ANÁLISE COMPARATIVA DAS OBRAS LITERÁRIAS VIDAS SECAS, DE GRACILIANO RAMOS E O QUINZE, DE RACHEL DE QUEIROZ

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Transcrição:

ANÁLISE COMPARATIVA DAS OBRAS LITERÁRIAS VIDAS SECAS, DE GRACILIANO RAMOS E O QUINZE, DE RACHEL DE QUEIROZ CARLOS, Adriano de Jesus 1 SANTOS, Cirlene Librelato 2 CASAGRANDE, Suzana Ceccato 3 RESUMO: No presente trabalho explorou-se a literatura comparada, numa abordagem das obras literárias Vidas Secas, de Graciliano Ramos e O Quinto, de Rachel de Queiroz, identificando-se suas semelhanças, principalmente no que tange ao regionalismo brasileiro. O ponto preponderante das duas obras é a questão da seca, que aflige o povo nordestino, de forma cíclica, onde o meio, com consequências trágicas, determina o destino do sertanejo. A desigualdade social é uma questão em evidência atualmente e tem uma relação com fatores histórico, sociais, políticos e cultural, sendo que à carga literária que as duas obras brasileiras, citadas, apresentam no contexto sociocultural, auxiliou nessa investigação. Teve-se como objetivo, encontrar as semelhanças entre as obras, o que surpreendeu nos resultados. O trabalho abordou revisão de bibliografia, utilizando-se de livros, sites da internet e trabalhos científicos acadêmicos. Concluiu-se que as duas obras comparadas apresentam diversas semelhanças, desde a naturalidade de seus autores, época de criação, região geográfica, momento literário e político, até as características dos personagens, o enredo e o trama trágico, envolvendo o sofrimento do sertanejo e a luta pela sobrevivência no sertão nordestino, assolado pela causa natural climática, da seca. PALAVRAS-CHAVE: Retirantes. Seca. Sertão Nordestino. INTRODUÇÃO O presente trabalho trata-se de um estudo comparado entre duas obras literárias brasileiras, de grande importância cultural, histórica e social, Vidas Secas, de Graciliano Ramos e O Quinze, de Rachel de Queiroz, no qual se fez uma abordagem de semelhanças, sob a ótica do regionalismo, quanto à realidade, do meio ambiental e sociocultural, do povo nordestino brasileiro. Considerando-se que as diferenças sociais e culturais do nordestino são evidentes até nos dias atuais, teve-se a intenção, com este trabalho, de aprofundar um estudo sobre as duas 1 Acadêmico do Curso de Letras, ministrado na FAG, e-mail: adrianovendas10@gmail.com 2 Acadêmica do Curso de Letras, ministrado na FAG, e-mail: advocacia@librelato.adv.br 3 Professora Orientadora, Docente da Disciplina Literatura Brasileira, no Curso de Letras Português/Inglês na FAG, Mestre, e-mail: suzana.ceccato@gmail.com 1

obras literárias analisadas, de autoria de renomados escritores literários brasileiros, nordestinos e conhecedores da realidade sertaneja, quanto à forma escrita, o roteiro, a linguagem utilizada, bem como de conhecer a realidade dos retirantes do nordeste, povo marginalizado na sociedade brasileira, o que contribuirá para o conhecimento literário, sociocultural e linguístico. Para fins comparativos, houve a necessidade de buscar na revisão bibliográfica, uma leitura aprofundada das duas obras em questão, de outra obras auxiliares e de alguns artigos acadêmicos. Esta pesquisa consistiu, portanto, em descrever as semelhanças existentes entre as duas obras literárias. Num primeiro momento, descreveu-se as semelhanças gerais, existentes entre os autores das obras, a época em que foram escritas e o regionalismo, utilizados pelos autores. Na sequência analisou-se o enredo, com descrição dos personagens, e o foco principal, da fuga dos retirantes contra a seca, os sofrimentos, a marginalidade e as condições desumanas do sertanejo. Por fim, arrolou-se as semelhanças específicas encontradas entre as duas obras literárias. UMA ABORDAGEM DA LITERATURA COMPARADA, DAS OBRAS VIDAS SECAS E O QUINZE Muito conhecidas no mundo literário e no meio acadêmico, as obras Vidas Secas, de Graciliano Ramos e O Quinze, de Rachel de Queiroz, apresentam muitas semelhanças quanto à realidade regional, social e cultural brasileira, retratando, fielmente, a vida do sertanejo, seu sofrimento, a luta pela sobrevivência e adaptação ao meio, ciclicamente devorado pela seca. O romance, Vidas Secas, foi escrito no ano de 1938, ou seja, oito anos após O Quinze, cuja publicação ocorreu em 1930. Significa dizer que a obra de Rachel de Queiróz é mais antiga que a obra de Graciliano Ramos. 2

