Registro: 2016.0000306305 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 2120447-61.2015.8.26.0000, da Comarca de Ibiúna, em que é agravante FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO, é agravado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 5ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores MARIA LAURA TAVARES (Presidente) e MARCELO BERTHE. São Paulo, 9 de maio de 2016. Nogueira Diefenthaler Relator Assinatura Eletrônica
Voto nº 28469 Processo: 2120447-61.2015.8.26.0000 Apelante: Fazenda do Estado de São Paulo Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo Comarca de Ibiúna Juiz: Maria Luiza de Almeida Torres Vilhena 5ª Câmara de Direito Público AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. Decisão agravada que carreou à Fazenda do Estado de São Paulo a responsabilidade pelo adiantamento de honorários periciais. Possibilidade. Aplicação analógica do verbete 232 das súmulas de jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Recurso desprovido. Vistos; A FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO interpõe agravo de instrumento em face da r. decisão de fls. 66/67 pela qual o DD. Magistrado a quo observando a impossibilidade jurídica de custeio da prova pericial pelo Fundo Estadual de Defesa dos Interesses Difusos FID, bem como a inadequação de carrear ao Parquet o custeio da prova, por estar ele financeiramente vinculado ao Poder Executivo Estadual determinou à agravante o adiantamento dos honorários periciais a serem oportunamente arbitrados, via interpretação extensiva da Súmula n. 232 do Superior Tribunal de Justiça. Sustenta, em síntese, que o Ministério Público possui autonomia orçamentária cabendo-lhe a administração das verbas que lhe são repassadas e, de outro modo a isenção de que trata o art. 18 da LACP é prevista para as associaçõescolegitimadas hipossuficientes do ponto de vista econômico o que não seria o caso do Ministério Público. Agravo de Instrumento nº 2120447-61.2015.8.26.0000 -Voto nº 2
Requer, assim, em caráter liminar a atribuição de efeito suspensivo à decisão, e no mérito reforma integral. Estamos a tratar de recurso adequadamente processado e que se acha instruído com o suprimento das razões adversas e parecer da DD. Procuradoria Geral de Justiça. É o relatório. Passo ao voto. 1. O recurso não comporta provimento. 2. Com efeito, o Ministério Público como autor da ação civil pública está expressamente exonerado do custeio da perícia consoante previsão do artigo 18 da Lei Federal 7.347/1985: Nas ações de que trata esta Lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais. E de fato, não se mostra viável, seja por falta de amparo legal ou até mesmo por questão de lógica, impor aos réus o encargo de custear a produção de prova que eventualmente lhes seria desfavorável. Precedentes desta Corte de Justiça solucionavam a questão carreando ao Fundo Estadual de Defesa dos Interesses Difusos FID o encargo de custear estas despesas processuais. Sucede que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, apreciando este impasse, tem entendimento assentado no sentido da aplicação analógica do verbete 232: A Fazenda Pública, quando parte no processo, fica sujeita à exigência do Agravo de Instrumento nº 2120447-61.2015.8.26.0000 -Voto nº 3
depósito prévio dos honorários do perito. A questão não mais comporta digressões, haja vista que foi dirimida em recurso representativo de controvérsia: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ADIANTAMENTO DE HONORÁRIOS PERICIAIS. NÃO CABIMENTO. INCIDÊNCIA PLENA DO ART. 18 DA LEI N. 7.347/85. ENCARGO TRANSFERIDO À FAZENDA PÚBLICA. APLICAÇÃO DA SÚMULA 232/STJ, POR ANALOGIA. 1. Trata-se de recurso especial em que se discute a necessidade de adiantamento, pelo Ministério Público, de honorários devidos a perito em Ação Civil Pública. 2. O art. 18 da Lei n. 7.347/85, ao contrário do que afirma o art. 19 do CPC, explica que na ação civil pública não haverá qualquer adiantamento de despesas, tratando como regra geral o que o CPC cuida como exceção. Constitui regramento próprio, que impede que o autor da ação civil pública arque com os ônus periciais e sucumbenciais, ficando afastada, portanto, as regras específicas do Código de Processo Civil. 3. Não é possível se exigir do Ministério Público o adiantamento de honorários periciais em ações civis públicas. Ocorre que a referida isenção conferida ao Ministério Público em relação ao adiantamento dos honorários periciais não pode obrigar que o perito exerça seu ofício gratuitamente, tampouco transferir ao réu o encargo de financiar ações contra ele movidas. Dessa forma, considera-se aplicável, por analogia, a Súmula n. 232 desta Corte Superior ("A Fazenda Pública, quando parte no processo, fica sujeita à exigência do depósito prévio dos honorários do perito"), a determinar que a Fazenda Pública ao qual se acha vinculado o Parquet arque com tais despesas. Precedentes: EREsp 981949/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/02/2010, DJe 15/08/2011; REsp 1188803/RN, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 11/05/2010, DJe 21/05/2010; AgRg no REsp Agravo de Instrumento nº 2120447-61.2015.8.26.0000 -Voto nº 4
1083170/MA, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 13/04/2010, DJe 29/04/2010; REsp 928397/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 11/09/2007, DJ 25/09/2007 p. 225; REsp 846.529/MS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/04/2007, DJ 07/05/2007, p. 288. 4. Recurso especial parcialmente provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ n. 8/08. (REsp 1253844/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 13/03/2013, DJe 17/10/2013) Neste ponto, portanto, não prevalece mais entendimento de que estas despesas haveriam de ser suportadas pelo Fundo Estadual de Reparação de Interesses Difusos Lesados FID, consoante ponderações exaradas pelo DD. Desembargador Paulo Ayrosa no julgamento da apelação cível nº 2003275-98.2015.8.26.0000 (j. 21 de maio de 2.015): Pois bem. Conquanto entenda a Fazenda que os honorários devam ser custeados pelo Ministério Público ante sua autonomia financeira e orçamentária e considerando o sobredito entendimento a respeito da norma contida no artigo 18 da LACP, ressalvado entendimento anterior tal como consta, aliás, da decisão de fls. 54/55 externado por ambas as Câmaras Reservadas do Meio Ambiente, no sentido de que, para o custeio dos honorários periciais em caso de requisição de prova pericial precedia por ambas as partes, considerando os dispositivos dos Agravo de Instrumento nº 2120447-61.2015.8.26.0000 -Voto nº 5
arts. 33 do CPC e 18 da Lei nº 7.347/85, usar-se-iam os recursos provenientes do Fundo Estadual de Reparação de Interesses Difusos Lesados FID, é de se reputar como necessária a mudança de entendimento do presente tema tendo em vista o julgamento definitivo do mérito do REsp. 1.253.844/SC, da lavra do Ministro Mauro Campbell Marques e publicado no DJe de 17.10.2013, que, aplicando por analogia a Súmula nº 232 do Colendo Superior Tribunal de Justiça, determinou que a Fazenda Pública da esfera governamental correlata ao âmbito de atuação do Ministério Público é quem deve antecipar os honorários periciais. 4. Logo, isento o Ministério Público do Estado de São Paulo quanto ao recolhimento destas despesas, deverão ser custeadas Fazenda do Estado de São Paulo. do recurso. Posto isso, voto no sentido do desprovimento NOGUEIRA DIEFENTHÄLER RELATOR Agravo de Instrumento nº 2120447-61.2015.8.26.0000 -Voto nº 6