DOS CONTRATOS EM GERAL DA ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO DA PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO

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MATERIAL DE APOIO 06. Efeitos do contrato relativamente a terceiros. Estipulação em favor de terceiro (arts )

ANDRÉ ANDRADE DESEMBARGADOR RELATOR

Transcrição:

Curso de Direito - Parte Especial - Livro I - Do Direito das Obrigações - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 1 / 8 DOS CONTRATOS EM GERAL DA ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO DA PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO P A R T E E S P E C I A L LIVRO I DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES TÍTULO V DOS CONTRATOS EM GERAL CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS SEÇÃO III DA ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO Art. 436 438 SEÇÃO IV DA PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO Art. 439 440 Conceitos: Contrato, Estipulação em favor de terceiro, Promessa de fato de terceiro, Pacta sunt servanda, Rebus sic standibus Estipulação em favor de terceiro No contrato, os efeitos da pactuação entre as partes devem limitar-se-ão à esfera patrimonial dos contratantes, sem atingir direitos de terceiros que não demonstrarem, pela expressão da vontade, interesse sobre o negócio jurídico. Entretanto, a estipulação em favor de terceiro é uma exceção em que o credor (estipulante) convenciona com o devedor (promitente) que aquele deverá realizar determinada prestação em favor (nunca contra) de terceiro (beneficiário) inicialmente alheio à relação jurídica. Como a declaração de vontade do beneficiário não integra inicialmente o negócio jurídico, este pode recusar a prestação em seu benefício, negando eficácia ao contrato que, entretanto, permanece válido. Se aceitar, tornar-se-á credor promitente da relação contratual. Exemplo típico é a estipulação de seguro em benefício de terceiro.

Curso de Direito - Parte Especial - Livro I - Do Direito das Obrigações - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 2 / 8 Estipulação em favor de terceiro Código Civil de 2002 Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação. Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la, ficando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o inovar nos termos do art. 438. A obrigação assumida pelo promitente é exigível tanto pelo estipulante como pelo beneficiário, que, na execução do contrato, torna-se credor nas condições contatuais, desde que não tenha sofrido substituição pelo estipulante. Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o direito de reclamar-lhe a execução, não poderá o estipulante exonerar o devedor. Se ao beneficiário estipular-se que possa reclamar a execução do contrato, o estipulante não poderá exonerar o promitente. Ausente a previsão dessa faculdade, o terceiro sujeitar-se-á à vontade do estipulante, que poderá desobrigar o devedor, bem como substituir o beneficiário na forma do artigo 438 a seguir, Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato, independentemente da sua anuência e da do outro contratante. Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposição de última vontade. Recomendação de leitura: CRUVINEL, Paulo Henrique Borges; VALLE, Gustavo Henrique Moreira do. Estipulação em favor de