De notar que suas semelhanças iniciam pelas características naturais dos seus autores, ambos nascidos na região nordestina brasileira, Graciliano Ramos, em Quebrangulo, na Alagoas, no ano de 1892 e, Rachel de Queiroz, em Fortaleza, no Ceará, no ano de 1910. Os autores das obras apresentam propriedade sobre o assunto, eis que conheceram de perto a realidade do povo nordestino e vivenciaram a luta contra a seca seguida de miséria, talvez por isso tais obras apresentam tanto valor e completude. Em relação ao autor Graciliano Ramos, Oliveira (2003) afirma: Nem mesmo a mudança para Viçosa, em seu estado natal, em plena Zona da Mata, com grandes plantações e água em abundância, pôde apagar de sua memória os registros dos primeiros tempos de sua infância: a passagem de grupos de migrantes famintos que escapavam da seca, os animais mortos, a paisagem ressequida. Queiroz, ainda na sua infância, em 1917 deixou o Ceará, por aproximados dois anos, juntamente com sua família, que migrou para o Rio de Janeiro, com intuito de esquecer os horrores da seca de 1915. De acordo com Oliveira (2003): Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza, Ceará, a 17 de outubro de 1910. É descendente do escritor José de Alencar pelo lado materno. Fugindo às consequências da terrível seca de 1915, sua família transferiu-se para o Rio de Janeiro (...) Da mesma forma, Ramos, deixou sua terra e permaneceu, por alguns anos, durante sua juventude, na cidade Carioca. A obra O Quinze ganhou grande repercussão por abordar a luta de um povo e, seguido de outras obras, imortalizou o nome de sua autora, na literatura brasileira. No entanto, de início, diante da questão feminina da época e da tenra idade da autora, sua obra mostrou-se desacreditada por alguns escritores, intelectuais e autoridades da época. Segundo Antonio Torres, in Com o valor de um testemunho descrito na contracapa da obra O Quinze : (...) Rachel foi um assombro. Este seu romance de estreia, publicado em Fortaleza em 1930, fez estragos nos espíritos da época. Segundo Graciliano Ramos, produziu agitação e alguma desconfiança. Isto por ser O Quinze livro de mulher, e mulher nova, num tempo em que as mulheres deviam se limitar aos sonetos. (...) 3

Com a obra Vidas Secas, que igualmente ganhou grande destaque na literatura brasileira, Graciliano Ramos, durante o segundo movimento modernista, denunciou intensamente as mazelas do povo brasileiro, mormente a miserabilidade em que se encontrava o povo do sertão nordestino. Segundo Oliveira (2003): Autor de linguagem direta e correta, moldado num estilo seco, conciso, com poucos adjetivos, Graciliano soube equilibrar a investigação profunda dos problemas sociais nordestinos com a análise psicológica de suas personagens, unindo, como nenhum outro, o regionalismo e o intimismo. Além da semelhança nas origens dos autores e da época em que foram escritas, as duas obras analisadas retratam a história de famílias de retirantes sertanejos, que buscam fugir da seca que aflige a região nordeste do Brasil, passando por extrema miséria e condições desumanas, que em alguns momentos os confundem com bichos. A Obra Vidas Secas Em vidas Secas, de Graciliano Ramos, o sofrimento da estiagem é cíclico, eis que a fuga da seca e a condição de miserabilidade são retratadas tanto no primeiro capítulo, intitulado Mudança, quanto no último, Fuga, demonstrando as duras condições de marginalidade socioeconômica e cultural do povo nordestino. Em sua obra, Oliveira (2003) comenta que: o romance começa com o capítulo Mudança, e termina com o capítulo Fuga. Em ambos as personagens encontram-se na mesma situação: migrando em busca de melhores condições de vida. Isso confere um aspecto circular à obra. A obra é composta de treze capítulos e o enredo fica envolto da família de Fabiano, composta pela esposa sinhá Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo, a cadela Baleia e o papagaio. Sim, a cadela e o papagaio eram considerados integrantes da família, pois esta vivia em extrema miséria alimentar, cultural e social, tanto que os dois meninos não possuíam sequer nome e, em alguns momentos Fabiano confundia-se, ele próprio, com bicho. Esta condição de bicho encontra-se, de forma expressa, na obra Vidas Secas: 4

Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando: Você é um bicho, Fabiano. Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades. Chegara naquela situação medonha e ali estava, forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha. Um bicho, Fabiano. Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto, passara uns dias mastigando raiz de imbu e sementes de mucunã. (RAMOS, 1986, p. 18) Dos treze capítulos, cinco foram reservados para descrever cada personagem, integrante da família, não ocorrendo apenas em relação ao papagaio, que ainda no primeiro capítulo, diante da condição de famintos que se encontravam, por questão de sobrevivência, a família, com muito sofrimento sentimental, alimenta-se da ave de estimação. Fabiano é um homem embrutecido, filho e neto de vaqueiros; sinhá Vitória, a mais inteligente do grupo, é quem controla as míseras contas e os sonhos da família; o menino mais novo sonha em ser forte e vaqueiro igual o pai; o menino mais velho tem três desejos: saber o que significa inferno, conhecer a vida e ter amigos; Baleia, a cachorra de estimação, é sensível e humanizada e o papagaio, a ave de estimação, mal conseguia resmungar. Outro sofrimento que aflige Fabiano, quando não centrado nas consequências climáticas e miseráveis, causadas pela seca, é o soldado amarelo, também descrito num dos capítulos da obra, que revela o símbolo da repressão e do autoritarismo, comandado pela ditadura da época. O enredo inicia com a família de retirantes fugindo da seca, em busca apenas de sobrevivência, descrevendo todos os sofrimentos e dificuldades encontradas pelo grupo, que com muito sofrimento sobrevive, mas não vence o mal que assola a região do sertão, eis que, quando acautelados em algum local, por eles ocupados, já se inicia outro período de estiagem, levando-se qualquer esperança e sossego, trazendo a angústia que terão que suportar por longo período de seca, que só Deus saberá quando irá cessar. Uma passagem impactante, da obra refere-se ao sofrimento que assola o pai de família Fabiano, que diante da sua fraqueza humana e realidade do ambiente, em determinado momento, pensa em abandonar o filho mais velho, durante o duro trajeto da Mudança. 5

O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde. Tinham deixado os caminhos, cheios de espinho e seixos, fazia horas que pisavam a margem do rio, a lama seca e rachada que escaldava os pés. Pelo espírito atribulado do sertanejo passou a idéia de abandonar o filho naquele descampado. Pensou nos urubus, nas ossadas, coçou a barba ruiva e suja, irresoluto, examinou os arredores. Sinhá Vitória estirou o beiço indicando vagamente uma direção e afirmou com alguns sons guturais que estavam perto. Fabiano meteu a faca na bainha, guardou-a no cinturão, acocorou-se, pegou no pulso do menino, que se encolhia, os joelhos encostados no estômago, frio como um defunto. Aí a cólera desapareceu e Fabiano teve pena. Impossível abandonar um anjinho aos bichos do mato. Entregou a espingarda a sinhá Vitória, pôs o filho no cangote, levantou-se, agarrou os bracinhos que lhe caíam sobre o peito, moles, finos como cambitos. Sinhá Vitória aprovou esse arranjo, lançou de novo a interjeição gutural, designou os juazeiros invisíveis. E a viagem prosseguiu, mais lenta, mais arrastada, num silêncio grande. (RAMOS, 1986, p. 10) Os sofrimentos são extremos e constantes, eis que, logo no início da história, a família pobre, em busca de sobrevivência, após longa viagem, à pé, pelo sertão, desprovidos de comida e água, veem-se obrigados a comer o papagaio de estimação, para manterem-se vivos. Despertara-a um grito áspero, vira de perto a realidade e o papagaio, que andava furioso, com os pés apalhetados, numa atitude ridícula. Resolvera de supetão aproveitá-lo como alimento e justificara-se declarando a si mesma que ele era mudo e inútil. (RAMOS, 1986, p. 11) No decorrer da história, percebe-se a exploração do homem mais forte em relação ao mais fraco, eis que Fabiano, na condição de pai de família, necessitando de alimentos, implora trabalho a um fazendeiro, o qual lhe aceita como vaqueiro, mas, não lhe paga valor suficiente pelo árduo trabalho realizado. O patrão explora Fabiano, engana-o nas contas, o que deixa o vaqueiro desanimado e muito revoltado. O narrador capta-lhe o fluxo de pensamento: com o avô fora assim, com o pai fora assim e com ele também se repetiria a mesma história? Inconformado, não vê outra saída, a não ser aceitar aquela situação de opressão pelo patrão que lhe mostra o lugar dos descontentes: a porta de saída. 6

