UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PESCA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PESCA

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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PESCA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PESCA ANA VLÁDILA DA SILVA OLIVEIRA ANÁLISE DO PROCESSO DE VERIFICAÇÃO DA PESCARIA DE LAGOSTAS NA COMUNIDADE DE REDONDA, ICAPUÍ - CE FORTALEZA 2018

ANA VLÁDILA DA SILVA OLIVEIRA ANÁLISE DO PROCESSO DE VERIFICAÇÃO DA PESCARIA DE LAGOSTAS NA COMUNIDADE DE REDONDA, ICAPUÍ - CE Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Pesca, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Engenharia de Pesca. Área de concentração: Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca. Orientadora: Profa. Dra. Caroline Vieira Feitosa FORTALEZA 2018

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca Universitária Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a) O45a Oliveira, Ana Vládila da Silva. Análise do processo de verificação da pescaria de lagosta na comunidade de Redonda, Icapuí- Ce / Ana Vládila da Silva Oliveira. 2018. 61 f. : il. color. Dissertação (mestrado) Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências Agrárias, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Pesca, Fortaleza, 2018. Orientação: Profa. Dra. Caroline Vieira Feitosa. 1. Sustentabilidade. 2. Recurso pesqueiro. 3. Panulirus. I. Título. CDD 639.2

ANA VLÁDILA DA SILVA OLIVEIRA ANÁLISE DO PROCESSO DE VERIFICAÇÃO DA PESCARIA DE LAGOSTAS NA COMUNIDADE DE REDONDA, ICAPUÍ - CE Aprovada em: / /. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Pesca, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Engenharia de Pesca. Área de concentração: Recursos Pesqueiros e Engenharia de pesca. BANCA EXAMINADORA Profa. Dra. Caroline Vieira Feitosa (Orientadora) Universidade Federal do Ceará (UFC) Prof. Dr. Reynaldo Amorim Marinho Universidade Federal do Ceará (UFC) Prof. Dr. Raimundo Nonato de Lima Conceição Universidade Federal do Ceará (UFC)

A Deus. Aos meus pais, José Valmir de Oliveira Filho e Erivanda da Silva Oliveira.

AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, pois sem ELE nada seria possível. À CAPES, pelo apoio financeiro com a manutenção da bolsa de auxílio. A Minha orientadora, Caroline Vieira Feitosa, por todos os ensinamentos, consideração, conselhos, dedicação, paciência e principalmente por acreditar no meu potencial. A banca examinadora, Prof. Dr. Reynaldo Amorim Marinho e Prof. Dr. Raimundo Nonato de Lima Conceição por terem enobrecido o presente trabalho com suas recomendações e considerações. Aos meus pais Erivanda da Silva Oliveira e José Valmir de Oliveira Filho (in memoriam), por toda educação recebida, pelo apoio, admiração e acima de tudo por todo amor dedicado a mim. A minha única irmã, Diana Mary da Silva Oliveira Albuquerque Gadelha, por todo apoio, admiração e incentivo. Aos meus amigos e familiares, por todo apoio e incentivo. Aos meus colegas e amigos da turma de mestrado e doutorado do curso de Engenharia de Pesca. E a todos que de alguma forma torceram e ajudaram para a concretização dessa etapa da minha vida.

Deus nunca disse que a jornada seria fácil, mas Ele disse que a chegada valeria à pena. (Max Lucado).

RESUMO A pesca de lagosta no Brasil ocorre ao longo de 6.573 km de linha de costa, sendo desenvolvida nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste, até o estado do Espírito Santo. A lagosta-vermelha (Panulirus argus) é a espécie mais abundante comercialmente, seguida da lagosta-verde (Panulirus laevicauda). A região Nordeste é a que possui maior produção e o Ceará é o principal produtor e exportador desse recurso pesqueiro. Desde a década de 70, a pescaria de lagosta vem sofrendo com a sobrepesca que na época era resultante do ingresso de barcos de maior porte e de técnicas proibidas, fazendo com que essa atividade fosse predatória e insustentável. Para minimizar essa problemática, modelos de verificação do produto e/ou certificação podem ser bons aliados nesse processo, pois objetivam garantir a conformidade das normas, seguindo padrões de qualidade e sistemas de monitoramento internacionalmente aceitos, aumentando a coordenação da cadeia produtiva e consequentemente, a qualidade dos produtos. Recentemente, foi realizada a verificação da pescaria artesanal de lagosta em uma comunidade do litoral leste do Ceará. Sabendo da importância da verificação e da certificação para a cadeia produtiva de um recurso, o presente trabalho teve como objetivo analisar o processo de verificação da pescaria de lagosta realizada na comunidade de Redonda, Icapuí Ce. Foram analisados todos os procedimentos que devem ser seguidos para a obtenção do certificado, tais como análise da produção e análise biométrica das lagostas. No ano de 2015 foram produzidos aproximadamente 4 mil quilos de lagosta verificada, enquanto no ano de 2016 esse valor passou para quase 20 mil quilos. A mediana do comprimento de cefalotórax, com o sexo agrupado, das espécies P. argus e P. laevicauda foi de 8,3 cm e 8,4 cm, respectivamente, não diferindo estatisticamente. Quando analisado a diferença entre machos e fêmeas da mesma espécie, houve diferença significativa entre os comprimentos de cefalotórax de P. laevicauda, o mesmo não ocorreu para as P. argus. Os resultados obtidos na presente pesquisa demonstraram que o Projeto de verificação, apesar de cumprir com as exigências da legislação em vigor para pescaria de lagosta, necessita acrescentar exigências que permitam que a população desse recurso se recupere por meio de ações como a devolução ao mar de fêmeas ovígeras e de indivíduos com tamanhos inferiores ao permitido. É necessária a realização um sistema de

controle estatístico dos desembarques que determine a abundância relativa para a elaboração de um plano de gestão local. Palavras-chave: Sustentabilidade. Recurso pesqueiro. Panulirus.

ABSTRACT Lobster fishing in Brazil occurs along 6.573 km of coastline, being developed in the North, Northeast and Southeast regions (until Espírito Santo State). The red lobster (Panulirus argus) is the most abundant species commercially, followed by the green lobster (Panulirus laevicauda). The Northeast region has the largest production and Ceará is the main producer and exporter of this fishing resource. Since the 1970s, lobster fishing has been suffering from overfishing, which at the time was due to the entry of larger boats and prohibited techniques, making this activity predatory and unsustainable. In order to minimize this problem, product verification and / or certification models can be good allies in this process, since they aim to guarantee the conformity of the rules, following quality standards and internationally accepted monitoring systems. Thus, increasing chain coordination and, consequently, quality of the products. Recently, the verification of artisanal lobster fishing was carried out in a community on the eastern coast of Ceará. Knowing the importance of verification and certification for the productive chain of a resource, the present research aims to analyze the process of verification of the lobster fishery that occurs in the community of Redonda, Icapuí - Ce. All the procedures that must be followed to obtain certification, such as production analysis and biometric analysis of lobsters were analyzed. In the year 2015 was produced approximately 4 thousand kilograms of verified lobster, while in the year 2016 the production was almost 20 thousand kilos. The median length of cephalothorax, with the grouped sex, of P. argus and P. laevicauda was 8.3 cm and 8.4 cm, respectively, and did not differ statistically. When analyzing the difference between males and females of the same species, there was a significant difference between the cephalothorax lengths of P. laevicauda, and the same did not occur for P.argus. The results obtained in the present research demonstrated that the Verification Project, despite complying with the requirements of the legislation in force for lobster fishery, needs to add requirements that allow the fish population to recover, such as the return to the sea of ovigerous females and of individuals with sizes smaller than allowed. It is necessary to carry out a system of statistical control of landings that determines the relative abundance for the elaboration of a management plan. Keywords: Sustainability. Fishery resource. Panulirus.

