EQUIPAMENTOS CULTURAIS E INOVACÃO: O QUE DIZ A LEI DA INOVAÇÃO BRASILEIRA?



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Transcrição:

2140 EQUIPAMENTOS CULTURAIS E INOVACÃO: O QUE DIZ A LEI DA INOVAÇÃO BRASILEIRA? CULTURAL EQUIPMET AND INNOVATION: WHAT DOES THE BRAZILIAN INNOVATION LAW SAYS? Elaine da Silva Marta Lígia Pomim Valentim Resumo: Considerando as políticas públicas de inovação como importantes instrumentos para a geração da inovação em abordagens sistêmicas, e partindo do pressuposto de que o conhecimento é elemento fundamental para a inovação, esta pesquisa analisa a Lei 10.973/2004, conhecida como Lei da Inovação no Brasil, no que tange à presença ou ausência de temas relacionados à atuação de equipamentos culturais arquivos, bibliotecas, centros de documentação e museus - enfocando a gestão da informação e do conhecimento para a geração de inovação. Nessa perspectiva, escolheu-se o método Análise de Conteúdo proposto por Laurence Bardin, mais especificamente a técnica Análise Categorial para a análise da referida Lei. Os resultados obtidos indicam que as políticas públicas de inovação no Brasil, apresentadas pela Lei 10.973/2004, evidenciam a importância de instituições vinculadas à pesquisa científica e tecnológica para a inovação, entretanto, não relacionam os equipamentos culturais como instituições voltadas à geração do conhecimento, gestão e mediação da informação. Acredita-se que a pesquisa oferece uma importante contribuição à área da Ciência da Informação ao suscitar o debate sobre o papel dos equipamentos culturais junto ao sistema de inovação brasileiro. Palavras-chave: Geração de inovação. Políticas públicas de inovação. Equipamentos culturais. Gestão da informação e do conhecimento. Abstract: Considering the public innovation policies as important tools for the generation of innovation in the systems approaches, and based on the assumption that knowledge is a key element for innovation, this research analyzes the Law 10.973/2004, known as 'Innovation Law' in Brazil, with respect to the presence or absence of matters related to the performance of cultural equipment archives, libraries, documentation centers and museums focusing on the information and knowledge management to generate innovation. In this perspective, we chose the 'Content Analysis' method proposed by Laurence Bardin, more specifically the 'Categorical Analysis' technique to analyze the Law. The obtained results indicate that public policies innovation in Brazil, presented by Law 10.973/2004 evidenced the importance of institutions related to scientific and technological research for innovation, however, doesn t related cultural equipment as institutions focused on knowledge generation, management and mediation of information. We believed that this research offers an important contribution to Information Science field to stimulate debate on the role of cultural equipment along the Brazilian innovation system. Keywords: Innovation generation. Public innovation policies. Cultural equipment. Information and knowledge management. INTRODUÇÃO A inovação conceito amplamente discutido em contextos acadêmicos, organizacionais, políticos e econômicos nas últimas décadas, pode ser compreendida de maneira simplificada como a geração de um novo produto, serviço, método organizacional ou

2141 de marketing ou significativamente melhorado, em âmbito local, regional ou global. Autores como Lundvall (2002) e Tidd, Bessant e Pavitt (2008) alertam que o conhecimento é o elemento central para a geração da inovação, porquanto, inovar requer conhecimento. Nesse contexto, ressalta-se a abordagem sistêmica da inovação, caracterizada pela interação e compartilhamento de conhecimento entre agentes dos setores governamental, industrial, comercial, acadêmico-científico, de serviços, entre outros, com foco em inovação. Apresentadas como organizações independentes ou vinculadas a outras organizações integrantes dos sistemas inovativos, arquivos, bibliotecas, centros de documentação e museus que, na perspectiva deste trabalho denominam-se equipamentos culturais são, por princípio, dedicados ao compartilhamento de informação e conhecimento e, por conseguinte, podem assumir um importante papel nas redes de conhecimento dos sistemas inovativos. A interação entre os agentes de um sistema inovativo, especialmente em âmbito nacional, deve ser amparada por políticas públicas voltadas à inovação, a fim de obter os melhores resultados possíveis decorrentes dessa interação. No Brasil, a Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004, também conhecida com Lei da Inovação é considerada um marco expressivo no que tange às políticas públicas voltadas à inovação em âmbito nacional. A referida Lei estabelece medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à capacitação e ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento industrial do País (BRASIL, 2004, p.1). Nessa perspectiva, o presente trabalho analisa a Lei 10.973/2004 no que tange à percepção ou não do contributo dos equipamentos culturais para a inovação e consequente desenvolvimento socioeconômico brasileiro. 2 EQUIPAMENTOS CULTURAIS E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO Reafirmando a importância do conhecimento para a inovação, Tidd, Bessant e Pavitt (2008, p.35) asseguram que: A inovação é uma questão de conhecimento criar novas possibilidades por meio da combinação de diferentes conjuntos de conhecimentos. Estes podem vir na forma de conhecimento sobre o que é tecnicamente possível ou de que configuração pode responder a uma necessidade articulada ou latente. Tal conhecimento pode já existir em nossa experiência, baseado em algo que já vimos ou experimentamos antes, ou pode resultar de um processo de busca busca por tecnologias, mercados, ações da concorrência etc. Também pode ser explícito em sua forma, codificado de modo que outros possam acessá-lo, discuti-lo, transferi-lo etc. ou pode existir de modo tácito: conhecido, mas sem formulação.

