Efeito da vaporização no poder calorífico de Eucalyptus grandis



Documentos relacionados
DETERMINAÇÃO DO TEOR DE UMIDADE E DENSIDADE BÁSICA PARA ESPÉCIES DE PINUS E EUCALIPTO

Qualidade da Secagem de Eucalyptus grandis Mediante Vaporização Simultânea em Toros e em Madeira Serrada

14 COMBUSTÍVEIS E TEMPERATURA DE CHAMA

UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA FLORESTAL

APROVEITAMENTO DA BIOMASSA RESIDUAL DE COLHEITA FLORESTAL

EFETIVIDADE DO PODER CALORÍFICO DE DOIS TIPOS DISTINTOS DE BIOMASSA UTILIZADA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA

Madeira e Água. Que ligação!

CAPACIDADE TÉRMICA E CALOR ESPECÍFICO 612EE T E O R I A 1 O QUE É TEMPERATURA?

CARACTERIZAÇÃO ENERGÉTICA DO Eucalyptus benthamii Maiden et Cambage

CORRELAÇÃO ENTRE CARACTERÍSTICAS DA BIOMASSA PARA GERAÇÃO DE VAPOR EM UMA CALDEIRA

Armazenamento de energia

EFEITO DO CORTE NAS PROPRIEDADES MAGNÉTICAS DE AÇOS ELÉTRICOS M. Emura 1, F.J.G. Landgraf 1, W. Rossi 2, J. Barreta 2

C = Conicidade (cm/m); d 1. d 3 L V

USO DE BIOMASSA NA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA NA INDÚSTRIA DE CELULOSE

OBJETIVOS: CARGA HORÁRIA MÍNIMA CRONOGRAMA:

Redução do efeito das tensões de crescimento em toras de Eucalyptus dunnii. Reduction of growth stress effects in the logs of Eucalyptus dunnii

Tecnologia de Produção de Biomassa Energética. Capítulo 2 Florestas Energéticas

Aspectos Tecnológicos das Fontes de Energia Renováveis (Biomassa)

FÍSICA. Calor é a transferência de energia térmica entre corpos com temperaturas diferentes.

SÉRIE: 2º ano EM Exercícios de recuperação final DATA / / DISCIPLINA: QUÍMICA PROFESSOR: FLÁVIO QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA


AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DE UM MICROCONTROLADOR NA PLATAFORMA ARDUINO NA LEITURA DE SENSORES ELÉTRICOS PARA CORRELAÇÃO COM ATRIBUTOS DO SOLO.

Introdução. Muitas reações ocorrem completamente e de forma irreversível como por exemplo a reação da queima de um papel ou palito de fósforo.

SECAGEM DE SERRADOS E LÂMINAS DE MADEIRA

AVALIAÇÃO DA SECAGEM EM ESTUFA SOLAR DE MADEIRAS DE Eucalyptus dunnii Maiden E Pinus elliottii Engelm.

TRATAMENTO DE MADEIRA NA PROPRIEDADE RURAL

DESENVOLVIMENTO E APLICAÇÕES DE SOFTWARE PARA ANÁLISE DO ESPECTRO SOLAR

Física 2ª série Ensino Médio v. 2

SECAGEM DE GRÃOS. Disciplina: Armazenamento de Grãos

REDUÇÃO DA ATIVIDADE DE ÁGUA EM MAÇÃS FUJI COMERCIAL E INDUSTRIAL OSMO-DESIDRATADAS

JUSTIFICATIVAS PROPOSTA de LIMITES DE EMISSÕES FONTES EXISTENTES REFINARIAS

4ª aula Compressores (complemento) e Sistemas de Tratamento do Ar Comprimido

RESULTADOS E DISCUSSÃO

LUPATECH S.A Unidade Metalúrgica Ipê

QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA FLORESTAL DE PINUS ELLIOTTII COM SEIS ANOS DE IDADE, EM AUGUSTO PESTANA/RS 1

MÁQUINAS TÉRMICAS AT-101

Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica

O H.D.B. NÃO é briquete. O H.D.B. é MADEIRA DENSIFICADA.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA LUIZ DE QUEIROZ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FLORESTAIS LCF-1581

Quantidade de calor, calorimetria e mudanças de fase

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Gabarito. Construindo no presente um futuro melhor. Unidade 2

FONTES E DOSES DE RESÍDUOS ORGÂNICOS NA RECUPERAÇÃO DE SOLO DEGRADADO SOB PASTAGENS DE Brachiaria brizantha cv. MARANDÚ

Atividade Complementar Plano de Estudo

Melhoramento Tecnológico por Modificação Térmica de Madeiras Portuguesas. Politécnico, VISEU.