LISTA DE FIGURAS Figura 1 Localização de Redonda, município de Icapuí, comunidade pesqueira onde foi realizado o estudo.... 21 Figura 2 Morfologia externa da lagosta. 1: pereópodes (ou pereiópodes); 2: antênulas; 3: grandes acúleos; 4: pedúnculos oculares; 5: antenas; 6: carapaça ou cefalotórax; 7: télson; 8: urópodes; 9: abdômen.... 23 Figura 3 Distribuição mundial da família Palinuridae, com ênfase na lagosta vermelha.... 24 Figura 4 Exemplar de lagosta vermelha (Panulirus argus) capturado na comunidade de Redonda.... 25 Figura 5 Exemplar de lagosta verde (Panulirus laevicauda) capturado na comunidade de Redonda.... 26 Figura 6 Exemplar de lagosta pintada (Panulirus echinatus) capturado na comunidade de Redonda.... 27 Figura 7 Apetrechos utilizados na pescaria de lagosta: A Manzuá; B Cangalha.... 27 Figura 8 Embarcação à vela utilizada na pescaria de lagosta na praia da Redonda (Icapuí, CE).... 28 Figura 9 Auditoria realizada no ponto de controle localizado na praia de Redonda, Icapuí.... 33 Figura 10 Auditoria realizada na indústria de processamento localizada em Icapuí.... 34 Figura 11 Sexagem realizada por meio de observação visual: (A) Pleópodos unirremes de machos da espécie P. agus e (B) Pleópodos birremes de Fêmeas da espécie P. argus.... 35

LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Frequência de ocorrência do tamanho das embarcações credenciadas no Projeto Lagosta Verificada na Comunidade de Redonda, Icapuí no período de 2015 a 2016... 38 Gráfico 2 Capacidade máxima de covos permitida pela legislação por embarcação que atua na pesca lagosta e credenciada junto ao projeto de verificação... 38 Gráfico 3 Produção total, verificada e rejeitada de lagosta capturada no município de Redonda pela frota cadastrada no Projeto de Verificação do ano de 2015 (kg/mês).... 39 Gráfico 4 Produção total, verificada e rejeitada de lagosta capturada no município de Redonda pela frota cadastrada no Projeto de Verificação do ano de 2016 (kg/mês).... 40 Gráfico 5 Comparação entre as produções de lagosta verificada dos anos 2015 e 2016 capturadas no município de Redonda pela frota cadastrada no Projeto de Verificação. As linhas internas dos retângulos representam as medianas das produções, a borda inferior representa o percentil 25 e a borda superior o percentil 75. Os traços horizontais nas extremidades das linhas verticais delimitam o valor mínimo e máximo produzido. Os círculos são valores 1,5 vezes maiores que o box e os asteriscos são valores 3,0 vezes maiores que o box... 41 Gráfico 6 Comparação da produção mensal (kg) de lagostas vermelhas e verdes capturadas no município de Redonda pela frota cadastrada no Projeto de Verificação nos anos de 2015 e 2016... 42 Gráfico 7 Comparação entre as produções de lagostas rejeitadas dos anos de 2015 e 2016 no município de Redonda pela frota cadastrada no Projeto de Verificação. As linhas internas dos retângulos representam as medianas das produções, a borda inferior representa o percentil 25 e a borda superior o percentil 75. Os

traços horizontais nas extremidades das linhas verticais delimitam o valor mínimo e máximo produzido. Os círculos são valores 1,5 vezes maiores ou menores que o Box... 43 Gráfico 8 Análise do comprimento de cefalotórax de machos e fêmeas da espécie P. argus. As linhas internas dos retângulos representam as medianas dos comprimentos de cefalotórax, a borda inferior representa o percentil 25 e a borda superior o percentil 75. Os traços horizontais nas extremidades das linhas verticais delimitam o valor mínimo e máximo desses comprimentos. Os círculos e os asteriscos são valores 1,5 e 3 vezes maiores que o box, respectivamente... 44 Gráfico 9 Análise do peso de machos e fêmeas da espécie P. argus. As linhas internas dos retângulos representam as medianas dos pesos, a borda inferior representa o percentil 25 e a borda superior o percentil 75. Os traços horizontais nas extremidades das linhas verticais delimitam o peso mínimo e máximo. Os círculos e os asteriscos são valores 1,5 e 3 vezes maiores que o box, respectivamente... 45 Gráfico 10 Análise do comprimento de cefalotórax de machos e fêmeas da espécie P. laevicauda. As linhas internas dos retângulos representam as medianas dos comprimentos de cefalotórax, a borda inferior representa o percentil 25 e a borda superior o percentil 75. Os traços horizontais nas extremidades das linhas verticais delimitam o valor mínimo e máximo desses comprimentos... 46 Gráfico 11 Análise do peso de machos e fêmeas da espécie P. laevicauda. As linhas internas dos retângulos representam as medianas dos pesos, a borda inferior representa o percentil 25 e a borda superior o percentil 75. Os traços horizontais nas extremidades das linhas verticais delimitam o valor mínimo e máximo desses pesos.... 47 Gráfico 12 Comparação entre os comprimentos de cefalotórax das espécies P. laevicauda e P. argus. As linhas internas dos retângulos

representam as medianas dos comprimentos, a borda inferior representa o percentil 25 e a borda superior o percentil 75. Os traços horizontais nas extremidades das linhas verticais delimitam o valor mínimo e máximo desses comprimentos. Os círculos e os asteriscos são valores 1,5 e 3 vezes maiores que o box, respectivamente... 48

LISTA DE QUADROS Quadro 1 Resumo das instruções normativas em vigor para as espécies de lagostas capturadas no Brasil.... 30

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 16 2 MATERIAIS E MÉTODOS... 21 2.1 Local de estudo... 21 2.2 Espécies capturadas... 22 2.3 Descrição da verificação... 27 2.3.1 Abrangência... 27 2.3.2 Embarcações participantes... 28 2.3.3 Especificações do produto... 29 2.3.4 Outros aspectos da legislação... 31 2.3.5 Condições de qualidade do produto... 31 2.3.6 Transporte... 32 2.3.7 Indústria de processamento... 32 2.3.8 Definições... 32 2.4 Processo de verificação... 33 2.5 Coleta de dados... 35 2.6 Análise de dados... 36 3 RESULTADOS... 37 3.1 Processo de verificação... 37 3.2 Embarcações... 37 3.3 Produção... 39 3.4 Análise biométrica... 44 4 DISCUSSÃO... 49 4.1 Processo de verificação... 49 4.2 Embarcações... 50 4.3 Produção... 51 4.4 Análise biométrica... 52 5 CONCLUSÃO... 54 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 55 REFERÊNCIAS... 56 APÊNDICE A MODELO DO INFORME DE INSPEÇÃO UTILIZADO PARA VERIFICAÇÃO DA PESCARIA DE LAGOSTA EM REDONDA. 61

16 1 INTRODUÇÃO A pesca é uma das atividades produtivas mais antigas realizadas pelo ser humano, tendo em vista a utilização dos recursos marinhos vivos (FONTELES FILHO, 2011). Atualmente, esta prática continua sendo utilizada como meio de subsistência, desempenhando um papel importante na nutrição, sendo fonte de alimentos de milhões de pessoas ao redor do mundo, além de ajudar na renda de milhões de famílias (FAO, 2016). Em 2014, a captura global de pescado produzida pelas pescarias foi de 93,4 milhões de toneladas, das quais 81,5 milhões representados pela pesca em águas marinhas e 11,9 milhões pelas águas interiores. A China foi o principal país responsável pela produção do pescado, seguido da Indonésia, Estados Unidos e da Federação Russa (FAO, 2016). No Brasil, a pesca extrativa é considerada uma importante atividade econômica, principalmente, no que se refere à produção de alimentos que une diversos setores sociais na região costeira (CRUZ et al., 2011). Essa atividade é distinguida de acordo com o objetivo econômico e social. Deste modo, existem três tipos diferentes de pescaria no país: industrial, amadora e artesanal, regulamentadas pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) (BRASIL, 2014). A pesca industrial utiliza embarcações de médio e grande porte, necessita de infraestrutura portuária adequada para o abastecimento, desembarque e manutenção do pescado e uso de tecnologia sofisticada. Tem como finalidade a captura de grande quantidade de matéria-prima para o abastecimento de grandes indústrias de centros de distribuição de alimentos (BRASIL, 2014). A pesca amadora é realizada com finalidade apenas de lazer e/ou esporte, podendo ser desenvolvida com ou sem embarcação. Uma das características que distingue a amadora das demais pescarias é o seu intuito não comercial, ou seja, o pescado vindo desse tipo de atividade não pode ser vendido posteriormente (BRASIL, 2010). A pesca artesanal é realizada por produtores autônomos. O produto desta pescaria pode contemplar a família dos pescadores (subsistência) ou possuir fins exclusivamente comerciais. É uma atividade relativamente simples, na qual os próprios trabalhadores confeccionam seus instrumentos e apetrechos e realizam as capturas utilizando pequenas embarcações. É analisada como uma das práticas econômicas mais tradicionais do país, possuindo quase um milhão de pescadores envolvidos nesse exercício (BRASIL, 2014).