2142 Partindo-se do pressuposto que o conhecimento é elemento central para a geração de inovação, se faz necessário promover, o quanto possível, a criação de conhecimento em ambientes organizacionais com foco em inovação; entretanto, cabe ressaltar que, O conhecimento é criado apenas pelos indivíduos. Em outras palavras, uma organização não pode criar conhecimento por si mesma, sem os indivíduos. É muito importante, portanto, que a organização apoie e estimule as atividades criadoras de conhecimento dos indivíduos ou que proporcione os contextos apropriados para elas (TAKEUCHI; NONAKA, 2008, p.25). Ao considerar a relevância de proporcionar contextos apropriados para a criação do conhecimento pelos sujeitos organizacionais e, ainda, meios de amplificar o conhecimento criado individualmente para o nível organizacional, torna-se relevante investigar e refletir sobre a possível contribuição dos equipamentos culturais por caracterizarem instituições que atuam com o compartilhamento de informação e conhecimento. A esse despeito vale lembrar que essas instituições não mais podem ser vistas como meros repositórios de informação. Os avanços mais recentes nos campos da Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia têm buscado agregar as várias contribuições das últimas décadas. Novos tipos de instituições, serviços e ações executadas no âmbito extra-institucional conferiram maior dinamismo aos campos, que passaram a se preocupar mais com os fluxos e a circulação de informação. Buscando superar os modelos voltados apenas para a ação das instituições junto ao público, ou para os usos e apropriações que o público faz dos acervos, surgiram modelos voltados para a interação e a mediação, contemplando as ações reciprocamente referenciadas destes atores (ARAÚJO, 2011, p.32). Ressalta-se que apenas a presença de equipamentos culturais não é suficiente para que mais conhecimento seja gerado, amplificado organizacionalmente e, possivelmente convertido em inovações. Entretanto, à medida que assumem o caráter de instituições mediadoras de informação, com vistas à geração de conhecimento, acredita-se que podem contribuir efetivamente junto aos sistemas inovativos, no que tange a geração e compartilhamento de conhecimento com foco em inovação. 3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE INOVAÇÃO NO BRASIL De acordo com Freeman e Soete (2008, p.503), [...] o ambiente nacional pode ter uma considerável influência para estimular, facilitar, retardar ou impedir as atividades inovativas das firmas. Nesse contexto, mostra-se pertinente que a inovação seja também foco de atenção das políticas públicas e seus respectivos legisladores. Segundo Lundvall e Borrás (1997, p.13, tradução nossa) [...] as políticas de inovação das nações devem ter como principal objetivo contribuir para a capacidade de aprendizagem das pessoas e das organizações.

