FESTIVAL FOLCLÓRICO DE PARINTINS E PRODUÇÃO DE ARTESANATO: identidade cultural, trabalho e renda

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Transcrição:

Este trabalho aproxima-se da temática do Grupo de Trabalho (GT 7 - Turismo e sustentabilidade FESTIVAL FOLCLÓRICO DE PARINTINS E PRODUÇÃO DE ARTESANATO: identidade cultural, trabalho e renda AZEVEDO FILHO, João D Anúzio M. de 1 ; SOUZA, Carlos Alberto Brasil de 2 RESUMO O trabalho procura discutir a importância da produção de artesanato como identidade cultural e fonte de trabalho e renda em Parintins, Amazonas, principalmente levando em consideração a relevância e influência dos bois-bumbás, Garantido e Caprichoso, como base da cultura local. Este estudo é de cunho descritivo-analítico pois foi desenvolvido a partir de levantamento bibliográfico que retratam a relação entre o artesanato e identidade cultural, como também, a coleta direta de informações com a aplicação de questionários a 10 artesãos da Central de Artesanato Marise Mendes, localizado no centro da cidade de Parintins/AM. A análise qualitativa busca construir a importância dessa atividade tanto para os agentes envolvido como para a cultura local. Conclui-se que é inegável que o artesanato parintinense é a legítima representação da memória material e da identidade da cultura que se constrói em Parintins. O artesanato parintinense é de fato uma fonte geradora de postos de trabalho, pois oportuniza homens e mulheres um ofício que garante o sustento de suas famílias. Palavras Chave: Amazonia, cultura, economia criativa FOLKLORIC FESTIVAL OF PARINTINS AND ARTESANATO PRODUCTION: cultural identity, work and income ABSTRACT This paper seeks to discuss the importance of the production of handicrafts as cultural identity and source of work and income in Parintins, Amazonas, considering, mainly, the relevance and influence of the bois-bumbás Garantido and Caprichoso in these aspects. This is a descriptive-analytical study developed from a bibliographical survey related to the subject, as well as the direct collection of information through the application of questionnaires to 10 artisans from the Marise Mendes Craft Center, located in the downtown area of Parintins. The qualitative analysis seeks to show the importance of this activity both for the agents involved and for the local culture. It is concluded that the regional handicraft is undeniably the legitimate representation of the material memory and the identity of the municipal culture and, in fact, it is a source of employment, since it gives men and women access to the sustenance of their families. Keywords: Amazonia, culture, creative economy 1 Dr., professor adjunto da Universidade do Estado do Amazonas UEA. e-mail: jdazevedogeo@hotmail.com. 2 Graduado em Geografia pela Universidade do Estado do Amazonas UEA. e-mail: carlosbrasil48@hotmail.com. 1

