TORÁH: Os primeiros livros do Antigo Testamento foram



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Transcrição:

PAGINA 1 A BÍBLIA PASSO A PASSO NOVO TESTAMENTO 2. COMO A BÍBLIA CHEGOU ATÉ NÓS (Parte 2) AS TRADUÇÕES BÍBLICAS TORÁH: Os primeiros livros do Antigo Testamento foram chamado de Toráh. Era composto de Bereshit Gênesis, Shmont Êxodo, Vayika Levítico, Bamidbar Números e Davarim Deuteronômio. Torá escrito aquele escrito na cerâmica de barro Toráh oral aquele que os pais passavam para os filhos, como tradição oral. Esse mandamento foi passado por Moisés no livro de Deuteronomio 6.4-9. Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças. Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar. Amarre-as como um sinal nos braços e prenda-as na testa. Escreva-as nos batentes das portas de sua casa e em seus portões Demais manuscritos do Antigo Testamento eram conhecidos como Tanakh, e relatava os demais assuntos do povo de Israel até Neemias. Os escritos dos profetas tanto menores como maiores e o livros poéticos não faziam parte nem do Toráh e nem do Tanakh, mas eram livros separados, conhecidos como Escrituras. Septuaginta é o nome da versão da Bíblia hebraica para o grego koiné, traduzida em etapas entre o terceiro e o primeiro século a.c. em Alexandria. Dentre outras tantas, é a mais antiga tradução da bíblia hebraica para o grego, língua franca do Mediterrâneo oriental no tempo de Alexandre, o Grande. A tradução ficou conhecida como a Versão dos Setenta (ou Septuaginta, palavra latina que significa setenta, ou ainda LXX), pois setenta e dois rabinos trabalharam nela e, segundo a história,

PAGINA 2 teriam completado a tradução em setenta e dois dias. A Septuaginta foi usada como base para diversas traduções da Bíblia. Essa versão foi a usada por Jesus Cristo e os apóstolos, e hoje continua sendo usada pelo povo evangélico. A Bíblia hebraica, continha a história do povo judeu, trazendo todos os fatos acontecidos, que estão registrados de Gênesis a Neemias. Os profetas maiores e menores, bem como os livros poéticos, salmos, provérbios e cânticos, faziam parte de outros escritos, e foi com a Septuaginta, que fizeram parte integral do Antigo Testamento. A Septuaginta foi tida em alta conta nos tempos antigos. Fílon de Alexandria e Flávio Josefo consideravam-na divinamente inspirada. Além das traduções latinas antigas, a LXX também foi a base para as versões em eslavo eclesiástico, para a Héxapla de Orígenes (parte) e para as versões armênia, georgiana e copta do Antigo testamento. De grande significado para muitos cristãos e estudiosos da Bíblia, é citada no Novo Testamento e pelos Padres da Igreja. Muito embora judeus não usassem a LXX, desde o século II AD recentes estudos acadêmicos troxeram um novo interesse sobre o tema nos estudos judaicos. Todos os estudos atestam que os Apóstolos e Evangelistas e o próprio Jesus Cristo usaram a Septuaginta. A Sociedade Bíblica do Brasil afirma que "pois, como se sabe, muitas citações (e alusões) do Antigo Testamento no Novo Testamento procedem diretamente da clássica versão grega". E que, das 350 citações que o Novo Testamento faz do Velho Testamento, pelo menos 300 provêm da versão grega. Exemplos de trechos referentes a Septuaginta podem ser encontrados no Evangelho segundo Mateus, por exemplo, onde Jesus em resposta ao diabo diz: "Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus." Mt 4, 4.

PAGINA 3 Jesus referiu-se a Deuteronômio 8,3, onde é usada é "da boca do Senhor" enquanto a Septuaginta traz "da boca de Deus". Vulgata é a forma latina abreviada de vulgata editio ou vulgata versio ou vulgata lectio, respectivamente "edição, tradução ou leitura de divulgação popular" - a versão mais difundida (ou mais aceita como autêntica) de um texto. No sentido corrente, Vulgata é a tradução para o latim da cópia da Bíblia Septuaginta, escrita entre fins do século IV início do século V, por São Jerônimo, a pedido do Papa Dâmaso I, que foi usada pela Igreja Católica e ainda é muito respeitada. Nos seus primeiros séculos, a Igreja serviu-se sobretudo da língua grega. Foi nesta língua que foi escrito todo o Novo Testamento, incluindo a Carta aos Romanos, de São Paulo, bem como muitos escritos cristãos de séculos seguintes. No século IV, a situação já havia mudado, e é então que o importante biblista São Jerônimo traduz pelo menos o Antigo Testamento para o latim e revê a Vetus Latina. A Vulgata foi produzida para ser mais exata e mais fácil de compreender do que suas predecessoras. Foi a primeira, e por séculos a única, versão da Bíblia que verteu o Velho Testamento diretamente da tradução grega conhecida como Septuaginta. No Novo Testamento, São Jerônimo selecionou e revisou textos. Ele inicialmente não considerou canônicos os sete livros, chamados por católicos e ortodoxos de deuterocanônicos (mais conhecido por apócrifos). Porém, seus trabalhos posteriores mostram sua mudança de conceito, pelo menos a respeito dos livros de Judite, Sabedoria de Salomão e o Eclesiástico (ou Sabedoria de Sirac), conforme atestamos em suas últimas cartas a Rufino. Chama-se, pois, Vulgata a esta versão latina da Bíblia que foi usada pela Igreja Católica Romana durante muitos séculos, e ainda hoje é fonte para diversas traduções. Em seguida o Papa Damásio I, que se achava