Curso de Direito - Parte Especial - Livro I - Do Direito das Obrigações - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 3 / 8 terceiro: contrato ou cláusula especial? 1 RESUMO: Existem cinco explicações teóricas diferentes, de autores diversos, sobre a definição jurídica da estipulação em favor de terceiro constante do artigo 436 e seguintes do Código Civil. Há autores que afirmam que a estipulação em favor de terceiro é uma espécie contrato; outros defendem que o instituto perfaz uma proposta a espera de aceitação; outros a colocam como um ato unilateral, atípico, ou, especificamente, como uma gestão de negócio; e há ainda os que creem ser a estipulação em favor de terceiro uma exceção ao princípio da relatividade dos contratos. A natureza jurídica da estipulação em favor de terceiro, bem como seu regramento, é o objeto do presente estudo. Exercício Prático Considere a seguinte sentença, reproduzido do portal do Tribunal de Justiça de São Paulo. Processo Digital nº: 0015728-88.2017.8.26.0001 Classe Assunto: Procedimento do Juizado Especial Cível - Planos de Saúde Requerente: Moacyr Cambraia Filho Requerido: Qualicorp Adm e Serv Ltda Juiz(a) de Direito: Dr(a). Amanda Eiko Sato Vistos. É dispensável o relatório nos termos da lei 9099/95. Fundamento e decido. Depreende-se da inicial que a ré vem aplicando reajustes abusivos ao contrato firmado entre as partes, o que elevou o preço da mensalidade de R$ 616,05 para R$ 1.607,81 no intervalo de dois anos. À vista de tais circunstâncias, pugna o requerente pela inexigibilidade dos reajustes de 28,8% e 34,9%, aplicados em julho de 2016 e junho de 2017, respectivamente. A lide comporta julgamento antecipado, já que não há necessidade de dilação probatória, sendo prescindível a produção de outras provas em audiência, nos termos do artigo 355, inciso II, do Código de Processo Civil. Com efeito, depreende-se que a requerida foi pessoalmente citada (fl. 19) e não apresentou resposta. A contestação apresentada às folhas 21/41 é intempestiva e não será considerada. Sendo assim, a ausência de contestação implica a presunção de veracidade dos fatos narrados na inicial, nos termos do artigo 344 do Código de Processo Civil. Sobre a revelia ensina Cândido Rangel Dinamarco: Se o réu não apresenta resposta no prazo, essa omissão é um fato previsto na fattispecie do art. 319 do Código de Processo Civil. A sanctio juris consistente na dispensa de prova dos fatos alegados pelo autor é manifestação do juízo de valor que o legislador fez quanto àquela conduta omissiva. A vontade abstrata do art. 319 é que todo autor seja dispensado deste ônus, sempre que o réu não responda à inicial. Em cada caso em que aconteça tal omissão, haverá a vontade concreta do direito no sentido de dispensar a prova (Instituições de Direito Processual Civil Editora Malheiros volume I 3ª edição página 64). 1 http://www.mcampos.br/revista DIREITO/PRODUCAOCIENTIFICA/artigos/paulocruvinelgustavohenriquemoreiraestipulacaoemfavordete rceiro.pdf. Consulta em 26/08/2017.

Curso de Direito - Parte Especial - Livro I - Do Direito das Obrigações - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 4 / 8 Na hipótese em comento, contudo, ainda que os fatos alegados pelo autor sejam presumidamente verdadeiros, não se pode julgar a ação procedente. Impende considerar que o autor é beneficiário do plano de saúde contratado pela Mútua de Assistência dos Profissionais da Engenharia, Arquitetura e Agronomia (MÚTUA), identificando-se, na espécie, autêntica estipulação em favor de terceiros, disciplinada nos artigos 436 a 438 do CC/2002. Na estipulação em favor de terceiro a ação para reclamar a satisfação da prestação convencionada se transfere ao beneficiário, porém, não há margem para o beneficiário questionar a validade das cláusulas acordadas. Isto porque houve uma opção do beneficiário em aderir ao contrato, ainda que de adesão. Portanto, não tem o autor direito à revisão de cláusulas contratuais. Ademais, há de se reconhecer que o contrato discutido se refere a plano de saúde coletivo, dirigido a grupo específico (associação de engenheiros, arquitetos e agrônomos), de modo que não estão sujeitos às mesmas regras aplicáveis aos contratos individuais. Nos contratos de saúde, como em qualquer outro, as partes podem convencionar o reajuste dos valores com base em índice adotado oficialmente como padrão de correção monetária. Além dos reajustes que objetivam evitar a defasagem dos preços em função da inflação, também é admissível que sejam previstas outras hipóteses, a depender das situações e de momentos determinados no tempo em que podem ser modificados os valores contratuais inicialmente previstos, para atender à peculiaridade da atividade médicohospitalar, que se fundamenta na ciência atuarial, onde os custos são dimensionados em função das condições de cobertura. O aumento contratualmente previsto, nessas hipóteses, seja em percentuais ou fórmulas definidas, fornece antecipadamente ao contratante que suporta a majoração dos valores uma perfeita noção dos ônus que lhe serão carreados em cada etapa contratual. Há de se lembrar que o autor integra uma coletividade e, caso fosse admitido que seu plano não fosse reajustado, haveria de se estender tal entendimento a todos os demais associados. Não há dúvida de que tal interpretação inviabilizaria a própria continuidade do plano coletivo, que leva em consideração a sinistralidade. Ademais, há de se considerar que todos os reajustes contaram com a concordância da associação. Ao menos é o que se deduz de folha 07. De forma indireta, o próprio autor concordou com os reajustes impostos, já que é representado pela associação. Diante do exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido do autor, pondo fim ao processo, com julgamento do mérito, nos termos do artigo 487, I, do Código de Processo Civil. Sem sucumbência por força do disposto no artigo 55 da Lei nº 9.099/95. Para fins de recurso inominado: O prazo para recurso é de dez dias, começando a fluir a partir da intimação desta decisão, devendo ser interposto por advogado, acompanhado de preparo. O valor das custas do preparo no Juizado Especial Cível, para eventual recurso, é de no mínimo 10 UFESPs, sendo a) 1% do valor da causa, no mínimo de 05 UFESPs mais; b)