INTRODUÇÃO O Brasil é um país de diversificado patrimônio multicultural, repleto de manifestações folclóricas, dentre as quais se encontra o boi-bumbá de Parintins com o seu Festival Folclórico, a disputa entre as duas agremiações, o Boi-Bumbá Garantido e o Boi-Bumbá Caprichoso, que ocorre anualmente no último final de semana do mês de junho. Parintins é um dos 62 municípios que compõem o estado do Amazonas. O município, que possui uma população estimada em 112.716 habitantes encontra-se no extremo leste do estado do Amazonas, distante a 369 km em linha reta da capital do estado, Manaus, e a 420 km por via fluvial. O Festival Folclórico de Parintins constituiu-se em um evento que se tornou referência dentro e fora do Amazonas. É um dos mais importantes eventos do calendário cultural brasileiro e que transformou Parintins em um dos 62 municipios indutores do turismo nacional pelo Ministério do Turismo. A festival atraiu mudanças infra-estruturais, aumento da população urbana e o crescimento do turismo, uma atividade que possibilita atrair bastante recursos para o município. O Festival Folclórico de Parintins, como manifestação cultural, tem contribuído para a construção da uma identidade do povo amazonense. A identidade cultural expressa pelo boi-bumbá está presente no sentimento de pertencimento ao estado do Amazonas, cujas riquezas da biodiversidade e do povo, são exaltadas nas músicas, toadas como são localmente conhecidas; pelas cores vermelho (do Boi Garantido) e azul (do Boi Caprichoso); pelos artistas plásticos que retratam em suas obras os temas amazônicos e o boi-bumbá; assim como também, está presente no artesanato, que visivelmente, recebe forte influência do Festival Folclórico. Neste contexto, acredita-se que o Artesanato, como um produto que recebe influência das manifestações culturais locais, carece de maiores investigações científicas, pois se supõe que esta atividade, além de ser a representação material da identidade cultural parintinense, também tem sua parcela de contribuição socioeconômica. Dessa forma, é relevante buscar respostas que possam comprovar ou repelir a hipótese de que o artesanato produzido em Parintins possui elementos e características que o singularize como um produto material representativo da identidade cultural local. Assim, o objetivo deste estudo é identificar a relevância do artesanato produzido por artistas parintinenses na formação da identidade cultural local e sua contribuição socioeconômica para o município de Parintins, no estado do Amazonas. Para alcançar o objetivo proposto será necessário buscar a existência de elementos que caracterizem o artesanato produzido localmente como a materialização da identidade cultural parintinense; conferir a percepção do artesão no tocante ao desenvolvimento de sua atividade, o artesanato, e sua contribuição para a cultura local e, também, analisar a importância do artesanato em Parintins, como uma ocupação para os indivíduos que o desenvolvem e sua contribuição para a criação de postos de trabalho e geração de renda para os parintinenses. 2

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para que se investigasse a relevância do artesanato produzido por artistas locais na formação da identidade cultural e sua contribuição econômica para Parintins, utilizou-se os seguintes procedimentos metodológicos: como delimitação do espaço de estudo, considerou-se a sede do município como centro da pesquisa e a Central de Artesanato Marise Mendes, que reúne o total de 42 artesãos, localizada no centro da cidade, a área de estudo. Figura 1: Localização de Parintins e a área de estudo Organizador: JDM Azevedo Filho, 2017 Quanto às fontes de dados, este estudo se utilizou de dados primários colhidos a partir da aplicação de questionários de pesquisa, e dados secundários obtidos por intermédio de artigos acadêmicos, revistas e reportagens. O questionário continha 15 perguntas. Entrevistou-se 10 artesãos. A coleta de dados foi realizada durante os dias 18 e 19 de outubro e 07 de novembro de 2016. Buscou-se por meio das obras que referenciaram este trabalho, identificar o artesanato como um produto de identidade cultural, fonte geradora de postos de trabalho e renda para a economia da cidade de Parintins. Buscou-se também, por meio dos questionários, investigar a existência de elementos que caracterizem o artesanato produzido em Parintins como a concretização material da identidade cultural do município; verificar a ótica do artesão no que tange o fazer de sua atividade e sua contribuição cultural para a cidade de Parintins; e averiguou a importância do artesanato em Parintins, como um ofício para os indivíduos que o desenvolvem e sua contribuição para economia parintinense. Após as entrevistas, os dados foram tabulados e analisados de forma crítica e objetiva. O método abordado neste estudo é o dedutivo, que parte do geral para o particular, posto que se acredita como o patrimônio material de uma cultura, revela por meio de seus traços, formas, funções, 3

