Ética: compromisso social e novos desafios Propriedade intelectual e bioética Cintia Moreira Gonçalves 1 A propriedade intelectual e a propriedade industrial estão previstas e protegidas no ordenamento jurídico brasileiro, através de legislação específica, da Constituição da República e do Código Civil. Contudo, desde que o ser humano passou a ter uma visão crítica do meio ambiente em que vivia e transformá-lo de acordo com suas necessidades, há o surgimento da propriedade intelectual, como aquilo que é produção do intelecto humano, produto da inteligência humana, as expressões criativas do homem. O fogo, as plantações, a canoa, a roda, são todos exemplos de como desde os primórdios, o homem busca formas de adequar aquilo que a natureza oferece às suas necessidades. Com a evolução do ser humano, e sua percepção de que nem sempre conseguiam satisfazer suas necessidades, ao passo que por vezes tinham em abundância aquilo de que não precisavam, nasceram a troca, o comércio, a moeda e os especialistas, na produção, na plantação, na criação etc. Com eles nasceram as necessidades de se assegurar e proteger os direitos de criação, ou seja, o reconhecimento da propriedade e a preservação da mesma. A invenção da imprensa, o fim da guerra fria, a revolução industrial, a globalização a evolução científica, tecnológica, biotecnológica, vêm corroborar com a necessidade da preservação dos direitos de propriedade intelectual e propriedade industrial, até porque, em toda a história da humanidade, conhecimento gera dominação e poder. Necessário se faz, contudo, delimitarmos propriedade, propriedade intelectual, propriedade industrial, marcas, patentes e como se preserva, cada uma delas. 1 AOB/MG 88.710 B (dracintia@terra.com.br)
Por Propriedade: Endentemos a que está prevista no art. 1.228 e seguintes C.C., como aquilo do que se pode usar, gozar, dispor, reaver, como legítimo dono ou proprietário. Por Propriedade Intelectual: Entendemos o produto do pensamento, as produções, invenções da inteligência humana. A propriedade intelectual, na sua essência, se materializa através das produções artísticas, literárias, científicas, é protegida pelos chamados direitos autorais e abrange a propriedade industrial, que tem por objeto as invenções, modelos e desenhos industriais, tudo o que pertence ao campo industrial e é protegida pelo INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial, através dos institutos de marcas e patentes. Se por um lado temos expressões artísticas e culturais, como propriedade intelectual, não podemos excluir aquilo que está ligado à propriedade industrial, pois, antes de se tornarem processos industrializados, aquilo que hoje, está ligado à industrial, já foi certamente, apenas a produção do intelecto.vale então diferenciarmos Marcas e Patentes, senão vejamos: Marca: Segundo a lei brasileira, é todo sinal distintivo, visualmente perceptível, que identifica e distingue produtos e serviços de outros análogos, de procedência diversa, bem como certifica a conformidade dos mesmos com determinadas normas ou especificações técnicas. A marca deve constituir em sinal visualmente perceptível. (Conceito retirado o site: www.inpi.gov.br) Quanto à sua origem a marca pode ser nacional ou estrangeira, e quanto ao seu uso, ela pode ser de produto, serviço, coletiva ou de certificação. Quanto à sua apresentação a marca pode ser nominativa, figurativa, mista ou tridimensional. O depósito de uma determinada marca perante o INPI deve estar ligado sempre a um segmento de mercado. Há ainda uma proteção especial do INPI para marcas de alto renome, que são aquelas cujo renome transcenda o segmento para o qual foi depositado, então está assegurada para qualquer segmento do mercado. Patente: é um título de propriedade temporária sobre uma invenção ou modelo de utilidade, outorgado pelo Estado aos inventores ou autores ou outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras de direitos sobre a criação. Em contrapartida o inventor se obriga a revelar detalhadamente todo o conteúdo técnico da matéria protegida pela patente. (Conceito retirado o site: www.inpi.gov.br) Assim como as marcas, as patentes têm suas peculiaridades, há diferenciações entre invenção, modelo de utilidade, desenho industrial e patente de biotecnologia. Cada um deles tem um prazo de