17 As pescarias marinhas e estuarinas no Nordeste brasileiro são caracterizadas predominantemente pela pesca artesanal (BRASIL, 2008). Esta atividade tem como característica a elevada riqueza de espécies, no entanto, baixas biomassas específicas (CASTELLO, 2010). No Ceará a atividade pesqueira é desempenhada ao longo de 573 km de costa (8,5% do litoral brasileiro), tendo 113 pontos de desembarque, envolvendo vinte municípios costeiros (BRASIL, 2004). Os principais municípios e localidades são Camocim, Acaraú, Itarema (Torrões), Barroquinha (Bitupitá) situados no litoral oeste; Beberibe (Parajuru), Icapuí (Icapuí e Redonda), Cascavel (Caponga) localizados no litoral leste e em Fortaleza (Mucuripe e Porto dos botes) (BRASIL, 2006). A pesca de lagosta no Brasil ocorre em 6.573 km de linha de costa, sendo desenvolvida na região Norte, nos estados do Amapá e Pará, na região Nordeste, incluindo os estados do Maranhão a Bahia e no Sudeste, no estado do Espírito Santo. Panulirus argus (lagosta-vermelha) é a espécie mais abundante comercialmente, seguida da Panulirus laevicauda (lagosta-verde) (FONTELES- FILHO; GUIMARÃES, 2000). Essas espécies possuem ciclo de vida implexo, além de ampla distribuição e elevada explotação. (CRUZ et al.; 2011). A região Nordeste é a que possui maior produção e o estado do Ceará é o principal produtor e exportador desse recurso pesqueiro, de acordo com dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (BRASIL, 2008). Esta pescaria se expande até uma profundidade de 100 m e são utilizados diversos aparelhos e técnicas de captura (CRUZ et al., 2011). No entanto, apenas as armadilhas denominadas manzuás ou covos, apetrecho em forma hexagonal com uma única sanga (entrada em forma de funil), e a cangalha, apetrecho menor e mais leve com formato retangular e com duas entradas são permitidas pela legislação vigente (FONTELES FILHO; GUIMARÃES, 2000). Para garantir uma maior captura do pescado, muitos pescadores utilizam apetrechos de pesca ilegais, os quais são empregados de forma clandestina (MADRID; CRUZ, 2013). A caçoeira, o mergulho com compressor e as marambaias são exemplos de pescarias ilegítimas. Atualmente, existem medidas regulatórias que estabelecem um período de proibição da pesca de 180 dias, de primeiro de dezembro a 31 de maio (defeso); proíbe o uso de redes de emalhar, mergulho comercial em abrigos naturais e artificiais; e estabelecem um tamanho mínimo de captura. Para a lagosta vermelha, indivíduos com comprimento de abdômen (cauda) inferior a 130 mm de comprimento

18 (75 mm de comprimento do cefalotórax) é proibida a captura. O mesmo ocorre para indivíduos de 110 mm (65 mm de comprimento do cefalotórax), no caso da lagosta verde (CAVALCANTE; FURTADO-NETO, 2011). O aumento desordenado do esforço de pesca traduz-se na sobrepesca dos recursos pesqueiros marinhos em escala global. Desde a década de 70, a pescaria de lagosta vinha sofrendo com a sobrepesca resultante do ingresso de barcos de maior porte e de técnicas proibidas, fazendo com que essa atividade fosse predatória e insustentável (MUNIZ, 2005). A ineficiência das fiscalizações e a falta de monitoramento das pescarias proporcionam o constante descumprimento das medidas de ordenamento vigentes. Essa situação vem contribuindo para o fracasso na gestão do uso sustentável desse recurso, gerando assim um cenário de crise no setor (CAVALCANTE; FURTADO-NETO; COSTA, 2011). Os diferentes interesses com os recursos pesqueiros geram também diferentes percepções do conceito de sustentabilidade, reforçando a precisão de inclusão dos fatores socioeconômicos, combinado aos aspectos biológicos e ecossistêmicos (HILBORN et al., 2015). Sendo assim, não é possível obter sucesso na gestão ambiental para a pesca se as mesmas estiverem restritas apenas à conservação (HERCULANO, 2000). Um importante recurso para a solução dos conflitos socioeconômicos e ambientais da pesca é o estudo detalhado, como o da caracterização das comunidades pesqueiras, para servir de referência para a formulação de políticas que permitam a captura sustentável do recurso, o desenvolvimento e a conservação da qualidade de vida dos pescadores e suas famílias (SILVA, 2013). Para a formulação de políticas que permitam a captura sustentável dos recursos, modelos de verificação e certificação podem ser bons aliados nesse processo, pois objetivam garantir a conformidade das normas ou especificações técnicas, seguindo modelos de qualidade e sistemas de monitoramento internacionalmente aceitos, aumentando a coordenação da cadeia e consequentemente, a qualidade dos produtos (CONCEIÇÃO; BARROS, 2005). A fim de melhor compreender a importância de uma verificação e/ou certificação é essencial conhecer seu conceito. Uma organização certificadora é capaz de emitir um certificado, que garante após avaliação feita por pessoal habilitado e por meio de métodos pré-definidos, que o produto ou serviço se encaixe nas exigências contidas e especificadas nas normas de referência. A certificadora pode ser classificada

19 como de natureza oficial, quando é pública ou privada e pode ser direcionada a produtos, processos ou sistema de gestão (INMETRO, 2017). Portanto, a verificação de um produto trata da averiguação da conformidade dos bens em relação às normas nacionais ou internacionais, estimulando também fornecedores e compradores a compreenderem a importância da conformidade e seus benefícios. A verificação se difere da certificação, pois se limita a investigação da conformidade do produto de um país específico, enquanto a cerificação aplica-se ao produto de forma geral, sem restrições geográficas (BRASIL, 2017). Recentemente, foi realizada a verificação da pescaria artesanal de lagosta em uma comunidade do litoral leste do Ceará, com o objetivo de distinguir, promover e proteger as lagostas extraídas em conformidade com os requisitos legais em vigor. Foi feita a monitoramento do recurso pesqueiro ao longo da cadeia de produção e a criação de uma marca denominada lagosta verificada. Sabendo da importância da pescaria de lagosta e para averiguar se a implementação da verificação foi eficaz em termos biológicos, a presente pesquisa teve como objetivos: analisar o processo de verificação da pescaria de lagosta realizado na Comunidade de Redonda, Icapuí Ce; analisar o produto da pescaria de acordo com as especificações da verificação; determinar a produção total de lagosta verificada; apresentar aspectos positivos e negativos do processo de verificação identificado no presente trabalho e apresentar sugestões para decisões futuras sobre o assunto, tendo como base os pontos positivos e negativos identificados.