MODELAGEM MATEMÁTICA DA ABSORÇÃO DE ÁGUA EM SEMENTES DE FEIJÃO DURANTE O PROCESSAMENTO DE ENLATADOS.

Palavras-chave: Balanço de energia, balanço econômico, poder calorífico.

CALORIMETRIA - TEORIA

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO OPERACIONAL DE UM EQUIPAMENTO ITINERANTE PARA DESCASCAMENTO DE FRUTOS DE MAMONA DA CULTIVAR BRS PARAGUAÇU

ENTECA 2003 IV ENCONTRO TECNOLÓGICO DA ENGENHARIA CIVIL E ARQUITETURA

A IMPORTÂNCIA DA VERIFICAÇÃO DAS SONDAS NA SECAGEM INDUSTRIAL DE MADEIRA

CÁLCULO DO RENDIMENTO DE UM GERADOR DE VAPOR

IX Congresso Brasileiro de Análise Térmica e Calorimetria 09 a 12 de novembro de 2014 Serra Negra SP - Brasil

EFICIÊNCIA DO LEITO DE DRENAGEM PARA DESAGUAMENTO DE LODO DE ETA QUE UTILIZA SULFATO DE ALUMÍNIO COMO COAGULANTE

DESINFICAÇÃO DE BIOMASSA FLORESTAL

Potencial de Geração de Energia Utilizando Biomassa de Resíduos no Estado do Pará

TIJOLOS CRUS COM SOLO ESTABILIZADO

A INFLUÊNCIA DO SISTEMA DE VÁCUO NAS PROPRIEDADES FÍSICAS DOS PRODUTOS DE CERÂMICA VERMELHA.

FICHA TÉCNICA - MASSA LEVE -

DETERMINAÇÃO DO CALOR ESPECÍFICO DE AMOSTRAS DE METAIS E ÁGUA

Influência do tempo e temperatura de retificação térmica na umidade de equilíbrio da madeira de Eucalyptus grandis Hill ex Maiden

Faculdade de Tecnologia, Universidade de Brasília, Brasília-DF.

COMPORTAMENTO TÉRMICO DA CONSTRUÇÃO

CA 6 - Apropriar-se de conhecimentos da Física para, em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científico-tecnológicas.

TTT VI Conferência Brasileira sobre Temas de Tratamento Térmico 17 a 20 de Junho de 2012, Atibaia, SP, Brasil

ABSORÇÃO DE MICRONUTRIENTES APÓS APLICAÇÃO DE BIOSSÓLIDO NO DESENVOLVIMENTO INICIAL DE EUCALIPTO

INVENTÁRIO DE RESÍDUOS FLORESTAIS

Prof. Eduardo Loureiro, DSc.

RESUMO SUMMARY 1. INTRODUÇÃO

Termodinâmica Química Lista 2: 1 a Lei da Termodinâmica. Resolução comentada de exercícios selecionados

MANUAL PRÁTICO DE AVALIAÇÃO E CONTROLE DE CALOR PPRA

ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA NA CARACTERIZAÇÃO DE CARBONO HIDROTÉRMICO

1. DETERMINAÇÃO DE UMIDADE PELO MÉTODO DO AQUECIMENTO DIRETO- TÉCNICA GRAVIMÉTRICA COM EMPREGO DO CALOR

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

6 colectores solares térmicos ÍNDICE

CALORIMETRIA, MUDANÇA DE FASE E TROCA DE CALOR Lista de Exercícios com Gabarito e Soluções Comentadas

Palavras-chave: Índice de acidez; óleo vegetal; fritura.

Determinação da condutividade térmica do Cobre

EFEITO DA UTILIZAÇÃO DE PRÓBIÓTICOS EM DIETAS PARA BOVINOS NELORE TERMINADOS EM CONFINAMENTO INTRODUÇÃO

CARACTERÍSTICAS DE ALGUMAS BIOMASSAS USADAS NA GERAÇÃO DE ENERGIA NO SUL DO BRASIL 1

2 Materiais e Métodos

Valorização dos resíduos de biomassa. Produção de energia renovável (elétrica e térmica).

