UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS MARCOS GEREMIAS ROCHA



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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS MARCOS GEREMIAS ROCHA COMPÊNDIO DE MEDICAMENTOS DE VENDA LIVRE COMO FERRAMENTA PARA A IMPLEMENTAÇÃO SEGURA DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA ALFENAS / MG 2007

MARCOS GEREMIAS ROCHA COMPÊNDIO DE MEDICAMENTOS DE VENDA LIVRE COMO FERRAMENTA PARA A IMPLEMENTAÇÃO SEGURA DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA Monografia apresentada como parte dos requisitos para obtenção do Título de Especialista em Atenção Farmacêutica pela Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Alfenas. Orientadora: Profa. Ms. Luciene Alves Moreira Marques. ALFENAS MG 2007

3 MARCOS GEREMIAS ROCHA COMPÊNDIO DE MEDICAMENTOS DE VENDA LIVRE COMO FERRAMENTA PARA A IMPLEMENTAÇÃO SEGURA DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA A Banca Examinadora abaixo-assinada, aprova a Monografia apresentada como parte dos requisitos para obtenção do Título de Especialista em Atenção Farmacêutica pela Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Alfenas. Aprovado em: Prof. Instituição: Assinatura: Prof. Instituição: Assinatura: Prof. Instituição: Assinatura:

DEDICATÓRIA Quantas pessoas passam pela nossa vida e deixam marcas profundas. Pessoas que caminham conosco por toda uma vida ou apenas de passagem e até em um simples encontro. São inesquecíveis! Chegam até nós pelo apoio, incentivo, uma opinião, uma maneira de agir, um esclarecimento, uma exposição. Cada uma a seu modo. São presenças que nos ajudam a abrir novos caminhos e nos proporcionam meios, condições para crescermos, sermos profissionais capacitados, atuantes, seguros dos nossos objetivos, atualizados com o tempo em que vivemos e com os avanços da tecnologia. Ao encerrar o Curso de Atenção Farmacêutica, divido a minha vitória com estas pessoas que muito colaboraram para que ela se concretizasse. Esta é a vitória de meus pais, professores, colegas, amigos, pessoas que fazem parte do meu dia-a-dia e tantas outras! A todos vocês, próximos ou anônimos, que de uma forma ou outra estiveram comigo, dedico, carinhosamente, tudo o que conquistei!

AGRADECIMENTOS Ao terminar mais uma etapa de aperfeiçoamento profissional, no Curso de Atenção Farmacêutica, tenho muito a agradecer. Agradeço pela oportunidade de caminhar pelas infinitas estradas do saber e crescer profissionalmente; Agradeço pelos momentos de convivência com professores e colegas que tanto contribuíram para o meu crescimento pessoal; Agradeço pelas pessoas com quem cruzei durante o curso e que trouxeram novas e valiosas experiências de vida; Agradeço pela contínua ajuda, apoio e confiança que meus pais depositam em mim; Agradeço a Deus, por permitir a minha caminhada até aqui e por todas as dádivas que me foram concedidas

RESUMO O papel do farmacêutico além de administrativo é também clínico, cooperando com outros profissionais no desenho do plano terapêutico, análise de prescrição, monitoramento do tratamento e do paciente, visando maior qualidade do serviço de saúde e redução de custos. A Atenção Farmacêutica é a provisão responsável da farmacoterapia com o objetivo de alcançar resultados definidos que melhorem a qualidade de vida dos pacientes. A prática da atenção farmacêutica pode reduzir os problemas preveníveis relacionados a farmacoterapia já que a morbimortalidade relacionada a medicamentos é um importante problema de saúde pública. A dificuldade de implantação da Atenção Farmacêutica em farmácias e drogarias deve-se à necessidade de discussões e convencimento da população quanto ao trabalho clínico do farmacêutico e principalmente à falta de materiais de embasamento técnico específico à esta área de atuação farmacêutica. Este trabalho propõe a elaboração de um Compêndio de Medicamentos de Venda Livre como ferramenta para a implementação da Atenção Farmacêutica tendo em vista a promoção do uso racional de medicamentos. Palavras-chave: Atenção Farmacêutica, uso racional de medicamentos, farmacoterapia, Compêndio de medicamentos isentos de prescrição.

