ASTERACEAE BERCHT. & J. PRESL NO PARQUE ESTADUAL SERRA DE CALDAS NOVAS, GOIÁS, BRASIL BARBOSA, H. N.¹; MONGE, M. 2 ; MOURA, T. M. 3 ; IGLESIAS, J.O.V. 1 ; PARREIRA, I.A.R. 1 ; SOUZA, V.C. 4 ¹ Iniciação Científica Universidade Estadual de Goiás UnU Morrinhos; ² Universidade Estadual de Campinas; 3 Universidade Estadual de Goiás; 4 Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz ESALQ/USP. RESUMO Considerado o segundo maior bioma do Brasil, o Cerrado é um dos hotspots para a conservação da biodiversidade mundial, devido as suas peculiaridades e pela destruição acelerada deste bioma. O Cerrado possui a mais rica flora dentre as savanas do mundo, e Asteraceae é uma das famílias mais abundantes entre as angiospermas neste bioma. Por isso, a necessidade de se conhecer mais sobre o Bioma Cerrado torna-se cada vez mais urgente. O presente trabalho teve como objetivo, ampliar as informações sobre vegetação nativa das Asteraceae no Cerrado, verificando as espécies dessa família no Parque Estadual Serra de Caldas Novas. Para realização do estudo, todos os indivíduos de Asteraceae em período reprodutivo encontrados foram coletados, abrangendo toda variação fitofisonômica do local. Com um total de 202 indivíduos coletados, constituindo de 40 espécies, pertencentes a 21 gêneros de 8 tribos. Tal diversidade pode estar associada à ocorrência da família nas diferentes formações de cerrado ocorrentes na região, a diversidade de formas e de crescimento e por ocupar diferentes estratos da vegetação. As tribos mais ricas em espécies são Eupatorie (14) e Vernonie (12), e também com maior número de gêneros 6 e 5 respectivamente. A grande maioria das espécies são ervas (24) e subarbustos (10). Apenas uma é ávore, a Piptocarpha rotundifolia (Less.) Baker. O cerrado, campo cerrado e campo rupestre, foram ambientes que apresentaram maior abundância da família. O grande número de espécies de Asteraceae encontradas confirma a importância da família na composição florística do Parque Estadual Serra de Caldas Novas, cuja flora ainda é pouco conhecida. Palavras-chave: Cerrado,Levantamento florístico, Vernonie, Eupatorie. 1
1. INTRODUÇÃO A família Asteraceae Bercht. & J. Presl, se destaca entre as Eudicotiledôneas, por apresentar o maior número de espécies, aproximadamente 23.000, organizadas em 3 subfamílias, 17 tribos e 1.535 gêneros, representando cerca de 10% da flora mundial. São ervas, arbustos, árvores ou menos comumente e são provavelmente a maior família de floração das plantas (Cronquist, 1981). Possui ampla distribuição, sendo bem representada especialmente em regiões de clima tropical, subtropical e temperado (Bremer 1994). São plantas cosmolitas que ocorrem em diferentes ambientes desde o nível do mar até os picos das mais altas montanhas, tendo invadido com sucesso todos os tipos de habitats, com poucas espécies verdadeiramente aquáticas, embora algumas cresçam em ambientes alagados e brejosos. Entretanto são mais abundantes em regiões abertas e secas do que em matas fechadas e úmidas (Barroso 1991). No Brasil estima-se que ocorram 180 gêneros e cerca de 3.000 espécies (Souza & Lorenzi, 2008). Tradicionalmente as Asteraceaes eram subdivididas em duas subfamílias, mas estudos cladísticos como os de Bremer & Jansen (1992), consideraram que a família está subdividida em três subfamílias: Barnadesioideae, Cichoroideae e Asteroideae. Para estas, Bremer (1994) posteriormente citou dezessete tribos: Barnadesieae (Barnadesioideae), Mutisideae, Cardueae, Lactuceae, Vernonieae, Liabeae e Arctoteae (Cichoroideae), Inuleae, Plucheae, Gnaphalieae, Calenuleae, Astereae, Anthemideae, Senecioneae, Helenieae, Heliantheae e Eupatorieae em (Asteroideae). Recentemente, Panero & Funk (2002), utilizando dados moleculares, sugeriram a existência de onze subfamílias e trinta e cinco tribos; entretanto esta ainda é