Bacharelado em Direito Avenida Guararapes, 233 Jardim Santo Antonio, Recife PE 50.010-460 81 2121 5999 www.joaquimnabuco.edu.br PLANO DE AULA Prática Forense Civil 4ª aula 27 de agosto de 2018 EMENTA: Petição Inicial. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS CAUSADOS POR ACIDENTE DE VEÍCULOS. MODELO DE PETIÇÃO INICIAL COM NOTAS 1 PROBLEMA: AYRTON SENNA está dirigindo seu veículo em ITU quando JUAN MANUEL FANGIO, vindo em alta velocidade, provoca um acidente, atingindo a traseira do carro de AYRTON. AYRTON, que é domiciliado em SOROCABA, busca três orçamentos para o conserto de seu veículo (o mais baixo soma R$ 25 mil), apresentando-os a JUAN MANUEL, que nada faz. Como o carro é fundamental para o trabalho de AYRTON, este realizou o conserto na oficina que apresentou o menor preço e já pagou por tal serviço. Considerando que o carro dirigido por JUAN MANUEL na verdade é de propriedade de seu irmão NIKI LAUDA, e que estes são domiciliados em SALTO, elabore a medida judicial pertinente para buscar o ressarcimento de AYRTON. 1 Modelo base do livro: TARTUCE, Fernanda. Manual de Prática Civil. 12. ed. São Paulo. Forense, 2016
EXMO SR. DR. JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS CÍVEIS DA COMARCA DE SOROCABA SP 2. AYRTON SENNA (estado civil 3 ), (profissão), portador da cédula de identidade RG n. (número) e inscrito no CPF sob o n. (número), usuário do endereço eletrônico (e-mail 4 ), residente em (Rua, número, bairro, CEP), nesta comarca de Sorocaba, vem, respeitosamente perante V. Exa., por seu advogado que esta subscreve, com escritório em (Rua, número, bairro, CEP, cidade CPC, art. 39, I 5 ), com base 6 no art. 186 do Código Civil (CC) 7 e demais dispositivos aplicáveis à espécie, propor a presente AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANO EM RAZÃO DE ACIDENTE DE VEÍCULOS 8, PELO PROCEDIMENTO COMUM 9 em face de Niki Lauda (estado civil), (profissão), portador da cédula de 2 Com base no art. 53, V, do CPC, a competência poderia ser da Comarca de Itu (local do acidente) ou de Sorocaba (domicílio do autor). Além disso, considerando que o art. 53, V, existe em benefício do autor, seria a ele possível, ainda, optar pela regra geral do art. 46 (domicílio do réu Salto) 3 O estado civil abrange a existência ou não de união estável, independentemente de formalização. 4 Se o autor não possuir endereço eletrônico, recomenda-se indicar que não possui e que tal fato não prejudica a sua identificação civil. 5 É desnecessária a reprodução do endereço profissional do advogado se ele está atuando em causa própria (CPC, art. 106). Caso integre sociedade de advogados, a procuração deverá conter o nome desta, seu número de registro na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço completo (CPC, art. 105, 3º). Na prática isso é desnecessário se tal informação consta na procuração ou mesmo no papel timbrado em que a petição for impressa, mas para certames e exames de Ordem ela se revela essencial para que o candidato demonstre conhecimento sobre a regra. 6 Geralmente, ao especificar a ação a ser proposta, indica-se o procedimento; como se aplica o procedimento comum a este caso, não é obrigatória a indicação de dispositivo legal (comumente apontado quando o procedimento é especial e tem regra específica). 7 Da mesma forma, já que será exposta a seguir a causa de pedir, não há necessidade de indicar o dispositivo legal. Trata-se de opção do advogado. 8 Algumas pessoas têm dúvida sobre como nomear a ação. Uma possibilidade interessante é usar a referência que consta na lei; o art. 53, V, se refere à ação de reparação de dano sofrido em razão de acidente de veículos. 9 Tampouco é obrigatória a indicação do procedimento; de todo modo, para demonstrar boa técnica é conveniente fazê-la.