PAGINA 4 representante de Deus, determinou a inclusão dos livros apócrifos e mais alguma alterações. O nome vem da expressão vulgata versio, isto é "versão de divulgação para o povo", e foi escrita em um latim cotidiano, usado na distinção consciente ao latim elegante de Cícero, do qual Jerônimo era um mestre. A denominação Vulgata consolidou-se na primeira metade do século XVI, sobretudo a partir da edição da Bíblia de 1532, tendo sido definitivamente consagrada pelo Concílio de Trento, em 1546. O Concílio estabeleceu um texto único para a Vulgata a partir de vários manuscritos existentes, o qual foi oficializado como a Bíblia oficial da Igreja e ficou conhecido como Vulgata Clementina. Após o Concílio Vaticano II, por determinação de Paulo VI, foi realizada uma revisão da Vulgata, sobretudo para uso litúrgico. Esta revisão, terminada em 1975, e promulgada pelo Papa João Paulo II, em 25 de abril de 1979, é denominada Nova Vulgata e ficou estabelecida como a nova Bíblia oficial da Igreja Católica. Além do texto bíblico da Vulgata, ela contém prólogos dos quais a maioria foi escrita por Jerônimo. Esses prólogos são escritos críticos e não eram destinados ao público em geral. O tema recorrente dos prólogos se refere à primazia do texto hebraico sobre os textos da Septuaginta (LXX), em grego koiné. John Wycliffe (ou Wyclif) (1320 31 de dezembro 1384) foi professor da Universidade de Oxford, teólogo e reformador religioso inglês, considerado precursor das reformas religiosas que sacudiram a Europa nos séculos XV e XVI (ver: Reforma Protestante). Trabalhou na primeira tradução da Bíblia para o idioma inglês, que ficou conhecida como a Bíblia de Wycliffe. Família e Infância Sua família era tradicional na região de Yorkshire, sendo que, à época do seu nascimento as propriedades familiares cobriam

PAGINA 5 amplo território nas redondezas de Ipreswell (hoje Hipswell), seu local de nascimento. Não há certeza sobre o ano de seu nascimento, um dos anos mais citados é 1320, mas há variações de 1320 a 1328. Não se sabe, ainda, o ano em que ele foi enviado pela família para estudar na Universidade de Oxford, mas há certeza de que estava lá desde pelo menos 1345. Em Oxford Na Universidade, aplicou-se nos estudos de teologia, filosofia e legislação canônica. Tornou-se sacerdote e depois serviu como professor no Balliol College, ainda em Oxford. Por volta de 1365 tornou-se bacharel em teologia e, em 1372, doutor em teologia. Como teólogo, logo destacou-se pela firme defesa dos interesses nacionais contra as demandas do papado, ganhando reputação de patriota e reformista. Wycliffe afirmava que havia um grande contraste entre o que a Igreja era e o que deveria ser, por isso defendia reformas. Suas idéias apontavam a incompatibilidade entre várias normas do clero e os ensinos de Jesus e seus apóstolos. Uma destas incompatibilidades era a questão das propriedades e da riqueza do clero. Wycliffe queria o retorno da Igreja à primitiva pobreza dos tempos dos evangelistas, algo que, na sua visão, era incompatível com o poder temporal do papa e dos cardeais. Para ele o Estado deveria tomar posse de todas as propriedades da Igreja e encarregar-se diretamente do sustento do clero. Logo, a cátedra deixou de ser o único meio de propagação de suas idéias, ao iniciar a escrita de seu trabalho mais importante, a Summa theologiae. Entre as idéias mais revolucionárias desta obra, está a afirmação de que, nos assuntos de ordem material, o rei está acima do papa e que a Igreja deveria renunciar a qualquer tipo de poder temporal. Sua obra seguinte, De civili dominio, aprofunda as críticas ao Papado de Avignon (onde esteve a sede provisória da Igreja de 1309 até 1377), com seu sistema de venda de indulgências e a vida perdulária e luxuosa de muitos padres, bispos e religiosos sustentados com dinheiro do povo. Wycliffe defendia que era tarefa