Limites de emissão para poluentes atmosféricos gerados em processos de geração de calor a partir da combustão de derivados da madeira.

ELOBiomass.com. Como Comprar a Energia da Biomassa Lignocelulósica!

Qualificação de Procedimentos

DESEMPENHO DE MUDAS CHRYSOPOGON ZIZANIOIDES (VETIVER) EM SUBSTRATO DE ESTÉRIL E DE REJEITO DA MINERAÇÃO DE MINÉRIO DE FERRO

biomassa florestal calor, aquecimento e água quente

PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DE FLORESTAS TROPICAIS-PG-CFT INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA-INPA. 09/abril de 2014

EXERCÍCIOS DE CIÊNCIAS (6 ANO)

CURSO DE AQUITETURA E URBANISMO

Avaliação Quantitativa de Biomassa Florestal Queimada

B) (até três pontos) Para os pares de espécies apresentados em i, ii e iii, tem-se, respectivamente, Al +, F - e Li.

Agricultura de Baixo Carbono e Bioenergia. Heitor Cantarella FAPESP: Programa BIOEN & Instituto Agronômico de Campinas(IAC)

Nesse sistema de aquecimento,

Utilização do óleo vegetal em motores diesel

DZ-1314.R-0 - DIRETRIZ PARA LICENCIAMENTO DE PROCESSOS DE DESTRUIÇÃO TÉRMICA DE RESÍDUOS

ENERGIA SOLAR NO AQUECIMENTO DA ÁGUA

1. Difusão. A difusão só ocorre quando houver gradiente de: Concentração; Potencial; Pressão.

ENSAIOS FÍSICO-QUÍMICOS PARA O TRATAMENTO DOS EFLUENTES DO TRANSPORTE HIDRÁULICO DAS CINZAS PESADAS DA USINA TERMELÉTRICA CHARQUEADAS

Transcrição:

Efeito da vaporização no poder calorífico de Eucalyptus grandis Fred Willians Calonego 1, Elias Taylor Durgante Severo 2, Marcus Vinicius de Assis Perrechil 3, Marcos Antonio de Rezende 4, João Vicente de Figueiredo Latorraca 5 Universidade Estadual Paulista, Fazenda Experimental Lageado, CEP 18603-970, Botucatu (SP), fwcalonego@ig.com.br 1 Departamento de Recursos Naturais, Universidade Estadual Paulista, Fazenda Experimental Lageado, CEP 18603-970, Botucatu (SP) 2 Universidade Estadual Paulista, Fazenda Experimental Lageado, CEP 18603-970, Botucatu (SP) 3 Departamento de Física e Biofísica, Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, CEP 18618-000, Botucatu (SP) 4 Departamento de Produtos Florestal, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Florestas, CEP 23890-000, Seropédia (RJ) 5 Recebido em 20 de Outubro de 2005 Resumo O presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito da vaporização de toras no poder calorífico de Eucalyptus grandis. Para tanto, foram retirados madeira e casca dos topos das toras, antes e depois do processo de vaporização à 90ºC de temperatura durante 18horas. Posteriormente, determinou-se o poder calorífico superior da madeira e da casca pelo método da bomba calorimétrica. Os resultados mostraram que: (1) a vaporização reduziu o poder calorífico superior da madeira de 4752,54 para 4641,55Kcal/ Kg, porém sem prejudicar o potencial de combustão da espécie; e (2) o poder calorífico superior da casca sem tratamento e da vaporizada são iguais estatisticamente e na ordem de 3877,32 e 3862,79Kcal/ Kg. Palavras-chaves: Vaporização, Poder calorífico superior, Eucalyptus grandis. Effect of steaming on the calorífic value of Eucalyptus grandis Abstract The present study has in aim the evaluate the effect of log steaming on calorific value from Eucalyptus grandis. The wood and bark of the log end and bark were removed bark both before and after the steaming process at 90ºC of temperature during 18 hour. After, to determined the calorific value of wood and bark for calorific method. The results showed that: (1) the log s steaming reduced significantly the wood calorific value of 4752,54 to 4641,55 Kcal/Kg but don t damaged the burn potential; and (2) the bark calorific value were 3877,32 and 3862,79Kcal/Kg, respective from conhol and steamed barks wi wout significant difference. Key word: Steaming, Calorific value, Eucalyptus grandis. 30 V.12, n.1, p. 30-35, 2005