Curso de Direito - Parte Especial - Livro I - Do Direito das Obrigações - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 5 / 8 o valor de 4% do valor da causa, no mínimo de 05 UFESPs ou caso a sentença seja condenatória, o valor a ser recolhido deve corresponder a 4% do valor da condenação ao invés de 4% do valor da causa, conforme disposto no inciso II do art. 4º na Lei 15.855/2015, e em cumprimento ao artigo 54, parágrafo único, da Lei n. 9.099/95. Para fins de execução: A parte condenada deverá cumprir a sentença no prazo de 15 dias após o trânsito, independentemente da intimação. Na hipótese de não cumprimento da sentença, o credor desassistido por advogado, desde logo requer o início da execução, com o encaminhamento dos autos ao Contador, caso a condenação seja de pagamento em dinheiro. Quanto à parte assistida por advogado, deverá requerer o início da execução, com apresentação da planilha de cálculo com a multa de 10% do artigo 523, 1º, do Código de Processo Civil, no prazo de trinta dias. Os prazos são contados em dias corridos, considerando os imperativos de celeridade processual e de informalidade, típicos do subsistema dos juizados especiais (Enunciado 74 do FOJESP; Comunicado Conjunto Presidência e CGJ nº 380/2016). O prazo para a interposição de recurso inominado é de 10 dias, conforme Enunciado 46 da ENFAM. Publique-se. Intimem-se. Cumpra-se. São Paulo, 24 de agosto de 2017. Desenvolva as seguintes atividades tendo por objetivo o desenvolvimento da experiência jurídica: 1) Identifique e destaque na sentença, de acordo com sua análise, um parágrafo onde o princípio pacta sunt servanda esteja implícito. 2) Identifique e destaque na sentença, de acordo com sua análise, um parágrafo onde o princípio rebus sic standibus esteja implícito. 3) Na estipulação em favor de terceiro a ação para reclamar a satisfação da prestação convencionada se transfere ao beneficiário, porém, não há margem para o beneficiário questionar a validade das cláusulas acordadas. Isto porque houve uma opção do beneficiário em aderir ao contrato, ainda que de adesão. Portanto, não tem o autor direito à revisão de cláusulas contratuais. Explique por que, nas palavras do Juiz, não tem o autor direito à revisão de cláusulas contratuais. Da Promessa de Fato de Terceiro