cores e outras características, a legítima representação da memória material e identidade de uma comunidade, e por analogia, supõe-se que o artesanato parintinense em sua particularidade é a legítima expressão material da cultura parintinense, que absorve elementos singulares na sua composição, a saber a mais influente, a cultura do boi-bumbá e o Festival Folclórico. A pesquisa, quanto aos procedimentos técnicos, buscou embasamento teórico nos estudos já publicados, e assim caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica de caráter exploratório. Quanto aos objetivos, a pesquisa caracteriza-se como descritiva, pois sua finalidade é a análise de um fato e ao mesmo tempo busca relação destes fatos e fenômenos socioculturais com a particularidade da atividade do artesão, o artesanato, e sua relação com a construção de uma identidade cultural local e sua contribuição econômica em Parintins. IDENTIDADE E PATRIMÔNIO CULTURAL Para abordar a identidade e patrimônio cultural, é necessário compreender o que é Cultura. O conceito de cultura é muito amplo, contudo, é cultura todo o complexo que inclui o conhecimento, arte, crenças, leis, moral, costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano em seu meio social, ou seja, a cultura pode ser definida como um resultado da repetição de experiências adquiridas, acumuladas e compartilhadas no processo histórico de construção social da vida de um grupo, nos seus modos de ser, nas suas visões de mundo, nas suas memórias e etc. Para Garcia e Benatto (2005, p. 3), a cultura: [...] é uma construção histórica, em que, numa visão abrangente, permeia toda a atividade humana dando forma ao projeto de vida de um povo, nação ou grupo social, com suas características próprias que traduzem sua realidade. O Brasil é um país de relevante patrimônio multicultural. A grande diversidade da cultura brasileira se dá, graças à sua formação histórica, na qual, vários grupos étnicos e sociais participaram, fornecendo diferentes contribuições culturais, a saber: os povos indígenas, os portugueses, os holandeses, os italianos, os africanos, os árabes, os japoneses, os judeus, os ciganos, entre outros povos. A contribuição cultural que esses povos trouxeram foi transformada ao entrar em contato com as culturas que aqui já estavam, e também causaram transformações nessas culturas, dando início a uma nova identidade, a formação da Identidade cultural brasileira, tão plural e ricamente diversa. A formação identitária cultural brasileira tem múltiplas dimensões, que envolve aproximações, conflitos, transformações e fusões. Essa identidade cultural, que define os modos de viver dos indivíduos nos grupos de pertencimento, não é algo estável e permanente, podendo absorver novos elementos e continuar sendo a identidade do povo. Correa e Walter (2016) observam a temática de identidade a partir de sua dimensão cultural, refutando a ideia de uma identidade unificada e estável, mas demonstrando a possibilidade dela ser fragmentada e composta de várias identidades. A identidade cultural é formada e transformada 4

continuamente em relação às formas pelas quais os sujeitos são representados ou interpretados nos sistemas culturais. Patriota (2002) nos ensina que identidade, patrinômio cultural e globalização estão intrinsecamente ligados, sendo impossivel discuti-los isoladamente. Ao nos referimos à identidade cultural, sempre estamos nos referindo a uma cultura nacional, aquela que, queiramos ou não, nos é imposta porque nela nascemos e nos influencia para toda vida. Todavia, esta identidade não é uma identidade natural, geneticamente herdada, ela é construída. Hall (1999: 50) assim a define: uma cultura nacional é um discurso um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações, quanto a concepção que temos de nós mesmos (PATRIOTA, 2002, p. 3) A identidade cultural brasileira se assegura através do Patrimônio Cultural, sendo ele imaterial, como por exemplo, a música, os saberes populares e etc., ou sendo ele material, como a arquitetura, as obras de arte, o artesanato entre outros. O Patrimônio Cultural é composto de todas as expressões tangíveis (que se pode tocar) e intangíveis (que não tem corpo) que lhes constituem, incluindo o meio ambiente natural. Segundo afirmam Garcia e Benatto, (2005 p. 4), o Patrimônio Cultural pode ser material e imaterial. A cultura de um povo não se exprime apenas nos aspectos físicos como os museus, monumentos, arquitetura, etc. Ela está também nos saberes, nas músicas e danças típicas, no folclore, no artesanato, na gastronomia, nas línguas, lendas, festas, enfim, no saber fazer que se denomina Patrimônio Cultural Imaterial. A Constituição Federal de 1988, sobre o Patrimônio cultural brasileiro, delibera em seu Art. 216 (2008, p. 139): Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: (EC nº 42/2003) I as formas de expressão; II os modos de criar, fazer e viver; III as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico- culturais; V os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. No contexto do Patrimônio material, o artesanato é tido como fonte inestimável para a materialização da identidade cultural. Portanto percebe-se a que artesanato é a tradução material da valorização da cultura local, valorização da memória e da identidade cultural. O artesanato é uma 5