20 2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Local de estudo O município de Icapuí dista aproximadamente 200 km da capital do Ceará, Fortaleza. As principais atividades econômicas praticadas neste município são a pesca, principalmente de lagosta, o extrativismo do coco, a coleta de algas e mariscos, a agricultura de subsistência, o artesanato, o beneficiamento de castanha de caju, o beneficiamento do pescado e a carcinicultura, além da extração de petróleo (CEARÁ, 2005). Possui diversas praias: Retiro Grande, Ponta Grossa, Redonda, Peroba, Picos, Barreiras, Barrinha de Mutamba, Barrinha, Barra Grande, Requenguela, Placa, Quitérias, Tremembé, Melancias, Peixe Gordo e Barrinha de Manibú (ICAPUÍ, 2017). Dentre elas, destaca-se a praia da Redonda que é reconhecida pela luta de seu povo contra a pescaria ilegal de lagosta e sua exuberante beleza natural (ALMEIDA, 2010). A presente pesquisa foi realizada na comunidade da praia de Redonda (Limites da comunidade: ponto 1 04 38 42.37 S : 037 28 46.97 W; ponto 2 04 39 6.77 S : 037 27 42.83 W; ponto 3 04 38 59.12 S 037 28 56.12 W e ponto 4 04 39 23.60 S :037 27 47.99 W), localizada no município de Icapuí, situado no extremo leste do Estado do Ceará (Figura 1). Esse município fica limitado ao norte pelo Oceano Atlântico, ao sul e a oeste pelo município de Aracati e a leste pelo estado do Rio Grande do Norte. Possui 64 km de extensão litorânea, aproximadamente 19mil habitantes e cerca 430 km² de área total, representando 0,29% do território do estado do Ceará (ICAPUÍ, 2017).

21 Figura 1- Localização de Redonda, município de Icapuí, comunidade pesqueira onde foi realizado o estudo. Fonte: A autora. A praia de Redonda possui seis quilômetros de extensão litorânea, estando à aproximadamente 16 km da sede do Município, podendo ser acessada tanto pela praia quanto pela via asfaltada sobre a falésia (chamada pelos moradores da região de serra). A plataforma continental em frente à praia de Redonda é composta por um grande banco de algas calcárias, substrato preferencial para o habitat da lagosta, o que proporcionou o desenvolvimento da atividade lagosteira. (ALMEIDA, 2010).

22 2.2 Espécies capturadas As lagostas estão sistematicamente agrupadas como: FILO Arthropoda CLASSE SUBCLASSE ORDEM SUBORDEM Crustacea Malacrostaca Decapoda Macrura FAMÍLIAS Nephropidae Dana, 1852 Palinuridae Latreille,1803 Scyllaridae Latreille,1825 Synaxidae Bate,1881 Fonte: Neto, 2008 A plataforma continental brasileira possui uma grande diversidade de lagostas do Oceano Atlântico. Aproximadamente vinte e uma espécies estão distribuídas em diversos habitats ao longo das águas costeiras, insulares e atol oceânico, em uma profundidade de até 1.000 metros (SILVA et al., 2013). As lagostas espinhosas pertencentes à família Palinuridae que abrangem 49 espécies (NETO, 2008). As lagostas espinhosas apresentam o corpo dividido em duas regiões: cefalotórax e abdômen. Possui o corpo coberto por espinhos de tamanhos diversos. Existem dois grandes espinhos próximos aos olhos para sua proteção. O abdômen é formado por seis segmentos com anéis e termina no télson que é composto por quatro urópodos. Os apêndices cefálicos sensoriais são formados pelos pendúnculos oculares, antenas e antênulas (Cruz et al.,1990) (Figura 2).

23 Figura 2 - Morfologia externa da lagosta. 1: pereópodes (ou pereiópodes); 2: antênulas; 3: grandes acúleos; 4: pedúnculos oculares; 5: antenas; 6: carapaça ou cefalotórax; 7: télson; 8: urópodes; 9: abdômen. Fonte: JOSHUA et al.,2013, modificado pela autora. As lagostas espinhosas estão distribuídas em águas tropicais, subtropicais e temperadas. O gênero Panulirus é encontrado em áreas próximas dos trópicos, ou seja, em águas mais quentes. Quando sua distribuição é comparada à distribuição das demais espécies é encontrada em baixas ou razoáveis profundidades. A distribuição espacial das lagostas vermelhas e verdes se sobrepõe parcialmente (Figura 3). A lagosta vermelha possui abundância de forma crescente no sentido perpendicular à costa, atingindo seu máximo em profundidades entre 41 50 metros. A lagosta verde tem sua abundância máxima na faixa entre 31 40 metros de profundidade (NETO, 2008).

24 Figura 3 - Distribuição mundial da família Palinuridae, com ênfase na lagosta vermelha. Fonte: a autora. O habitat das lagostas é composto por substrato de algas bentônicas calcárias, algas vermelhas da família Rhodophyceae, principalmente do gênero Lithothamnium e algas verdes da Família Chlorophyceae (gêneros: Halimeda, Udotea e Penicillus) (FONTELES-FILHO, 1992). Panulirus argus (Latreille, 1804) pertence à família Palinuridae, conhecida vulgarmente como lagosta vermelha, lagosta comum ou lagosta-espinhosa-docaribe. É a espécie de maior abundância no Oceano Atlântico Centro Ocidental e Sudeste. Esses indivíduos possuem corpo cilíndrico e repleto de espinhos, com antenas muito longas e finas. Nos anéis abdominais apresenta sulcos transversais. Sua cor é avermelhada ou amarronzada (SILVA et al., 2003 e 2008). (Figura 4).Essa espécie está em discussão entre geneticistas e ecologistas devido a um novo conhecimento genético que distingue populações da América do Norte e Central da população brasileira (TOURINHO; SOLÉ-CAVA; LAZOSKI, 2012). A pluma das bacias hidrográficas do Amazonas e Orinoco forma barreiras biogeográficas que atuam como barreira física que impede o fluxo gênico. Devido a esse isolamento, surgiram duas populações distintas geneticamente (P. argus e P. merupurpuratus ) (GIRALDES; SMYTH, 2016).

25 Figura 4 - Exemplar de lagosta vermelha (Panulirus argus) capturado na comunidade de Redonda. Fonte: a autora. Panulirus laevicauda pertence à família Palinuridae, conhecida vulgarmente como lagosta verde, lagosta-de-cabo-verde. É a segunda espécie mais abundante do Oceano Atlântico Centro Ocidental e Sudeste. Assim como a lagosta vermelha, possui corpo cilíndrico e espinhoso com antenas muito longas e finas. Sua cor é esverdeada, os anéis do abdômen se diferenciam da lagosta comum por serem completamente lisos (Figura 5) (FONTELES-FILHO, 2000).

26 Figura 5 - Exemplar de lagosta verde (Panulirus laevicauda) capturado na comunidade de Redonda. Fonte: a autora. As espécies Scyllarides brasiliensis, Scyllarides delfosi, Scyllarides deceptor e Parribacus antarcticus, conhecidas vulgarmente como sapatas ou sapateiras, geralmente são capturadas como fauna acompanhante na pescaria de lagosta espinhosa e de camarão (OLIVEIRA, 2008). A captura da espécie Panulirus echinatus (lagosta pintada) possui uma captura insignificante e é localizada principalmente no Arquipélago de Fernando de Noronha e Arquipélago de São Pedro e São Paulo (Paiva, op. cit.; VASKE JUNIOR et al.,2010) (Figura 6).

Figura 6 - Exemplar de lagosta pintada (Panulirus echinatus) capturado na comunidade de Redonda. 27 Fonte: a autora. 2.3 Descrição da verificação 2.3.1 Abrangência A abrangência das lagostas verificadas era concentrada nas espécies de lagosta: Panulirus argus e Panulirus laevicauda, extraídas por meio de armadilhas denominadas covos, chamadas localmente de manzuás e cangalhas (figura 7). Figura 7 - Apetrechos utilizados na pescaria de lagosta: A Manzuá; B Cangalha. A B Fonte: a autora.

28 2.3.2 Embarcações participantes As embarcações que tomaram parte do processo de verificação eram de pequeno porte (de 4 a 10 metros de comprimento), com casco de madeira, tecnologia limitada, com o máximo de 5 tripulantes (1 mestre e 4 pescadores), classificadas como artesanais (jangadas, botes e canoas) (Figura 8). Também são permitidas embarcações motorizadas de médio porte (até 15 metros de comprimento), casco de madeira ou metal, com tripulação composta por até 6 pessoas. Deviam estar devidamente inscritas no projeto de verificação e seus usuários deviam ter firmado compromisso de cumprir com os requisitos exigidos. Todas as embarcações tinham que possuir licença para pesca de lagosta. Foi realizada a caracterização de 57 embarcações, identificando propulsão, tamanho, quantidade de pescadores embarcados e quantidade de covos utilizados. Figura 8 - Embarcação à vela utilizada na pescaria de lagosta na praia da Redonda (Icapuí, CE). Fonte: a autora.

