O ACESSO DO IDOSO AO JUDICIÁRIO



Documentos relacionados
RESOLUÇÃO Nº, DE DE 2010.

Remédio constitucional ou remédio jurídico, são meios postos à disposição dos indivíduos e cidadão para provocar a intervenção das autoridades

A legitimidade da CNseg

Gerenciamento Total da Informação

ESTATUTO DO PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS *

LEI Nº 8.159, DE 8 DE JANEIRO DE O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

PARECER N.º 81/CITE/2012

PROVIMENTO Nº 20, DE 09 DE OUTUBRO DE O CORREGEDOR GERAL DA JUSTIÇA DO ESTADO DE ALAGOAS, no uso de suas atribuições legais e regimentais,

PREFEITURA MUNICIPAL DE ROSANA ESCLARECIMENTO Nº 01. Processo: Tomada de Preços nº 001/2010

autoridade consular brasileira competente, quando homologação de sentença estrangeira: (...) IV - estar autenticada pelo cônsul brasileiro e

Crimes praticados por militares estaduais contra civis Procedimentos a serem adotados, CPP ou CPPM?

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E CIDADANIA

Alterações ao Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas

PROJETO DE LEI N o, DE 2012

AULA 02 ROTEIRO CONSTITUIÇÃO FEDERAL ART. 5º; 37-41; ; LEI DE 13/07/1990 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E C A PARTE 02

PARECER N.º 45/CITE/2011

RESOLUÇÃO PGE Nº DE MARÇO DE 2015.

- 2 - Olá, eu sou o. Zé Virtual. e estou aqui para tirar suas dúvidas quanto ao Juizado Central

OS TRIBUNAIS E O MINISTÉRIO PÚBLICO

RELAÇÃO DO PARLAMENTO BRASILEIRO COM AS POLÍTICAS SOCIAIS PARA A TERCEIRA IDADE.

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

A Defensoria Pública é a instituição com previsão constitucional para prestar assistência jurídica integral às pessoas que não têm condições

1) (OAB137) José alienou a Antônio um veículo anteriormente adquirido de Francisco. Logo depois, Antônio foi citado em ação proposta por Petrônio, na

FACULDADE ZUMBI DOS PALMARES CURSO DE DIREITO PRÁTICA JURÍDICA


Conselho Nacional de Justiça Corregedoria PROVIMENTO Nº 12

CONCURSO DE PRÁTICAS EXITOSAS. SAP - Sistema de Automação de Petições

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO Colégio de Procuradores de Justiça

CRIAÇãO DE GABINETE SOCIAL DE APOIO JURíDICO A UTENTES CARENCIADOS

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador CRISTOVAM BUARQUE

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de RECURSO

Planejamento e Gestão para Cumprimento da Meta 02. *Cristiane Pederzolli Rentzsch*

Excelentíssimo Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos, DD. Presidente do Conselho Nacional do Ministério Público:

COMISSÃO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO.

DECRETO FEDERAL Nº 6.303, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2007 Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 13 dez Seção I, p.

(Atos não legislativos) REGULAMENTOS

REQUERIMENTO N o, DE 2015

*F69F3DF9* PROJETO DE LEI N.º, de de (DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO)

O Dever de Consulta Prévia do Estado Brasileiro aos Povos Indígenas.

SEQÜESTRO INTERNACIONAL DE CRIANÇAS E SUA APLICAÇÃO NO BRASIL. Autoridade Central Administrativa Federal/SDH

PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR N.º /2013

Na prática, não há distinção entre objeção substancial e processual.

CÂMARA MUNICIPAL SANTANA DA VARGEM

TEXTO: SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS HUMANOS.

Perguntas frequentes Marcas de alto renome

COMISSÃO DE SEGURIDADE SOCIAL E FAMÍLIA. PROJETO DE LEI N o 6.845, DE 2010 (Apenso o Projeto de Lei n o 6.887, de 2010) I - RELATÓRIO

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 62 da Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, com força de lei:

SUMÁRIO CAPÍTULO I FUNÇÃO E CARREIRA DO ADVOGADO CAPÍTULO II - DO PROCESSO CIVIL... 39

REFLEXÕES SOBRE O PROJETO TERCEIRA IDADE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARÁ, QUE REGULAMENTA O DIREITO DE PRIORIDADE PROCESSUAL RESUMO

MANUAL DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 8ª REGIÃO INTRODUÇÃO