Fabiano, vaqueiro ignorante, também sofre as consequências de sua ignorância, eis que certo dia foi à cidade, envolve-se num jogo de azar, por convite do soldado amarelo e perde todo seu salário, bem como, acaba enfurecido e injustamente na prisão, onde foi agredido e passou a noite. Por mor de uma peste daquela, maltratava-se um pai de família. Pensou na mulher, nos filhos e na cachorrinha. Engatinhando, procurou os alforjes, que haviam caído no chão, certificou-se de que os objetos comprados na feira estavam todos ali. Podia ter-se perdido alguma coisa na confusão. (RAMOS, 1986, p. 33) Triste fim teve a cadela Baleia, que, com pelos caídos e feridas na boca, Fabiano vê-se obrigado a sacrificá-la, com um tiro, que atingiu lhe o traseiro, inutilizando suas patas, cujo ato causou muita dor e sofrimento em sinhá Vitória e nos filhos, que protestavam contra o sacrifício do pobre animal. (...) Mas Baleia, sempre de mal a pior, roçava-se nas estacas do curral ou metia-se no mato, impaciente, enxotava os mosquitos sacudindo as orelhas murchas, agitando a cauda pelada e curta, grossa na base, cheia de roscas, semelhante a uma cauda de cascavel. Então Fabiano resolveu mata-la. Foi buscar a espingarda de pederneira, lixou-a, limpou-a com o saca-trapo e fez tenção de carrega-la bem para a cachorra não sofrer muito. (...) A cachorra espiou o dono desconfiada, enroscou-se no tronco e foi-se desviando, até ficar no outro lado da árvore, agachada e arisca, mostrando apenas as pupilas negras. (...) A carga alcançou os quartos traseiros e inutilizou uma perna de Baleia, que se pôs a latir desesperadamente. Ouvindo o tiro e os latidos, sinhá Vitória pegou-se à Virgem Maria e os meninos rolaram na cama, chorando alto. (RAMOS, 1986, p. 85/87) Encerra uma etapa da vida da família, vez que a cadela era tida como integrante da família e via Fabiano, como um companheiro de muito tempo. Em meio ao nevoeiro e da visão de uma espécie de paraíso dos cachorros, onde ela poderia caçar preás à vontade, Baleia morre sentindo dor e arrepios. A Obra O Quinze 7

A obra ganha este nome em razão na narrativa da grande seca vivenciada pela autora Rachel de Queiroz, na sua infância, no ano de 1915. A história desenvolve-se em dois núcleos: um deles formado pela família de Conceição e o outro pela família de Chico Bento. Conceição é professora, culta, com tendências feministas e socialistas, que vive com Inácia mãe Nácia, senhora idosa, conservadora de tradições. A moça, conta com 22 anos, considerada solteirona, tem certa admiração pelo primo Vicente, proprietário e criador de gado, rude, ignorante, obstinado e selvagem. Este também estima a prima, mas em razão de se dedicar em salvar o gado da seca, na fazenda do Logradouro, em Quixadá atualmente, cidade universitária e turística do Ceará não sobra tempo para as questões sentimentais. Trata-se de um amor impossível, dada a grande diferença existente entre os jovens, tanto em nível social, quanto intelectual. Todo o dia a cavalo, trabalhando, alegre e dedicado, Vicente sempre fora assim, amigo do mato, do sertão, de tudo o que era inculto e rude. Sempre o conhecera querendo ser vaqueiro como um caboclo desambicioso, apesar do desgosto que com isso sentia a gente dele. (QUEIROZ, 2010, p. 21) Chico Bento, pobre miserável, retirante, pai de cinco filhos é casado com Cordulina. No entanto, nesta obra o filho mais velho e o filho mais novo são nominados, aquele chamase Pedro e este Josias. A narrativa em torno da família de Chico Bento é a que mais retrata a realidade do sertanejo, no seu sofrimento para vencerem a seca, com vida. Em razão da estiagem, desempregado, o casal vê-se obrigado a deixar a fazenda onde trabalham e partem, a pé, de Quixadá, com seus cinco filhos, com poucos mantimentos e com auxílio de uma burra, em busca de melhores condições de vida, na capital Fortaleza. O PEQUENO ia no meio da carga, amarrado por um pano aos cabeçotes da cangalha. De vez em quando, levava a mãozinha aos olhos, e fazia rab! rab! ab! ab! numa enrouquecida tentativa de choro. Cordulina chegava-se à burra para o consolar, ajeitava-lhe o chapéu de pano na cabeça (...) (QUEIROZ, 2010, p. 40) 8