29 2.3.3 Especificações do produto Somente podiam fazer parte da certificação lagostas capturadas por embarcações das comunidades pesqueiras que estejam devidamente inscritas no projeto; As lagostas deviam ser entregues em um ponto de controle que fica situado na própria comunidade de Redonda em frente à praia. O produto devia cumprir todos os requisitos legais vigentes exigidos pelo Governo brasileiro, especificados abaixo (quadro 1):

30 Quadro 1 - Resumo das instruções normativas em vigor para as espécies de lagostas capturadas no Brasil. MEDIDA DESCRIÇÃO PARTICULARIDADES LEGISLAÇÃO TAMANHO LEGAL Lagosta vermelha: 13 cm (abdômen) 7,5 cm (cefalotórax) Lagosta verde: 11 cm (abdômen) 6,5 cm (cefalotórax) Tolerância de 2% em relação ao peso total de indivíduos com tamanhos mínimos inferiores aos permitidos. Instrução normativa N 138 de 6 de dezembro de 2006. Instrução normativa N 206 de 14 de novembro de 2008. ARTE DE PESCA PERMITIDA Covo ou manzuá e cangalha com malhas de 5 cm nó à nó tipo nylon. Instrução normativa N 138 de 6 de dezembro de 2006. ÉPOCA DE VENDA Fica estabelecido um período de proibição de venda de 1 de dezembro a 31 de maio em águas de jurisdição brasileira. Instrução normativa N 206 de 14 de novembro de 2008. REGISTRO DE EMBARCAÇÕES Fonte: a autora. Limita a frota de embarcações que pediram permissão antes de 8 de agosto de 2000. Somente é permitida a pesca de lagosta embarcações maiores de 4 metros de comprimento. Instrução normativa N 138 de 6 de dezembro de 2006.

31 2.3.4 Outros aspectos da legislação De acordo com a Instrução Normativa N 138, de 6 de dezembro de 2006, artigo 6: a partir de 1 janeiro de 2007, fica proibida a captura de lagostas das espécies P. argus (lagosta vermelha) e P. laevicauda (lagosta verde), por meio de redes de deriva do tipo caçoeira. Artigo 7: a partir de 1 de janeiro de 2007, fica proibida a utilização de marambaias, confeccionadas com material de qualquer natureza, como instrumento auxiliar de agregação de organismos aquáticos vivos, incluindo captura de lagostas. Artigo 9: proíbe a captura de lagostas por sistemas mergulho de qualquer natureza. Parágrafo único - As embarcações não podem levar nenhum aparato de ar comprimido e instrumentos adaptados para a captura de lagostas por meio de mergulho. De acordo com a Instrução normativa N 206 de 14 de novembro de 2008, artigo 1: parágrafo 1 O desembarque das lagostas somente é tolerado até o dia 30 de novembro de cada ano, as embarcações devem voltar com todos os covos utilizados na temporada em sua última saída. Parágrafo 2 É concedido o prazo de três dias para as espécies desembarcadas serem transportadas, por terra, até os frigoríficos ou empresas processadoras e são autorizadas, a partir das 00:00 horas do dia 1 de junho de cada ano, a saída das embarcações para a pesca. 2.3.5 Condições de qualidade do produto Em todas as fases de captura, desembarque e comercialização o produto devia apresentar condições higiênico-sanitárias e de qualidade (frescor e conservação) adequadas. As lagostas deviam ter reflexo rápido ao tato nos olhos e antenas. Não estava em conformidade com a certificação o pescado que perdeu os reflexos, tem carapaça mole, perdeu pelo menos três pereópodos e/ou mortas.

32 2.3.6 Transporte As lagostas deviam ser transportadas em surrões, do desembarque ao ponto de controle, ficando proibido o transporte em baldes de tintas ou outros produtos químicos. O transporte das lagostas até a indústria de processamento devia ser realizado por caminhões frigoríficos, ao final da tarde. Quando a produção diária fosse considerada muito baixa, essa produção permaneceria no ponto de controle até o final do próximo dia para serem transportadas juntamente com a produção do dia atual. 2.3.7 Indústria de processamento As empresas deviam estar devidamente inscritas no projeto e comprometidas a cumprir com os procedimentos exigidos pela verificação. As instalações deviam cumprir com as concessões, autorizações, licenças ou permissões que são aplicáveis de acordo com a legislação em vigor que regulam a sua atividade. A indústria devia garantir o cumprimento da normativa higiênicosanitária, sendo submetida periodicamente a inspeções e auditorias. Era dever da empresa ter um sistema que permita identificar de maneira inequívoca os produtos verificados desde sua chegada até sua expedição. 2.3.8 Definições Auditoria - processo sistemático e documentado para obtenção de provas (registros, declarações de fatos ou outras informações), realizado para verificar se o conjunto de políticas, procedimentos ou requisitos foram cumpridos. Auditoria inicial - primeira auditoria realizada. Auditoria de seguimento - sucessivas auditorias realizadas. Auditoria extraordinária- processo em que o auditor se concentra na verificação da aplicação ações correctivas referentes principais não-conformidades ou quaisquer outros requisitos ou desvio considerados relevantes pela Comissão de Verificação. Não conformidade - desvio das exigências ou especificações. Ponto de controle - estabelecimento terrestreem que são recebidos os produtos, onde dá inicio o primeiro ponto da rastreabilidade.

33 Verificação - Confirmação, fornecendo evidência objetiva de que os produtos preencheram os requisitos especificados (UNE-EN ISO 9000: 2000). 2.4 Processo de verificação Toda lagosta entregue no ponto de controle foi pesada (peso inicial), em seguida, foi realizada a verificação dos padrões exigidos para a verificação (vivas, tamanho mínimo, carapaça rígida, quantidade de pereódos), posteriormente foi feita uma nova pesagem com a quantidade de lagosta que atendiam a esses padrões e por fim os pescados foram acondicionados vivos em tanques contendo água do mar e aeração. Ao fim de cada dia as lagostas foram retiradas dos tanques, acondicionada em surrões e transportadas por meio de caminhões frigoríficos. Ao chegar à indústria a produção total foi pesada, posteriormente, as lagostas foram abatidas em tanques contendo gelo (choque térmico) e processadas inteiras ou transformadas em cauda, o processamento foi realizado separadamente dos demais produtos processados pela indústria. Ao fim do processamento as lagostas foram embaladas em caixa contendo o selo de verificação. O processo de verificação passou por três auditorias (auditoria inicial e auditorias de seguimento), com o objetivo de averiguar se os procedimentos estavam sendo realizados de forma correta. (Figura 9). Figura 9 - Auditoria realizada no ponto de controle localizado na praia de Redonda, Icapuí. Fonte: a autora.

34 A indústria de processamento, responsável pelo beneficiamento do produto verificado, também passou por três auditorias (Figura 10). Figura 10 - Auditoria realizada na indústria de processamento localizada em Icapuí. Fonte: a autora.

35 2.5 Coleta de dados Os dados foram coletados no período de 01/06 a 30/11, período permitido para a pescaria de lagosta, dos anos de 2015 e 2016. Para realização da análise da conformidade e a biometria do produto foram utilizados uma balança analógica, uma balança digital com variação de 0,005g, uma fita métrica e um paquímetro. Todos os dados foram registrados e tabulados em planilha eletrônica. No ano de 2016, foram realizadas amostragens ao azar de indivíduos dos quais foram coletados dados sobre o sexo, peso e comprimento do cefalotórax e comprimento total. A sexagem foi realizada por meio de observação externa, visualizando os pleópodos que, nos machos são unirremes e nas fêmeas birremes (Figura 11). Figura 11 - Sexagem realizada por meio de observação visual: (A) Pleópodos unirremes de machos da espécie P. agus e (B) Pleópodos birremes de Fêmeas da espécie P. argus. A B Fonte: a autora.