ABSTRACT Besides being administrative, the hole of the pharmacist is also clinical in cooperating with other professionals on the therapeutic field; on the prescription analysis and following up the treatment and the patient, aiming a better quality on the health care, as well as in reducing costs. The Pharmaceutical care is the responsible supply of the pharmacotherapy wich intends to get defined results, in order to improve the patient s quality of life. The use of the Pharmaceutical care may decrease preventable problems related to pharmacotherapy since the mortality, concerned to drug, is a major problem of the public health. The intricacy of its implementation in pharmacies or drugstores is due to the back of discussion on this subject and the necessity of convincing the population about the importance of the pharmacist general practitioner, focusing the need of specific basic materials on this area. The purpose of this work is the elaboration of a compendium of non prescription drug a tool for the implementation of the Pharmaceutical care, promoting the rational use of non prescription drugs. Key words: Pharmaceutical care, the rational use of medicine, pharmacotherapy

SUMÁRIO 1.0 INTRODUÇÃO...11 1.1 OBJETIVOS...13 1.1.1 Objetivos Gerais...13 1.1.2 Objetivos Específicos...13 1.2 JUSTIFICATIVA...14 2.0 DESENVOLVIMENTO...15 2.1 REVISÃO DE LITERATURA...15 2.1.1 A Morbimortalidade Relacionada a Medicamentos...15 2.1.2 A Evolução das Práticas Farmacêuticas...17 2.1.3 Definições de Atenção Farmacêutica...19 2.1.4 A Filosofia da Atenção Farmacêutica...21 2.1.5 Impacto da Atenção Farmacêutica...22 2.1.6 Atenção Farmacêutica e o Uso Racional de Medicamentos...24 2.1.7 Evolução e Desafios da Atenção Farmacêutica...24 2.2 METODOLOGIA...26 2.3 ORGANIZAÇÃO DO COMPÊNDIO DE MEDICAMENTOS DE VENDA LIVRE...28 2.3.1 ÍNDICE ALFABÉTICO DE SUBSTÂNCIAS E MEDICAMENTOS DE VENDA LIVRE...28 2.3.2 ÍNDICE ALFABÉTICO DE SUBSTÂNCIAS E PRODUTOS RELACIONADOS...57 3.0 CONCLUSÃO...100 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...101

11 1.0 INTRODUÇÃO A sociedade tem evoluído tecnologicamente garantindo a introdução de novos procedimentos diagnósticos e terapêuticos. Como conseqüência houve não só um aumento da expectativa de vida da população, mas também aumento do número de medicamentos utilizados por paciente, o que contribui para o seu uso incorreto e para o aparecimento de complicações das doenças causadas pela ineficácia do tratamento, por doenças iatrogênicas e/ou por eventos adversos, levando ao aumento da morbi-mortalidade e dos custos dos tratamentos (Barr, 1955; Stell et al., 1981; Couch et al., 1981; Fleming, 1996; Bates et al., 1998, Cipolle et al., 1998). Nesse contexto surgiu a Atenção Farmacêutica que envolve o processo pelo qual o farmacêutico coopera com outros profissionais e com o paciente no desenho, implementação e monitorização do plano terapêutico do último. Esse, como agente responsável pelo tratamento, apoiado na equipe multiprofissional (Hepler & Strand, 1999). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o conceito de Atenção Farmacêutica é definido com a prática profissional em que o paciente é o principal beneficiário do farmacêutico. É um compêndio de atividades, comportamentos, compromissos, inquietudes, valores éticos, funções, conhecimentos, responsabilidades e habilidades do farmacêutico na prestação da farmacoterapia, com o objetivo de alcançar resultados terapêuticos definidos na saúde e na qualidade de vida do paciente. No Brasil, o aumento das demandas na área de saúde, tem evidenciado a necessidade de que se estabeleça uma política de medicamentos em que o farmacêutico deve ser o elemento essencial na promoção da saúde e do uso racional dos medicamentos. Alguns estabelecimentos farmacêuticos privados, percebendo esta demanda, têm substituído progressivamente a prática tradicional de dispensação de medicamentos, ou seja, a simples entrega do produto, pela prestação de serviços que incorporam, através da Atenção Farmacêutica, um diferencial competitivo no mercado (ALBERTON, 2001). Dispensação é o ato profissional farmacêutico de proporcionar um ou mais medicamentos a um paciente, geralmente como resposta a apresentação de uma receita elaborada por um profissional autorizado. Neste ato o farmacêutico informa e orienta o paciente sobre o uso adequado do medicamento. São elementos importantes da orientação, entre outros, a ênfase no cumprimento da dosagem, a influência dos alimentos, a interação com outros medicamentos, o reconhecimento de reações adversas potenciais e as condições de conservação dos produtos (ALBERTON, 2001).