Durante o percurso, enfrentam muitas dificuldades, como calor, fome e sede, chegou a desolação da primeira fome. Vinha seca e trágica, surgindo no fundo sujo dos sacos vazios, na descarnada nudez das latas raspadas. (QUEIROZ, 2010, p. 51) O alimento, rapadura e farinha, logo se acaba e aumenta-se o sofrimento, principalmente para as frágeis e pequenas crianças, que em determinado momento, após muita insistência de Chico Bento, consegue a doação de vísceras de cabra, a qual é ingerida pela família, sem sal e sem lavagem, por falta de água, e, num foguinho de garranchos, arranjado por Cordulina com um dos últimos fósforos que trazia no cós da saia, assaram e comeram as tripas, insossas, sujas, apenas escorridas nas mãos. (QUEIROZ, 2010, p. 74) Pior que isso, foi a morte de Josias, o filho mais novo, que se intoxicou com uma raiz crua de mandioca, lá se tinha ficado o Josias, na sua cova à beira da estrada, com uma cruz de dois paus amarrados, feita pelo pai (QUEIROZ, 2010, p. 67), e o sumiço de Pedro, o filho mais velho, que certamente havia fugido, durante a noite, com outro grupo de retirantes, talvez fosse até para a felicidade do menino. Onde poderia estar em maior desgraça do que ficando com o pai? (QUEIROZ, 2010, p. 91) Diante da miserabilidade e sem expectativas de vida, após certa resistência, o casal resolve entregar o filho caçula Duquinha, para a madrinha Conceição criá-lo como filho, a qual os ajudou quando chegaram ao campo de concentração, em Fortaleza. Cordulina não chorava mais. Na véspera, quando fora despedir-se do Duquinha, parece que esgotara as lágrimas; e com os olhos secos olhava fixamente as ondas que iam e vinham, batendo nos pilares de ferro (QUEIROZ, 2010, p. 21) Chico Bento e a família, que iniciaram a fuga da seca, com cinco filhos, na capital cearense, com a ajuda de Conceição, conseguem comprar passagens com destino a São Paulo, no entanto, agora somente lhe restam dois filhos. Semelhanças entre as duas Obras Literárias As duas obras Vidas Secas e O Quinze trazem como tema central, a luta pela sobrevivência em um mundo capitalista e desigual, cujos historiadores demonstram 9

sensibilidade com os problemas sociais enfrentados pelos nordestinos, em razão da seca, manifestada pela migração dos personagens, em busca de uma vida melhor. As obras retratam fielmente a realidade nordestina, inclusive a dos dias atuais, como injustiça social, miséria, fome, desigualdade social, seca e as condições sub-humanas de sobrevivência, que submete o homem à condição de animal. Neste sentido, Irineu Correia Oliveira, aborda em seu artigo: O Quinze e Vidas Secas caracteriza se pela denúncia social, com destaque ao regionalismo que ganhou importância no auge da literatura brasileira, sendo as relações dos personagens Fabiano e Chico Bento ao meio natural e social levados ao extremo. Os romances analisados não é uma apropriação diretamente do outro, mas são os reflexos do regionalismo da época. Diálogos semelhantes contínuo numa mesma temática, mostrando ás desigualdades sócias. Em síntese, as obras analisadas assemelham com o eco de vozes de seu tempo, do seu grupo social, e dos valores, das crenças, do medo e da esperança. Assim, o estudo dessas duas obras da nossa literatura leva nos refletir invasão ilícita e as conseqüências negativas no que nos refere ao desenvolvimento econômico. Os romancistas de 30 tinham como característica a visão crítica das relações sociais, do regionalismo, ressaltando o homem hostilizado pelo ambiente, pela terra, pela cidade, sendo devorado pelos problemas do meio natural e social, em que vive. Graciliano Ramos mostra seu lado regionalista e critico social ao lembrar a imagem da seca em todos os instantes no seu romance: tudo gira em torno dela. Os retirantes saem de sua terra natal quando a estiagem chega. Ao encontrar uma estadia, lutam contra as dificuldades que ela traz: a falta de água para beber, cozinhar, para cuidar da plantação e do gado, que são o único meio de obtenção de dinheiro para esta família. Quando a seca vai embora e chega o inverno, eles já temem a próxima estiagem e, consequentemente, a viagem seguinte. (CARNEIRO, NUNES e QUEIROZ, 2014, p. 5) Ambas as obras tem seus títulos simbólicos: Vidas Secas representa a vida sem água, sem fartura, sem alimento, enquanto, O Quinze, refere-se à grande seca vivida por Rachel de Queiroz, no ano de 1915. Em relação a Vidas Secas, Oliveira (2003) comenta que: O título dessa obra pode ser justificado pela aridez do meio adverso que empurra as pessoas para uma condição de miséria, de ignorância, de animalidade. A luta 10