atividade de manufatura, geralmente transmitida de geração para geração, possuindo grande valor histórico, sociocultural e econômico. Lima e Azevedo (1982, p.18) enfocam o processo produtivo definindo o artesanato como: Uma atividade predominantemente manual de produção de bens, exercida em ambiente doméstico ou pequenas oficinas, postos de trabalho ou centros associativos, no qual se admite a utilização de máquinas ou ferramentas, desde que não dispensem a criatividade ou a habilidade individual e de que o agente produtor participe, diretamente de todas ou quase todas as etapas da elaboração do produto. A cidade de Parintins apresenta importância cultural e econômica para o estado do Amazonas por sua manifestação folclórica que se tornou atração com respectivo potencial turístico, que se destaca na cidade, alcançando visibilidade regional, chegando a outros países. Nessa concepção, Santos (2008) pondera, que uma cultura construída tradicionalmente dentro de um lugar que consequentemente se difunde para outros, se identifica como cultura endógena e se coloca como aliada para a política dos pobres, uma vez que se consolidam e não dependem das políticas particulares. Aparentemente isso se torna uma fraqueza na cultura local, todavia, essa situação é uma forma que os excluídos obtêm para fortalecer a identidade e cultura do seu território. Segundo Braga (2007), na análise sociocultural das pequenas cidades aparecem como patrimônio imaterial, onde estão inseridos o conhecimento e modo do saber das culturas locais. Na contemporaneidade a cultura ganha novas formas e passa por transformações da cultura tradicional. Nesse caso a cultura se põe como patrimônio de múltiplos festejos de cultura popular, onde em seu espaço ocorrem as trocas e diálogo com outras culturas. Segundo Nogueira (2014), o que se fundamenta dentro da cultura popular é a circulação das criações artísticas difundidas a partir das experiências. Tudo se difunde, música, encenações teatrais, indumentária, adereços, artesanato. Assim, a cultura não está presa a nada, e nem é um bem que está preso em um só lugar ou a um só individuo, ela pertence a um lugar, porém, se torna aberta para todos. Diante disso, torna-se direta ou indiretamente símbolo de seu lugar, muitas tendem a desaparecer, ou ser substituída por outros meios culturais, mesmo assim a simbologia e identidade cultural do lugar são produtos da cultura popular e são retentores da existência do ser humano e suas peculiaridades. Quando se trata da cultura parintinense, esta carrega consigo a identidade do povo, com suas múltipla formação etnica, a sua miscigenação. Entretanto, neste município facilmente se encontra, mesmo que não seja um profissional, alguém que tenha um dom artístico, que saiba pintar, esculpir, desenhar, entre outros talentos e ofícios. Muitos não possuem uma formação profissional sobre elementos artísticos, porém, conseguem retratar perfeitamente noções sobre arte. O artesão parintinense é um desses artistas que retratam em seus trabalhos a identidade local: produzem paisagens em forma de pequenas esculturas, retratam o ribeirinho, os bois-bumbás Garantido e Caprichoso em miniaturas, os ícones representativos do festival, sinhazinhas, cunhãsporangas, indígenas, as cores azul (do Boi Caprichoso) e vermelho (do Boi Garantido) e qualquer outro elemento que faça parte do contexto amazônico, sempre alusivo ao festival folclórico. 6