PROCURADORIA GERAL ELEITORAL

CURSOS ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS

Prof. Murillo Sapia Gutier

PEDIDOS DE AUTORIZAÇÃO PARA RETIRADA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES ACOLHIDAS DAS ENTIDADES ORIENTAÇÕES TÉCNICAS DO CAOPCAE/PR

*486EBBAA* PROJETO DE LEI N.º, de (DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO)

Objetivo da Contratação. Nosso número Antecedentes (breve histórico justificando a contratação)

PARECER. Em suma, as providências postuladas pelo parquet federal referemse aos seguintes fatores:

TURMA REGIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA - TRUJ

PARECER N, DE RELATOR: Senador FLEXA RIBEIRO

Dúvidas e Esclarecimentos sobre a Proposta de Criação da RDS do Mato Verdinho/MT

Empresa como Sistema e seus Subsistemas. Professora Cintia Caetano

AULA 06 DA ADOÇÃO (ART A 1629 CC)

FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO LUÍS CURSO DE DIREITO ESTÁGIO SUPERVISIONADO 2011/2015. ESTÁGIO SUPERVISIONADO I 3º. Período

PROJETO DE LEI Nº 328, DE 2011 (Apenso o Projeto de Lei nº 823, de 2011) I - RELATÓRIO

ESTATUTO DO CONSELHO DO PROJETO VIVATIVA

O INDICADOR ESTATÍSTICO DA CARGA DE TRABALHO DO RELATÓRIO JUSTIÇA

Sugestão Legislativa nº 35, de 2003

Avanços na transparência

ESCOLA NACIONAL DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE MAGISTRADOS ENFAM FUNDAMENTAÇÃO CONSTITUCIONAL

S E N A D O F E D E R A L Gabinete do Senador RONALDO CAIADO PARECER Nº, DE 2015

O que são Direitos Humanos?

ENUNCIADOS DO FORUM NACIONAL DA MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO

CURSO DE DIREITO REGULAMENTO ESTÁGIO SUPERVISIONADO (NÚCLEO DE PRÁTICAS JURÍDICAS)

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA RURAL INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO RE Nº /MG.

PROJETO DE LEI Nº de 2007 (Da Deputada Luiza Erundina)

MESA 4 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DE CONTROLE 3 AS ORGANIZAÇÕES DE CONTROLE

REGULAMENTO DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES

Faculdade de Direito Ipatinga Núcleo de Investigação Científica e Extensão NICE Coordenadoria de Extensão. Identificação da Ação Proposta

POLÍTICA DE PRIVACIDADE SEGUROS UNIMED

Marco Civil da Internet

REGIMENTO DA UNIDADE DE AUDITORIA INTERNA DO IF SUDESTE DE MINAS GERAIS CAPÍTULO I

A IMPLANTAÇÃO DE CONSELHO CONSULTIVO EM SOCIEDADES LIMITADAS COMO FORMA DE GOVERNANÇA CORPORATIVA

Regulamento da CPA Comissão Própria de Avaliação DA FACULDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS DE VISCONDE DO RIO BRANCO CAPÍTULO I

CÂMARA DOS DEPUTADOS

Perguntas e respostas sobre a criação do Funpresp (Fundo de Previdência Complementar dos Servidores Públicos)

ROTINA DE COBRANÇA DE DÉBITOS DA AFRESP (Aprovada pela Portaria AFRESP nº 12/2013)

NOTA TÉCNICA: ICMS VERDE Por: Denys Pereira 1, Maíra Começanha 2, Felipe Lopes 3 e Justiniano Netto 4. Introdução

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador JORGE VIANA

em nada nem constitui um aviso de qualquer posição da Comissão sobre as questões em causa.

CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA CÍVEIS FALIMENTARES, DE LIQUIDAÇÕES EXTRAJUDICIAIS, DAS FUNDAÇÕES E DO TERCEIRO SETOR

Guia prático. Rede Judiciária Europeia em matéria civil e comercial

PAINEL 2 Ações de Nulidade e Infrações e seu Cabimento: Estratégias no Cenário Brasileiro. Guilherme Bollorini Pereira 19 de agosto de 2013

ESCLARECIMENTOS SOBRE OS CURSOS DE BACHARELADO E LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

PROJETO DE LEI Nº, de (Do Sr. Marcelo Itagiba)

PRÁTICA EXITOSA A EXPERIÊNCIA DA ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA NA TUTELA COLETIVA: A Efetividade do Direito à Saúde dos

A Lei 6.019/74 que trata da contratação da mão de obra temporária abrange todos os segmentos corporativos ou há exceções?