Curso de Direito - Parte Especial - Livro I - Do Direito das Obrigações - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 6 / 8 A promessa de fato de terceiro se verifica quando uma das partes se comprometer a obter o consentimento de terceiro na conclusão de contrato sem prévio consentimento desta à realização do negócio jurídico. A eficácia do contrato depende, então, da ratificação posterior de terceiro não obrigado a assim proceder. O objetivo é realizar contrato válido mas que, para ter eficácia, depende da vontade de terceiro. Código Civil de 2002 Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o não executar. Parágrafo único. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair sobre os seus bens. Art. 440. Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, se este, depois de se ter obrigado, faltar à prestação. Exercício Prático Considere a seguinte sentença, reproduzido do portal do Tribunal de Justiça de São Paulo. Processo Físico nº: 0002564-84.2011.8.26.0286 Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão / Resolução Requerente: Waldemar Petty Moutinho Requerido: José Carlos Felix Junior Juiz(a) de Direito: Dr(a). Pedro Henrique Do Nascimento Oliveira Vistos. WALDEMAR PETTY MOUTINHO ajuizou ação de rescisão contratual com pedido de tutela antecipada em face de JOSÉ CARLOS FÉLIX JÚNIOR. Alega que celebrou com o requerido contrato de compra e venda do imóvel narrado na exordial. Sustenta que o requerido não adimpliu com as prestações que lhe cabiam, incidindo na cláusula contratual que previa a rescisão da avença por inadimplemento. Aduz que o documento em que conferiu quitação do valor de R$ 500.000,00 é ideologicamente falso, pois não reflete a realidade. Requer seja o contrato rescindido. A tutela antecipada foi indeferida a fls. 70/71. O réu contestou a fls. 184/194. Alega que pagou o sinal de R$ 500.000,00, imitindo-se na posse do imóvel. Posteriormente, ainda depositou mais R$ 250.000,00 ao autor. No momento de efetuar o pagamento em favor da ex-esposa do requerente, porém, esta se recusou a receber, informando que não anuíra no contrato entre as partes. Ela ainda ingressou com ação de reintegração de posse, reavendo para si o bem objeto do contrato. Pleiteia a improcedência da ação. O réu ainda ofereceu reconvenção a fls. 479/501. Reitera os argumentos lançados em contestação e requer a declaração parcial de nulidade do negócio e, no restante, que lhe seja deferida adjudicação compulsória da metade do bem que cabe ao reconvindo. Ainda, requer condenação do reconvindo ao pagamento de indenização por danos morais. Subsidiariamente, pleiteia seja rescindido o contrato e condenado o reconvindo a ressarcir ao reconvinte os valores por este despendidos, bem como a lhe pagar

Curso de Direito - Parte Especial - Livro I - Do Direito das Obrigações - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 7 / 8 indenização por danos morais. Réplica a fls. 510/516. Contestação à reconvenção foi oferecida a fls. 521/535, negando os fatos lá narrados e pugnando pela improcedência da pretensão do réu reconvinte. Réplica em reconvenção a fls. 550/556. É o relatório. Fundamento e decido. Em que pesem os pedidos de produção de provas formulados pelas partes, é caso de julgamento antecipado da lide. A prova testemunhal não é apta para provar a falsidade ideológica do recibo de quitação, nem a efetivação ou não dos pagamentos consubstanciados nos cheques constantes dos autos. Tal comprovação tem que ser feita pela via documental, única apta a tornar estreme de dúvidas a questão fática. Ademais, não há que se falar em quebra de sigilo bancário das partes no caso concreto. Quisesse o autor comprovar a ausência de recebimento dos valores descritos no termo de quitação, poderia ter juntado espontaneamente aos autos seus extratos bancários, em que supostamente inexistiria tal crédito em seu favor. Não foram alegadas preliminares. Passo à análise de mérito. Primeiramente, não há que se falar em nulidade parcial do negócio por vício de consentimento, vez que no instrumento contratual está adequadamente explicitado que o imóvel pertencia também à esposa do autor e que, inclusive, a ela seria diretamente pago parte do preço. O que houve, em verdade, foi promessa de fato de terceiro que acabou não adimplida, dando azo apenas e tão somente à pretensão de resolução contratual. No caso concreto, os elementos constantes dos autos demonstram de maneira satisfatória que ambas as partes inadimpliram em parte com suas obrigações, sendo caso de rescisão contratual. O autor alienou imóvel que pertencia em parte a sua esposa, da qual se separou, sem obter no instrumento a devida outorga uxória. Em razão disso, o réu, que estava na posse do bem, sofreu condenação em ação de reintegração de posse, sendo compelido a deixar o imóvel. Por outro lado, o réu se comprometeu no instrumento contratual a arcar com as taxas e tributos incidentes sobre o imóvel, bem como com o pagamento das quotas condominiais, o que não fez. Além disso, não pagou a integralidade do preço pactuado, não servindo como justificativa a alegada recusa por parte da ex-esposa do autor da parcela que lhe caberia, vez que além do R$ 450.000,00 que ela receberia, faltariam ainda a pagar algumas centenas de milhares de reais em favor do autor. Diante do inadimplemento recíproco e considerando que ambos os litigantes demonstraram desinteresse na conservação do negócio, de rigor a decretação da rescisão do contrato, retornando os contratantes ao status quo ante. Considerando os documentos constantes dos autos, imperioso reconhecer que o réu efetivamente pagou ao autor R$ 600.000,00, sendo R$ 500.000,00 comprovados pelo