12 O termo Atenção Farmacêutica significa o processo pelo qual o farmacêutico atua com os profissionais e com o paciente na planificação, implementação e monitorização de uma farmacoterapêutica que produzirá resultados específicos. O aconselhamento ao paciente é um dos instrumentos essenciais para a realização da Atenção Farmacêutica, sendo imprescindível o desenvolvimento das habilidades de comunicação, para assegurar a boa relação farmacêutico usuário (LYRA JR. et al., 2000). A Atenção Farmacêutica baseia-se, justamente, na capacidade do farmacêutico de assumir novas responsabilidades relacionadas aos medicamentos e aos pacientes, através da realização de um acompanhamento sistemático e documentado com o consentimento dos mesmos. Nesta perspectiva, a preparação de futuros farmacêuticos habilitados para o desempenho, com destreza, conhecimentos técnicos e compromisso social de suas atribuições, exige do ensino de farmácia e das suas universidades uma ênfase no desenvolvimento de todas as habilidades necessárias para a formação de profissionais pautados pela qualificação e excelência. Exige também um visão e uma postura interdisciplinar, integradora, informadora (ALBERTON, 2001). Há de se preocupar com o uso abusivo de medicamentos e processos voluntários de cura, que colocam o país também com índices alarmantes de morte por intoxicação, cerca de 30% das intoxicações são causadas por medicamentos (Revista Superinteressante, fev 2003, p 45). Apenas um terço dos medicamentos vendidos por ano vem de prescrições médicas. A automedicação sem orientação leva ao diagnóstico incorreto do problema, ao uso de subdoses em horários não padronizados e, muitas vezes, à interrupção do tratamento prematuramente. Esse fator também ocorre devido ao armazenamento de medicamentos em casa com o intuito de manter um estoque para uma eventual emergência. A dificuldade de acesso e/ ou baixa resolutividade do Sistema Único de Saúde também é fator contribuinte, resultando na troca da consulta médica pela automedicação. Sendo os medicamentos mais vendidos no Brasil os analgésicos e antiinflamatórios, gotas nasais, tranqüilizantes, anticoncepcionais, expectorantes, antiácidos e laxantes. Para que haja uma melhor atenção voltada para os pacientes que buscam a automedicação, é aconselhável que as drogarias e farmácias disponibilizem de um profissional farmacêutico habilitado e que este tenha em mãos uma literatura contendo as informações necessárias para uma consulta rápida, objetiva e confiável dos efeitos terapêuticos e possíveis reações indesejadas destes medicamentos (MIP s).

13 O farmacêutico pode se responsabilizar pela indicação de um medicamento isento de prescrição médica, com o objetivo de aliviar ou resolver algum problema de saúde do paciente e encaminhá-lo ao médico quando seu problema persistir (Guia de indicação Farmacêutica, Manuel Machuca, María Isabel Baena, María José Faus Fundação ABBOT 2005 Editora Dispublic, S.L.). Dessa forma, a existência de um Compêndio de Medicamentos de Venda Livre, contendo informações básicas e rápidas a respeito dos chamados medicamentos isentos de prescrição, viria a atuar como uma ótima ferramenta de auxílio para a implementação segura dos primeiros passos de uma Atenção Farmacêutica de qualidade para o uso racional dos medicamentos. 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo Geral O objetivo deste trabalho foi elaborar um Compêndio de Medicamentos de Venda Livre (MIPs) para consulta rápida com base na literatura especializada disponível em bibliotecas e banco de dados oficiais, tendo como finalidade primária auxiliar o farmacêutico na automedicação orientada assim como propiciar maior segurança e eficácia no exercício da Atenção Farmacêutica em Farmácias e Drogarias. 1.1.2 Objetivos Específicos Fornecer bases teóricas e clínicas que propiciem ao farmacêutico reconhecer que os medicamentos utilizados por seus pacientes sejam realmente indicados, efetivos, seguros e convenientes; Fornecer bases teóricas e clínicas que propiciem ao farmacêutico comunitário detectar, prevenir e resolver os problemas relacionados ao uso de medicamentos (PRM); Auxiliar o farmacêutico comunitário a trabalhar com o paciente para que o mesmo entenda o motivo do uso de todos os seus medicamentos, como funcionam, o que esperar deles e as possíveis reações adversas ao medicamento (RAM); Fornecer literatura técnica especializada que permita ao farmacêutico indicar com dinamismo o medicamento de venda livre que atenda às necessidades específicas de