identidade RG n. (número) e inscrito no CPF sob o n. (número), usuário do endereço eletrônico (e-mail 10 ), residente em (endereço), e Juan Manuel Fangio (estado civil), (profissão), portador da cédula de identidade RG n. (número) e inscrito no CPF sob o n. (número), residente em (endereço), ambos residentes na comarca de Salto, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos. DOS FATOS 11 Na data de (data), o autor dirigia seu veículo, na Rua (nome da Rua), na comarca de Itu, acompanhado de um amigo. Por volta das (horas), o corréu Juan Manuel, em alta velocidade, acabou por atingir a traseira do veículo do autor (marca, modelo, ano), provocando um acidente que causou graves danos ao veículo. Felizmente não houve qualquer vítima, sendo que as partes se dirigiram à delegacia para realizar o boletim de ocorrência (doc. anexo). Ao realizar o BO, o autor descobriu que o veículo na verdade é de propriedade do corréu Niki, irmão de Juan Manuel. Logo após a colisão, o autor buscou três oficinas 12 nesta comarca de Sorocaba (domicílio do autor) para realizar orçamento do conserto do veículo. Na semana seguinte (data), o autor encaminhou aos réus tais orçamentos, por carta com aviso de recebimento (doc. anexo). Infelizmente, não houve qualquer manifestação por parte dos réus. Como o veículo é fundamental para o deslocamento diário do autor, este procedeu ao conserto na oficina que apresentou o menor valor, a saber, R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), como se depreende dos documentos anexos. Ainda, desde logo se pleiteia prova pericial 13, de modo a comprovar que os serviços foram realizados no veículo, com alteração de inúmeras peças que fizeram com que o custo do conserto fosse elevado. DO DIREITO 14 10 Caso o autor não disponha do endereço eletrônico do réu ou de outro dado de qualificação indicado no art. 319, recomenda-se que indique o teor de que dispõe e, ao final, indique que tal fato não impede a identificação do réu para fins de citação. Pode o advogado argumentar que, alternativamente, o juiz deve diligenciar os órgãos competentes caso entenda necessárias tais informações, nos termos do art. 319, 1º, 2º e 3º. 11 A divisão da peça em fatos, direito e pedido não é obrigatória, já que não vem prevista em lei. Assim, trata-se de opção do advogado. Embora a divisão não seja prevista, é essencial que tais elementos estejam presentes, de acordo com o art. 319, III e IV, do CPC/2015. De qualquer forma, para facilitar a compreensão do destinatário (juiz), é conveniente apresentar essa estrutura de tópicos em uma inicial. 12 Não há previsão legal determinando ser necessária a realização de três orçamentos. Porém, a praxe é atuar nesse sentido para afastar alegações de que o valor está acima do que usualmente o mercado cobra. Logo, em casos análogos, é recomendável que se faça exatamente três (ou mais) orçamentos. Além disso, em situação desse tipo, é recomendável que sejam anexadas fotos do veículo (antes e depois do conserto) para compor o material probatório e informar o livre convencimento do juiz. 13 No dia a dia forense, a maioria de causas envolvendo acidente de veículos é solucionada sem perícia. De qualquer forma, como no exemplo em discussão o conserto já havia sido realizado, entendemos conveniente a perícia para o caso de o réu afirmar que o conserto não havia sido realizado/foi realizado sem necessidade. Nos últimos meses os réus nem sequer têm retornado às ligações do autor, razão pela qual não resta outra solução a não ser buscar a tutela jurisdicional. 14 Um erro comum é nominar este tópico como Dos direitos, pois não estamos falando de vários direitos, mas, sim, da solução prevista em lei e dos diversos dispositivos legais aplicáveis. Assim, manter no singular revela-se a melhor opção. Como opção pode ser usada expressão análoga (como FUNDAMENTOS JURÍDICOS).
O corréu JUAN 15, ao trafegar em alta velocidade na via urbana, claramente agiu com culpa (imprudência). Em virtude disso, houve a colisão (ato do agente 16 ), que provocou o dano. Por sua vez, o proprietário 17 do veículo também responde pelos prejuízos causados ao autor por ter permitido que o corréu causasse danos em virtude da utilização de seu veículo. Neste exato sentido vem se manifestando a jurisprudência majoritária de nossos Tribunais, como se percebe pelo teor do julgado 18 do Superior Tribunal de Justiça retratado no Informativo n. 452 (de 18 a 22 de outubro de 2010) de tal Tribunal: TERCEIRA TURMA. AR. RESPONSABILIDADE. PROPRIETÁRIO. VEÍCULO. III (...) o proprietário de veículo responde, objetiva e solidariamente, pelos atos culposos de terceiro que o conduz, independentemente de que o motorista seja seu empregado, preposto, de que o transporte seja gratuito ou oneroso. Precedentes citados: REsp 577.902-DF, DJ 28.08.2006; REsp 1.104.196-RN, DJe 11.09.2009, e AgRg no REsp 873.570-SP, DJe 30.06.2010; REsp 1.191.544-RJ, rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julg. 21.10.2010. Assim, cabalmente presentes o dano, a conduta culposa dos agentes e o nexo causal (CC, art. 186), impõe-se o reconhecimento da responsabilização civil dos réus (CC, art. 927). Por fim, vale apontar que, nos exatos termos do art. 942, parte final, do CC, tendo o dano sido causado por mais de um agente, a responsabilidade é solidária. Portanto, é de reconhecer, no presente feito, a solidariedade dos réus quanto ao ressarcimento dos danos. DA OPÇÃO PELA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO 19. Em atenção ao art. 319, VII, do CPC, e demais dispositivos cabíveis, o autor manifesta seu interesse na realização de sessão de conciliação, com o objetivo de buscar uma solução consensual para o litígio. Usando a faculdade indicada na lei 15 Em relação à legitimidade passiva, seria possível escolher (i) ou só o motorista, (ii) ou só o proprietário (iii) ou ambos, em litisconsórcio passivo facultativo. Trata-se de opção do advogado do autor, conforme as especificidades da causa. Como exemplo, se o motorista fosse jovem, sem patrimônio, possivelmente seria desinteressante sua participação como réu (pois não teria como ressarcir o prejuízo, e o litisconsórcio tornaria o processo mais lento). 16 Se há a indicação do motorista como réu, há de se explicar sua culpa. 17 Da mesma forma, se se indica o proprietário como réu, há de se apontar o porquê de tal escolha. 18 Como possivelmente haverá alguma discussão em relação à legitimidade passiva, revela-se conveniente que se faça alguma indicação doutrinária ou jurisprudencial acerca do tema. No caso, apresentamos um julgado obtido a partir de pesquisa realizada em página da internet do Superior Tribunal de Justiça (www.stj.gov.br). 19 É requisito obrigatório da petição inicial indicar se o autor tem interesse na realização de audiência de conciliação ou de mediação (CPC/20150, art. 319, VII). Caso não haja interesse do autor pela audiência de conciliação ou mediação, é obrigatório ressaltá-lo desde a exordial, sendo recomendável fundamentar tal opção com base na autonomia da vontadeiv das partes.