Curso de Direito - Parte Especial - Livro I - Do Direito das Obrigações - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 8 / 8 termo de quitação e R$ 100.000,00 pelos comprovantes de TED a fls. 209/210. Tendo em mente que o negócio se deu sobre a totalidade do imóvel, não sobre a parte ideal do autor, não há que se falar em adjudicação compulsória de 50% do bem em favor do réu reconvinte, por absoluta ausência de manifestação de vontade a esse respeito quando da celebração da avença. Ainda que assim não fosse, não restou demonstrado o pagamento de 50% do preço, aplicando-se ao caso a exceção de contrato não cumprido, consubstanciada no artigo 476 do CC. De rigor, portanto, apenas a devolução ao réu reconvinte dos valores por ele efetivamente pagos. Por fim, tendo sido o contrato inadimplido por ambas as partes, não há que se falar em indenização por danos morais. Aquele que deu causa à rescisão do contrato não pode alegar ter sofrido abalo moral com o descumprimento do avençado pela parte adversa. Admitir o oposto seria desconsiderar por completo a boa-fé objetiva. Pelo exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES a ação e a reconvenção, com fundamento no artigo 487, I, do CPC, para declarar rescindido o contrato entabulado entre as partes e para determinar a resolução do contrato e condenar o autor reconvindo a ressarcir ao réu reconvinte o valor de R$ 600.000,00, atualizado monetariamente desde os desembolsos (configurados nas datas do termo de quitação e dos TEDs de fls. 209/210) e acrescido de juros de mora de 1% ao mês desde a citação. Considerando a sucumbência recíproca, cada parte arcará com metade das custas e despesas processuais. Ainda, o autor pagará ao advogado do réu honorários advocatícios de 10% do valor atribuído à reconvenção. O réu, por seu turno, pagará ao advogado do autor honorários de 10% sobre o valor da causa. P.R.I. Santo André, 29 de agosto de 2016. Desenvolva as seguintes atividades tendo por objetivo o desenvolvimento da experiência jurídica: 1) Justifique, com base na sentença e no Código Civil, o argumento O que houve, em verdade, foi promessa de fato de terceiro que acabou não adimplida, dando azo apenas e tão somente à pretensão de resolução contratual. 2) Analise o argumento: O autor alienou imóvel que pertencia em parte a sua esposa, da qual se separou, sem obter no instrumento a devida outorga uxória em relação ao artigo 439 e seu parágrafo único do artigo 439 ( Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o não executar. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair sobre os seus bens ). 3) Além disso, não pagou a integralidade do preço pactuado, não servindo como justificativa a alegada recusa por parte da ex-esposa do autor da parcela que lhe caberia, vez que além do R$ 450.000,00 que ela receberia, faltariam ainda a pagar algumas centenas de milhares de reais em favor do autor. Explique por que o princípio rebus sic standibus não se aplica. 4) Aquele que deu causa à rescisão do contrato não pode alegar ter sofrido abalo moral com o descumprimento do avençado pela parte adversa. Admitir o oposto seria desconsiderar por completo a boafé objetiva. Explique e justifique, com base no Código Civil, por que Admitir o oposto seria desconsiderar por completo a boa-fé objetiva.