14 seu paciente, assim como acompanhar com maior propriedade o decorrer deste tratamento. 1.2 JUSTIFICATIVA A farmácia só tem razão de existir se for dirigida por um farmacêutico e contar com a presença deste em tempo integral. Por ser um estabelecimento de saúde, a farmácia tem que estar sob a responsabilidade exclusiva do único profissional de saúde qualificado para o cargo, o farmacêutico. Uma grande quantidade de farmácias e drogarias no Brasil não possuem a presença integral de um profissional farmacêutico, mas sim balconistas sem formação em saúde, alvos certos de laboratórios que oferecem prêmios, brindes para a prática da conhecida empurroterapia. Tal prática envolve principalmente os medicamentos bonificados (B.O. s) e isentos de prescrição (MIPs) que podem apresentar interações, reações adversas e contra indicações de uso assim como os que necessitam da prescrição médica. Alguns profissionais da área de saúde e até mesmo o cliente ignoram a possibilidade de efeitos indesejados causados pelos MIPs, colocando muitas vezes em risco a saúde do paciente. A própria cultura brasileira leva a população à automedicação, muitas vezes devido a indicação por pessoas leigas, vizinhos e amigos que desconhecem o diagnóstico correto do problema podendo o uso inadequado destes produtos levar a intoxicações. É fato que os riscos e custos causados pela polifarmacoterapia podem ser evitados e sua morbi-mortalidade reduzida através da implantação de um sistema eficaz de farmacovigilância e acompanhamento farmacoterapêutico assim como a existência de uma automedicação realmente orientada. O profissional farmacêutico detém por formação os conhecimentos técnico-cientificos para orientar corretamente o usuário de medicamentos e, assim, evitar o uso abusivo destes. Entretanto, a falta de literaturas dinâmicas que possibilitem uma consulta rápida e segura de informações farmacológicas dos MIPs no dia-a-dia, é um dos motivadores de falhas na implementação de uma Atenção Farmacêutica de qualidade. A criação deste Compêndio de Medicamentos de Venda Livre atua como uma ferramenta de consulta rápida, objetiva e confiável para o farmacêutico exercer a Atenção Farmacêutica em distúrbios menores assim como colaborar de forma incisiva no controle da morbimortalidade relacionada a medicamentos.

15 2.0 DESENVOLVIMENTO 2.1 REVISÃO DE LITERATURA Prática é o meio através do qual uma profissão fornece conhecimento e produtos para a sociedade. A ação central da prática farmacêutica deve ser o uso racional de medicamentos (OMS, 1993). A utilização de medicamentos é um processo complexo com múltiplos determinantes e envolve diferentes atores. As diretrizes farmacoterápicas adequadas para a condição clínica do indivíduo são elementos essenciais para a determinação do emprego dos medicamentos. Entretanto, é importante ressaltar que a prescrição e o uso de medicamentos são influenciados por fatores de natureza cultural, social, econômica e política (FAUS, 2000 ; PERINI et. al, 1999). A prática profissional de uma categoria da área de saúde sofre influência direta do processo educacional, das diretrizes das políticas sanitárias e de trabalho, da estrutura do sistema de saúde e do modelo assistencial. No mundo ocidental contemporâneo o modelo de assistência à saúde é excessivamente medicalizado e mercantilizado, cabendo aos medicamentos um espaço importante no processo saúde/doença, sendo praticamente impossível pensar a prática médica ou a relação médico paciente sem a presença desses produtos (SOARES, 1998). Neste contexto a morbimortalidade relacionada a medicamentos é um grande problema de saúde pública (EASTON et al, 1998, MALHOTRA et al, 2001). Os modelos tradicionais de prática farmacêutica mostram ser pouco efetivos sobre a morbimortalidade relacionada a medicamentos (CIPOLLE et al 2000). A atenção farmacêutica, um novo modelo, centrado no paciente, surge como alternativa que busca melhorar a qualidade do processo de utilização de medicamentos alcançando resultados concretos. 2.1.1 A Morbimortalidade Relacionada a Medicamentos Atualmente a morbimortalidade relacionada a medicamentos é um relevante problema de saúde pública e um determinante de internações hospitalares. As internações relacionadas a

