Trabalho laboratorial sobre Ritmo: produção

Documentos relacionados
O ritmo nas variedades centro-meridionais do Português Europeu: produção e percepção

Discriminação entre línguas: Evidência para classes rítmicas. Sónia Frota*, Marina Vigário** & Fernando Martins*

Considerações sobre o ritmo da fala no espanhol do Chile e da Espanha a partir do Índice de Variabilidade Pareada e de Coeficientes de Variação

Ritmo Silábico/Ritmo Acentual: Divergências quanto à definição de Ritmo do Português do Brasil

Prosodic Varia+on in EP: phrasing, intona+on and rhythm in central- southern varie+es

Sónia Frota, Fernando Martins & Marina Vigário

MAC 499 TRABALHO DE FORMATURA SUPERVISIONADO. Antônio Galves Arnaldo Mandel Denis Antônio Lacerda

Árvores e Florestas Probabilísticas

CONSIDERAÇÕES SOBRE O PAPEL DOS PROCESSOS FONOLÓGICOS LEXICAIS E PÓS-LEXICAIS NA CLASSIFICAÇÃO DE RITMO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO INTRODUÇÃO

Marisa Cruz & Sónia Frota. XXVII Encontro Nacional da APL

O ritmo da interlíngua na produção do Português Europeu por falantes chineses. Chao Zhou, Marisa Cruz e Sónia Frota

AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE TONICIDADE E DISTINÇÃO DE OCLUSIVAS SURDAS E SONORAS NO PB

Marisa Cruz & Sónia Frota. XXVI Encontro Nacional da APL

Flaviane Romani Fernandes Supervisora: Profa. Dra. Maria Bernadete Marques Abaurre Campinas, dezembro de 2006.

A VARIABILIDADE LINGUISTICA ENTRE A LÍNGUA PORTUGUESA BRASILEIRA E A EUROPÉIA A PARTIR DA INVESTIGAÇÃO DO FENÔMENO DE EPÊNTESE PERCEPTUAL

XXI Encontro Nacional da APL, 28/10/2005. Marina Vigário. Fernando Martins. Sónia Frota. Universidade de Lisboa, " ILTEC. Universidade do Minho,

Objetivo, programa e cronograma da disciplina: Fonética e Fonologia do Português FLC0275

Desenvolvimento Prosódico e Entoacional (DEPE) & Baby Lab

Marina Vigário, Sónia Frota & Fernando Martins Universidade de Lisboa. A frequência que conta na aquisiçã. ção da fonologia: types ou tokens?

X ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE LINGUÍSTICA A SILABIFICAÇÃO DE BASE EM PORTUGUÊS 1

AVALIAÇÃO INSTRUMENTAL DOS CORRELATOS ACÚSTICOS DE TONICIDADE DAS VOGAIS MÉDIAS BAIXAS EM POSIÇÃO PRETÔNICA E TÔNICA *

Objetivo, programa e cronograma da disciplina: Fonética e Fonologia do Português FLC0275

UMA PROPOSTA DE ANÁLISE DO RITMO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO À LUZ DA FONOLOGIA LEXICAL

Ler a fonologia: do Português Clássico ao Português Moderno *

Dependência entre fraseamento prosódico e distribuição de acentos tonais? Evidências da variação no Português Europeu

AULA 8: A PROSÓDIA DO PORTUGUÊS: ELEMENTOS CONSTITUTIVOS, ORGANIZAÇÃO RÍTMICA E DOMÍNIOS PROSÓDICOS

SÍNCOPE VOCÁLICA NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

A hipossegmentação da escrita e os processos de sândi

ESTUDO FONÉTICO-EXPERIMENTAL DA INFLUÊNCIA DA PAUSA NA DURAÇÃO DE VOGAIS ACOMPANHADAS DE OCLUSIVAS SURDAS E SONORAS *

Variação prosódica no Português Europeu: análise comparada de fenómenos de sândi vocálico

O francês como língua de ritmo silábico: um estudo de suas características

Considerações sobre a Relação entre Processos de Sândi e Ritmo

RITMO E TRANSFERÊNCIA FONOLÓGICA, UM ESTUDO COMPARATIVO DE FALANTES BRASILEIROS NA PRODUÇÃO DO INGLÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE).