PAGINA 6 do Estado lutar contra o que considerava abusos do papado. A obra contém 18 teses, que vieram a público em Oxford em 1376. Suas idéias espalharam-se com grande rapidez, em parte pelos interesses da nobreza em confiscar os bens então em poder da igreja. Wycliffe pregava nas igrejas em Londres e sua mensagem era bem recebida. A oposição da Igreja Católica Apesar de sua crescente popularidade, a Igreja apressouse em censurar Wycliffe. Em 19 de fevereiro de 1377, Wyclif é intimado a apresentar-se diante do Bispo de Londres para explanarlhe seus ensinamentos. Compareceu acompanhado de vários amigos influentes e quatro monges foram seus advogados. Uma multidão aglomerou-se na igreja para apoiar Wycliffe e houve animosidades com o bispo. Isto irritou ainda mais o clero e os ataques contra Wycliffe se intensificaram, acusando-o de blasfêmia, orgulho e heresia. Enquanto isso, os partidos no Parlamento inglês pareciam convictos de que os monges poderiam ser melhor controlados se fossem aliviados de suas obrigações seculares. É importante lembrar que, neste período, desenrolava-se a Guerra dos Cem Anos entre a França e a Inglaterra. Na Inglaterra daquele tempo, tudo que era identificado como francês era visto como inimigo e nessa visão se incluiu a Igreja, pois havia transferido sua sede de Roma para Avignon, na França. A elite inglesa (realeza, parlamento e nobreza) reagia à idéia de enviar dinheiro aos papas, esta era uma atitude vista como ajuda ao sustento do próprio inimigo. Neste ambiente hostil à França e à Igreja, um teólogo como Wyclif desfrutou quase imediatamente de grande apoio, não apenas político, como também popular, despertando o nacionalismo inglês. Em 22 de maio de 1377, o Papa Gregório XI, que em janeiro havia abandonado Avignon para retornar a sede da Igreja a Roma, expediu uma bula contra Wycliffe, declarando que suas 18 teses eram errôneas e perigosas para a Igreja e o Estado. O apoio de que Wycliffe desfrutava na corte e no parlamento tornaram a bula

PAGINA 7 sem efeito prático, pois era geral a opinião de que a Igreja estava exaurindo os cofres ingleses. Ao mesmo tempo em que defendia que a Igreja deveria retornar à primitiva pobreza dos tempos apostólicos, Wycliffe também entendia que o poder da Igreja devia ser limitado às questões espirituais, sendo o poder temporal exercido pelo Estado, representado pelo rei. Seu livro De officio regis defendia que o poder real também era originário de Deus, encontrava testemunho nas Escrituras Sagradas, quando Cristo aconselhou "dar a César o que é de César". Era pecado, em sua opinião, opor-se ao poder do rei e todas as pessoas, inclusive o clero, deveriam pagar-lhe tributos. O rei deve aplicar seu poder com sabedoria e suas leis devem estar de acordo com as de Deus. Das leis de Deus se deriva a autoridade das leis reais, inclusive daquelas em que o rei atua contra o clero, porque se o clero negligencia seu ofício, o rei deve chamá-lo a responder diante de si. Ou seja, o rei deve possuir um "controle evangélico" e quem serve à Igreja deve submeter-se às leis do Estado. Os arcebispos ingleses deveriam receber sua autoridade do rei (não do papa). Este livro teve grande influência na reforma da Igreja, não apenas na Inglaterra, que sob Henrique VIII passaria a ter a igreja subordinada ao Estado e o rei como chefe da Igreja, mas também na Boêmia e na Alemanha. Especialmente interessantes são também os ensinamentos que Wycliffe endereça aos reis, para que protejam seus teólogos. Ele sustentava que, já que as leis do rei devem estar de acordo com as Escrituras, o conhecimento da Bíblia é necessário para fortalecer o exercício do poder real. O rei deveria cercar-se de teólogos para aconselhá-lo na tarefa de proclamar as leis reais. Wycliffe e o papado Os escritos de Wycliffe em seus seis últimos anos incluem contínuos ataques ao papado e à hierarquia eclesiástica da época. Nem sempre foi assim, entretanto. Seus primeiros escritos eram