A confecção dos elementos culturais artísticos produzidos pelos artesãos parintinenses, contribuem para o reconhecimento do festival de Parintins. Os artistas parintinenses, de modo geral, são dotados de técnicas que aperfeiçoaram ao longo do tempo, através do conhecimento empírico, entre tentativas, erros e acertos, experimentos que vão de simples pinceladas até um complexo conjunto de elementos técnicos que fogem da compreensão de outros artistas. A cultura de Parintins se destaca pela força e talento tanto dos grupos de artistas quanto de outros organismos culturais, em virtude de seus habitantes incorporarem no modo de viver cotidianamente, os saberes, tradições e costumes de caboclos, indígenas, negros e ribeirinhos. A identidade cultural parintinense se traduz nas mais diversas atividades, na musicalidade, nas apresentações dos bois, na dança, nas artes plásticas e no artesanato. Estas atividades, além de exprimir a identidade do povo de Parintins, também têm contribuído para o desenvolvimento socioeconômico do município. O artesanato, por exemplo, gera um círculo virtuoso de geração de renda. Quando o artesão compra no comércio local, algum material para a confecção de sua arte, esse recurso, é injetado na economia. Do mesmo modo, com a comercialização de seus produtos, além de alavancar a divulgação da cultura por meio de seus produtos, o artesão registra entrada de recursos financeiros, que será posteriormente utilizada para aquisição de bens e serviços socioeconômicos em favor de seu bemestar, contribuindo positivamente para o incremento da economia local. Para o entendimento, Santos (2008, p.144) discorre que gente junta cria cultura e, paralelamente cria uma economia territorializada, um discurso territorializado, uma política territorializada. Com isso os aspectos culturais ganham identidade em vista de um grupo de pessoas de um lugar. E o importante a destacar é que os aspectos culturais e tradicionais se inserem na vida e na arte, permitindo assim, a identidade do amazonense, que se traduz nas mais variadas formas, dentre as quais destaca-se o artesanato. Segundo Filgueiras (2005, p.20), especificamente no Brasil, o artesanato tem sido visto como sistema de produção, que representa empreendimento econômico. Ele também pode ser considerado como um instrumento estratégico de desenvolvimento regional por atingir parcelas significativas da população. Além disso, o artesanato tem custo de investimento relativamente baixo, que utiliza, na maioria das tipologias existentes, matéria-prima natural disponível. A percepção do artesanato vai além da valorização da cultura local, valorização da memória e da identidade cultural de um povo. O artesanato, nos últimos anos, tem sido percebido como uma atividade econômica, que gera renda aos indivíduos que o desenvolvem. O artesanato é tido como uma atividade empreendedora, é resultado da criatividade, da experiência, do conhecimento, é a perpetuação de valores, além da capacidade de expressão. De modo geral, o artesanato possui elementos que caracterizam a atividade como pertencente a um ramo econômico, a Economia Criativa. Reis (2008) define a economia criativa como uma economia que procura uma abordagem humanística, que considera as peculiaridades do local, as necessidades reais e as diferenças culturais, uma forma de conduzir a economia e a sociedade. Segundo o mesmo autor, o artesanato na percepção econômica é uma oportunização ao artesão para gerar renda e movimentar a economia: 7

Outra característica da economia criativa é a oportunidade de oferecer ao artesão e a comunidade, atividades que utilizem sua própria formação, cultura e raízes, visto o aumento do reconhecimento da criatividade e do talento humano, tornando-se um importante instrumento para fomentar ganhos de desenvolvimento, uma opção viável de crescimento que leva em conta a realidade e os limites da comunidade (REIS, 2008). O Artesanato (atividade do artesão) que possui muitas percepções, antropológica, histórica, econômica, e etc., destaca-se, sobretudo por evidenciar o protagonismo do artesão, uma particularidade, fornecendo dados relevantes que venham a contribuir com essa relação: patrimônio material, de identidade cultural, que carrega na sua forma física as experiências e as tradições culturais do povo ao qual pertence ao mesmo tempo em que é uma atividade empreendedora que gera postos de trabalho e renda. TURISMO, ARTESANATO E IDENTIDADE CULTURAL DE PARINTINS O boi-bumbá de Parintins é um espetáculo tecido com o encanto das toadas e lendas, representações de rituais indígenas e celebrações tribais povoadas por seres míticos amazônicos, uma expressão máxima da autenticidade cultural da região Norte do Brasil. É neste contexto que se percebe o turismo, que relacionado ao Festival Folclórico, a cada ano atrai mais visitantes, motivados a conhecer a cidade, a cultura e os bois Garantido e Caprichoso. O Turismo, segundo Garcia e Benatto (2005, p. 4):... é uma das atividades econômicas que envolve diretamente ou indiretamente vários setores da economia de uma região ou país, e o fator humano, sujeito da ação, está presente em todas as atividades, quer seja como consumidor ou como prestador de serviços, implicando dessa forma no relacionamento interpessoal, com suas atitudes, experiências, cultura e modo de viver. O turista tem como objeto de desejo o lugar visitado, então, como não pode possui-lo (levalo), consome lembranças do mesmo, nesse sentido, o artesanato local ganha expressividade. No caso de Parintins, a lembrança adquirida pelo turista, é a própria materialização da identidade cultural local. Segundo os artesãos entrevistados, o uso do artesanato associado à atividade do turismo é cada vez mais crescente em Parintins, justamente por ser identificado como uma lembrança da cidade de Parintins, da festa, do festival ou simplesmente uma lembrança do boi. Na confecção do artesanato parintinense utiliza-se em sua maior parte, de elementos presentes no meio ambiente, como por exemplo, cipós, palhas, fibras, certos tipos de capim, madeiras, cuias, sementes e cascas, caroços, molongó 3, ossos, entre outros materiais que servem de matéria-prima para o artesão produzir acessórios e adereços como anéis, colares, pulseiras, cocares, brincos, braceletes, 3 Arbusto que ocorre na região amazônica, cuja madeira, quando seca se assemelha à cortiça; leve e macia, muito utilizada pelo artesão local para esculpir suas peças artesanais diversas. 8