processual 20,o autor sugere que o conciliador 21 seja o Sr. Galvão Bueno 22 (estado civil), (profissão), portador da cédula de identidade RG n. (número) e inscrito no CPF sob o n. (número), endereço eletrônico (email), residente em (Rua, número, bairro, CEP), integrante do corpo de conciliadores do Tribunal, nos termos do art. 168, 1º, do CPC/2015,21 em caso de concordância dos corréus. DO PEDIDO 23, DOS REQUERIMENTOS E DO VALOR DA CAUSA Ante o exposto, pede e requer o autor a V. Exa.: a) a condenação dos réus 24, de forma solidária, ao ressarcimento dos danos causados, no valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), referente ao conserto do carro do autor, com juros de mora e correção monetária (art. 1º da Lei no 6.899/1981), com base na tabela do TJSP 25 ; b) a condenação dos réus ao pagamento de custas e honorários; c) a citação dos réus, por correio 26, por ARMP 27,26 para que compareçam à audiência de conciliação 28 a ser designada e, querendo, apresentem contestação; d) a produção de todas as provas em direito admitidas, especialmente a documental (documentos acostados a esta inicial), testemunhal e pericial. 20 É facultado às partes, em comum acordo, escolherem um conciliador ou mediador, cadastrado ou não no Tribunal, segundo dispõe o art. 168, caput. 21 Nos termos do art. 165, 2º, a sessão (termo que parece mais apropriado que audiência, em que pese a terminologia do CPC) terá preferencialmente natureza de conciliação quando inexistir vínculo anterior entre as partes, como no exemplo do acidente do problema apresentado. 22 Seria possível haver mais de um conciliador, a teor do art. 168, 3º, mas tal opção deve ser reservada para casos de maior complexidade. 23 Este tópico poderia ser chamado apenas Do pedido. Considerando a divisão entre pedido e requerimento proposta nesta obra, sugerimos esta nomenclatura. 24 Este é efetivamente o pedido, em que se pede a condenação. Como visto, é sempre interpretado de forma restritiva, razão pela qual se deve ter cuidado na sua elaboração. 25 Cada Tribunal elabora sua própria tabela de correção monetária que deverá ser observada pelo advogado no caso concreto. Mesmo dentro de um mesmo Estado, existem tabelas distintas (nas Justiças Estadual, Federal e Trabalhista). 26 Desde logo o advogado poderia pedir a citação por mandado (oficial de justiça) e aí poderiam ser requeridos os benefícios do art. 212, 2º, do CPC/2015. 27 Como já visto, aviso de recebimento de mão própria, em que a carta de citação somente será entregue pelo carteiro ao próprio réu, e não a terceiro. 28 Os réus serão citados e intimados para comparecer à audiência/sessão de conciliação. Note-se que, caso não tenham interesse na autocomposição, os réus devem indicá-lo, por simples petição, até 10 dias antes do dia da audiência (CPC/2015, art. 334, 5º). Se não obtida a autocomposição, o réu terá 15 dias para apresentar contestação (CPC/2015, art. 335, I).
Dá-se à causa o valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), nos termos do art. 292, I, do CPC. Termos em que Pede deferimento. Sorocaba, data Advogado, assinatura/oab DOCUMENTOS QUE INSTRUEM ESTA INICIAL 29 1) procuração; 2) guias de recolhimento de custas (taxa mandato, taxa judiciária e despesas de correio); 3) certificado de propriedade do veículo do autor e da ré; 4) BO; 5) orçamentos; e 6) nota fiscal de conserto. 29 Não é obrigatório apontar quais são os documentos juntados com a inicial. Nada obstante, isso pode facilitar a compreensão dos fatos pelo julgador.