cotidiana pela sobrevivência elimina qualquer possibilidade de requinte, de sentimentalismo: suas vidas são secas, desprovidas de seivas. Nem sequer dominam um vocabulário razoável. E, no título Sobre a Obra, de Rachel de Queiroz (2010, p. 7), consta que: O Quinze, TÍTULO do romance de estreia (1930), se refere à grande seca de 1915, de que Rachel tanto ouviu falar. A tradução francesa de O Quinze, publicada em 1986, se chama L année de la grande sécheresse (O ano da grande seca). Nas duas obras, os personagens Fabiano e Chico Bento são vaqueiros, chefes de família e, quando abandonam as fazendas, por causa da seca, soltam o gado. As duas famílias de retirantes perdem membros da família durante o período doloroso da seca, a de Chico Bento, perdeu três filhos um morreu, um desapareceu e outro foi entregue a adoção e, na Família de Fabiano, houve o sacrifício do papagaio e a triste perda com a necessária morte da cadela Baleia, tida como membro da família, mas muito doente, diante da fome e sede que passara. pessoa: A linguagem coloquial é predominante nas duas obras e a narração é feita na 3ª Os dois livros usam uma linguagem coloquial, simples devido às condições do local onde a história se passa o que dá um toque de veracidade muito maior para os livros. A narração, feita em 3ª pessoa, dá as obras uma postura neutra, ou seja, o narrador não interfere sentimentalmente na descrição dos cenários e dos dramas vividos pelos personagens. Eis aqui os trechos, os dois primeiros referentes à linguagem e os outros dois ao foco narrativo: Em todo pé de pau há uma galho mode a gente armar a tipóia... E com umas noites assim limpas até dá vontade de se dormir no tempo... Se chovesse, quer de noite, quer de dia tinha carecido se ganhar o mundo atrás de um gancho? (QUEIROZ, 1974, p. 44,45) Lorota, gaguejou o matuto. Eu tenho culpa de vossemecê esbagaçar dos seus possuídos no jogo? (RAMOS, 2000, p. 29) Ele estendera a mão ossuda, e nos seus olhos doentios uma estranha faísca luziu: (QUEIROZ, 1974, p. 107) Ela também tinha o coração pesado, mas resigna-se: naturalmente a decisão de Fabiano era necessária e justa. (RAMOS, 2000, p. 86) (CARNEIRO, NUNES e QUEIROZ, 2014, p. 2/3) 11

Outra semelhança sociopolítica é que as obras foram publicadas no período da ditadura Vargas, sendo que na obra O Quinze, o local onde os retirantes ficavam alojados, era chamado de campos de concentração, alusão feita às concentrações em período de guerra. METODOLOGIA Nesta pesquisa utilizou-se o levantamento bibliográfico, com leitura e análise das obras, Vidas Secas e O Quinze, por ser tratar de literatura comparada, eis que o principal objetivo do trabalho foi tecer as semelhanças existentes nas obras literárias estudadas. Assim, se buscou a leitura, a análise das obras, investigando-se a vida dos autores, sua naturalidade, época de criação literária, período literário e político e a região em que se desenvolveu o enredo, a fim de se identificar o posicionamento de cada autor, quanto ao regionalismo brasileiro, o meio, as condições da terra e do homem, na luta contra a seca. Em seguida, seguiu-se a pesquisa de outras obras auxiliares e, em sites da internet que também contribuíram para o desenvolvimento do trabalho. Por fim, foram analisados alguns artigos científicos de acadêmicos, cujos conteúdos apresentaram dados que vieram ressaltar as semelhanças encontradas nas obras duas obras literárias, comparadas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Utilizando como referência a literatura e os resultados desta pesquisa, foi possível constatar a presença de fatores decisivos para o desenvolvimento das duas obras Vidas Secas e O Quinto, como, por exemplo, o conhecimento de causa dos autores, que nasceram na região nordestina do Brasil e acompanharam de perto a triste realidade do povo sertanejo. É válido ressaltar aspectos vinculados à época em que as obras foram escritas, o momento cultural e político que vigiam na gestação das obras, que certamente contribuiu com algumas semelhanças, quanto à hostilidade pelo povo nordestino, que voltava suas esperanças nos grandes centros, mas sem qualquer amparo político e social. 12

