SISTEMA ENERGÉTICO PORTUGUÊS (ELETRICIDADE E GÁS NATURAL) Contexto Regulamentar O enquadramento legal decorre da implementação do designado "Terceiro Pacote Energético", da União Europeia, do qual fazem parte a Diretiva 2009/72/CE e o Regulamento (CE) 714/2009 para o setor elétrico e a Diretiva 2009/73/CE e o Regulamento (CE) 715/2009 para o setor do gás natural. O "Terceiro Pacote Energético" tem como principais objetivos o aumento da concorrência, a existência de uma regulamentação eficaz e o incentivo ao investimento em benefício dos consumidores e estabelece medidas que visam a consolidação de um mercado que funcione em benefício de todos os consumidores, independentemente da sua dimensão e que garanta ao mesmo tempo o fornecimento de energia mais seguro, competitivo e sustentável na União Europeia. A transposição das mencionadas Diretivas para o ordenamento jurídico português teve início em 2011, com a publicação dos Decretos-Lei n.º 77/2011 para o setor do gás natural e n.º 78/2011 para o setor da eletricidade, ambos de 20 de junho. Os Decretos- Lei n.º 215-A/2012 e n.º 215-B/2012, ambos de 8 de Outubro, completaram a transposição da Diretiva 2009/72/CE, 13 de julho, que estabelece as regras comuns para o mercado interno de eletricidade. A responsabilidade pela regulamentação do sector energético em Portugal está atualmente cometida à DGEG, à ERSE e à Autoridade da Concorrência.
O Setor Elétrico Atualmente a eletricidade é produzida com recurso a diferentes tecnologias e a diferentes fontes primárias de energia (carvão, gás natural, fuel, gasóleo, água, vento, sol, biomassa, resíduos). Em Portugal continental o número de produtores tem aumentado significativamente, uma vez que além das antigas centrais térmicas e hídricas de grande dimensão, têm surgido muitas outras de menor potência, no âmbito da cogeração ou da produção de origem renovável. A REN - Redes Energéticas Nacionais opera a Rede Nacional de Transporte (RNT) (Muito Alta Tensão) que liga os produtores aos centros de consumo assegurando o equilíbrio entre a procura e a oferta de energia, sendo a única entidade de transporte de eletricidade em Portugal, no âmbito de um contrato de concessão estabelecido com o Estado Português. Os pontos de entrega da RNT permitem alimentar a rede de distribuição em Alta Tensão e Média Tensão, EDP Distribuição no âmbito de um contrato de concessão estabelecido com o Estado Português. A rede de distribuição de Baixa Tensão é operada pela EDP Distribuição, no âmbito de contratos de concessão com os Municípios. As empresas de comercialização de eletricidade são responsáveis pela gestão das relações com os consumidores finais, incluindo a faturação e o serviço ao cliente. PRODUCÃO A produção de eletricidade está aberta à concorrência e tem dois regimes legais: (i) produção em regime ordinário (PRO), relativa à produção de eletricidade com base em fontes tradicionais não renováveis e em grandes centros eletroprodutores hídricos, e (ii) produção em regime especial (PRE), relativa à cogeração e à produção elétrica a partir da utilização de fontes de energia renováveis.
TRANSPORTE A atividade de transporte de eletricidade, em muito alta tensão (150, 220 e 400 kv), é efetuada através da RNT, mediante uma concessão atribuída pelo Estado Português, em regime de serviço público e de exclusividade à REN - Redes Energéticas Nacionais. A concessão inclui o planeamento, a construção, a operação e a manutenção da RNT, abrangendo ainda o planeamento e a gestão técnica global do Sistema Eléctrico Nacional para assegurar o funcionamento harmonizado das infra-estruturas que o integram, assim como a continuidade de serviço e a segurança do abastecimento de eletricidade. DISTRIBUIÇÃO A distribuição de eletricidade processa-se através da exploração da Rede Nacional de Distribuição (RND) constituída por infraestruturas de alta, média e baixa tensão no âmbito de um contrato de concessão estabelecido com o Estado Português.. As redes de
distribuição de baixa tensão são operadas no âmbito de contratos de concessão estabelecidos entre os municípios e os distribuidores. MERCADOS E COMERCIALIZAÇÃO Os mercados organizados de eletricidade operam em regime livre e estão sujeitos a autorizações concedidas pelo Estado Português. Os produtores em regime ordinário, os comercializadores e os produtores em regime especial que o desejem, podem tornar-se agentes do mercado. Os comercializadores podem comprar e vender eletricidade livremente e têm o direito de aceder às redes de transporte e de distribuição mediante o pagamento de tarifas de acesso estabelecidas pela Entidade Reguladora - ERSE. Estão sujeitos a obrigações de serviço público no que respeita à qualidade, ao abastecimento contínuo de eletricidade e devem disponibilizar aos seus clientes acesso à informação de forma simples e compreensível. CONSUMO Os consumidores são a razão de ser de todo este complexo sistema. Em Portugal Continental existem quase 6,2 milhões de consumidores, sendo a sua esmagadora maioria em Baixa Tensão, 23 mil em Média Tensão e mais de 300 em Alta e Muito Alta Tensão, que em 2012 consumiram 49 TWh. Com a abertura do mercado de eletricidade em Portugal, os consumidores que o desejem podem já hoje escolher livremente o seu comercializador de energia elétrica.
