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Transcrição:

Uma publicação do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária NERA. Presidente Prudente, setembro de 2018, número 129. ISSN 2177-4463. www.fct.unesp.br/nera ARTIGO DATALUTA Conjuntura das lutas sociais em Minas Gerais no pós-golpe de 2016 ARTIGO DO MÊS Fragilidade ambiental no Pontal do Paranapanema: o agrohidronegócio canavieiro e os impactos socioterritoriais http://www2.fct.unesp.br/nera/artigodomes.php EVENTOS XII Encontro da Rede DATALUTA UNESP/Sé São Paulo, 04 a 06 de dezembro de 2018. I Encontro Latino- americano de Movimentos Socioespaciais e Socioterritoriais UNESP/Sé São Paulo, 28 a 31 de janeiro de 2019. PUBLICAÇÕES, VÍDEOS E POD TERRITORIAL Okara: Geografia em debate. Vol. 12, N. 2 (2018) Dossiê Michel Temer e a Questão Agrária Orgs: Programa de Pós- Gradução em Geografia da Universidade Federal da Paraíba, PPGG/UFPB. Seu propósito é fomentar o debate entre pesquisadores, especialistas, professores, pós-graduandos e profissionais que trabalham na Geografia. Tem por objetivo divulgar pesquisas e experiências que contribuam para o conhecimento teórico e prático da Geografia. http://www.periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ok ara/issue/view/2129/showtoc. De Olho nos Ruralistas Realização: De Olho nos Ruralistas. De Olho nos Ruralistas é um observatório jornalístico sobre o agronegócio no Brasil. Em foco, os impactos sociais e ambientais e o poder político e econômico dos ruralistas. A produção do portal e dos boletins diários (sobre Ambiente, Agronegócio, Comida e Conflitos) é mantida pelos assinantes. Para ver: https://deolhonosruralistas.com.br/ PodCast Unesp Pod Territorial. Autores: Vários O Podcast Unesp, em parceria com a Cátedra Unesco Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial, publica semanalmente noticiário sobre Reforma Agrária, povos de diferentes etnias, questões geográficas e outros assuntos que colaboram significativamente no desenvolvimento social. Para ouvir/baixar: http://podcast.unesp.br/. EQUIPE: Editoração: Danilo Valentin Pereira e Lucas Pauli (bolsista FAPESP). Coordenação: Janaína F. S. C. Vinha, Eduardo P. Girardi, Valmir J. de O. Valério (bolsista FAPESP) e Danilo Valentin Pereira. Leia outros números do BOLETIM DATALUTA em www.fct.unesp.br/nera

CONJUNTURA DAS LUTAS SOCIAIS EM MINAS GERAIS NO PÓS-GOLPE DE 2016 João Cleps Junior Laboratório de Geografia Agrária (LAGEA) - Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Coordenador Pesquisa DATALUTA - Minas Gerais jcleps@ufu.br Fabiana Borges Victor Laboratório de Geografia Agrária (LAGEA-UFU) Doutoranda em Geografia PPGG-UFU Jahdy Andrade de Brito Laboratório de Geografia Agrária (LAGEA-UFU) Bolsista PROEX- PEIC-UFU Karen Regina Silva Costa Laboratório de Geografia Agrária (LAGEA-UFU) Bolsista IC-CNPq-UFU Vinícius Fernandes Alves Laboratório de Geografia Agrária (LAGEA/UFU) Bolsista PROEX-PEIC-UFU INTRODUÇÃO A ruptura da institucionalidade democrática no Brasil em 2016 por meio de um golpe de Estado e a posse de Michel Temer, reforçando o seu papel como elo mais forte do imperialismo neoliberal na América Latina, caracterizam o contexto político brasileiro. No plano agrário, a conjuntura do pós-golpe de 2016 revela que os diversos grupos ligados à luta pela terra e pela reforma agrária, unidos também a movimentos urbanos, continuaram a denunciar os crimes e injustiças no campo diante da escalada de conflitos, assassinatos e principalmente o desmonte dos principais órgãos e políticas públicas voltadas para a agricultura familiar e camponesa. O cenário de 2016 não pode ser entendido isoladamente, uma vez que os ataques contra aqueles que lutam por condições dignas e justiça social também cresceram nos últimos anos e nos dias atuais. Os registros de tentativas e ameaças de morte, pessoas torturadas, prisões, despejos e outras formas de violência contra povos indígenas, quilombolas, sem terras e comunidades tradicionais ou camponesas em geral são crescentes e alarmantes. As