16 medicamentos podem ser atribuídas a fatores intrínsecos à atividade do fármaco, falhas terapêuticas, não adesão ao tratamento e eventos adversos (JOHNSON & BOOTMAN, 1995; ROUGHEAD et al., 1998; EASTON et al., 1998; MALHOTRA et al., 2001). Einarson, (1993) publicou uma revisão de 37 estudos realizados em países desenvolvidos e encontrou a incidência média de internação relacionada a medicamentos de 5%, variando de 0,2 a 21,7 %. Na Austrália, no período de 1988 a 1996, foram publicados 14 trabalhos que analisaram as internações hospitalares determinadas por medicamentos. Os trabalhados foram realizados em diferentes contextos e a comparação entre os estudos envolvendo populações diversas pode trazer confusão dificultando o conhecimento da extensão real do problema. Para elucidar esses estudos, Roughead et al 1998 publicaram uma revisão demonstrando que as taxas de internações relacionadas a medicamentos corresponderam a : 2 a 4 % do total de internações, 6 a 7 % das admissões em emergências, 12 % das admissões em unidades de clínica médica e 15 22 % das admissões de emergências em geriatria. Em 2002, Winterstein et al. publicaram uma metanálise de artigos sobre internações hospitalares relacionadas a medicamentos, segundo os resultados as taxas de prevalência podem variar de 3 a 9% das internações. Os autores ressaltam que mais de 50% das internações relacionadas a medicamentos podem ser prevenidas. No Brasil, não existe estudos sobre morbimortalidade relacionada a medicamentos apenas levantamentos sobre intoxicação medicamentosa. Segundo os dados publicados pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas, os medicamentos ocupam a primeira posição entre os três principais agentes causadores de intoxicações em seres humanos desde 1996, sendo que em 1999 foram responsáveis por 28,3% dos casos registrados (SINITOX, 2000). A prevalência e custos da morbidade e mortalidade relacionada a medicamentos são de grande relevância para os gestores de sistemas de saúde, pacientes e a sociedade como um todo (MALHOTRA et al., 2001; JOHNSON & BOOTMAN, 1995). A redução da morbidade evitável relacionada a medicamentos tem um impacto positivo na qualidade de vida do paciente, na segurança do sistema de saúde e na eficiência no uso dos recursos (MORRIS et al., 2002).

17 Segundo Hepler, 2000, a morbidade prevenível relacionada a medicamento é um problema para muitos sistemas de saúde. Os resultados inadequados da farmacoterapia devem ser prevenidos sob um ponto de vista clínico e humanitário. Os recursos financeiros gastos com a morbidade prevenível relacionada a medicamentos são suficientes para evitar o problema e permitir outras intervenções no sistema de saúde tornando o mesmo mais eficiente. As principais causas de morbidade prevenível relacionadas a medicamentos são: prescrição inadequada; reações adversas a medicamentos inesperadas; não adesão ao tratamento; superdosagem ou sub-dosagem; falta da farmacoterapia necessária; inadequado seguimento de sinais e sintomas e erros de medicação (HEPLER 2000, HENNESSY 2000). De acordo com Hepler, 2000, a morbidade prevenível relacionada a medicamento é uma epidemia que deve ser controlada, empregando as seguintes estratégias:1)aumentar a consciência dos profissionais de saúde e população sobre o problema; 2)desenvolver e disseminar estratégias de controle para os programas de saúde;3)identificar e determinar o relacionamento dos problemas na utilização de medicamentos na população;4)fornecer meios para solucionar ou evitar a evolução dos problemas; 5)aprimorar os critérios de utilização de medicamentos. De acordo com Gharaibeh et al 1998, a internação hospitalar relacionada a medicamentos, reflete as interações entre medicamentos, profissionais de saúde, comunidade, sistema educacional e organização dos serviços de saúde e outras ações governamentais. Os estudos de morbidade induzida por medicamentos têm grande relevância em saúde pública. Os resultados devem ser divulgados para médicos, pacientes e gestores de saúde para conscientizar e prevenir a morbimortalidade. Apesar das limitações de extrapolações dos resultados, os mesmos podem justificar esforços para melhorar a qualidade da assistência. São índices da magnitude, gravidade e tipos de problemas que podem ocorrer durante o processo de utilização de medicamentos (GHARAIBEH et al, 1998) 2.1.2 A Evolução das Práticas Farmacêuticas A evolução dos modelos de prática farmacêutica está diretamente vinculado à estruturação do complexo médico industrial. No início do século XX, o farmacêutico era o profissional de referência para a sociedade nos aspectos do medicamento, atuando e