Variação prosódica no Português Europeu: um falar, uma identidade

Flaviane Romani FERNANDES (IEL - Unicamp / PG)

VI SEMINÁRIO DE PESQUISA EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS. Luiz Carlos da Silva Souza** (UESB) Priscila de Jesus Ribeiro*** (UESB) Vera Pacheco**** (UESB)

Sónia Frota (Universidade de Lisboa) Marina Vigário (Universidade do Minho)

RELAÇÃO ENTRE DURAÇÃO SEGMENTAL E PERCEPÇÃO DE FRICATIVAS SURDAS E SONORAS

Línguas de ritmo silábico

Análise fonológica da entoação: estudo constrastivo entre o português e. o espanhol

Fonologia. Sistemas e padrões sonoros na linguagem. Sónia Frota Universidade de Lisboa (FLUL)

A percepção do acento em Português Europeu

IMPLICAÇÕES DA AMPLIAÇÃO E REDUÇÃO DO VOT NA PERCEPÇÃO DE CONSOANTES OCLUSIVAS 1

Fenómenos de Sândi Vocálico em Variedades do Português Europeu

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS CEGO DO MAIO PLANIFICAÇÃO ANUAL DISCIPLINA: Português Ano1 Ano letivo 2016/2017

Estudo da Produção de Oclusivas do Português Europeu

Estudo acústico das vogais tônicas em palavras paroxítonas do português falado no Rio Grande do Sul

A Gaguez e a Investigação Científica: contributos da linguística para a intervenção

VOGAIS NASAIS E NASALIZADAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: PRELIMINARES DE UMA ANÁLISE DE CONFIGURAÇÃO FORMÂNTICA

Prefácio índice geral Lista das abreviaturas 14 Lista dos símbolos 16 Introdução geral 17

Lívia Monteiro de Queiroz Migliorini

RESENHA DE PROSODIC FEATURES AND PROSODIC STRUCTURE,

O Falante do Português e a Pronúncia da Língua Inglesa

frequência no desenvolvimento silábico em Português Europeu

O Tom na fala: estratégias prosódicas

Fonética acústica: Propriedades suprassegmentais APOIO PEDAGÓGICO. KENT, Ray, READ, Charles. Análise acústica da Fala São Paulo : Cortez, 2015

A RELAÇÃO ENTRE POSIÇÃO DE ÊNFASE SENTENCIAL/PROXIMIDADE DE PAUSA E DURAÇÃO SEGMENTAL NO PB: O CASO DAS FRICATIVAS

UM EXPERIMENTO PILOTO

REALIZAÇÕES DAS VOGAIS MÉDIAS ABERTAS NO DIALETO DE VITÓRIA DA CONQUISTA BA

VOGAL [A] PRETÔNICA X TÔNICA: O PAPEL DA FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL E DA INTENSIDADE 86

CONDICIONAMENTOS PROSÓDICOS AO PROCESSO DE ELISÃO DA VOGAL /A/EM PORTO ALEGRE E NO PORTO: EVIDÊNCIAS PARA A COMPARAÇÃO ENTRE PB E PE

Phon: Ferramenta para pesquisa de dados em aquisição fonológica. Corpus monolingue para a aquisição da fonologia do PE Pesquisas e relatórios

Processos fonológicos

PLANIFICAÇÃO ANUAL

I SEMINÁRIO DE PESQUISA EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS

Aula 6 Desenvolvimento da linguagem: percepção categorial

do português europeu (PE)

TONICIDADE E COARTICULAÇÃO: UMA ANÁLISE INSTRUMENTAL

BREVE ESTUDO ACERCA DOS ENCONTROS VOCÁLICOS EM PORTUGUÊS ARCAICO. * (A BRIEF STUDY ABOUT THE VOWEL CLUSTERS IN MEDIEVAL PORTUGUESE)

INVESTIGAÇÃO ACERCA DOS PROCESSOS DE REESTRUTURAÇÃO SILÁBICA CVC NO PORTUGUÊS BRASILEIRO E NO INGLÊS: UMA ANÁLISE FONÉTICO-ACÚSTICA

Características da duração do ruído das fricativas de uma amostra do Português Brasileiro

Análise do status fonológico do grafema consonantal duplo RR em Português Arcaico

2. Corpus e metodologia

!V N Jan.-Abr

A laringalização enquanto pista prosódica de fronteiras de grupos acentuais no Português Brasileiro

Preâmbulo. Ensino do. Português

A ferramenta FreP e a frequência de tipos silábicos e classes de segmentos no Português 0. Introdução

QUE ESTRATÉGIAS UTILIZAM CRIANÇAS DAS SÉRIES INICIAIS PARA A EVITAÇÃO DO HIATO? GRASSI, Luísa Hernandes¹; MIRANDA, Ana Ruth Moresco 2. 1.

