MICROINFILTRAÇÃO DE DENTES TRATADOS ENDODONTICAMENTE E RESTAURADOS COM PINO PRÉ-FABRICADO EM DIFERENTES TEMPOS DE EXPOSIÇÃO À SALIVA HUMANA ESTUDO IN VITRO OLIVEIRA, Simone Gomes Dias; COSTA, Marcelo Hissé das Neves; Autor(es): GOMES, Denise Jornada; SOUSA, Ezilmara Leonor Rolim; LUND, Rafael Guerra Apresentador: Simone Gomes Dias de Oliveira Orientador: Rafael Guerra Lund Revisor 1: Elaine Zanchin Baldissera Revisor 2: Lisandrea Rocha Schardosim Instituição: UFPel MICROINFILTRAÇÃO DE DENTES TRATADOS ENDODONTICAMENTE E RESTAURADOS COM PINO PRÉ-FABRICADO EM DIFERENTES TEMPOS DE EXPOSIÇÃO À SALIVA HUMANA ESTUDO IN VITRO OLIVEIRA, Simone Gomes Dias¹; COSTA, Marcelo Hissé das Neves¹; GOMES, Denise Jornada¹; SOUSA, Ezilmara Leonor Rolim;² LUND, Rafael Guerra³ ¹ Acadêmicos da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas (FOUFPel) ² Professora Orientadora do Departamento de Semiologia e Clinica da FOUFPel ³ Doutorando do programa de Pós Graduação em Odontologia (área de concentração em Dentística) da UFPel Disciplina de Semiologia e Clínica Laboratório de Microbiologia Oral - FOUFPel / Rua Gonçalves Chaves, 457/504 - CEP: 95015-560 E-mail: sisi_mone@hotmail.com 1. INTRODUÇÃO Muitos fatores de ordem técnica podem estar envolvidos no insucesso do tratamento endodôntico, porém as bactérias resistentes à terapia, as quais se proliferam no canal radicular, ou aquelas que contaminam o canal após o tratamento endodôntico através de microinfiltrações coronárias, são apontadas como as principais responsáveis (LIN et al., 1991; DAHLÉN & MÖLLER, 1992; SIQUEIRA JR & LOPES, 1999). Portanto, essa contaminação deve ser prevenida durante e depois do tratamento endodôntico (SCHWARTZ et al., 2004).Freqüentemente, o sucesso do tratamento endodôntico é associado a um adequado selamento apical e o selamento coronário, alcançado com as restaurações, tem sido considerado importante. Mas, em determinadas situações, a obturação pode ficar exposta ao meio oral (KHAYAT et al., 1993; SAUNDERS & SAUNDERS, 1994). A contaminação do sistema de canais radiculares por saliva muitas vezes é
descrita como infiltração coronária ou microinfiltração coronária e é um fator potencial para causa do insucesso endodôntico. Além disso, falhas na limpeza, conformação e obturação do canal radicular, cáries recorrentes ou restaurações fraturadas podem preceder a uma recontaminação do sistema de canais radiculares (SCHWARTZ et al., 2004).Na prática clínica diária, vários dentes tratados endodonticamente necessitam de retentores intra-radiculares devido sua perda de estrutura. Esse procedimento deve ser realizado de forma correta, com efetiva obturação e selamento do canal radicular diminuindo a possibilidade de ocorrência de microinfiltração. O objetivo deste estudo foi investigar a recontaminação de canais radiculares de dentes tratados endodonticamente e preparados para receber pino intracanal, e dentes com pino intracanal e sem coroa protética em diferentes tempos de contaminação por saliva humana. 2. MATERIAIS E MÉTODOS Este estudo foi desenvolvido no laboratório de Microbiologia Oral da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Foram utilizados, aleatoriamente, 35 dentes unirradiculares extraídos de humanos, que foram cedidos pelo Banco de Dentes após a aprovação deste projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFPel, sob protocolo n o 013/2006. Os dentes foram mantidos em soro fisiológico à 37ºC com renovação do meio de imersão à cada 7 dias até o momento de uso. A coroa dos mesmos foi removida com disco de diamante em baixa rotação na altura da junção amelo-cementária, exceto os dentes do grupo controle negativo, que permaneceram intactos. Os dentes foram distribuídos aleatoriamente em 5 grupos, de acordo com o preparo do dente: Grupo I dentes tratados endodonticamente preparados para receber pino intracanal (10 dentes); Grupo II dentes tratados endodonticamente