medidas de suspensão da Reforma Agrária, desencadeadas pela decisão do TCU e pressões da bancada ruralista e representações do agronegócio em geral, impedindo a criação de novos assentamentos e alterando profundamente os parâmetros de cadastro e seleção de famílias, levaram a reorientações da política fundiária do País e a paralisia do Programa Nacional de Reforma Agrária com reflexos no estad. Diante destes fatores, iremos destacar neste artigo os principais dados coletados na pesquisa Dataluta e sistematizados no último Relatório DATALUTA - Minas Gerais (2016), como as ações dos movimentos socioterritoriais nas ocupações, manifestações, bem como analisar os principais efeitos sobre a Reforma Agrária em Minas Gerais. A CONJUNTURA DAS LUTAS SOCIAIS EM MINAS GERAIS NO CONTEXTO PÓS GOLPE DE 2016 Em 2016 aconteceu o golpe que destituiu o governo da presidente Dilma Rousseff e levou Michel Temer ao poder, o que consequentemente mudou a conjuntura da questão agrária com a proposição de políticas agrárias privilegiando o binômio latifúndio agronegócio e provendo minimamente as Disponível em www.fct.unesp.br/nera 2

reivindicações do campesinato. Também começa a aumentar as violências no campo, e, por conseguinte, da impunidade, por meio das perseguições, ameaças de morte e assassinatos às lideranças camponesas se relacionam as disputas por território e recursos minerais e florestais, em grande parte concentrados nos estados da Amazônia. Mas também aumentou as prisões e indiciamentos de trabalhadores. A crise agrária resultante não se restringe apenas no aumento do quadro de dos conflitos no campo e na cidade, mas pelo desmonte do conjunto de políticas públicas sociais contra os trabalhadores do campo e em especial aquelas que lutam pela Reforma Agrária. Para avaliar o contexto das lutas sociais recentes em Minas Gerais analisamos, a seguir, os principais dados levantados pela Pesquisa Dataluta no ano de 2016, privilegiando as ocupações de terras, as manifestações sociais promovidas pelos movimentos socioterritoriais e os assentamentos de Reforma Agrária. OCUPAÇÕES No ano de 2016 no Estado de Minas Gerais ocorreram 25 ocupações em seu território com a participação de 3444 famílias. A mesorregião predominante no número de ocupações foi o Norte de Minas, seguida pelo Triângulo Mineiro/ Alto do Paranaíba, com 9 e 5 ocupações cada uma respectivamente. Essa informação não é característica excepcional do ano de 2016, visto que essas regiões são as que s destacam quando considerada a série histórica de 1988-2016. GRÁFICO 1: MINAS GERAIS - NÚMERO DE OCUPAÇÕES POR MUNICÍPIO, 1988-2016 Fonte: DATALUTA Banco de Dados da Luta pela Terra, 2017. Em 2016, o movimento socioterritorial com maior participação em ocupações no estado de Minas Gerais foi o MST com 15 ocupações no total, com participação de 28.544 famílias, em seguida vem os grupos quilombolas com o total de 4 ocupações e 175 famílias no território mineiro. Para explicarmos o número de ocupações no ano podemos relacionar com a não criação de assentamentos no mesmo ano, Disponível em www.fct.unesp.br/nera 3

como um dos motivos para a realização de ocupações, além da luta pelo direito de produzir em áreas até então improdutivas. MANIFESTAÇÕES As formas de luta dos movimentos socioterritoriais em ação no País e em específico no ano de 2016 não se resumem às ocupações de terra. Os registros das manifestações no estado mineiro correspondem especialmente às conjunturas políticas do país e eventos que ocorrem m particularmente no próprio estado. Em cada período, e diante as possibilidades de diálogo entre governo e os setores da sociedade que demandam mais atenção e políticas governamentais, são refletidos em atos públicos e reivindicações expostas em cada ação. Notadamente, esta é uma importante forma de luta que pretende uma contínua mudança e justiça social. GRÁFICO 2: MINAS GERAIS - NÚMERO DE MANIFESTAÇÕES E DE PESSOAS POR ANO, 2000-2016 Fonte: DATALUTA Banco de Dados da Luta pela Terra, 2017. No ano de 2016 ocorreram 69 manifestações