias Aphididae e Aleyrodidae). Da ordem Lepidoptera apenas se capturaram três exemplares. Relativamente aos organismos auxiliares, a família Phytoseiidae foi a mais abundante, o que é bastante positivo uma vez que algumas das espécies desta família são predadoras naturais de artrópodes da infraclasse Acari (Oliveira et al., 2014). A família Chrysopidae (predadores polífagos) surgiu, também, com significado o que pode constituir um importante contributo para a limitação natural de artrópodes das ordens Hemiptera e Prostigmata, entre outros (Coutinho, 2007). Utilizando o método da análise de componentes principais, não se verificou relação significativa entre cada uma das cultivares e os artrópodes identificados. Armadilhas cromotrópicas Através das capturas em armadilhas cromotrópicas, identificaram se, no total, 6436 artrópodes distribuídos por 174 morfoespécies, 14 ordens e quatro classes (Quadro 2). As classes representadas foram Arachnida (subfilo Chelicerata), Entognatha e (subfilo Hexapoda) e Malacostraca (subfilo Crustacea). A que evidenciou um maior número de capturas foi a com um total de 6284 indivíduos distribuídos por 9 ordens diferentes. A ordem Hymenoptera destacou se pelo número de morfotipos identificados. Em número de capturas salientou se a ordem Thysanoptera. Tal como na observação visual, recorrendo à análise dos componentes principais, não se verificou de forma significativa qualquer relação entre cada uma das cultivares e os artrópodes capturados. Relativamente à atratividade da cor das armadilhas cromotrópicas usadas para os grupos da classe capturados verificou se, pela análise de componentes principais, que a Quadro 1 - Pragas e organismos auxiliares identificados pelo método de recolha e observação visual de folhas em laboratório, por grupo taxonómico e funcional Grupo Classe Ordem Famílias Nº Total de capturas Arachnida Prostigmata Tetranychidae 1898 Pragas Aphididae Hemiptera 317 Aleyrodidae Lepidoptera 3 Thysanoptera Thripidae 23 Arachnida Mesostigmata Phytoseiidae 77 Coleoptera Coccinellidae 2 Organismos Auxiliares Syrphidae 16 Diptera Cecidomyiidae 16 Neuroptera Chrysopidae 39 Santos et al., Artrópodes em estufa de morangueiros em hidroponia 121

Quadro 2 - Artrópodes capturados pelo método das armadilhas cromotrópicas Classe Ordem Nº famílias Nº de morfotipos Total de capturas Prostigmata 1 1 137 Arachnida Araneae 10 10 18 Opiliones 1 1 1 Entognatha Collembola 1 1 1 Coleoptera 20 32 109 Hemiptera 10 26 637 Diptera 0 33 629 Hymenoptera 0 51 266 Lepidoptera 4 4 7 Neuroptera 2 2 18 Psocoptera 1 1 81 Raphidioptera 1 1 1 Thysanoptera 10 10 4523 Melacostraca Isopoda 1 1 1 Quadro 3 - Insetos, n.º de morfotipos e n.º de capturas catalogados, por cor de armadilha adesivas. Valores médios obtidos em 34 amostras (17 datas de amostragem x 2 cultivares) Ordens da Classe Média de capturas Probabilidade Amarela Azul (p) Coleoptera (1) 2,15 1,06 n.s. Diptera (1) 10,85 7,65 n.s. Hemiptera (1) 16,29 2,44 0,01 Hymenoptera (2) 5,41 2,41 0,01 Lepidoptera (1) 0,09 0,12 n.s. Neuroptera (1) 0,18 0,35 n.s. Quadro 4 - Número de capturas de artrópodes da classe em cada uma das cores de armadilha adesivas utilizadas Azul Amarela Coleoptera 36 73 Diptera 260 369 Hemiptera 83 554 Hymenoptera 82 184 Lepidoptera 4 3 Neuroptera 12 6 Psocoptera 34 47 Raphidioptera 1 0 Thysanoptera 1666 2857 Psocoptera (1) 1,38 1 n.s. Raphidioptera (1) 0,03 Constante n.s. Thysanoptera (2) 84,03 49 n.s. n_morfotipos (1) 5,29 5,02 n.s. n_capturas (2) 122 67,09 0,048 (1) valores obtidos através do teste Kruskal-Wallis (α=0.05) (2) valores obtidos através do teste ANOVA (α=0.05) n.s. Não significativo (p>0.05) ; p = nível de significância 122 Revista de Ciências Agrárias, 2017, 40(Especial): 119-124