PAGINA 8 muito mais moderados e, à medida que as relações de Wyclif com a Igreja foram se deteriorando, os ataques cresceram em intensidade. Na questão relacionada ao cisma da Igreja, com papas reivindicando em Roma e Avignon a liderança da Igreja, Wycliffe entendia que o cristão não precisa de Roma ou Avignon, pois Deus está em toda parte. "Nosso papa é o Cristo", sustentava. Em sua opinião, a Igreja poderia continuar existindo mesmo sem a existência de um líder visível, por outro lado, os líderes poderiam surgir naturalmente, desde que vivessem e exemplificassem os ensinamentos de Jesus. Contra as Ordens Monásticas A batalha de Wycliffe contra as ordens monásticas (que ele chamava de "seitas") iniciou-se por volta de 1377 e alongou-se até sua morte. Wycliffe afirmou que o papado imperialista era suportado por estas "seitas", que serviam ao domínio do papa sobre as nações daquele tempo. Em vários de seus escritos, como Trialogus, Dialogus, Opus evangelicum e alguns sermões, Wycliffe dizia que a Igreja não necessitava de novas "seitas" e que eram suficientes os ensinos dos três primeiros séculos de existência da Igreja. Defendia que as ordens monásticas não eram suportadas pela Bíblia e deveriam ser abolidas, junto com suas propriedades. O povo então se insurgiu contra os monges e podemos observar os maiores efeitos dessa insurreição na Boêmia, anos mais tarde, com a revolução hussita. Na Inglaterra, entretanto, o resultado não foi o esperado por Wycliffe: as propriedades acabaram nas mãos dos grandes barões feudais. A Bíblia Inglesa John Wycliffe entrega a tradução da Bíblia aos padres, que ficaram conhecidos como lolardos. (quadro de William Frederick Yeames). Wyclif organizou um projeto de tradução das Escrituras, defendendo que a Bíblia deveria ser a base de toda a doutrina da

PAGINA 9 Igreja e a única norma da fé cristã. Sustentava que o papa ou os cardeais não possuíam autoridade para condenar suas 18 teses, pois Cristo é a cabeça da Igreja e não os papas. "A verdadeira autoridade emana da Biblia, que contém o suficiente para governar o mundo", cita Wycliffe em seu livro De sufficientia legis Christi. Wycliffe afirmava que na Bíblia se encontra a verdade, a fonte fundamental do Cristianismo e que, por isso, sem o conhecimento da Bíblia não haveria paz na Igreja e na sociedade. Com isso, contrapunha a autoridade das escrituras à autoridade papal: "Enquanto temos muitos papas e centenas de cardeais, suas palavras só podem ser consideradas se estiverem de acordo com a Bíblia". Idêntico princípio seguiria Lutero mais de 100 anos depois, ao liderar a Reforma Protestante. Wycliffe acreditava que a Bíblia deveria ser um bem comum de todos os cristãos e precisaria estar disponível para uso cotidiano, na língua nativa das populações. A honra nacional requeria isto, desde quando os membros da nobreza passaram a possuir exemplares da Bíblia em língua francesa. Partes da Bíblia já haviam sido traduzidas para o inglês, mas não havia uma tradução completa. Wycliffe atribuiu a si mesmo esta tarefa. Embora não se possa definir exatamente a sua parte na tradução (que foi baseada na Vulgata), não há dúvidas de que foi sua a iniciativa e que o sucesso do projeto foi devido à sua liderança. A ele devemos a tradução clara e uniforme do Novo Testamento, enquanto seu amigo Nicholas de Hereford traduziu o Antigo Testamento. Ambas as traduções foram revisadas por John Purvey em 1388, quando então a população em massa teve acesso à Bíblia em idioma inglês, ao mesmo tempo que se ouvia dos críticos: "a jóia do clero tornou-se o brinquedo dos leigos". Mas, cabe fazer algumas ressalvas. Durante a Idade Média os livros eram raros e caros por serem feitos à mão, a Bíblia não era exceção. O uso exclusivo do Latim era comum a todos os livros dado a universalidade da língua e o seu reconhecimento erudito e intelectual na Europa Ocidental, regra válida também para a Bíblia. A