com pino préfabricado intracanal cimentado e sem coroa protética (10 dentes); Grupo controle positivo I (PC I) dentes instrumentados, não obturados e abertos (5 dentes); Grupo controle positivo II (PC II) dentes não instrumentados e abertos (5 dentes); Grupo controle negativo (NC) dentes íntegros (5 dentes). Foi realizado preparo químico-mecânico seguindo a técnica Step-Back. Os terços cervical e médio foram preparados com brocas Gates-Glidden (GG) números 2 e 3 e o comprimento de trabalho considerado foi da borda incisal até 1mm aquém do forame apical. Para a irrigação, foi utilizada solução de 1 ml de NaOCl 1% seguido de 1 ml de EDTA 17% e após foi utilizado 1 ml de solução salina estéril, que serviu para a remoção de restos teciduais, e das soluções irrigadoras (NaOCl e EDTA).Os dentes foram devidamente obturados pela técnica da condensação lateral, sendo o cimento preparado seguindo as orientações do fabricante (Endofil). Utilizando condensadores de Paiva aquecidos, foi realizado o preparo para receber o pino intracanal deixando um remanescente obturador de 4mm de obturação. Foram realizadas radiografias vestíbulo-linguais para a verificação da qualidade da obturação e do espaço para o pino. Em seguida todas as amostras foram esterilizadas através de radiação gama com cobalto 60.O aparato utilizado para avaliar a infiltração foi preparado de acordo com Siqueira et al. (1999). Foram preparados e adaptados cilindros de 10 ml de seringas de plástico estéreis à superfície exterior da tampa de borracha onde os dentes foram inseridos de forma asséptica de forma que a cervical ficasse fora do frasco e a sua raiz dentro. A B 2
Então, os frascos de vidro foram preenchidos com meio de cultura Brain Heart Infusion (BHI, Acumedia Michigan, EUA) em caldo estéril de forma que o ápice radicular ficasse imerso no caldo. Para evitar penetração de saliva no caldo de BHI foi aplicado cianoacrilato (Super Bonder Itapevi, SP) à interface dente-tampa. Para assegurar a eficiência do selamento de cianocrilato, 1 ml de azul de metileno 1%, estéril, foi colocado no interior da câmara da seringa adaptada (MALONE & DONNELLY, 1997). Se o meio ficasse azul, isto significaria que o selamento foi defeituoso e o espécime seria então descartado. Os frascos foram incubados a 37 C, durante 4 dias para assegurar a esterilização. Uma amostra de saliva humana 30 ml foi coletada de um indivíduo às 8 horas da manhã de cada dia de experimento. O voluntário não realizou a higiene oral por pelo menos 12 horas antes da coleta.. As câmaras dos aparatos foram preenchidas com saliva misturada a BHI na proporção 3:1 (v/v) e adicionado 1 ml do azul de metileno. Estas foram reabastecidas a cada 3 dias para que não ocorresse escassez de nutrientes para os microrganismos. O conjunto experimental foi incubado em estufa de O 2 à 37º C e100% de umidade relativa do ar e a aparência de turbidez do caldo BHI da câmara inferior do aparato erachecada diariamente A turbidez do meio indicava total contaminação do canal. A cada 48 horas, 4 ml de BHI foram aspirados da câmara superior colocando-se outros 4 ml estéreis, para evitar a saturação do meio e respeitando todo o rigor de assepsia exigido para este procedimento. A avaliação foi realizada por um período de 40 dias. Todos os dados foram catalogados em uma mesma contingência e o teste de Kaplan-Meier Survival Analysis foi aplicado para análise estatística com o (P<0,001), seguido do método de Holm-Sidak com (P=0,05) com o objetivo de comparação entre os grupos. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Baseado na literatura, esperava-se observar a presença de recontaminação dos canais radiculares estudados, expostos à saliva humana, mostrando a importância da restauração em dentes com pino intracanal pré-fabricado e ainda, que a exposição de dentes tratados endodonticamente ao meio bucal pode levar a necessidade de um retratamento endodôntico.