tornozeleiras, tiaras, chaveiros, canetas, sandálias, cintos, bolsas, chapéus, cortinas, carteiras e uma infinidade de miniaturas dos personagens do festival folclórico, sinhazinhas, cunhã-porangas, portaestandarte e os bois Garantido e Caprichoso, de diversos tamanhos, geralmente retratados em cenários amazônicos. Segundo os entrevistados, há uma variedade de mais de 40 modelos de artesanatos produzidos, contudo, as miniaturas dos bois estão entre os produtos mais vendidos. Todo mundo quer levar pra casa o seu boi de preferência (C.B, artesão parintinense). O artesanato parintinense (figura 1), tem sido muito copiado por artesão de cidades vizinhas e da capital do estado, Manaus, e assim, percebe-se que a personificação da identidade cultural do boibumbá pelo artesanato, que pode ser constatado na confecção dos itens em miniatura, nos adereços e adornos em que há predominância das cores azul e vermelho de Caprichoso e Garantido respectivamente, deixou de ser exclusividade de parintinenses. Constatou-se que a referência desses trabalhos é a cultura dos bois de Parintins. Ainda que sejam produzidos em Manaus, por exemplo, na maioria das vezes são cópias de produtos parintinenses. Pode-se assim, alegar que o artesanato localmente produzido, possui identidade e elementos que o caracterizam como um produto que é fruto da manifestação cultural parintinense e que está influenciando artesãos das cidades vizinhas e da capital na forma de retratar a região amazônica como originalmente é feito em Parintins. Figura 1: Artesanato parintinense durante a visita de transatlânticos (2015) Fonte: Carlos Brasil, 2015. É inegável que o festival folclórico de Parintins movimenta a economia do município, a festa dos bois alavancou o turismo na cidade. Empresas e o Estado transferem recursos como promoção e 9

incentivo à cultura e arte diretamente aos Bois que investem na contratação de artistas e servidores diversos e compra de material para as alegorias. O governo do estado e a Prefeitura investem na melhoria da infraestrutura urbana, melhoria de vias de trânsito, jardinagem, limpeza, pinturas de meio fio etc., contratando um significativo contingente de trabalhadores. Uma das vantagens apontadas por Azevedo Filho (2013), a respeito do Festival, é justamente os investimentos na cidade, seja de forma permanente ou apenas maquiagem, ela permanece até o outro ano, bem diferente dos demais municípios amazônicos que demoram 3 ou 4 anos para verem investimentos idênticos. Durante a visita à Central de Artesanato Marise Mendes (figura 2), foi possível constatar que aquele espaço é o maior centro de promoção e comercialização dos produtos com a efetiva participação dos artesãos. Figura 2: Central de Artesanato Marise Mendes, Parintins-AM Fonte: Carlos Brasil, 2016. A Central de artesanato, que está localizada no centro comercial da cidade, próximo ao porto fluvial e aos bancos, é composta por 11 boxes (10 destinados à venda do artesanato e 01, com maior espaço, destinado à exposição e comercialização de quadros e telas). Os boxes são distribuídos entre grupos familiares, são 6 (seis) grupos com uma média de 7 (sete) membros, que se revezam para comercializar seus produtos. Foi possível verificar a existência de uma associação, a Associação de Artesãos e Artistas Rurais e de Turismo Ecológico SOARTE, que reúne os grupos de artesãos da Central. Percebeu-se que a prática da atividade do artesão, o artesanato, tem sua importância que vai além da ideia de um simples elemento na composição o produto turístico boi-bumbá, é possível afirmar 10