A ênfase dada ao meio, à seca, aos personagens e à condição de miserabilidade do sertanejo, contribui para a conclusão de que as duas obras literárias abordam temas idênticos, de cunho regional, social, cultural brasileiro. Mais do que identificar as semelhanças existentes nas obras, é conhecer a história de um povo sofrido, marginalizado, cuja história se perpetua no tempo, eis que a desigualdade social atual ainda é gritante, em relação ao nordestino e a outras regiões brasileiras. A existência destas duas obras, que abordam questões humanas e sociais, bem como, na época foram corajosas em atacar atos da ditadura, demonstra a sensibilidade humana dos autores e a preocupação com a desigualdade social, o que certamente os consagrou grandes escritores literários brasileiros. Tal constatação é suficiente para justificar um problema político social, que perdura por mais de um século e, que o registro literário, além de outras finalidades, tem o cunho de transmitir entre as gerações, a história do Brasil, o seu regionalismo, a sua cultura e os problemas ambientais e sociais. Vale ressaltar que não se tratam apenas de duas obras literárias, mas obras brasileiras, que, de início, desacreditadas mormente a de Rachel de Queiroz, ganharam força, ultrapassando os limites de sua época, consagrando seus autores no meio artístico cultural brasileiro. É a discrepância entre o pobre e o rico, entre o farto e o mísero, entre o que manda e o que obedece, que infelizmente permanece na sociedade capitalista, massacrando pessoas como se animais fossem, abaixo de olhos que não querem enxergar, para não tomar medidas que possam lhe tirar o poder de mando. As questões suscitadas pelas abordagens contempladas neste artigo sinalizam a necessidade de se ultrapassar as questões regionais e sugerem que também se examine possibilidades de resistência a um modelo econômico-político-social que, cada vez mais, descriminam e marginalizam pais de famílias, em particular, neste país. Os resultados obtidos nesta pesquisa poderão servir para humanizar o ser humano sob os aspectos de saúde, bem-estar físico, mental, ambiental e social, com olhos voltados não 13

somente para o povo nordestino, mas para um grande número de pessoas que se encontram ciclicamente em fuga, seja da pobreza, da violência, do desamparo cultural. Além das questões sociais tratadas, os resultados da pesquisa, hão de contribuir, intensamente, no meio acadêmico, auxiliando os leitores que já conhecem as duas obras e desejam aprofundar seus conhecimentos e, também, aqueles que com a simples leitura desse trabalho possam ser despertados para a grande e infinita viagem que é o mundo literário. REFERÊNCIAS CARNEIRO, F. de F., NUNES, T. T. DA S. e QUEIROZ, T. A. A relação entre a temática de Vidas Secas e o Quinze. Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Norte Belém - PA 01 a 03/05/2014, disponível em http://www.portalintercom.org.br/anais/nordeste2015/resumos/r47-2725-1.pdf, em 29/06/2016. OLIVEIRA, C. B. de. Arte Literária Brasileira. São Paulo: Moderna, 2000. OLIVEIRA, I. C. Análise comparativa entre Vidas Secas de Graciliano Ramos e o Quinze de Raquel de Queiroz. http://www.webartigos.com/artigos/analise-comparativaentre-vidas-secas-de-graciliano-ramos-e-o-quinze-de-raquel-dequeiroz/85676/#ixzz4cyoa72qf, disponível em 29/06/2016. QUEIROZ, R. de. O quinze. 89. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010. RAMOS, G. Vidas Secas. 56. ed. Rio, São Paulo: Record, 1986. SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 22. ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 2002. 14