uma classificação pouco aceita entre os asterólogos. As Asteraceae estão representadas por espécies herbáceas, anuais ou perenes, subarbustivas ou arbustivas e, com menor número, de espécies arbóreas. As folhas, sésseis ou pecioladas, na sua grande maioria, são alternas ou radicais; folhas opostas apresentam-se em algumas espécies, principalmente da tribo Heliantheae e Eupatorieae, ou às vezes formando na base uma bainha (Semir, 1991). O limbo é simples, podendo ser inteiro, lobado, pinatífido, dissecto, pinatissecto, podendo ser terminado por uma gavinha. A inflorescência básica das Asteraceae é do tipo capítulo, constituído de uma a muitas flores, assentadas em um receptáculo geralmente discóide, com brácteas involucrais, dispostas em uma ou mais séries. As flores podem iguais entre si, ou diferenciadas em flores do raio (externas) e flores do disco (internas) (Souza & Lorenzi, 2008). 2
Os frutos são denominados cipsela apresenta formas variadas, desde glabros ou indumentados (Bremer 1994). Muitos autores como Cabrera (1980) e Barroso (1991), entre outros, denominam o fruto das Asteraceae como aquênio. Asteraceae apresenta uma ampla diversidade no Bioma Cerrado. Sendo uma das famílias de maior expressividade nesse ambiente. Porém, estudos visando conhecer as espécies do Cerrado são insuficientes, uma vez que a devastação vem ocorrendo de modo acelerado e mais rápido que as medidas de conservação ou divulgação de estudos referentes a diversidade do Cerrado. O Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN) é uma área de Cerrado que abrange 12.315,36 hectares, uma área de 123 km² (Agência Ambiental). A vegetação é diversificada havendo fitofisionomias como cerradão, cerrado, campo cerrado, cerrado sensu stricto e campo rupestre. Por ser uma unidade de conservação acredita-se que está abrigando inúmeras espécies, pouco estudadas ou ainda nem conhecidas. Sendo assim, o presente trabalho tem por objetivo fazer o levantamento das espécies de Asteraceae existentes no PESCAN. Com o intuito de ampliar as informações sobre vegetação nativa das Asteraceae do Cerrado. 2. Material e Métodos O estudo foi realizado no Parque Estadual Serra de Caldas Novas (PESCAN), com 10 excursões à região, distribuídas mensalmente durante o período de Abril à Agosto de 2008. E também foi utilizado o material existente na UEG UNU Morrinhos. As coletas ocorreram em caminhadas aleatórias ao longo de diferentes estradas e trilhas presentes na área, abrangendo toda variação fitofisonômica, onde todos os indivíduos de Asteraceae em período reprodutivo encontrados foram coletados. O material coletado foi herborizado, e a identificação das espécies se processou através de consultas a especialistas, e por meio de morfologia comparada em herbário (ESA e UEC), utilizando de literatura específica, como as obras de Macleish (1985), Cabrera & Klein (1989), Matzenbacher et. al. (1992), Cabrera et al. (2000), e Hind (2003), entre outras. A circunscrição tribal baseia-se em Bremer (1994). Foi feita consultas a sites especializados sendo esses: http://www.mobot.org/; http://splink.cria.org.br/; http://florabrasiliensis.cria.org.br/index; http://www.tropicos.org>; http://www.ipni.org/, para busca de outras coletas de Asteraceae realizadas no Parque Estadual Serra de Caldas Novas. 3