que o artesanato é um ofício para os indivíduos que o desenvolvem e esta atividade tem sua contribuição para economia parintinense. Na figura 3, é possível observar diversas peças artesanais que são comercializadas na cidade de Parintins: mini bois Garantido e Caprichoso e acessórios e adereços com a predominância das cores azul e vermelho. O Artesanato, nesta análise, pode então ser percebido como uma importante fonte geradora de renda, visto que os artesãos entrevistados vivem exclusivamente dessa atividade. Além do sustento da família, como a aquisição de bens e serviços, essa injeção de dinheiro do turismo, serve para o incremento da economia local, pois possibilita a compra de matéria-prima (cola, tintas, tecidos, ferramentas, embalagens e outros.) para a confecção do artesanato, que será vendida ao consumidor final, turista ou não. É um círculo virtuoso importante, que movimenta a economia do município de Parintins. Figura 3: Artesã parintinense produzindo e expondo Fonte: Carlos Brasil, 2016. Dessa forma também foi possível fazer uma análise dos pontos fortes e fracos dos artesãos que promovem e comercializam seus produtos na referida central de artesanato. No que tange aos pontos fortes é possível afirmar que os artesãos, em sua sede da Central, possuem uma estratégica localização, logo atrás do Porto Hidroviário, o que é um ponto positivo, visto que segundo os pesquisados estar o mais próximo do visitante é fundamental para a promoção e comercialização do artesanato. Outros pontos, tidos como positivos, por parte dos entrevistados, é a preferência dos visitantes/turistas por produtos relacionados ao Festival Folclórico de Parintins, como miniaturas dos bois Garantido e Caprichoso. Também foi apontado como fator positivo para o desenvolvimento da atividade o aproveitamento da matéria-prima natural explorada in natura. 11

O artesanato é uma forma de geração de renda que não necessita investimentos altos, já que a região tem abundância de matéria-prima, e os materiais que são adquiridos para a confecção, a comercialização do produto, o artesanato ao consumidor, cria uma cadeia de trocas bem interessante. Ainda na percepção dos artesãos, são tidos como pontos fortes: a longa experiência dos artesãos no processo de produção do artesanato; a facilidade no desenvolvimento de novos produtos com foco na identidade cultural, introduzindo a resina, a cerâmica fria (biscuit) como matéria-prima; o interesse do artesão em incorporar novas ferramentas para melhorar o desempenho das atividades artesanais entre outros. Esses pontos destacados pelos pesquisados, como por exemplo, a assiduidade por parte dos clientes na aquisição do artesanato; apoio estadual para a participação em feiras e eventos intermediados pela Empresa Estadual de Turismo do Amazonas- Amazonastur. Estes pontos fortes podem ser percebidos como uma vantagem competitiva em relação aos demais artesãos que não estão diretamente ligados à Central. No tocante aos pontos fracos, observados pode-se enumerar: a fraca aptidão no gerenciamento de atividades promocionais de venda; a estrutura física da Central que necessita de reparos, pois foram observados problemas de iluminação, ventilação e infiltração na estrutura; as vendas que permanecem reduzidas fora do período do Festival e outros. Estes pontos fracos caracterizam uma limitação que coloca os artesãos em situação de desvantagem em relação aos seus concorrentes. Do ponto de vista do artesão parintinense, o artesanato constitui-se num produto que valoriza as raízes folclóricas. O artesanato da gente tem a nossa identidade, tem o nosso boi, tem a nossa floresta, nossos pássaros, nossas cores... é a nossa cara (P E, 27 anos, artesão). No que tange às ameaças para a atividade, segundo as entrevistas, percebeu-se que a matériaprima, por exemplo, está sujeita à degradação por fungos, insetos, bactérias, e outros; os produtos são facilmente imitados, já que não possuem, um diferencial ou uma marca registrada; é nitidamente percebível a falta de apoio do órgão municipal e do empresariado local aos artesãos, que carecem de investimentos e políticas públicas de incentivos; outro fator preocupante percebido, é o avanço desordenado do turismo que pode resultar na descontinuidade das tradições e interferir na cultura local; há uma perceptível dificuldade de expansão para outros mercados como, o Sudeste, por exemplo; carece-se de domínio de outros idiomas, fato que dificulta a comercialização com o turista estrangeiro. Sobre o ordenamento do turismo, Azevedo Filho (2013) lembra da necessidade de se pensar o seu planejamento de um turismo, que seja consistente, politicamente correto e socialmente justo, que leve em consideração não só os interesses dos agentes de mercado do turismo, mas também os do visitante e do visitado (p. 22). O artesanato parintinense é um exemplo de patrimônio cultural material que deve ser lembrado como legítimo representante das manifestações culturais locais. O artesão apresenta-se como agente fundamental na propagação da cultura e informalmente contribui para o desenvolvimento da economia parintinense. A atividade do artesanato em Parintins, ainda que imperceptível para a maioria da sociedade, é relevante para a manutenção e propagação da identidade do povo parintinense e fonte geradora de bens e serviços para os indivíduos que dele sobrevivem. 12