Introdução A vaporização da madeira é justificada por várias razões, entre elas destacam-se: esterilização da madeira, escurecimento em algumas espécies, liberação das tensões de crescimento e de secagem, recuperação do colapso, aumento da estabilidade dimensional e da permeabilidade e redução do gradiente de umidade e do tempo de secagem (Mackay, 1971; Simpson, 1975; 1976; Weik et al., 1984). O tratamento térmico por vaporização tem demonstrado, também, ser uma técnica viável para melhorar a qualidade do desdobro e da secagem da madeira de Eucalyptus (Calonego, 2004; Severo, 2000, 2004; Severo & Tomaselli, 2000). Skolmen (1967), demonstrou que o emprego da vaporização reduziu as tensões de crescimento em 50% em toras de Eucalyptus saligna após um tratamento de 24 horas em água quente. Em estudo semelhante, Severo & Tomaselli (2000) concluíram que a vaporização de toras de Eucalyptus dunni a 100ºC de temperatura durante 20 horas proporcionou uma redução significativa nas tensões de crescimento na ordem de 50% do comprimento e largura das rachaduras e da abertura das tábuas em relação às toras. Severo & Tomaselli (2000), também observaram que a vaporização da madeira demonstrou ser efetiva na redução do teor de umidade inicial, gradiente de umidade e no aumento da taxa de secagem desta espécie. Chafe (1990) & Severo (2000) estudando a aplicação de vapor preliminar à secagem convencional respectivamente em Eucalyptus regnans e em Eucalyptus dunnii recomendam a utilização desta técnica para reduzir a incidência de defeitos de secagem, principalmente o colapso. Segundo Severo (2004), a pré-vaporização em madeira serrada de Eucalyptus grandis reduziu a incidência de defeitos durante a secagem. Para o autor, nenhuma das tábuas pré-vaporizadas e 25,0% delas apresentaram, respectivamente, rachaduras e colapso classificados como fortes. Nas tábuas controle o índice dos mesmos defeitos foi de 11,4 e de 40,9%. De forma semelhante, Calonego (2004) estudando o efeito da vaporização de toras na secagem de Eucalyptus grandis concluiu que o tratamento minimizou a ocorrência de todos os defeitos de secagem. Embora um grande número de benefícios seja conferido à madeira devido ao tratamento de vaporização, Stamm (1956), Haygreen & Bowyer (1996), Forest Products Laboratory (1999), Homan et al. (2000) e Waskett & Selmes (2001) citam que o aquecimento da madeira em altas temperaturas ocasionam degradação de alguns de seus componentes químicos. Fengel & Wegener (1984) afirmam que a ausência da cristalinidade, baixa massa molecular e configuração irregular e ramificada facilita a absorção de água e conseqüente degradação das hemiceluloses. Os autores, ainda, afirmam que a lignina é mais estável que as hemiceluloses e a celulose e suas cadeias são quebradas entre 150 e 300ºC de temperatura. Homan et. al (2000) e Waskett e Selmes (2001) afirmam que durante o tratamento térmico ocorre a liberação de acido acético das hemiceluloses, os quais catalisam a reação do carboidrato e reduz o seu grau de polimerização e promovem a produção de monômeros de furfural. Em alta umidade relativa, a madeira é degradada por hidrólise ácida que é muito dependente do ph e, se a concentração do ácido for alta, sua velocidade torna-se apreciável mesmo em temperaturas inferiores a 100ºC (Fengel e Wegener, 1984). A degradação da madeira também apresenta comportamento diferenciado conforme o meio de aquecimento utilizado. Segundo Forest Products Laboratory (1999), essa degradação depende de alguns fatores como o teor de umidade, aquecimento médio, temperatura e tempo de exposição. Para Stamm (1956), a degradação térmica da madeira é muito maior na presença de vapor do que em condições de aquecimento pelo simples aumento da temperatura. Como a degradação térmica altera a composição química da madeira, conseqüentemente ocorre alteração na quantidade de energia liberada pela queima do material ligno-celulósico (Fengel & Wegener, 1984; Haygreen & Bowyer, 1996). A quantidade de energia liberada pelo material combustível durante sua combustão é definida como poder calorífico. Sua unidade de medida é quilocalorias (Kcal) por quilo (Kg) ou calorias (cal) por grama (g) de combustível (Brito, 1986, 1993; Rezende, 1984). V.12, n.1, p. 30-35, 2005 31