18 exercendo influência sobre todas as etapas do ciclo do medicamento. Nesta fase, além da guarda e distribuição do medicamento o farmacêutico era responsável também, pela manipulação de, praticamente, todo o arsenal disponível na época (GOUVEIA, 1999). A expansão da indústria farmacêutica, o abandono da formulação pela classe médica e a diversificação do campo de atuação do profissional farmacêutico, levaram-no a se distanciar da área de medicamentos descaracterizando a farmácia. Na década de 50 podemos evidenciar uma total descaracterização das funções do farmacêutico junto a sociedade. A prática farmacêutica consistia apenas na função de distribuição dos medicamentos industrializados (HOLLAND & NIMMO, 1995, GOUVEIA, 1999). Nos anos 60 existia uma grande insatisfação com essa nova forma de atuação decorrente do desenvolvimento da industrialização de medicamentos. Essas inquietudes fizeram nascer um movimento profissional norte americano, que ao questionar a formação e as ações criou mecanismos para corrigir os problemas e permitir que os farmacêuticos participassem da equipe de saúde usando seus conhecimentos para melhorar o cuidado ao paciente. O resultado concreto foi o surgimento no âmbito hospitalar da farmácia clínica. O modelo de prática predominante na farmácia comunitária passou a ser a orientação e dispensação farmacêutica (HOLLAND & NIMMO, 1999). Segundo Holland & Nimmo, 1999 a farmácia clínica é uma prática que aprimora a habilidade do médico para fazer boas decisões sobre medicamentos. Ao médico cabe a responsabilidade pelos resultados da farmacoterapia e ao farmacêutico fornecer serviços de suporte adequados e conhecimentos especializados sobre a utilização do medicamento. Na década de 1990, com os trabalhos de Hepler & Strand se difunde a atenção farmacêutica. Na atenção farmacêutica o farmacêutico passa a atuar de forma mais efetiva na assistência ao paciente. As habilidades, destrezas e referenciais técnico-científicos necessários para atuar na atenção farmacêutica são os mesmos requeridos pela farmácia clínica. Entretanto as atitudes profissionais e os valores morais são totalmente diferentes. O profissional que atua em atenção farmacêutica assume a responsabilidade pelos resultados da terapia medicamentosa e pela qualidade de vida do paciente. O medicamento produto, é um componente importante e necessário para a atenção farmacêutica. Mas neste novo modelo o processo é o agente principal, o produto tem uma função secundária (HOLLAND & NIMMO, 1999).