CONCLUSÕES O artesanato parintinense é diversificado, rico e ainda que em sua produção se faça uso de materiais rústicos, há uma qualidade e beleza nas peças fabricadas. O artesanato local nos revela elementos e características que tem sua base nas tradições e nos costumes da multicultura amazônica. É inegável que o artesanato parintinense é a legítima representação da memória material e da identidade da cultura que se constrói em Parintins. É a legítima expressão física da cultura parintinense, que absorve elementos singulares na sua composição, a saber, a mais influente, a cultura dos boisbumbás e exprime nas suas formas e cores os elementos compõem a própria cultura local. O artesanato parintinense é de fato uma fonte geradora de postos de trabalho, pois oportuniza homens e mulheres um ofício que garante o sustento de suas famílias. A venda de seus produtos cria um processo virtuoso de incremento da economia do município. É possível com a renda gerada pela comercialização do artesanato manter o sustento e adquirir bens e serviços aos artesãos e seus familiares. O estudo sobre o artesanato local como produto de identidade e fonte de contribuição socioeconômica pode orientar discussões para possíveis políticas públicas voltadas para desenvolvimento do turismo, do artesanato, visando promoção do bem-estar dos trabalhadores artesãos, ainda pouco valorizada, de modo que se tenha a garantia da preservação e a valorização da identidade cultural de Parintins, além do desenvolvimento sustentável dessa atividade. REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS AZEVEDO FILHO, João D Anuzio M. A produção e a percepção do turismo em Parintins, Amazonas. Tese de Doutorado. Orientador Marcello Martinelli. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas / Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). São Paulo, 2013. BRAGA, Gil Sérgio Ivan. Festas Religiosas e Populares da Amazônia: Cultura popular, patrimônio imaterial e cidades. Outubro, 2007. BRASIL. [Constituição (1988)] Constituição da República Federativa do Brasil: Texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2008. CORREA, Ronaldo de Oliveira; WALTER, Ana Lídia Wolocen. Reflexões sobrea perspectiva da identidade em propostas para o artesanato. XI Jornada Latino-americanas de Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia 25 a 2 de ulo de 2016. Universidade Tecnológica Federal do Paraná: Curitiba. 2016. FILGUEIRAS, Araguacy Paixão Almeida. Aspectos socioeconômicos do artesanato em comunidades rurais no Ceará O Bordado de Itapajé CE. Fortaleza, 2005. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Ceará, Departamento de Economia Rural. GARCIA, Márcia Dias; BENATTO, Annie Piazza. O artesanato como produto turístico no município de Jacarezinho, PR: Estudo de caso no Centro de Capacitação, Produção e 13

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