O poder calorífico pode ser apresentado como poder calorífico superior (PCS) e poder calorífico inferior (PCI) dependendo se o calor gerado pela condensação da água de constituição do combustível é ou não considerado (Haygreen & Bowyer, 1996). Brito (1993) afirma que os valores de PCS encontrados para madeiras podem variar entre 3500 e 5000 Kcal/Kg. Rezende (1984), em seu estudo de caracterização da biomassa de Eucalyptus grandis, verificou que para essa espécie o poder calorífico superior apresenta-se na ordem de 4805Kcal/Kg. Carvalho & Nahuz (2001), estudando a madeira do híbrido Eucalyptus grandis x urophylla demonstraram que o poder calorífico superior é igual à 4423,75Kcal/Kg. Jara (1989) determinou o poder calorífico superior para a madeira e para a casca de Eucalyptus grandis e encontrou respectivamente os valores de 4790 e 3822Kcal/Kg. De forma semelhante Vale et al. (2000) encontrou valor na ordem de 4641 Kcal/ Kg para o poder calorífico superior da madeira de E. grandis. Portanto, considerando que as vaporizações são técnicas que proporcionam inúmeros benefícios, tais como: melhora na qualidade do desdobro e da secagem de eucalipto e pouco se sabe sobre o efeito da técnica no poder calorífico superior do material, o presente estudo teve por objetivo avaliar o efeito da vaporização de toras no poder calorífico superior de Eucalyptus grandis. Material e métodos Coleta do material Para realização do estudo foram utilizadas madeira e casca dos resíduos de toras de Eucalyptus grandis, provenientes da Fazenda Experimental Lageado, pertencente à Faculdade de Ciências Agronômicas, Campus da UNESP, localizada no município de Botucatu-SP. A coleta do material envolveu a derrubada, ao acaso, de 3 (três) árvores de Eucalyptus grandis com diâmetro médio entre 20 e 22cm. Amostragem e vaporização das toras Dos topos das toras foram retirados discos, de 5cm de espessura, denominados controle. Posteriormente, as toras com 2,8 m de comprimento foram submetidas ao tratamento de vaporização à 90ºC de temperatura e 100% de umidade relativa, durante 18 horas. Com uso de uma motoserra retirou-se discos, com 5cm de espessura, das extremidades das toras vaporizadas. Determinação do poder calorífico superior O poder calorífico superior foi determinado pelo método da bomba calorimétrica. O PCS do lenho e da casca da espécie estudada foi determinado segundo a norma ABNT NBR 8633, e pelo manual de operações do calorímetro PARR 1201. Para o cálculo do PCS, retirou-se amostras de serragem dos discos controles e vaporizados. Foram preparadas amostras compostas por toras, sendo a quantidade de serragem tomada em cada disco proporcional a massa do próprio disco. Posteriormente, 4 (quatro) pastilhas de casca e igual número de madeira, com massa aproximada a 1g, foram confeccionadas com o auxilio de uma prensa e secas em estufa a 1032ºC até peso constante. Após a combustão das pastilhas utilizou-se a equação (1) para a determinação do poder calorífico superior das amostras de madeira e casca: (1) onde: PCS - poder calorífico superior, Kcal/Kg; M A - massa de água utilizada no calorímetro, 2500g; M S - massa seca da amostra, g; Dt - gradiente de temperatura antes e após a combustão, ºC; K - constante do calorímetro, 407,5g. Resultados e Discussão Seguindo as normas da ABNT, através do método da bomba calorimétrica e da equação (1), foram obtidas os valores do poder calorífico superior para as amostras de Eucalyptus grandis. Com os valores obtidos construiu-se a Tabela 1. 32 V.12, n.1, p. 30-35, 2005