19 2.1.3 Definições de Atenção Farmacêutica Nas publicações de ciências farmacêuticas a primeira definição de atenção farmacêutica apareceu em 1980 em um artigo publicado por Brodie et al: em um sistema de saúde, o componente medicamento é estruturado para fornecer um padrão aceitável de atenção farmacêutica para pacientes ambulatoriais e internados. Atenção farmacêutica inclui a definição das necessidades farmacoterápicas do indivíduo e o fornecimento não apenas dos medicamentos necessários, mas também os serviços para garantir uma terapia segura e efetiva. Incluindo mecanismos de controle que facilitem a continuidade da assistência. O conceito clássico de atenção farmacêutica a provisão responsável da farmacoterapia com o objetivo de alcançar resultados definidos que melhorem a qualidade de vida dos pacientes foi publicado por Hepler & Strand em 1990. Esta definição engloba a visão filosófica de Strand sobre a prática farmacêutica e o pensamento de Hepler sobre a responsabilidade do farmacêutico no cuidado ao paciente. Os resultados concretos são: 1) cura de uma doença; 2) eliminação ou redução dos sintomas do paciente; 3) interrupção ou retardamento do processo patológico, ou prevenção de uma enfermidade ou de um sintoma. Em 1997, Linda Strand afirmou que conceito de atenção farmacêutica estava incompleto passando a defender a seguinte definição: prática na qual o profissional assume a responsabilidade pela definição das necessidades farmacoterápicas do paciente e o compromisso de resolvê-las. Enfatiza que a atenção farmacêutica é uma prática como as demais da área de saúde. Possui uma filosofia, um processo de cuidado ao paciente e um sistema de manejo. É diferente do conceito de 1990 que foca os resultados. Mas para Strand resultados não têm significados fora do contexto de uma prática assistencial (PHARMACEUTICAL,1997). Uma divisão clara é identificada a partir do momento que Strand preconiza uma atenção farmacêutica global com aplicação sistemática em todos os tipos de situações e Hepler uma atenção farmacêutica orientada para doenças crônicas como asma, diabetes, hipertensão e outras. (CIPOLLE et al 2000, HEPLER et al 1995). Ao analisar as funções do farmacêutico no sistema de atenção a saúde a Organização Mundial de Saúde - OMS estende o benefício da atenção farmacêutica para toda comunidade reconhecendo a relevância da participação do farmacêutico junto com a equipe de saúde na prevenção de doenças e promoção da saúde. Na ótica da OMS a atenção farmacêutica é

20 um conceito de prática profissional na qual o paciente é o principal beneficiário das ações do farmacêutico. A atenção farmacêutica é o compêndio das atitudes, os comportamentos, os compromissos, as inquietudes, os valores éticos, as funções, os conhecimentos, as responsabilidades e as habilidades do farmacêuticos na prestação da farmacoterapia com o objetivo de obter resultados terapêuticos definidos na saúde e na qualidade de vida do paciente (OMS, 1993). Os objetivos fundamentais, processos e relações da atenção farmacêutica existem independentemente do lugar que seja praticada (HEPLER & STRAND, 1990). Ao longo da última década a atenção farmacêutica propagou dos Estados Unidos para diversos países. Na Espanha a atenção farmacêutica está desenvolvendo intensamente. O Consenso de Granada definiu atenção farmacêutica como: a participação ativa do farmacêutico na assistência ao paciente na dispensação e seguimento do tratamento farmacoterápico, cooperando com o médico e outros profissionais de saúde, a fim de conseguir resultados que melhorem a qualidade de vida dos pacientes. Também prevê a participação do farmacêutico em atividades de promoção à saúde e prevenção de doenças (CONSENSO 2001). Utilizando referenciais internacionais, análise do contexto sanitário e buscando a promoção da prática da atenção farmacêutica de forma articulada com a assistência farmacêutica, no marco da Política Nacional de Medicamentos foi definido pelo Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica que atenção farmacêutica é modelo de prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da assistência farmacêutica. Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e co-responsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico com o usuário, visando uma farmacoterapia racional e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis voltados para a melhoria da qualidade de vida. Esta interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades bio-psico-sociais sob a ótica da integralidade das ações de saúde (OPAS 2002b). O conceito brasileiro destaca por considerar a promoção da saúde, incluindo a educação em saúde, como componente da atenção farmacêutica, o que constitui um diferencial marcante em relação as definições adotadas em outros países (OPAS, 2002b). Também é importante ressaltar que segundo o conceito brasileiro assistência e atenção farmacêutica são distintas. Esta última refere-se a um modelo de prática e as atividades específicas do farmacêutico no âmbito da atenção à saúde, enquanto o primeiro envolve um conjunto mais amplo de ações, com características multiprofissionais (OPAS, 2002b).