em Minas Gerais, com participação de cerca de 30 mil pessoas. A partir de uma análise dos dados, 1/3 correspondem a bloqueios (rodovias e ferrovias), com reivindicações relacionadas ao tema da infraestrutura (terra = Reforma Agrária e água = impactos pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco) e descumprimento de acordos (indenizações). Na sua maioria foram reivindicações contra as mineradoras, que causam prejuízos ao meio ambiente e às populações atingidas pela exploração dos recursos naturais, e atos que denunciam a grilagem de terras na região norte de Minas Gerais, em terras ocupadas por monoculturas de eucalipto, compondo assim a conjuntura das lutas sociais no ano de 2016 no estado. Outro tipo de manifestação importante em 2016 foram os protestos, representando o mesmo percentual (32%), ou seja, aproximadamente 1/3 do total, seguidas pelas ocupações de prédios públicos e marchas lideradas principalmente pelo Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), o Movimento dos Atingidos pela Mineração (MAM) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Esses atos foram predominantemente relacionados ao rompimento da barragem de rejeitos de mineração (Fundão), em Mariana-MG, que atingiu a Bacia do Rio Doce em 5 de novembro de 2015, que destruiu vilarejos e afetou a Disponível em www.fct.unesp.br/nera 4

vida de mais de 2 milhões de pessoas que vivem em 35 municípios em Minas Gerais e quatro no Espírito Santo. Merece ainda destaque no estado de Minas Gerais, as ações (Bloqueios e Protestos) realizadas pela Rede de Articulação e Justiça Ambiental dos Atingidos pelo Projeto Minas-Rio (REAJA) cujo foco é a proteção de pessoas ameaçadas e comunidades atingidas pelo Projeto Minas-Rio, em Conceição de Mato Dentro [1]. Além disso, o ano de 2016 teve o seu principal marco político representado pela deposição da presidente Dilma Rousseff. Assim, as manifestações refletem o impacto dessa ruptura, uma vez que diversos atos públicos foram promovidos em favor da democracia e pela continuidade do mandato. Neste aspecto, a capital mineira foi o principal centro das manifestações, exemplo disso ocorreu no dia 26 de abril de 2016, quando integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) chagaram a Belo Horizonte após percorrerem outras cidades mineiras. A REORIENTAÇÃO DA POLÍTICA FUNDIÁRIA E A ANTI REFORMA AGRÁRIA A paralisação das ações da Reforma Agrária no Brasil e em Minas Gerais tanto pela redução drástica dos recursos destinados às políticas fundiárias como pelas mudanças legais e normativas do INCRA ocorre após o Golpe. Em abril de 2016, o Programa Nacional de Reforma Agrária foi suspenso pelo Tribunal de Contas da União com efeitos na criação de novos projetos de reforma agrária e a concessão de políticas às famílias assentadas [2]. A centralização das ações agrárias do INCRA e agora pela Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (SEAD) pela Casa Civil da Presidência da República, juntamente com os marcos legais (Lei Nº 13.465/2017 e Decreto Nº 9.311/2018), consequentemente, tiveram implicações na política fundiária do estado. Em 2016 não foi criado nenhum projeto de assentamento rural em Minas Gerais [3]. GRÁFICO 3: MINAS GERAIS - Projetos de Assentamentos Rurais criados no período de 1986-2016 Fonte: DATALUTA/INCRA, 2018. Disponível em www.fct.unesp.br/nera 5

Conforme dados a seguir e em outro artigo (CLEPS, 2018), desde 2017 O INCRA vem realizando um processo de titulação sem precedentes aos assentados da Reforma Agrária: A emissão de TÍTULOS DEFINITIVOS DE DOMÍNIO em 2017 foi 10 VEZES MAIOR do que a média anual histórica (2003 a 2016); a emissão de TÍTULOS DEFINITIVOS DE DOMÍNIO em 2017 foi 3,8 VEZES MAIOR do que a maior marca anual anterior (2006); apenas em 2017, foram emitidos mais TÍTULOS DEFINITIVOS DE DOMÍNIO do que nos últimos 10 anos somados; a emissão de TÍTULOS PROVISÓRIOS em 2017 foi 5,3 VEZES MAIOR do que a média anual histórica (de 2003 a 2016); a emissão de TÍTULOS PROVISÓRIOS em 2017 SUPEROU O DOBRO da maior