2143 Considerando a abordagem sistêmica da inovação, caracterizada pela interação de agentes das esferas pública e privada, acredita-se também que as políticas públicas voltadas à inovação devam enfatizar a interação entre os agentes do sistema inovativo. As abordagens sistêmicas da inovação alteram o foco das políticas para a inovação, que passam a ter ênfase na interação entre instituições e observam processos interativos na criação, difusão e aplicação de conhecimentos. (MANUAL..., 1997, p.41). Seguindo a tendência global, a partir do período pós-guerra as políticas públicas voltadas à ciência, tecnologia e inovação passam a integrar o cenário brasileiro. Entretanto, é a partir da Década de 1990, caracterizada por mercados globalizados e avanços em tecnologias de informação e comunicação, que se observa uma intensificação na elaboração de políticas públicas voltadas à inovação considerando a abordagem sistêmica. No Brasil, as ações voltadas à inovação em âmbito nacional são de responsabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), órgão criado em 1985, que tem sob sua responsabilidade o desenvolvimento e a implantação da política nacional de pesquisa científica, tecnológica e de inovação. 3.1 Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004, também conhecida com Lei da Inovação Entre as ações do MCTI voltadas à inovação, a Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004, também conhecida com Lei da Inovação é considerada um importante marco nacional no que tange à promoção de inovação. De acordo com Viotti (2008, p.154), [...] a chamada Lei de Inovação, inspirada pelo Bayh-Dole Act norteamericano e pela lei francesa de inovação, cujo objetivo principal é o de estimular a contribuição de universidades e institutos de pesquisa públicos para o processo de inovação. Com esse objetivo, a lei regula a transferência para empresas privadas de tecnologias geradas por aquelas instituições e permite o compartilhamento com empresas de suas infraestruturas, equipamentos e recursos humanos. A Lei nº. 10.973, estruturada em três vertentes principais, a saber: I) Constituição de ambiente propício às parcerias estratégicas entre as universidades, institutos tecnológicos e empresas; II) Estímulo à participação de instituições de ciência e tecnologia no processo de inovação; III) Incentivo à inovação na empresa [que constitui o universo de análise desta pesquisa]. 4 MÉTODO E ANÁLISE DE DADOS Para a análise de dados, optou-se pelo método Análise de Conteúdo de Bardin (1997), aplicando-se a técnica Análise Categorial. Buscou-se analisar não só o que foi

2144 explicitamente declarado no texto, mas também possíveis conteúdos subliminares presentes no texto. Analisou-se a Lei nº. 10.973 visando identificar a presença ou a ausência de temas relacionados à gestão da informação e do conhecimento voltadas para a geração de inovação. Para tanto, 6 (seis) categorias foram estabelecidas: 1) Geração de conhecimento; 2) Compartilhamento de informação; 3) Compartilhamento de conhecimento; 4) Gestão da informação e do conhecimento; 5) Arquivos, bibliotecas, centros de documentação e museus; 6) Pesquisa científica e tecnológica. O primeiro capítulo da Lei 10.973/2004 apresenta as disposições preliminares e se preocupa, basicamente, em conceituar os termos utilizados e presentes nos demais capítulos. Destaca-se o conceito apresentado para Instituição Científica e Tecnológica (ICT), definida como aquela que tem como função, [...] dentre outras, executar atividades de pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnológico (BRASIL, 2004, p.1), indicando a geração de conhecimento como atividade central para uma ICT. Da mesma maneira, o conceito apresentado para Instituição de apoio como [...] fundação criada com a finalidade de dar apoio a projetos de pesquisa, ensino e extensão e de desenvolvimento institucional, científico e tecnológico de interesse das IFES e demais ICTs (BRASIL, 2004, p.2), relaciona-se diretamente à atuação de equipamentos culturais ou a produtos e serviços característicos dessas instituições. No segundo capítulo da Lei que, trata da constituição de ambiente propício às parcerias estratégicas entre as universidades, institutos tecnológicos e empresas, observa-se que há alguns parâmetros para o estabelecimento de convênios e parcerias entre agentes do sistema de inovação. Evidencia-se o Artigo 4 o que prevê o compartilhamento de laboratórios, instrumentos, materiais e demais instalações das ICT, com organizações do setor produtivo para o desenvolvimento de atividade inovativa. É possível que entre as demais instalações compartilhadas, estejam os equipamentos culturais e seus respectivos produtos e serviços voltados à informação e ao conhecimento. No que tange ao capítulo terceiro da Lei, cuja abordagem refere-se a participação das ICT no processo de inovação e enfoca questões relacionadas à transferência de tecnologia, licenciamento para exploração e propriedade intelectual; assim como critérios para dedicação e remuneração de instituições e profissionais envolvidos. O Artigo 16 o ao discorrer sobre as competências de um núcleo de inovação tecnológica destaca questões como: [...] opinar quanto à conveniência de divulgação das criações desenvolvidas na instituição [...] acompanhar o processamento dos pedidos e a manutenção dos títulos de propriedade