36 2.6 Análise de dados Os dados da pescaria foram tabulados e agrupados como produção total, verificada (lagostas que respeitavam os critérios estabelecidos) e rejeitada (lagostas que não atendiam aos critérios). Foram verificadas a produção total e a produção entre de lagosta verificada. Dados de comprimento e peso de cefalotórax para machos e fêmeas de lagostas verdes e vermelhas também foram avaliados. Foram realizados teste de Shapiro Wilk para normalidade de Levene para a homocedastidade. Como esses critérios não foram atendidos, os testes não paramétricos de Mann-Whitney e Kruskal-Wallis foram utilizados. Posteriormente, a produção de lagostas verificadas foram comparadas em relação às duas espécies. Para todas as análises foi considerado o nível de significância de 0,05 e as análises foram realizadas no software PAST..

37 3 RESULTADOS 3.1 Processo de verificação No ponto de controle, foi verificado que todas as embarcações inscritas no projeto estavam devidamente licenciadas para pescaria de lagosta e utilizavam apenas manzuá ou cangalha como apetrecho de pesca. A mortalidade das lagostas mantidas nos tanques e transportadas em surrões foi aproximadamente 5%. Também ficou constatado que os produtos verificados seguiam as normas exigidas pela legislação em vigor, consequentemente, estavam em conformidade com padrões exigidos pela empresa certificadora. A verificação não utilizou como critério de rejeição: fêmeas ovígeras, pois a legislação, atualmente, permite o desembarque. Na indústria ficou constatada a conformidade dos procedimentos exigidos pela empresa certificadora. 3.2 Embarcações Foram monitoradas 57 embarcações de quatro diferentes tipos: botes a motor e à vela, jangada e bateira. Do total de barcos analisados, 96,3% possuem vela como propulsão, tendo maior frequência de ocorrência botes à vela (77%). Foram analisados também dois botes a motor (30 e 36 hp), duas bateiras e uma jangada. Os tamanhos das embarcações variaram entre 6,2 e 9,36 metros (gráfico 1).

38 Gráfico 1 - Frequência de ocorrência do tamanho das embarcações credenciadas no Projeto Lagosta Verificada na Comunidade de Redonda, Icapuí no período de 2015 a 2016. 2% 11% 33% 54% 6-6,99 m 7-7,99 m 8-8,99 m 9-9,99 m Fonte: a autora. As embarcações possuíam tripulação variando entre 3 e 6 tripulantes. E comportavam o máximo de 220 covos (gráfico 2). Gráfico 2 - Capacidade máxima de covos permitida pela legislação por embarcação que atua na pesca lagosta e credenciada junto ao projeto de verificação. 2% 4% 4% 76% 14% 50 covos 80 covos 110 covos 200 covos 220 covos Fonte: a autora.

39 3.3 Produção No ano de 2015, faziam parte do projeto de verificação 52 embarcações e aproximadamente 208 pescadores. No ano de 2016, o número de embarcações e pescadores participantes aumentou, sendo 66 e 264, respectivamente. No ano de 2015, a quantidade de lagosta produzida pelo processo de verificação foi de aproximadamente 4 mil quilos durante toda temporada (gráfico 3). Gráfico 3 - Produção total, verificada e rejeitada de lagosta capturada no município de Redonda pela frota cadastrada no Projeto de Verificação do ano de 2015 (kg/mês). 2000 1800 1600 Produção (kg) 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 Produção total Verificada Rejeitada Fonte: a autora. Em 2016, a produção foi de aproximadamente 20 mil quilos durante a temporada (Gráfico 4).

40 Gráfico 4 - Produção total, verificada e rejeitada de lagosta capturada no município de Redonda pela frota cadastrada no Projeto de Verificação do ano de 2016 (kg/mês). 7000 6000 Produção (kg) 5000 4000 3000 2000 1000 Produção Total Verificada Rejeitada 0 Fonte: a autora. No ano de 2016 ocorreu um aumento significativo na produção de lagosta verificada em relação ao ano de 2015 (gráfico 5).

41 Gráfico 5 - Comparação entre as produções de lagosta verificada dos anos 2015 e 2016 capturadas no município de Redonda pela frota cadastrada no Projeto de Verificação. As linhas internas dos retângulos representam as medianas das produções, a borda inferior representa o percentil 25 e a borda superior o percentil 75. Os traços horizontais nas extremidades das linhas verticais delimitam o valor mínimo e máximo produzido. Os círculos são valores 1,5 vezes maiores que o box e os asteriscos são valores 3,0 vezes maiores que o box. Produção de lagosta verificada (Kg) p= 0,013065 Fonte: a autora. Foi verificada diferença significativa (p= 0,003948) para a produção de lagostas verificadas das espécies P. argus e P. Laevicauda nos anos de 2015 e 2016. A produção de lagosta vermelha foi maior nos dois anos em que a pesquisa foi realizada. O pico da produção dessa espécie ocorreu no primeiro mês da temporada de pesca com uma tendência de redução nos meses posteriores. O mínimo da produção é encontrado no mês de setembro, em outubro ocorre um pequeno aumento e em novembro volta a ter uma redução. Para a lagosta verde a maior produção foi encontrada no mês de setembro (gráfico 6).

42 Gráfico 6 - Comparação da produção mensal (kg) de lagostas vermelhas e verdes capturadas no município de Redonda pela frota cadastrada no Projeto de Verificação nos anos de 2015 e 2016. Produção de lagostas vermelhas e verdes 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 2015 Lagosta Vermelha Lagosta Verde Produção de lagostas vermelhas e verdes 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 2016 Lagosta Vermelha Lagosta Verde Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Fonte: a autora. No primeiro ano de verificação, do total amostrado houve 16,8% de lagosta rejeitada, no ano posterior esse valor foi de 9,1%. No entanto, após a aplicação do teste de Mann-Whitney foi verificado que as medianas dos anos são iguais, ou seja, não houve redução significativa de lagostas rejeitadas (gráfico 7).

43 Gráfico 7 - Comparação entre as produções de lagostas rejeitadas dos anos de 2015 e 2016 no município de Redonda pela frota cadastrada no Projeto de Verificação. As linhas internas dos retângulos representam as medianas das produções, a borda inferior representa o percentil 25 e a borda superior o percentil p= 0,12821 75. Os traços horizontais nas extremidades das linhas verticais delimitam o valor mínimo e máximo produzido. Os círculos são valores 1,5 vezes maiores ou menores que o Box. 540 p= 0,12821 480 Produção de lagostas rejeitadas (kg) 420 360 300 240 180 120 60 0 2015 2016 Fonte: a autora. Não foi possível quantificar a produção total por embarcação, pois apesar de cada embarcação estar inscrita no projeto, seus pescadores são independentes e não eram todos que entregavam sua produção para a verificação. Por esse mesmo motivo não foi possível calcular a captura por unidade de esforço (CPUE).

44 3.4 Análise biométrica Para a análise biométrica do produto foram utilizadas 15 embarcações (33,3% à motor e 66,7% à vela). Poucas embarcações foram amostradas, pois os pescadores não esperavam a realização do procedimento. Foram analisados 225 exemplares, dos quais 78,2% pertenciam à espécie Panulirus argus e 21,8% à Panulirus laevicauda. Em relação ao sexo, 54,2% eram machos e 45,8% eram fêmeas. Por meio do teste de Mann-Whitney foi possível verificar que não houve diferença significativa entre as medianas dos comprimentos de cefalotórax de machos e fêmeas da espécie P. argus (gráfico 8). O mesmo foi verificado para os pesos (gráfico 9). Gráfico 8 - Análise do comprimento de cefalotórax de machos e fêmeas da espécie P. argus. As linhas internas dos retângulos representam as medianas dos comprimentos de cefalotórax, a borda inferior representa o percentil 25 e a borda superior o percentil 75. Os traços horizontais nas extremidades das linhas verticais delimitam o valor mínimo e máximo desses comprimentos. Os círculos e os asteriscos são valores 1,5 e 3 vezes maiores que o box, respectivamente. Fonte: a autora.