marca anual anterior. (Grifos originais, INCRA/Casa Civil/Sead, 2017). Alterações significativas também vêm ocorrendo no processo de seleção de famílias beneficiárias no Programa Nacional de Reforma Agrária a partir do Acórdão TCU 1976/2017 (Capítulo I do atual Decreto 9.311/2018) são as seguintes recomendações: I. promover ampla divulgação/ para cada projeto de assentamento; II. garantir inscrições por meio de processo aberto a todo público alvo (Edital); III. obedecer rigorosamente aos critérios de priorização; IV. divulgar nos casos de eventual eliminação e os direitos do princípio do contraditório; V. divulgar os resultados da seleção/ ordem de classificação; VI. informar ao TCU, durante os próximos dez anos, sobre a abertura de cada novo processo de seleção que vier a lançar. O conjunto das ações do governo, principalmente pela regularização, além de outras recentes medidas, demonstra uma clara orientação no sentido de que os projetos de assentamentos, criados a partir de uma lógica de intervenção oficial, se transformem em unidades capitalistas de base familiar, com expectativas de produção agropecuárias que lhe permitam a auto sustentação e a emancipação, pautada no paradigma do desenvolvimento capitalista agrícola. PERSPECTIVAS O ano de 2016 inaugura uma etapa nova na política geral e agrária do País com o golpe, pela crise no sistema politico - institucional, marcada uma agenda de retrocesso nos direitos e restrição às liberdades com desdobramentos no aumento dos conflitos socioterritoriais e resistência popular diante das fortes ameaças ao Estado de direito e a democracia política no Brasil. Os temas centrais reportados nos registros de manifestações em Minas Gerais envolvem as lutas e resistências das populações contra a privação de acesso à água e impactos (crimes) relacionados aos impactos sociais e ambientais dos empreendimentos de mineração e infraestrutura e as principais violações dos direitos (agressões e ameaças). Mas o principal tema de destaque no ano e pauta das reivindicações e manifestações foi o desastre de Mariana-MG devido o rompimento da barragem da mineradora Samarco, uma vez que as soluções até então propostas foram insuficientes para resolver a situação da população atingida pelo maior crime ambiental já registrado no País. São ações que revelam a resistência de coletivos diante uma conjuntura política que se mostra cada vez mais incompatível às demandas do campo, que pretende criminalizar os movimentos e, consequentemente, deslegitimar uma luta histórica. A fragilização econômica, política e institucional do país, levaram as ancoradas no apoio aos interesses ruralistas e da elite financeira nacional e global Disponível em www.fct.unesp.br/nera 6

resultaram na minimização das políticas sociais, ajustada com a redução das funções públicas do Estado, abre um novo ciclo de lutas em que os movimentos organizados e as classes subalternas no campo, em especial aquelas que constituem os trabalhadores sem terra, deixem de lutar por transformações na estrutura agrária. A paralisação das ações da Reforma Agrária com a redução drástica dos recursos destinados às políticas fundiárias tem acelerado o contexto da violência em curso no campo brasileiro. As medidas jurídicas alteram as políticas de Reforma Agrária, trazem insegurança e apreensão para os trabalhadores e lideranças engajados na luta pela terra. A conjuntura do pós-golpe revelam que os diversos grupos ligados à luta pela terra e pela reforma agrária, unidos também a movimentos urbanos (MTST), continuaram a denunciar os crimes e injustiças no campo, bem como a desatenção do Estado, somadas à retirada de direitos trabalhistas pretendidas por um governo ilegítimo. REFERÊNCIAS CLEPS JR., J. Descaminhos da Reforma Agrária no Contexto das Reformas Neoliberais e da Crise Político Institucional no Brasil. Revista OKARA: Geografia em debate, v.12, n.2, p. 649-663, 2018. João Pessoa, PB, DGEOC/CCEN/UFPB. Disponível em http://www.okara.ufpb.br CPT. Comissão Pastoral da Terra. Secretaria Nacional. Balanço