O Setor do Gás Natural Todo o gás natural consumido em Portugal é originário de países terceiros, sendo uma parte recebida por gasoduto de alta pressão, outra parte por via marítima (sob a forma de gás natural liquefeito - GNL). A REN Gasodutos opera a Rede Nacional de Transporte de Gás Natural (RNTGN) que recebe o gás natural na fronteira espanhola, na saída das instalações de armazenagem (REN Armazenagem) ou no terminal de regaseificação (REN Atlântico) e o entrega aos distribuidores ou aos clientes finais de alta pressão. A REN Gasodutos detém a concessão para o transporte de gás natural em alta pressão, que inclui a gestão técnica global do Sistema Nacional de Gás Natural através da qual assegura a coordenação do funcionamento das infraestruturas de distribuição e transporte de gás natural que garantem a continuidade e a segurança do abastecimento, sendo também responsável pelas propostas de desenvolvimento do Sistema Nacional de Gás Natural. As atividades de receção, de armazenamento e regaseificação de GNL, de armazenamento subterrâneo de gás natural e de transporte de gás natural são realizadas ao abrigo de contratos de concessão (de 40 anos) estabelecidos com o Estado Português. Mais especificamente, a REN Atlântico detém a concessão para a receção, armazenamento e regaseificação de GNL no terminal de GNL de Sines e a REN Armazenagem detém uma concessão de armazenamento subterrâneo de gás natural situada no Concelho de Pombal (sítio do Carriço). À semelhança do que se passa no sistema elétrico, a atividade de comercialização de gás natural e a gestão dos mercados organizados estão abertos à concorrência. PRODUÇÃO O gasoduto está interligado à rede Espanhola/Europeia de onde recebe gás natural sob a forma gasosa, em alta pressão. Nas instalações do terminal de Sines o gás natural é recebido sob a forma líquida (GNL) a partir de navios adequados (metaneiros) e bombeado para os tanques de armazenamento intermédio.
TRANSPORTE, ARMAZENAMENTO E REGASEIFICAÇÃO O gás natural é rececionado na fronteira e transportado através dos gasodutos de alta pressão da Rede Nacional de Transporte de Gás Natural (RNTGN) que se ligam, através de estações de medição e redução de pressão, aos gasodutos de média pressão operados pelas empresas de distribuição. Nas instalações de armazenamento subterrâneo (Concelho de Pombal) o gás natural em alta pressão é armazenado sob a forma gasosa em cavidades criadas no interior de um maciço salino, a profundidades superiores a mil metros. No terminal de Sines o gás é recebido sob a forma líquida (GNL). Após o descarregamento dos navios metaneiros o GNL é enviado para tanques de armazenamento intermédio onde aguarda até que haja ordem de regaseificação emitida pelo proprietário do gás. No final deste processo o gás natural (já sob a forma gasosa) é comprimido e injetado na rede de alta pressão no ponto de entrega do terminal. O armazenamento (sob a forma gasosa ou líquida) cumpre funções de segurança de abastecimento e de flexibilidade para os agentes de mercado e consumidores. DISTRIBUIÇÃO A distribuição de gás natural através de gasodutos de média e baixa pressão é realizada ao abrigo de concessões e licenças concedidas pelo Estado Português. O gás natural proveniente dos gasodutos de alta pressão da RNTGN é transferido para os ramais de média pressão através de estações de regulação e medida, sendo esses gasodutos e as redes de baixa pressão que deles derivam pertencente a empresas de distribuição que entregam o gás natural aos clientes finais MERCADOS E COMERCIALIZAÇÃO Os mercados de gás natural são operados numa base de mercado aberto, estando sujeitos a autorização concedida pelo Estado Português.
A venda de gás natural aos consumidores finais é feita pelos comercializadores, que podem comprar e vender livremente o gás natural no mercado aberto ou através de contratos bilaterais. CONSUMO Os consumidores são a razão de ser de todo este complexo sistema. Em Portugal Continental existem mais de 1,3 milhões de consumidores, sendo a sua esmagadora maioria em baixa pressão, 279 em média pressão e 21 em alta pressão, que em 2011 consumiram mais de 57 TWh, o que corresponde a cerca de 4,7 milhares de milhões de metros cúbicos. Com a abertura do mercado de gás natural em Portugal, os consumidores que o desejem podem já hoje escolher livremente o seu comercializador de gás natural.