21 A proposta de Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica é um elemento de grande significância para a promoção e implantação deste novo modelo de prática profissional. O consenso é resultado do Grupo de Trabalho Atenção Farmacêutica no Brasil nucleado pela Organização Pan-Americana de Saúde OPAS com apoio de diversas instituições farmacêuticas. Strand, relata a falta de uma definição universal de atenção farmacêutica. Enfatiza a necessidade de na prática profissional aplicar a mesma uniformidade de definições como ocorre com a terminologia clínico-farmacológica (AphA,2002). 2.1.4 A Filosofia da Atenção Farmacêutica A filosofia da atenção farmacêutica inclui diversos elementos. Começa com uma afirmação de uma necessidade social, continua com um enfoque centrado no paciente para satisfazer esta necessidade, tem como elemento central a assistência a outra pessoa mediante o desenvolvimento e a manutenção de uma relação terapêutica e finaliza com uma descrição das responsabilidades concretas do profissional (CIPOLLE et al., 2000). No desenvolvimento da atenção farmacêutica o profissional se encarrega de reduzir e prevenir a morbimortalidade relacionada a medicamentos. O farmacêutico satisfaz esta necessidade social atendendo individualmente as necessidades dos pacientes (FAUS & MARTINEZ,1999; LEE & RAY,1993). A primeira premissa da filosofia da atenção farmacêutica é que a responsabilidade essencial do farmacêutico consiste em contribuir para satisfazer a necessidade que tem a sociedade de um tratamento farmacológico adequado, efetivo e seguro (CIPOLLE et al., 2000). Para satisfazer de maneira eficiente a necessidade social é essencial que o farmacêutico desenvolva ações centradas no paciente. Um enfoque centrado no paciente implica que todas as demandas relativas a farmacoterapia sejam contempladas como responsabilidade do profissional, e não só as necessidades que correspondem a uma determinada classe farmacológica ou estado patológico concreto (CIPOLLE et al., 2000 ; FAUS & MARTINEZ,1999). A atenção farmacêutica se baseia em um acordo entre o paciente e o farmacêutico. O profissional garante ao paciente compromisso e competência. Estabelece-se um vínculo que

22 sustenta a relação terapêutica, identificando as funções comuns e as responsabilidades de cada parte e a importância da participação ativa. Na realidade é um pacto para trabalhar a favor da resolução de todos os problemas relacionados com medicamentos, reais ou potenciais. O problema é real quando manifestado, ou potencial na possibilidade de sua ocorrência. (CIPOLLE et al., 2000 ; POSEY,1997). Em síntese, uma relação terapêutica é uma aliança entre o profissional e o paciente e se forma com a finalidade específica de satisfazer as necessidades de assistência a saúde do paciente. É um ato de cuidado na integralidade bio-psico-social do indivíduo e não apenas na visão reducionista de um estado patológico(cipolle et al., 2000). O exercício da atenção farmacêutica busca resolver o importante problema social da morbimortalidade relacionada com os medicamentos empregando um processo de cuidado centrado no paciente e uma responsabilidade profissional claramente definida (CIPOLLE et al., 2000 ;POSEY, 1997; LEE & RAY 1993). O profissional se responsabiliza pela necessidade, segurança e efetividade da farmacoterapia do paciente. Isto se consegue mediante a identificação, resolução e prevenção dos problemas relacionados com medicamentos. O problema relacionado com medicamentos, é um problema de saúde, vinculado o suspeito de estar relacionado à farmacoterapia que interfere nos resultados e na qualidade de vida do usuário(opas,2002b). Ao prestar atenção farmacêutica o profissional se responsabiliza de garantir que o paciente pode cumprir os esquemas farmacoterápicos e seguir o plano de assistência, de forma a alcançar resultados positivos (LEE & RAY,1993). 2.1.5 Impacto da Atenção Farmacêutica A primeira investigação sobre o impacto das ações de atenção farmacêutica foi realizado nos Estados Unidos utilizando os dados do Projeto Minnesota de Atenção Farmacêutica. Os resultados mostraram que após um ano aumentou o número de pacientes que alcançaram resultado terapêutico positivo. A resolução dos problemas relacionados a medicamentos reduziu a complexidade da demanda farmacoterápica. Em síntese observou uma relação custo-benefício favorável (PHARMACEUTICAL,1997;TOM ECHKO et al 1995). A melhoria da qualidade de vida em pacientes com insuficiência cardíaca, diabetes, hipertensão e dislipidemia em virtude da atenção farmacêutica tem sido demonstrada em