da Reforma Agrária no ano de 2016. Disponível em https://www.cptnacional.org.br/index.php/publicacoes-2/destaque/3573-sugestao-de-pautabalanco-da-reforma-agraria-no-ano-de-2016a. Acesso em 23/01/2017. CPT. Comissão Pastoral da Terra. Conflitos no Campo - Brasil 2016. Antônio Canuto, Cássia Regina da Silva Luz, Thiago Valentim Pinto Andrade (Coordenação): Goiânia: CPT Nacional, Brasil, 2016b. DATALUTA, Banco de Dados da Luta pela Terra. Relatório DATALUTA Brasil 2016. Coordenação: GIRARDI, Eduardo Paulon. Presidente Prudente-SP, NERA, FCT/UNESP, dez. 2017. DATALUTA, Banco de Dados da Luta pela Terra. Relatório 2016 - Minas Gerais. LAGEA Laboratório de Geografia Agrária IG/UFU. Coordenação: CLEPS JUNIOR, João; VINHA, Janaina Francisca de Souza Campos. Uberlândia, Minas Gerais. Dezembro de 2017. Disponível em: http://www.lagea.ig.ufu.br/relatoriosdatalutaminas.html FELICIANO, C. A. Raízes da violência no campo brasileiro. Boletim DATALUTA, São Paulo, mar. 2016. Disponível em: < http://www2.fct.unesp.br/nera/boletimdataluta/boletim_dataluta_3_2016.pdf>. Acesso em: 27 de outubro de 2018. FERNANDES, B. M. et al. A Questão Agrária na Segunda Fase Neoliberal no Brasil. Boletim DATALUTA, n. 109, NERA, FCT/UNESP, Presidente Prudente-SP, jan. 2017. INCRA. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Painel dos Assentamentos. Informações gerais sobre os assentamentos da reforma agrária. 2016. Brasília: INCRA. Disponível em: https://goo.gl/2yfstb. Acesso em 31/10/2017. INCRA. Casa Civil. Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário. Balanço 2017. Disponível em: http://www.casacivil.gov.br/central-de-conteudos/downloads/apresentacao-balanco- 2017-incra-e-sead-final.pdf. Acesso em 09/05/2018. ROOS, D.; FABRINI, J. E. Da Inércia ao Retrocesso da Reforma Agrária no Paraná. Artigo DATALUTA: junho de 2018. Boletim Dataluta, NERA. Presidente Prudente, junho de 2018, número 126. Disponível em www.fct.unesp.br/nera. Acesso em 29/10/2018. Disponível em www.fct.unesp.br/nera 7

[1] O pequeno município de Conceição de Mato Dentro, a cerca de 160 quilômetros de Belo Horizonte, tornou-se o palco de uma das maiores resistências a projetos minerários no país. Desde 2007, com o início da implementação do Projeto Minas-Rio, comunidades e moradores tem sofrido de maneira brutal os impactos dos processos de extração mineral em grande escala, aliando destruição ambiental a graves violações de direitos humanos. O Projeto Minas-Rio é um dos maiores empreendimentos de mineração do mundo. Além da mina e da usina de beneficiamento, ele compreende também um mineroduto de 529 km de extensão que percorre 33 municípios em Minas e no Rio de Janeiro, bem como um porto marítimo e um distrito industrial em Porto do Açu, município de São João da Barra, no Estado do Rio de Janeiro. Foi inicialmente idealizado pela MMX, de Eike Batista, e adquirido pela Anglo American em 2008, que passou então a controlar os processos de implementação e operação do empreendimento. Nesse movimento participam também o Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM), o Grupo de Estudos de Temáticas Ambientais (GESTA/UFMG), o Programa Pólos de Cidadania, a Cáritas Brasileira (Regional MG) e o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos de Minas Gerais (PPDDH-MG) que tem coletivamente atuado ativamente na defesa de direitos das populações afetadas pelas operações da Anglo American, que controla o Projeto Minas Rio. Fonte: http://mamnacional.org.br/2017/07/15/organizacoes-e-movimentos-realizam-missao-de-protecao-a-atingidos-pelo-projeto-minasrio/. Acesso em /2910/2018. [2] Em setembro de 2017, o TCU julgou novamente o caso, com os novos padrões estabelecidos pelo Governo Temer, e decidiu revogar a suspensão do programa nacional de reforma agrária. [3] Em 2017 foi criado apenas um (1) assentamento (PA Água Limpa) em Minas Gerais, localizado no município de Córrego Novo, com uma área de 850 ha. e capacidade para 27 famílias (INCRA. Relatório dos Assentamentos, 2017). Disponível em www.fct.unesp.br/nera 8