45 Gráfico 9 - Análise do peso de machos e fêmeas da espécie P. argus. As linhas internas dos retângulos representam as medianas dos pesos, a borda inferior representa o percentil 25 e a borda superior o percentil 75. Os traços horizontais nas extremidades das linhas verticais delimitam o peso mínimo e máximo. Os círculos e os asteriscos são valores 1,5 e 3 vezes maiores que o box, respectivamente. 2,0 1,8 1,6 p=0,41501 1,4 1,2 Peso (kg) 1,0 0,8 n=83 n=93 0,6 0,4 0,2 Fonte: a autora. 0,0 Fêmea Macho Houve diferença significativa entre os comprimentos de cefalotórax de machos e fêmeas da espécie P. laevicuda. Os machos apresentaram maior tamanho, com mediana igual a 9, enquanto as fêmeas apresentaram mediana igual a 7,2 cm (gráfico 10).

46 Gráfico 10 - Análise do comprimento de cefalotórax de machos e fêmeas da espécie P. laevicauda. As linhas internas dos retângulos representam as medianas dos comprimentos de cefalotórax, a borda inferior representa o percentil 25 e a borda superior o percentil 75. Os traços horizontais nas extremidades das linhas verticais delimitam o valor mínimo e máximo desses comprimentos. 12,0 p= 0,0037522 11,2 Comprimento do cefalotórax (cm) 10,4 9,6 8,8 8,0 7,2 6,4 Fêmea Macho n= 19 n= 29 Fonte: a autora. Quando comparado o peso dos indivíduos da espécie P. laevicauda não foi constatada diferença significativa entre as medianas (gráfico 11).

47 Gráfico 11 - Análise do peso de machos e fêmeas da espécie P. laevicauda. As linhas internas dos retângulos representam as medianas dos pesos, a borda inferior representa o percentil 25 e a borda superior o percentil 75. Os traços horizontais nas extremidades das linhas verticais delimitam o valor mínimo e máximo desses pesos. 1,20 1,08 p=0,0790 0,96 0,84 Peso (kg) 0,72 0,60 n= 19 n= 29 0,48 0,36 0,24 Fonte: a autora. Fêmea Macho A mediana do comprimento de cefalotórax, com o sexo agrupado, da espécie P. argus e P. laevicauda foi de 8,3 cm e 8,4 cm, respectivamente, não diferindo estatisticamente (gráfico 12). Ao comparar os comprimentos de cefalotórax das espécies P. argus e P. laevicauda considerando o fator sexo, as fêmeas apresentaram diferença significativa, tendo a lagosta vermelha maior mediana. Esta distinção não foi observada nos machos. Para ambas as espécies a produção de machos foi predominante.

48 Gráfico 12 - Comparação entre os comprimentos de cefalotórax das espécies P. laevicauda e P. argus. As linhas internas dos retângulos representam as medianas dos comprimentos, a borda inferior representa o percentil 25 e a borda superior o percentil 75. Os traços horizontais nas extremidades das linhas verticais delimitam o valor mínimo e máximo desses comprimentos. Os círculos e os asteriscos são valores 1,5 e 3 vezes maiores que o box, respectivamente. p= 0,26091 Comprimento de cefalotórax (cm) n= 48 n= 176 Fonte: a autora.

49 4 DISCUSSÃO A pesca de lagosta é a principal atividade econômica desenvolvida na comunidade de Redonda. É fonte de sustento para praticamente todos os seus habitantes (BRASIL, 2007) e por esse motivo a busca por uma pescaria que garanta sustento para a geração atual e as próximas gerações é cada vez mais almejada. 4.1 Processo de verificação A utilização da armadilha legalizada não impediu a captura de indivíduos com comprimentos inferiores ao permitido pela legislação brasileira que é de 13 cm de abdômen e 7,5 de cefalotórax para P. argus e 11 cm de abdômen e 6,5 de cefalotórax para P. laevicauda (BRASIL, 2008). Portanto, sugere-se que sejam realizados novos estudos sobre a seletividade desses aparelhos, testando malhas com maior tamanho, visto que os apetrechos utilizados pelas embarcações cadastradas estão em conformidade com a lei. Outra problemática verificada foi a permissão da captura de lagostas ovígeras. Uma vez permitida no Brasil, à verificação também aceita o processamento dessas fêmeas. Devido à ineficácia da fiscalização no momento do desembarque, os pesquisadores que compunham o Subcomitê Científico SCC, do Comitê de Gestão da Pesca da Lagosta (CPG), na década de 90, recomendaram a retirada desta medida de proteção que proibia o desembarque de lagosta ovígera (CAVALCANTE, 2013), o que representou um retrocesso para a recuperação das populações de lagostas. A proteção de fêmeas ovígeras é uma das medidas de controle mais eficaz oferecida para lagosta (THE LOBSTER CONSERVANCY, 2003), portanto, não existem motivos admissíveis para que não adotem o retorno dessa legislação (CAVALCANTE, 2013). Assim, sugere-se que independente da reintrodução desse impedimento na legislação nacional, o processo de verificação deve incluí-lo, pois representa uma das ferramentas de manejo mais eficazes na proteção de crustáceos. Além disso, proibir o desembarque de fêmeas com sinais evidentes de raspagem de ovos ou com pleópodos retirados. A inscrição para participar do projeto era realizada em nome da embarcação, porém os pescadores eram livres para entregar a lagosta em qualquer ponto de recebimento (barracões), com isso não foi possível verificar a produção total da embarcação e consequentemente não foi realizado o cálculo para captura por unidade de esforço.

50 O processo de verificação segue a Instrução Normativa N 138, de 6 de dezembro de 2006, artigo 7, que proíbe a utilização de marambaias, confeccionadas com material de qualquer natureza. No entanto, o Código de Conduta para Pescas responsáveis da FAO (1995), apresenta as marambaias como estruturas artificiais para aumento das populações e agregação de pescado e permite o uso desse instrumento para melhorar as possibilidades de pesca. É de suma importância desenvolver pesquisas comparando os benefícios e impactos causados por esse tipo de estrutura artificial e os materiais usados para sua construção. O acondicionamento em tanques e o transporte adequado para a chegada das lagostas vivas na planta de beneficiamento foi um fator positivo no projeto de verificação, pois beneficia o frescor do pescado e consequentemente aumenta o tempo de vida útil do produto. 4.2 Embarcações O bote a vela é caracterizado por ter o casco de madeira, com quilha, convés fechado com uma escotilha que dá acesso ao porão, onde são armazenados e gelados os pescados, assim como os materiais de pesca são acondicionados. O porão tem função de alojamento para os pescadores. Esse tipo de embarcação, geralmente, realiza pesca de ir e vir (SILVA; ROCHA, 1999). Das embarcações motorizadas, o bote motorizado é a embarcação motorizada mais simples utilizada na pescaria de lagosta no Ceará. Possui casco de madeira e uma pequena estrutura que pode ficar localizada na popa ou na proa, utilizada principalmente como abrigo para o motor. Motor de baixa potência, em torno de 50 HP (FONTELES-FILHO; GUIMARÃES, 2000). A jangada possui casco de madeira, quilha, mede aproximadamente 5 metros e é de propulsão a vela. Bateira é uma embarcação de pequeno porte, com casco de madeira que se difere da jangada e do bote por ter a proa arredondada (informação verbal) 1. Os resultados obtidos na presente pesquisa corroboram com a pesquisa de Almeida (2010) que caracteriza as embarcações de Redonda como, predominantemente, botes à vela, com intervalos de tamanho variando entre 7 e 8 metros. Essas embarcações são características de pescarias artesanais no Brasil. 1 Informação fornecida por Francisco Eugênio Lima da Silva, em Redonda Icapuí, em julho/ 2016.