Acento secundário, atribuição tonal e redução segmental em português brasileiro (PB)

A TRANSFERÊNCIA FONOLÓGICA NO ENSINO DO INGLÊS COMO L2

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Prosódia. Seminário de pós-graduação em Linguística. Relatório

Juliana Ludwig-Gayer 1

Agrupamento de Escolas João da Silva Correia Plano Anual 1.º Ano Ano Letivo 2016/2017

UNIDADE 1 (até meados de outubro)

1. Introdução. 1 Este estudo foi realizado no âmbito do projeto InAPoP Interactive Atlas of the Prosody of Portuguese (PTDC/CLE-

REVISANDO... Articulação de consoantes e articulação de vogais. APOIO PEDAGÓGICO Prof. Cecília Toledo com

Implementação em Praat de algoritmos para descrição de correlatos acústicos da prosódia da fala

líquidas do Português Europeu

O TROQUEU SILÁBICO NO SISTEMA FONOLÓGICO (Um Adendo ao Artigo de Plínio Barbosa)

Adelina Castelo. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Centro de Linguística da Universidade de Lisboa

O tempo no tempo: ções a partir das primeiras palavras

ACENTO E RITMO: ASPECTOS FONÉTICO-PROSÓDICOS NO ENSINO DE INGLÊS COMO L2

SEQUÊNCIAS VOCÁLICAS E O ACENTO DE PALAVRA DO PORTUGUÊS

unesp O FRANCÊS COMO LÍNGUA DE RITMO SILÁBICO: um estudo de caso das suas características acústicas

Plano de Ensino da Disciplina

Fonologia Gerativa. Traços distintivos Redundância Processos fonológicos APOIO PEDAGÓGICO. Prof. Cecília Toledo

PLANIFICAÇÃO ANUAL Documentos Orientadores: Programa, Metas Curriculares e Aprendizagens Essenciais

Urbanização do Gentil Rua Luis Sá, Nº9 4ºEsquerdo Vialonga PORTUGAL.

XXV Encontro Nacional da APL Universidade de Lisboa - Outubro 22-24, Carolina Serra & Sónia Frota

Transcrição:

Prosódia Ritmo e Melodia Professora Doutora Sónia Frota Marisa Cruz Laboratório de Fonética (FLUL/CLUL) Universidade de Lisboa 29 de Março de 2016 5 de Abril de 2016 Trabalho laboratorial sobre Ritmo: produção

Introdução v Organização rítmica das línguas: classes ou contínuo? v Correlatos do ritmo: propostas, medidas v Propriedades rítmicas do Português (PE vs. PB): estudos prévios - Produção v Ritmo nas variedades do PE? (Hands-on) - anotação de intervalos C e V: critérios - extração automática de %V e ΔC (Ramus et al. 1999) - cálculo manual das medidas normalizadas (Frota & Vigário 2001) - elaboração e interpretação de gráficos

Organização rítmica das línguas: classes ou contínuo? v Abordagem tradicional (Pike 1945, Abercrombie 1967, Ladefoged 1975, i.a.): as línguas organizam-se em 3 classes - ritmo silábico: isocronia ao nível da sílaba; - ritmo acentual: isocronia ao nível do acento; - ritmo moraico: isocronia ao nível da mora. MAS v Isocronia não foi empiricamente demonstrada (Dauer 1983): a duração dos intervalos entre acentos foi medida no Castelhano, no Grego e no Italiano e não foram encontradas diferenças em relação ao Inglês.

Organização rítmica das línguas: classes ou contínuo? v Nova abordagem: distinção rítmica das línguas resulta de propriedades fonéticas e fonológicas estrutura silábica, redução vocálica, correlatos do acento (e.g., Dasher & Bolinger 1982, Dauer 1983). v Debate acerca da organização rítmica das línguas: - consensual para algumas línguas: Inglês e Holandês ritmo acentual; Castelhano e Italiano ritmo silábico; Japonês e Tamil ritmo moraico; - controversa para outras: Catalão, Português do Brasil e Polaco línguas mistas ou intermédias (Nespor 1990). Classes rítmicas ou continuum?