Tabela 1. Poder Calorífico Superior da madeira e da casca vaporizadas e não vaporizadas de Eucalyptus grandis. Table 1. Calorific Value of steamed and not steamed wood and bark of Eucalyptus grandis. Madeira Legenda: t - teste t pareado; ** - significativo ao nível de 1% de significância; NS - não significativo Casca Tora Controle Vaporizada Controle Vaporizada 1 4684,72 4568,93 3733,84 3637,70 2 4681,25 4596,83 3834,07 3917,91 3 4829,92 4761,21 3834,07 3706,26 4 4814,29 4639,26 4107,29 4189,30 Média 4752,54 4641,55 3877,32 3862,79 T 4,726** 0,256 NS O valor de PCS encontrado para a madeira não vaporizada de Eucalyptus grandis é igual à 4752,54Kcal/Kg e pode ser verificado na Tabela 1. Esse valor é semelhante ao encontrado por Rezende (1984) que, ao estudar Eucalyptus grandis, verificou o poder calorífico superior equivalente à 4805 Kcal/Kg e por Jara (1979) citado por Vale et al. (2002) que obteve valores de PCS para E. grandis na ordem de 4790 Kcal/Kg. O poder calorífico encontrado para a casca do material não vaporizado (controle) de Eucalyptus grandis foi de 3877Kcal/Kg. Valor que se enquadra com àquele encontrado por Jara (1979) o qual obteve 3822 Kcal/Kg para a casca de E. grandis. Com o objetivo de verificar a influência da vaporização no poder calorífico superior da madeira e da casca de Eucalyptus grandis foi realizado o teste t pareado, levando-se em consideração o PCS do material controle e do vaporizado. Como pode-se verificar na Tabela 1, existe uma diferença significativa, com nível de 1% de significância, entre o poder calorífico da madeira de Eucalyptus grandis, antes e após a vaporização, sendo que ambas as condições apresentam os valores 4752,54 e 4641,55Kcal/Kg, respectivamente. A perda de capacidade de geração de energia da madeira vaporizada de Eucalyptus grandis pode ser explicada pela decomposição dos componentes químicos durante o processo de vaporização. Processo que, segundo Stamm (1956) e Forest Products Laboratory (1999) provoca a degradação da substância madeira, o que resulta, também, em perda de massa. Homan et al. (2000) e Waskett & Selmes (2001) afirmam que durante o tratamento térmico ocorre a liberação de ácido acético das hemiceluloses os quais catalisam a reação do carboidrato e reduz o seu grau de polimerização e promovem a produção de monômeros de furfural. Fengel e Wegener (1984) afirmam que em alta umidade relativa, a degradação por hidrólise ácida das hemiceluloses da madeira é muito dependente do ph e, se a concentração do ácido for alta, sua degradação torna-se apreciável mesmo em temperaturas inferiores a 100ºC. Entretanto, verificou-se na Tabela 1, que o potencial de produção de energia desta espécie, quando vaporizada, demonstra ser perfeitamente viável, o qual é evidenciado pelo PCS igual a 4641,55Kcal/Kg. Carvalho e Nahuz (2001) classificam a madeira de Eucalyptus grandis x urophylla com PCS equivalente a 4423,75Kcal/Kg como material com bom potencial de combustão. E Jara (1989) e Vale et al. (2000) encontraram, respectivamente, o poder calorífico superior para a madeira de Eucalyptus grandis sem tratamento térmico na ordem de 4790 e 4641Kcal/Kg. Através do mesmo teste estatístico pôde-se verificar que não foi verificada diferença estatística entre a casca de Eucalyptus grandis, antes e depois do processo de aplicação de vapor, como mostra os valores 3877,32Kcal/Kg para a casca sem o tratamento térmico e 3862,79 para o material proveniente de resíduos que passaram pelo processo de vaporização. Verificou-se que a casca de toras vaporizadas de Eucalyptus grandis não apresentaram diminuição do PCS, diferentemente do que ocorre com a madeira. Isto mostra que a composição química do material é fator importante para a sua degradação térmica durante o processo de aplicação de vapor. V.12, n.1, p. 30-35, 2005 33