PAGINA 10 tradução de Wycliffe da Bíblia para o inglês pode ser entendida como mais movida pelo nacionalismo inglês e menos por uma inclinação popular de democratização de acesso. Os pobres continuaram sem ter acesso à mesma por dois motivos: o primeiro é que era cara por sua confecção ainda manual e, segundo, o povo continuava analfabeto. A grande difusão da Bíblia só foi de fato possível com a invenção da imprensa no século XV e a universalização da educação a partir do século XIX. Então, somente após o século XIX reuniramse as condições para a Bíblia se tornar um livro popular. Apesar do empenho da hierarquia eclesiástica em destruir as traduções em razão do que consideravam como erros de tradução e comentários equivocados, ainda existem cerca de 150 manuscritos, parciais ou completos, contendo a tradução em sua forma revisada. Disso podemos inferir o quão difundida essa tradução foi no século XV, razão pela qual os partidários de Wyclif eram chamados de "homens da Bíblia" por seus críticos. Assim como a versão de Lutero teve grande influência sobre a língua alemã, também a versão de Wycliffe influenciou o idioma inglês, pela sua clareza, força e beleza. A Bíblia de Wycliffe, como passou a ser conhecida, foi amplamente distribuída por toda a Inglaterra. A Igreja a denunciou como uma tradução não autorizada. Wycliffe e os lolardos Contrário à rígida hierarquia eclesiástica, Wycliffe defendia a pobreza dos padres e os organizou em grupos para divulgar os ensinos de Cristo. Estes padres (mais tarde chamados de "lolardos") não faziam votos nem recebiam consagração formal, mas dedicavam sua vida a ensinar o Evangelho ao povo. Estes pregadores itinerantes espalharam os ensinos de Wycliffe pelo interior da Inglaterra, agrupados dois a dois, de pés descalços, usando longas túnicas e carregando cajados nas mãos.

PAGINA 11 Em meados de 1381 uma insurreição social amedrontou os grandes proprietários ingleses e o rei Ricardo II foi levado a crer que os lolardos haviam contribuído com ela. Ele ordenou à Universidade de Oxford (que havia sido reduto de líderes insurretos) que expulsasse Wyclif e seus seguidores, apesar destes não haverem apoiado qualquer movimento rebelde. O rei proibiu a citação dos ensinos de Wycliffe em sermões e mesmo em discussões acadêmicas, sob pena de prisão para os infratores. O legado de Wycliffe Início do Evangelho de João, em uma cópia da tradução para o inglês da Bíblia de Wycliffe Wycliffe então se retirou para sua casa em Lutterworth, onde reuniu sábios que o auxiliaram na tarefa de traduzir a Bíblia do latim para o inglês. Enquanto assistia à missa em Lutterworth, no dia 28 de dezembro de 1384, foi acometido por um ataque de apoplexia, falecendo 3 dias depois, no último dia do ano. Exumação e cremação dos ossos de John Wycliffe. A influência dos escritos de Wyclif foi muito grande em outros movimentos reformistas, em particular sobre o da Boêmia, liderado por Jan Huss e Jerônimo de Praga. Para frear tais movimentos, a Igreja convocou o Concílio de Constança (1414 1418). Um decreto deste Concílio (expedido em 4 de maio de 1415) declarou Wycliffe como herético, recomendou que todos os seus escritos fossem queimados e ordenou que seus restos mortais fossem exumados e queimados, o que foi cumprido 12 anos mais tarde pelo Papa Martinho V. Suas cinzas foram jogadas no rio Swift, que banha Lutterworth.

PAGINA 12 FRAGMENTOS DOS MANUSCRITOS DE WYCLIFF William Tyndale (por vezes apelidado de Tindall ou Tyndall; Gloucestershire, Inglaterra, c. 1484 - perto de Bruxelas, Bélgica, 6 de Outubro de 1536) foi um pastor protestante e um académico inglês, formado mestre em Artes na Universidade de Oxford, que traduziu a Bíblia para uma versão inicial do moderno inglês. o seu objetivo era fazer o Novo Testamento um livro tal que "todo menino de arado" pudesse lê-lo e se tornasse mais conhecedor das Escrituras que o próprio clero. Apesar de numerosas traduções para inglês, parciais ou completas, terem sido feitas a partir do século VII, a Bíblia de Tyndale foi a primeira a se beneficiar da imprensa, o que permitiu uma ampla distribuição.

PAGINA 13 Tyndale estudou as escrituras e começou a defender as teses da Reforma Protestante, muitas das quais eram consideradas heréticas, primeiro pela Igreja Católica e depois pela própria Igreja Anglicana. As traduções de Tyndale foram banidas pelas autoridades e o próprio Tyndale foi queimado na fogueira em 1536 em Vilvoorden (10 kms a nordeste de Bruxelas), Bélgica, sob a instigação de agentes de Henrique VIII e a Igreja Anglicana. Suas últimas palavras foram, "Senhor, abre os olhos ao rei da Inglaterra". (Para saber a história da vida de Tyndale, não perca a oportunidade de assistir o DVD O Fora da Lei de Deus da COMEV)