ordem Hemiptera (p=0,002) está positiva e significativamente relacionada com a as armadilhas amarelas (Figura 2, Quadro 3 e Quadro 4). Foram capturados 83 artrópodes da ordem Hemiptera na armadilha cromotrópica azul (49 da família Aphididae e oito da família Aleyrodidae) e 554 na amarela (183 da família Aphididae e 289 da família Aleyrodidae). Relativamente à ordem Hymenoptera também se observou uma relação positiva e significativa entre o número de capturas e a cor amarela (p=0,01). Da ordem Thysanoptera foram capturados organismos de 10 famílias diferentes e apenas se identificou Aeolothripidae. Nas armadilhas amarelas foram capturados 2857 artrópodes da ordem Thysanoptera, sendo que 195 pertenciam à família Aeolothripidae (a qual inclui tripes predadores de tripes, ácaros e outros artrópodes) e 2662 às restantes famílias. Nas armadilhas azuis foram capturados 1666 artrópodes da ordem Thysanoptera, sendo que 548 pertenciam à família Aeolothripidae e 1118 às restantes famílias. Relativamente aos auxiliares, além dos já referidos Aelothripidae da ordem Thysanoptera com um total de 743 indivíduos capturados, capturaram se: da ordem Coleoptera, seis Coccinellidae e cinco Staphylinidae; da ordem Diptera, 535 espécimenes da família Cecidomyiidae; da ordem Neuroptera, 17 artrópodes da família Chrysopidae; da ordem Hemiptera, seis da família Anthocoridae e da ordem Hymenoptera capturaram se 273 organismos dum total de 51 morfotipos diferentes. Apesar da dificuldade em encontrar resultados comparáveis para estas culturas em modos de produção específicos, os dados obtidos neste ensaio estão de acordo com o obtido por Jorge (2014), num estudo feito em cultura em solo e ao ar livre, onde foram encontrados 16 artrópodes da família Cecidomyiidae, seis da família Coccinellidae, 925 da ordem Thysanoptera e dois artrópodes da família Chrysopidae. CONCLUSÕES Os dados recolhidos são um contributo para o conhecimento da diversidade de artrópodes na cultura do morangueiro em hidroponia em modo superintensivo. As pragas mais abundantes, pertencentes à infraclasse Acari e ordem Thysanoptera, são semelhantes ao que se observa na cultura em solo em sistema não intensivo (em estufa e ao ar livre). Também relativamente aos auxiliares não se verificou diferenças entre o sistema superintensivo protegido e o sistema não intensivo (protegido e em ar livre). Do ponto de vista da diversidade de espécies (maior número de morfotipos identificados), as ordens Hymenoptera, Diptera, Coleoptera e Hemiptera foram as mais expressivas. Figura 2 - Resultados da análise dos componentes principais entre a cor da armadilha adesiva e o número de insetos capturados. Em termos de presença mais significativa destaca ram se, como pragas, os organismos das ordens Prostigmata (família Tetranychidae) e Thysanoptera. Como auxiliares, as ordens Thysanoptera (família Aelothripidae) e Diptera (família Cecidomyiidae) foram as que se salientaram. Destacam se ainda os efeitos de atratividade das armadilhas cromotrópicas amarelas para as espécies capturas das famílias Hymenoptera e Hemiptera. Santos et al., Artrópodes em estufa de morangueiros em hidroponia 123

AGRADECIMENTOS Ao Sr. Luís Pinto, proprietário da exploração, por permitir a realização deste estudo na sua propriedade e à empresa Biosani Lda. Agricultura Biológica e Protecção Integrada, pelo fornecimento das armadilhas cromotrópicas de monitorização. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aguiar, A.; Godinho, M.C. & Costa, C.A. (2005) Produção Integrada. Sociedade Portuguesa de Inovação, Porto, p. 41 61. Coutinho, C. (2007) Artrópodes Auxiliares na Agricultura. Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, Mirandela. 129 p. Barrientos, J.A. (2004) Curso práctico de entomología. Univ. Autònoma de Barcelona, Barcelona, 947 p. Faiões, D. (2013) Ter 200 mil plantas por hectare em vez de 60 mil é uma diferença muito grande. Agrotec, Caderno Pequenos Frutos, n. 2, p. 2 4. Jorge, F. (2014) Estudo e acompanhamento da cultura do morango na empresa Valmarques Sociedade Agro Pecuária, Lda Fitopatologia e Entomologia. Relatório de Estágio Profissionalizante para obtenção do Grau de Mestre em Agro Pecuária. Escola Superior Agrária, Instituto Politécnico de Coimbra, Coimbra, 47 p. Lopes, A. & Simões, A.M. (2006) Produção Integrada em Hortícolas Família das rosáceas Morangueiro. Direção Geral de Proteção das Culturas, Oeiras. 99 p. Nunes, A.P.; Maurício, A. & Almeida, M.L. (2001) A produção de morango em estufa no oeste em proteção integrada. In: Actas do 1.º Colóquio Nacional da Produção de Morangos e Outros Pequenos Frutos. Oeiras, p. 91 95. Oliveira, A.B.; Barata, A.; Prates, A.; Mendes, F.; Bento, F. & Cavaco, M. (2014) Proteção Integrada das Culturas. Ministério da Agricultura e do Mar, Direção Geral de Alimentação e Veterinária, Lisboa. Volume 1, p. 37 47. Palha, M.; Mexia, A.; Nunes, A.; Cecilio, A.; Mateus, C.; Andrade, C.S. & Curado, T. (2005) Manual do Morangueiro. Projeto PO AGRO DE&D n.º 193: Tecnologias de produção integrada no morangueiro visando a expansão da cultura e a reconquista do mercado. INIAP/EAN, Santarém, 128 p. Palha, M.; Campo, J.C.; Sousa, M.B.; Ramos, A.C.; Serrano, M.C. & Almeida, L.H. (2013) Comparação de dois sistemas de produção de morango, em substrato e em solo, tendo em vista a obtenção de frutos no outono. In: VII Congreso Ibérico de Agroingeniería y Ciencias Hortícolas: Innovar y Producir para el Futuro. Madrid, p. 871 876. 124 Revista de Ciências Agrárias, 2017, 40(Especial): 119-124