validade próprio, um procedimento para depósito e avaliação, mas o que cabe aqui deixar claro é que cada qual, recebe a devida proteção e está limitada sempre à extensão territorial do país onde foi depositada. Tanto as marcas quanto as patentes, obedecem a critérios de caducidade e só terão eficácia se forem utilizadas para o fim ao qual se destinaram. Lembramos que os programas de computador não são patenteáveis, apenas por uma exceção: Note-se, entretanto, que os programas de computador desenvolvidos estritamente para funcionar "embarcados" em máquinas ou equipamentos, normalmente gravados em "chips" integrantes das estruturas destes, podem ser objeto de proteção através de patente. Nestes casos o não se está demandando o programa de computador "em si" e sim a máquina ou equipamento. (Conceito retirado o site: www.inpi.gov.br) Fazendo uma breve análise sobre a problemática que envolve a propriedade industrial, o desenvolvimento de novas tecnologias, suas patentes e princípios bioéticos, acabamos por perceber, que esse modelo de asseguramento de direitos estabelecido, já não é suficiente à sociedade contemporânea, senão vejamos: No tocante ao meio ambiente, vale ressaltar duas questões de suma importância. Em primeiro lugar o desenvolvimento, aplicação e implementação de novas tecnologias, antes de resultados conclusivos a respeito dos efeitos futuros dessas aplicações. Como exemplo dessa situação, temos as patentes dos transgênicos, também conhecidos como Frankplantas, aqueles alimentos que grosso modo, são geneticamente manipulados para se auto-defender das pragas, e conter o inseticida que anteriormente era aplicado através de pulverização, em toda a planta, da raiz ao fruto. Esse tipo de alimento já vem sendo consumido em larga escala, e por vezes a população o consome, sem nem ao menos ter essa informação e principalmente, sem ter a certeza do preço que sua saúde pagará. Em segundo, mas não menos importante lugar, gostaríamos de questionar a mudança que esses alimentos têm causado na agricultura e em tudo o que o homem do campo conhecia até então, pois, se antes, conseguia manter sua plantação de sementes e brotos retirados da própria safra, hoje, com o simples gesto que rasgar um pacote de sementes de alimentos transgênicos, está assinando um contrato de licença de uso pra uma única colheita e, de qualquer forma, desrespeitar as normas
impostas pelo cedente, significa infringir legislação federal. Entre outras implicações, começar um novo broto, partindo de uma batata colhida na safra anterior, tornou-se história, passado. Já no tocante ao desenvolvimento de novos fármacos, os questionamentos éticos e humanitários não são menores, nem tampouco menos relevantes, pois, uma vez desenvolvidos novos medicamentos, vacinas, tratamentos, aquele que assegurar sua patente, terá exclusividade na produção. Ora, aqui se questiona os direitos de toda a humanidade, que não podem ser menores, do que os da indústria farmacêutica. Permitir que apenas uma parcela privilegiada da população, tenha acesso à cura, é uma questão humanitária, de segregação, de manutenção da existência da raça humana e não de políticas econômica e industrial. A resolução que rege os Comitês de Ética em Pesquisa, veio solucionar a situação dos indivíduos que se submetem às mesmas, beneficiando-os com o fornecimento do tratamento obtido através de seu esforço pessoal, na qualidade de objeto de estudos, mas e o resto da sociedade, quem está olhando por seus interesses? Onde estão posicionados, ou mais brevemente observados os princípios bioéticos da justiça, da beneficência e da autonomia, nas situações relatadas acima? Finalizando e como já foi amplamente demonstrado, a proteção oferecida, legalmente ao autor, inventor, criador, sobre sua obra ou criação, bem como seus frutos, é de suma importância, e encontra fundamento na própria evolução do ser humano e do meio em que vive, para subsistir. Não estamos, contudo, afirmando que essa proteção não crie barreiras ao desenvolvimento, que seu procedimento seja perfeito, ou que até por vezes, essa proteção não seja de certa forma, pouco ética. Estamos sim, afirmando que sua necessidade é latente e que seus princípios devem evoluir, assim como evolui a sociedade e as novas problemáticas impostas por essa evolução. Para conhecer um pouco mais Lei nº 5.772, de 21 de dezembro de 1971 - Antigo Código da Propriedade Industrial Lei nº 9.279/1996 Lei da Propriedade Industrial Lei n 9.610 de 19 de Fevereiro de 1998 Lei de Direitos Autorais Lei n 9.609 de 19 de Fevereiro de 1998 Lei de Programa de Computador
Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005 Lei de Biossegurança Convenção da União de Paris Constituição Federal Novo Código Civil Sites INPI www.inpi.gov.br Biblioteca Nacional www.bn.br Onde registrar direitos autorais Filmes - Através do Instituto Nacional de Cinema Obras Artísticas - Escola Nacional de Belas Artes Partituras Musicais - Escola Nacional de Música Plantas/Projetos CREA Livros/Textos - Biblioteca Nacional