Correlatos do ritmo: propostas, medidas v Medidas acústicas propostas: - proporção dos intervalos vocálicos (%V), variabilidade dos intervalos vocálicos (ΔV) e consonânticos (ΔC) (Ramus et al. 1999) -> predizem a discriminação entre línguas (Nespor et al. 2011) >>> mais robustos. - normalização da interação entre as variabilidades duracionais e a velocidade discursiva (Δ%V, Δ%C Frota & Vigário 2001). - outras medidas (Varco V, Varco C Dellwo & Wagner 2003, PVI Grabe & Low 2002): nem sempre distinguem línguas tradicionalmente descritas como pertencendo a classes rítmicas s (Arvaniti 2012, Grabe & Low 2002).

Propriedades rítmicas do Português (PE vs. PB) Produção (Frota & Vigário 2001): - corpus Ramus et al. (1999) adaptado para o Português - medidas acústicas: %V, ΔC e medidas normalizadas de variabilidade dos intervalos (Δ%V e Δ%C) v Resultados: Ritmo do Português: natureza mista - %V e Δ%C permitem distinguir PE (SEP) de PB - em conformidade com as propriedades fonológicas que distinguem as duas variedades (redução e epêntese vocálicas, respetivamente) - comparação com 8 línguas (Ramus et al. 1999): SEP: ritmo acentual (ΔC) e ritmo silábico (%V) PB: ritmo silábico (ΔC) e ritmo moraico (%V)

2. Definir a tipologia das fiadas: pontos ou intervalos? Ritmo nas variedades do PE? v Anotação de intervalos V e C: 1. Definir o nome das fiadas, em função do que se pretende analisar Cruz (2013)

Critérios de anotação: ritmo Step_1 Turk et al. 2006 v A segmentação de intervalos C e V implica tomar algumas decisões: - consoantes oclusivas: o que fazer com o VOT em sequências do tipo segmento oclusivo+segmento vocálico? Incluímo-lo no intervalo C ou no intervalo V? Ramus et al. (1999) Frota & Vigário (2001) Intervalo C - o que fazer com glides? Incluímo-las no intervalo C ou no intervalo V? (Andrade & Viana 1994, Mateus & Andrade 2000, Frota & Vigário 2001) pós-vocálicas (ditongo decrescente) núcleo pré-vocálicas (ditongo crescente) ataque Intervalo V Intervalo C

Extração e organização dos dados para análise Step_2 v Como extrair dados das textgrids para analisar ritmo: procedimento semi-automático 1. Medidas de Ramus et al. 1999: automático - %V - ΔV - ΔC proporção de intervalos vocálicos variabilidade da duração dos intervalos V variabilidade da duração dos intervalos C Refletem as diferenças rítmicas das línguas: - línguas de ritmo acentual > ΔC, < %V - línguas de ritmo silábico < ΔC, > %V

Extração e organização dos dados para análise Step_3 manual 2. Medidas normalizadas (Frota & Vigário 2000, 2001): - Δ%V interação variabilidade dur. velocidade disc. - Δ%C - %V e Δ%C permitem distinguir PE (SEP) de PB.

Interpretação dos resultados v Como interpretar os resultados obtidos: Language/Variety %V ΔC Δ%C Rhythm class CtB???? SEP* 43,8 54,7 2,3 Mixed Beja???? Dutch 42,3 53,3 --- Stress-timed Spanish 43,8 43,9 --- Syllable-timed - línguas de ritmo acentual - línguas de ritmo silábico > ΔC, < %V < ΔC, > %V * Frota & Vigário (2001) - Ramus corpus, only.

Interpretação dos resultados v Como interpretar os resultados obtidos: Trabalho prático (4 produções, apenas) Language/Variety %V ΔC Δ%C Rhythm class CtB 39,9** 38,9 62,9 69,1 2,8 2,7 Stress-timed SEP* 43,8 54,7 2,3 Mixed Beja 46,0** 44,1 64,2 66,6 2,8 2,5 Mixed Dutch 42,3 53,3 --- Stress-timed Spanish 43,8 43,9 --- Syllable-timed * Frota & Vigário (2001) - Ramus corpus, only. ** Cruz (2013), Oliveira et al. (2015), Cruz et al. (submetido).

Elaboração e interpretação de gráficos Step_4 v Como elaborar e interpretar gráficos com as nossas métricas: Ramus et al. (1999) e Frota & Vigário (2001)

Obrigada! marisasousacruz@gmail.com