Figura 1. Relação entre tempo de exposição e contaminação Com base no gráfico acima (Figura 1), verificou-se que no grupo de dentes hígidos não houve contaminação durante os 40 dias do estudo; no grupo de dentes abertos e não instrumentados ocorreu contaminação em uma média de 1,6 dias; no grupo de dentes instrumentados e não obturados ocorreu uma contaminação em uma média de 1 dia; no grupo de dentes preparados para receber pino intracanal ocorreu contaminação em uma média de 4,9 dias; no grupo de dentes que receberam pino intracanal cimentados com cimento resinoso ocorreu contaminação em uma média de 22,4 dias. Os dentes do grupo que foram instrumentados, obturados e preparados para receberem pino (Grupo I) e posteriormente expostos à saliva humana tiveram num índice de 90% de seus canais radiculares infiltrados num período de 24 horas, o que pode demonstrar que o remanescente de material obturador de 4 mm não representou uma barreira para infiltração coronária bacteriana, visto que o tempo para o meio indicador BHI turvar foi praticamente o mesmo na maioria das amostras que o tempo dos dentes que estavam instrumentados e não possuíam nenhum remanescente apical de obturação. Segundo Timpawat et al. (2001), a maioria dos cimentos endodônticos tem efeito antibacteriano e esta pode limitar o ingresso de bactérias, porém isto não acorda com os resultados deste estudo. O grupo de dentes que receberam pinos intra-radiculares cimentados com cimento resinoso (grupo II) e foram expostos à saliva humana mostraram que em 24 horas 20% das amostras estavam recontaminados, em 48 horas 30% destas e só 14 dias depois do início do experimento, uma nova amostra foi recontaminada. No fim dos 40 dias do experimento 70% das amostras tinham sido infiltradas.no grupo de dentes abertos e não instrumentados o tempo requerido para a contaminação apical ocorreu num tempo maior que no grupo de dentes abertos e instrumentados. Isto pode ser devido à instrumentação ter proporcionado um canal radicular mais aberto com a remoção de smear-layer e detritos, assim, promovendo um caminho mais amplo e sem interferências para os microrganismos chegarem ao ápice radicular do que nos dentes que não foram instrumentados. 4. CONCLUSÃO Com base nos resultados obtidos e sob as condições desenvolvidas no modelo experimental, pode-se concluir que a recontaminação dos canais radiculares expostos à saliva humana é um evento que pode ocorrer em um curto espaço de tempo.
5. REFERÊNCIAS 1. LIN,M.L. et al. Clinical, radiografic, and histologic study of endodontic treatment failures. Oral Surg Oral Med Oral Pathol, v.11, p.603-611, 1991. 2. DAHLÉN, G.; MÖLLER, A. J. R. Micribiology of endodontic infection. In: Slots J, Taubman M A, eds. Contemporary Oral Microbiology and Immunology, v. 8, p. 375-382, 1992. 3. SIQUEIRA JR, J. F.; LOPES, H. P. Microbiologia Endodôntica. In: Lopes H. P. & SIQUEIRA JR, J. F., eds. Endodontia: Biologia e Técnica. Rio de janeiro, RJ: Medsi. p. 539-548, 1999. 4. SCHWARTZ, R.S.; ROBINS, J. W. Post Placement and Restoration of Endodontically Treated Teeth: A Literature Review. Journal of Endodontics, v. 30, n. 5, p. 289-301, 2004. 5. KHAYAT, A.; LEE, S.; MAHMOUD, T. Human saliva penetration of corolally unsealed obturated root canals. Journal of Endodontics, v. 19, n. 9, Sep. 1993. 6. SAUNDERS, W. P.; SAUNDERS, E. M. Coronal leakage as cause of failure in root-canal therapy: a review. Endod Dent Traumatol, v. 10, p. 105-108, 1994. 7. TIMPAWAT, S.; AMORNCHT, C.; TRISUWAN, W. Bacterial coronal leakage after obturation with three root canal sealers. Journal of Endodontics, v. 27, n. 1, p. 36-39, Jan 2001.