Conclusões Conclui-se que a vaporização em toras de Eucalyptus grandis: promoveu redução significativa do poder calorífico superior da madeira de 4752,54 para 4641,55Kcal/ Kg sem prejudicar o potencial de combustão da espécie. não alterou o poder calorífico superior da casca, o qual apresentou-se na ordem de 3877,32 para o material controle e 3862,79Kcal/Kg para o vaporizado. Agradecimentos Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pelo apoio financeiro através do processo Nº02/05028-6. Referências Bibliográficas BRITO, J.O. Expressão da produção florestal em unidades energéticas. In: CONGRESSO FLORES- TAL BRASILETIRO, 7, 1993, Curitiba. Anais... Curitiba: Sociedade Brasileira de Silvicultura/Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais, 1993. p. 280-282. BRITO, J.O. Madeira para a floresta: a verdadeira realidade do uso de recursos florestais. Silvicultura, v.11, n.41, p.188-193, 1986. CARVALHO, A.M.; NAHUZ, M.A.R. Valorização da madeira do híbrido Eucalyptus grandis x urophylla através da produção conjunta de madeira serrada em pequenas dimensões, celulose e lenha. Scientia Forestalis, n.59, p.61-76, jun.2001. CALONEGO, F.W. Estimativa do tempo de vaporização das toras e sua implicação no desdobro e na secagem de Eucalyptus grandis. Botucatu, 2004. 120f. Dissertação (Mestrado em Agronomia/Energia na Agricultura) Universidade Estadual Paulista. CHAFE, S.C. Effect of brief presteaming on shrinkage, collapse and other wood-water relationships in Eucalyptus regnans F. Muell. Wood Science and Technology, v.24, p.311-326, 1990. FENGEL, D.; WEGENER, G. Wood chemistry: ultrastructure reactions water. Berlin: De Gruyter, 1984, 612p. FOREST PRODUCTS LABORATORY. Wood handbook: wood as an engineering material. Washington: US department of agriculture, 1999, 463p. HAYGREEN, J.G.; BOWYER, J.L. Forest products and wood science: an introduction. Iowa State University Press/AMES, 1996. 484p. HOMAN, W.; TJEERDSMA, B.; BECKERS, E.; JORISSEN, A. Structural and other properties of modified wood. In: WORLD CONFERENCE ON TIMBER ENGINEERING, 2000. British Columbia, Canada. Proceedings British Columbia, Canada, 2000, 8p. JARA, E.R.P. O poder calorífico de algumas madeiras que ocorrem no Brasil. IPT - Comunicação Técnica, n.1797, p.1-6, 1989 MACKAY, J.F.G. Influence of steaming on water vapor diffusion in hardwoods. Wood Science, v.3, p.156-160, 1971. REZENDE, M.A. Uso da técnica de atenuação da radiação gama no estudo da biomassa de Eucalyptus grandis. Piracicaba, 1984. 74f. Dissertação (Mestrado em Agronomia/Energia Nuclear na Agricultura) Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz /Universidade de São Paulo. SEVERO, E.T.D. Pré-vaporização: uma técnica para otimizar a secagem de madeira sólida de Eucalyptus grandis. Botucatu, 2004. 85f. Tese (Livre Docência em Secagem da Madeira/Departamento de Recursos Naturais) Universidade Estadual Paulista UNESP. SEVERO, E.T.D. Qualidade da secagem de madei- 34 V.12, n.1, p. 30-35, 2005

ra serrada de Eucalyptus dunnii. Ciência Florestal, v.10, n.1, p.109-124, 2000. SEVERO, E.T.D.; TOMASELLI, I. Efeito da vaporização no alívio das tensões de crescimento em toras de duas procedências de Eucalyptus dunnii. Sciencia Agraria, v.1, n.1-2, p.29-32, 2000. SIMPSON, W.T. Effect of presteaming on moisture gradient of Northern Red Oak during drying. Wood Science, v.8, p.156-159, 1976. SIMPSON, W.T. Effect of steaming on the drying rate of several species of wood. Wood Science, v.7, p.247-255, 1975. SKOLMEN, R. G. Heating Logs To Relieve Growth Stresses. Forest Products Journal, v.17, p.41-42, 1967. STAMM, A.J. Thermal degradation of wood and cellulose. Ind. Eng. Chem., v.48, n.3, p.413-416, 1956. VALE, A.T.; BRASIL, M.A.M. CARVALHO, C.M.; VEIGA, R.A.A. Produção de energia do fuste de Eucalyptus grandis Hill ex Maiden e Acácia Mangium Willd em diferentes níveis de adubação. Cerne, v.6, n.1, p.83-88, 2000. WASKETT, P.; SELMES, R.E. Opportunities for UK grown timber: wood modification state of the art review. Building Research Establishment LTD, proj. nº 203-343. 2001, 83p. WEIK, B.B.; WENGERT, E.M.; SCHOREDER, J.; BRISBIN, R.. Practical drying techniques for yellowpoplar S-D-R fliches. Forest Products Journal, v. 34, p.39-44, 1984. V.12, n.1, p. 30-35, 2005 35