Transcrição:

O ACESSO DO IDOSO AO JUDICIÁRIO FATIMA NANCY ANDRIGHI Ministra do Superior Tribunal de Justiça Somente após o país completar quinhentos anos, vem a lume uma Lei que ampara os idosos brasileiros, denominada Estatuto do Idoso, materializado pela Lei n 10.741/03, a qual possui uma similitude com aquela que instituiu os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, qual seja, tramitou por mais de sete anos na Casa Legislativa. O Estatuto do Idoso ingressa no ordenamento jurídico nacional com o compromisso de traçar uma linha divisória no comportamento de todos os cidadãos, agentes públicos e privados em face aos idosos. A nova Lei explicita as regras programáticas constantes no art. 230 da Constituição, dispondo, nos termos do art. 2º, que deve ser assegurado aos idosos todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade ; o art. 3º explicita a quem incumbe garantir com absoluta prioridade, referidos deveres: à família, à comunidade, à sociedade e ao Poder Público. A Lei que dispõe sobre o Estatuto do Idoso está estruturada em sete Títulos a saber: Título I Das Disposições Preliminares; Título II Dos Direitos Fundamentais, este composto de dez Capítulos; Título III Das Medidas de Proteção, subdividido em dois Capítulos; Título IV Da política de atendimento ao idoso, com seis Capítulos; Título V Do acesso à Justiça, disciplinado em três Capítulos; Título VI Dos Crimes, com dois Capítulos; e Título VII Das Disposições Finais e transitórias, enfeixando 118 artigos. Este singelo ensaio tem a finalidade de planear, sem pretensão de oferecer soluções, e, apenas a título de sugestão, apontar as

imprescindíveis providências a serem tomadas pelas administrações de todos os tribunais com o objetivo de cumprir a contento o Título V do Estatuto do Idoso, que garante o acesso à Justiça. O dever de facilitar ao idoso o acesso ao Poder Judiciário mereceu destaque em Título específico, Do acesso à Justiça, porque, sem dúvida, é uma das questões relevantes na vida de todos os cidadãos e, com muito mais ênfase, na de nossos idosos. Os obstáculos enfrentados para solucionar problemas de natureza jurídica, bem como a demora na tramitação e julgamento dos processos, podem causar males psicossomáticos à saúde dos litigantes, conseqüência comprovada cientificamente, decorrentes da aflição e da angústia geradas durante a infindável espera na definição da pendenga judicial. Urge reconhecer que o idoso brasileiro passa por inumeráveis dificuldades e impedimentos quando busca exercer seus direitos por meio do processo judicial. O tormento principia pelas dificuldades mais elementares que são a busca e a obtenção de orientação jurídica segura e adequada. O ajuizamento de um processo exige condições econômicas para custeá-lo, caso contrário dependerá da assistência judiciária gratuita, cujo trabalho será feito pelas Defensorias Públicas estaduais. Não se pode ignorar a insegurança e, também, o sentimento de inferioridade que transpassam o coração de um idoso quando depende da assistência judiciária gratuita para ajuizar ação ou se defender em juízo. Muito embora se reconheça o esforço hercúleo despendido pelos Defensores Públicos no exercício da suas funções, é sabido que não conseguem atender satisfatoriamente a avalanche de demandas a que são submetidos. Essa ineficiência se deve à precariedade das instalações, à falta de instrumentos de trabalho e, principalmente, ao insuficiente número de defensores. Sobre esse órgão, tão importante para a 2

concretização do direito de acesso à Justiça, é importante frisar que a instalação e a manutenção são incumbências exclusivas do Poder Público, deveres até agora não cumpridos satisfatoriamente. Ainda a propósito do papel das Defensorias Públicas, é preciso fazer um intenso e eficiente trabalho de esclarecimento à população em geral e, no caso, especialmente aos idosos que não puderem custear um processo, de que sempre dependerão das providências, do trabalho prévio dos Defensores Públicos. É preciso continuamente avisar todo idoso que os juízes só podem agir, no sentido de dar-lhe proteção e tomar providências em defesa dos seus direitos, a partir do momento que forem provocados por meio de requerimentos dos Defensores Públicos ou Advogados. De todo o exposto, ficam para nós a reflexão e o questionamento acerca da possibilidade de ser cumprido satisfatoriamente o Título V do Estatuto, porquanto os idosos dependerão do indispensável trabalho prévio de outros segmentos jurídicos para fazer chegar às mãos do juiz uma petição inicial, uma resposta ou um pedido de providência acautelatória. Restrito o nosso exame apenas às questões jurídicas no campo cível, observa-se, no art. 69 do Estatuto do Idoso, a opção do legislador em não adotar o procedimento sumário como rito obrigatório para todos os litígios que envolverem partes ou terceiros idosos, indicando sua aplicação em caráter subsidiário, de forma meramente residual, ou no vácuo de norma específica, acrescida a ressalva de inaplicabilidade quando contrariar os prazos previstos na referida Lei. Considerando que o procedimento sumário se caracteriza pela concentração de atos processuais embutidos numa mesma fase do processo, visando assegurar-lhe celeridade, sem omitir nenhum ato processual, o que viria a ferir o princípio constitucional do devido processo 3