51 Os tipos de embarcações podem variar em relação a tamanho, tipo de casco, propulsão, etc, pois suas características estão ligadas diretamente a fatores geográficos, culturais, econômicos e biológicos (NOGUEIRA et al., 2011). As embarcações em Redonda são predominantemente propulsionadas por velas, pois são favorecidas pelas condições climáticas da costa do Ceará que proporciona ventos durante todo ano (ALMEIDA, 2010). A única jangada amostrada possuía menor tamanho e consequentemente uma menor quantidade de covos, apenas 30 unidades. 4.3 Produção O aumento na produção de 2016, em relação ao ano anterior, deveu-se ao acréscimo na quantidade de embarcações e pescadores que aderiram ao projeto. Pois, na maioria das vezes, um aumento na produção pesqueira vem acompanhado de um aumento no esforço de pesca (VELÁZQUEZ-ABUNADER; SALAS; CABRERA, 2013). A melhor forma para testar esse incremento seria através de comparações de séries de CPUE, ou seja, o índice de abundância relativa (FONTELES-FILHO, 2011). Entretanto, como apontado acima, nem todos os pescadores das embarcações credenciadas entregam suas produções, o que impossibilita a realização dessas comparações. No entanto, de acordo com os pescadores da comunidade, em 2016, a água do mar estava mais turva e este parâmetro dificulta a pescaria ilegal de mergulho com compressor, pois diminui a visibilidade, consequentemente, ocorre uma maior disponibilidade do recurso para ser capturado pelo manzuá. O mesmo ocorre para a pescaria de polvos (TORRES-IRINEO; SALAS, 2009). Como não houve uma redução significativa da produção de lagosta rejeitada, sugere-se que além da verificação do produto, sejam feitas palestras de educação ambiental visando a conscientização dos pescadores envolvidos no projeto para que eles tenham conhecimento da real situação da pescaria e devolvam ao mar os indivíduos que não atendem as características exigidas pela legislação e pelo projeto de verificação. A educação ambiental é a tática mais importante e talvez o único caminho para a sustentabilidade da pesca (SANTOS; SANTOS, 2005). No decorrer do período de pesca, a produção da lagosta vermelha tem tendência decrescente e tal observação é corroborada pela pesquisa de Lima e Andrade (2017) que avaliou as variações nas capturas da lagosta vermelha, verde e

52 sapata na costa de Pernambuco. Os resultados mostraram um amplo domínio de lagostas vermelhas no início da pescaria e ao final da temporada, declínio da produção, possivelmente pela depleção local. No mês de setembro foi possível perceber uma produção inversamente proporcional entre as espécies, onde ocorre uma queda da produção de lagosta vermelha e um aumento na produção de lagosta verde. Essa situação pode ser explicada pelo aumento da velocidade dos ventos no litoral do Ceará a partir do mês de julho, atingindo seu auge nos mês setembro, bem como as diferentes áreas de predomínio dessas duas espécies. Ventos acima de 15 km/h predominam em setembro e esses ventos intensos representam um grande risco para os pescadores, que passam a ser mais cuidadosos pela dificuldade de retornar do mar. Além de mais fortes, os ventos mudam de direção e passam a soprar do continente para o oceano (CEARÁ, 2018). Os pescadores provavelmente passam a pescar mais próximo da costa, local onde há maior abundância de lagosta verde. As espécies P. argus, P. laevicauda podem coexistir no mesmo habitat, porém diferem quando considerada a distribuição de profundidade. As lagostas verdes habitam ambientes mais limitados, desde a região de maré até 50 metros (SILVA et al., 2003). 4.4 Análise biométrica Análises da composição por tamanho de cefalotórax de P. argus nos períodos entre 1970-1979, 1980-1988 e 1989-1993, demonstram uma redução progressiva de lagostas de menor tamanho. A partir da década de 80 é possível observar os menores exemplares com classe de tamanho compreendida entre 8 e 8,6 cm. O mesmo padrão foi observado na composição por tamanho de cefalotórax de P. laevicauda nos períodos de 1970-1979 e 1980-1988. Esse comportamento possivelmente esteja ocorrendo devido à diminuição de desembarque de indivíduos jovens (CRUZ, 2011). Na presente pesquisa, em 2016, foram encontrados resultados semelhantes. No entanto, para certificar que realmente esteja ocorrendo uma redução na captura de indivíduos de menor tamanho, faz-se necessárias coletas de dados e relatórios estatísticos diários, nas principais áreas de distribuição de lagosta como ocorre no ordenamento desta pescaria em outras regiões, como em Cuba (PUGA. et al., 2018). O maior comprimento de cefalotórax foi encontrado nos machos da

53 espécie P. laevicauda, pois as lagostas apresentam dimorfismo sexual e os machos naturalmente apresentam cefalotórax mais longos (SILVA; GESTEIRA; ROCHA, 1994). No entanto, a ausência de diferença significativa nos comprimentos entre os sexos da espécie P. argus, bem como os pesos de ambas as espécies não estão de acordo com os resultados de Silva, Gesteira e Rocha (1994) que afirmam que o macho apesar de apresentar menor comprimento total é mais pesado devido ao maior comprimento do cefalotórax, que corresponde a 2/3 do peso individual. A ausência de diferença significativa nos comprimentos de cefalotórax dos machos e de peso em ambos os sexos quando comparado uma espécie com a outra contradiz Ivo (2000) que afirma que apesar de crescer mais lentamente, as lagostas vermelhas atingem um maior comprimento. Algumas mudanças morfométricas podem simplesmente estar ligadas a fatores da própria pesca, como a área de captura, quando se tratar de populações estratificadas (IVO, 2000) ou essas mudanças podem estar ocorrendo devido a uma pressão intensa na captura de lagosta vermelha, principalmente, em indivíduos machos. O predomínio de machos na produção de ambas as espécies pode ser justificado por diversas hipóteses, como por exemplo, a diferença na taxa de crescimento, na época e forma de migrações, além das diferenças naturais de mortalidade (LINS-OLIVEIRA, 1996). Ocorre uma redução na probabilidade de captura das fêmeas no período de reprodução, pois estão menos ativas e, portanto menos vulneráveis ao aparelho de pesca. Além disso, devido à necessidade de vários acasalamentos para assegurar a fecundação da fêmea, os machos podem ser predominantes numericamente no estoque capturável e, provavelmente, nas populações (FONTELES-FILHO, 2007). No entanto, devido à ausência de normalidade dos dados, essa avaliação não pode ser extrapolada para população.

54 5. CONCLUSÃO Os resultados obtidos na presente pesquisa demonstram que o Projeto de verificação, apesar de cumprir com as exigências da legislação em vigor para pescaria de lagosta, necessita acrescentar exigências que permitam que a população desse pescado se recupere como, a devolução ao mar de fêmeas ovígeras e de indivíduos com tamanhos inferiores ao permitido. A chegada da lagosta viva na planta de beneficiamento é um importante fator a ser considerado nesse projeto, pois é bastante eficaz para a manutenção do frescor e o aumento de vida útil do pescado. A introdução do projeto de verificação para a indústria foi benéfica. O produto passou a ter uma melhor aceitação do mercado externo, pois o selo de verificação garantia que o produto estava de acordo com as normas vigentes. Pouco se pôde concluir em relação ao acréscimo na produção de lagosta do ano de 2016 em relação ao ano de 2015 e anos anteriores, devido à impossibilidade de calcular a CPUE e consequentemente a abundância relativa. É necessária a realização um sistema de controle estatístico dos desembarques que determine a abundância relativa para a elaboração de um plano de gestão local.

55 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A carência de dados no campo da pesca artesanal de lagosta dificulta a solução dos problemas relacionados a esse tipo de pescaria. Pesquisas voltadas para obtenção de dados que contribuam para a preservação e manutenção de populações de espécies em risco são de suma importância, sobretudo em comunidades como Redonda, onde praticamente todos os habitantes vivem direta ou indiretamente da pesca de lagosta. Trabalhos semelhantes ao desenvolvido pelo Projeto de Lagosta Verificada poderiam ser implantados nos principais pontos de desembarque de lagostas, pois é uma ferramenta eficaz para a obtenção de dados e consequentemente para uma melhor gestão pesqueira.

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61 APÊNDICE A MODELO DO INFORME DE INSPEÇÃOUTILIZADO PARA VERIFICAÇÃO DA PESCARIA DE LAGOSTA EM REDONDA.