2145 intelectual da instituição (BRASIL, 2004, p.7), sugerindo atividades de gestão da informação e do conhecimento. O estímulo à inovação nas empresas é foco do quarto capítulo da Lei, que estabelece o incentivo à inovação [...] mediante a concessão de recursos financeiros, humanos, materiais ou de infraestrutura (BRASIL, 2004, p.8) por parte de órgãos públicos, as atividades de pesquisa desenvolvidas por empresas ou entidades nacionais de direito privado. Não é sugerido nenhum modo de gestão do conhecimento gerado a partir dos incentivos, nem no âmbito do órgão público, nem no âmbito da empresa que recebe o incentivo, nem em uma possível ação de compartilhamento com outros agentes do sistema inovativo. No quinto capítulo da Lei, que prevê a adoção da criação de inventor independente pela ICT, visando à elaboração de projeto para o desenvolvimento da referida criação, e nos capítulos sexto e sétimo, que abordam fundos de investimento e disposições finais respectivamente, não há indicação de conteúdos relacionados à gestão da informação e do conhecimento. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS As políticas públicas se constituem em um valioso instrumento de indicação da direção que um país pretende seguir. As políticas públicas de inovação, mais que oferecer subsídios para empresas produzirem novos produtos ou serviços devem indicar como o país planeja seu desenvolvimento econômico e social. Considerando o enfoque sistêmico da inovação que prevê a interação de diferentes agentes com foco em inovação, e o conhecimento como elemento central para a atividade inovativa, entende-se que os temas: Geração de conhecimento; Compartilhamento de informação; Compartilhamento de conhecimento; Gestão da informação e do conhecimento; Arquivos, bibliotecas, centros de documentação e museus; Pesquisa científica e tecnológica devam integrar as políticas de inovação do país de modo claro e consistente. Partindo-se do pressuposto que os equipamentos culturais arquivos, bibliotecas, centros de documentação e museus constituem-se em instituições que atuam com informação e conhecimento, sua gestão e compartilhamento com vistas à geração de novos conhecimentos, buscou-se investigar o papel dessas instituições ou de produtos e serviços característicos das mesmas, no âmbito da política de inovação apresentada na Lei 10.973/2004. Observou-se que esses equipamentos culturais não são citados diretamente no texto da Lei 10.973/2004, como sendo parte integrante do sistema de inovação brasileiro. No entanto,

2146 ao considerar a centralidade das instituições que possuam por missão o desenvolvimento de atividades de pesquisa básica ou aplicada, é possível afirmar que as atividades relacionadas à geração, gestão e compartilhamento de informações e conhecimentos são reconhecidas como relevantes na referida Lei, conforme foi demonstrado. Desse modo, torna-se evidente que os equipamentos culturais podem contribuir de maneira efetiva junto ao sistema de inovação brasileiro, tanto no que tange a criação de novos conhecimentos quanto na gestão e compartilhamento do conhecimento gerado. Considerando que a proposta desta pesquisa pretendeu apenas analisar o texto da Lei 10.973/2004, evidencia-se que os resultados obtidos e apresentados não têm a intenção de diagnosticar o sistema de inovação brasileiro, mas sim de chamar a atenção para a importância de estudos em âmbitos nacional e internacional enfocando questões relacionadas à geração e à gestão de conhecimento, a atuação de equipamentos culturais e possíveis relações com políticas públicas de inovação. REFERÊNCIAS ARAÚJO, C. A. A. Condições teóricas para a integração epistemológica da arquivologia, biblioteconomia e museologia na ciência da informação. INCID: Revista de Ciência da Informação e Documentação, v. 2, n. 2, p. 19-41, 2011. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/incid/article/view/42349>. Acesso em 01 jul. 2014. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1997. BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Lei nº 10.973, de 02 de dezembro 2004. Dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo e dá outras providências. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/755/leis.html>. Acesso em: 04 jul. 2014. FREEMAN, C.; SOETE, L. A economia da inovação industrial. Campinas (SP): Editora UNICAMP, 2008. LUNDVALL, B. A. et al. National systems of production, innovation and competence building. Research Policy, v.31, n.2, p.213-231, Feb. 2002. LUNDVALL, B. A.; BORRÁS, S. The globalising learning economy: Implications for innovation policy. Aalborg; Copenhagen: [s.n.],1997. Disponível em: <http://www.globelicsacademy.org/2011_pdf/lundvall%20borras%201997.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2014. MANUAL de Oslo: diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação. 3.ed. [s.l.]: OECD; FINEP, 1997. TAKEUCHI, H.; NONAKA, I. Gestão do conhecimento. Porto Alegre: Bookman, 2008. TIDD, J.; BESSANT, J.; PAVITT, K. Gestão da Inovação. 3.ed. Porto Alegre: Bookman, 2008.

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