legal, pensamos que a aplicação na forma subsidiária subtrairá inúmeros benefícios à celeridade. Carreando apenas um exemplo, indicamos o proveito do pedido contraposto a ser formulado na contestação, evitando um segundo processo para alcançar eventual direito do réu em face do autor. Na verdade, o Estatuto do Idoso, em matéria processual, não instituiu nenhuma norma singular que agilite o processo e o procedimento, apenas, repetindo, no art. 71, a prioridade na tramitação e cumprimento de diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a sessenta anos, em qualquer instância. Desse benefício, ressalte-se, os idosos já desfrutam há algum tempo, mas, reconhecidamente, ele mostra-se insuficiente para alcançar o objetivo da aceleração necessária à marcha processual. É justificado o receio, porque sequer se garantiu, por exemplo, o cumprimento de uma sentença condenatória com a exigência prévia de depósito do valor devido ou com a antecedente entrega da coisa como condição sine qua non para que a parte vencida possa interpor recurso, tampouco se eliminou o efeito suspensivo dos mesmos. Essas são apenas duas regras processuais que, se adotadas, provocariam uma verdadeira revolução na proteção dos direitos dos idosos litigantes, sem esquecer o caráter didático que produziria na interposição de recursos. Impõe-se, porém, louvar a proficiente disciplina direcionada às ações referentes aos interesses difusos, coletivos e individuais, indisponíveis ou homogêneos, por ter ampliado sobremaneira a legitimidade para a propositura de tais ações, providência que fortalecerá a defesa do direito dos idosos, salientando-se o expressivo aumento do alcance do trabalho preventivo a ser implementado pelos membros do Ministério Público. O Estatuto do Idoso depositou nas mãos do Ministério Público a esperança de concretização da tutela de seus direitos, valendo para os dignos integrantes dessa instituição as mesmas considerações 4

feitas às iniciativas que deverão ser tomadas pelos Defensores Públicos. Temos a certeza de que eventuais omissões advindas das dificuldades de operacionalização das Defensorias Públicas poderão, a contento, serem supridas pelos ilustres membros do Ministério Público. Enriquece o Estatuto do Idoso a disposição contida no art. 70, que permite ao Poder Público criar varas especializadas e exclusivas do idoso, porque essa providência poderá atenuar os efeitos da ausência de regras processuais adequadas para a necessária agilização dos processos. Todavia, verifica-se que a criação das varas especializadas é, pela Lei, facultativa, o que causa inevitável inquietação, porque a decisão sempre dependerá da política de administração de cada tribunal. Como se vê, destas singelas observações, muitas dúvidas, carências, dificuldades e falhas tendem a minar o impostergável cumprimento do Estatuto do Idoso, mas, humildemente, reconhecemos não ter a resposta que produza o efeito desejado para tamanha esperança plantada no coração dos nossos idosos. Vale ressaltar, para nossa meditação, que muitas vezes não é necessária uma nova Lei para que os direitos sejam garantidos; é muito mais eficiente uma união de esforços, nos planos espiritual e material, o que requer uma mudança na mente e no coração. Não queremos com esse atino, com esse discernimento, até porque foram feitas apenas algumas observações na área cível, produzir arrefecimento no ânimo de trabalhar vigorosamente em comunhão com todos os segmentos jurídicos exigidos para a eficaz salvaguarda dos direitos dos idosos. O que se pretende é a remoção de eventuais obstáculos, a fim de distanciar o Estatuto do Idoso da linha conceitual de uma Lei programática para ser, efetivamente, uma Lei pragmática. Para nós, juízes, fica, mais uma vez, a crucial incumbência de, mesmo com instrumento processual obsoleto, não permitir que a espera 5

de obtenção do direito de todos os idosos ultrapasse o plano da vida terrena, rogando ao Alto que sempre nos inspire para o despertar da parcela de justiça divina que, tenho certeza, está ínsita no coração de cada juiz brasileiro. 6