Para cada espécie, foi considerado o hábito e o hábitat. Quanto ao hábito, foram utilizadas as categorias árvore (AV), arbusto (AR), subarbusto (SB), erva (ER) de liana (LN). Foi observada a presença de espécies de Asteraceae em diferentes habitats: cerradão (CD), cerrado (CE), campo cerrado (CC), campo rupestre (CR), mata ciliar (MC), morro com rochas (MR). Devido à freqüente floração e frutificação nas Asteraceae, não se fez distinção entre as estações do ano. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerando os 202 indivíduos amostrados, até o momento, pode-se registrar 40 espécies, pertencentes a 21 gêneros de 8 tribos. Tabela1. TABELA 1 Hábito e hábitat das espécies de Asteraceae ordenadas por tribos encontradas no Parque Estadual Serra de Caldas Novas (PESCAN). Hábito: AV árvore, AR arbusto, SB subarbusto, ER erva, LN liana; Habitats: CD cerradão, CE cerrado, CC campo cerrado, CR campo rupestre, MG mata de galeria, MR morro com rochas. Tribo/Espécie Nº de Coletas Hábito Habitat Tribo Astereae Baccharis coridifolia DC. 4 SB CE Tribo Barnadesieae Dasyphyllum brasiliense (Spreng.) Cabrera 2 LN CD Tribo Eupatorieae Ageratum sp. 1 ER MR Chromolaena decumbens Gardner 5 ER CE Chromolaena horminoides DC. 3 ER CD, CE Chromolaena sp. 6 ER CE Eupatorium macrocephalum Less. 2 AR CC, CR Heterocondylus sp. 3 ER CC, CE Mikania cordifolia (L.f.) Willd. 9 LN CC, CE Mikania diversifolia DC. 2 ER CE Mikania glomerata Spreng. 5 LN CC,CE,MG Mikania involucrata Hook. & Arn. 2 LN CC, CR Mikania laevigata Sch. Bip. ex Baker 6 ER CE, CR Mikania sp. 16 SB CE, CD,CR Praxelis capillaris (DC.) Sch. Bip. 6 ER CE Praxelis clematidea Sch.(Griseb.) R.M. King & H.Rob 3 ER CE Tribo Gnaphalieae Achyrocline alata (Kunth) DC. 2 ER CE Acanthospermum australe (Loelf.) Kuntze 3 ER CE Aspilia foliácea Baker ER CE Aspilia sp. 6 ER, SB CE, CR Bidens pilosa L. 2 ER CE Bidens subalternans DC. 2 AR CE Calea myrtifolia (DC.) Baker 5 ER CE Calea sp. 9 ER, SB CE, MG 4
Tribo Mutisieae Mutisia sp. 1 SB CE Tribo Senecioneae Emilia sonchifolia (L.) DC. 5 ER CE Emilia fosbergii Nicolson 5 ER CE, MG Emilia sp. 2 ER CE Tribo Vernonieae Chresta scapigera (Less.) Gardner 22 SB CC, CD, CE, MR Chresta sphaerocephala DC. 18 SB CC, CD, CE, MR Elephantopus biflorus (Less.) Sch. Bip. 3 SB CE Eremanthus glomerulatus Less. 3 AR CE Eremantus sp. 5 ER CC, CE Piptocarpha rotundifolia (Less.) Baker 9 AV CC, CE Vernonia aurea Mart. ex DC. 3 SB CE, MG Vernonia floccosa Gardner 4 AR CE Vernonia herbacea (Vell.) Rusby 1 ER CE Vernonia lacunosa Mart. ex. DC. 1 ER CE Vernonia membranacea Gardner 2 AR CE Vernonia sp. 15 ER Total de indivíduos coletados 203 CC,CD,CE, MG As tribos mais ricas em espécies são Eupatorie (14) e Vernonie (12), e também com maior número de gêneros 6 e 5 respectivamente. Os gêneros com mais espécies são Mikania Willd (5) e Vernonia Schreb. (5), cuja maioria das espécies é característica e representativa das diferentes fisionomias de cerrados e campos rupestres de acordo com Eiten (1983) e Mendonça et al. (1998). Noto-se uma predominância de Chresta scapigera (DC.) Gardner e Chresta sphaerocephala DC. em quase todos os ambientes coletados, inclusive em morros rochosos. Houve também presença significativa de Mikania Willd em campo cerrado. A grande maioria das espécies são ervas (24) e subarbustos (10). Apenas uma é ávore, a Piptocarpha rotundifolia (Less.) Baker. As Asteraceae são predominantemente herbáceas, sendo pouco os gêneros com representantes lenhosos (Bremer, 1994). As lianas são a maioria do gênero Mikania Willd e a única do gênero Barnadesieae D. Don. O cerrado, campo cerrado e campo rupestre, foram ambientes que apresentaram maior abundância da família. Ainda foram encontradas, por meio de consultas a sites, três outras espécies de Asteraceae que ocorrem no PESCAN. Ambas as coletas estão depositadas no New York Botanical Garden: Emilia coccinea (Sims) G. Don, E.P. Heringer (16658) 05/01/1977; 5
Lessingianthus floccosus (Gardner) H. Rob., G. Hatschbach (38789) 10/07/1976; Lessingianthus durus (Mart. ex DC.) H. Rob., G. Hatschbach (38747) 09/07/1976. Sendo assim pode-se considerar até o momento 43 espécies de Asteraceae ocorrentes no PESCAN, pertencentes a 22 gêneros e 8 tribos, pois o gênero Lessingianthus H. Rob. pertence a tribo Vernonie. Estes levantamentos demonstram a grande importância relativa das Asteraceae na composição da vegetação de diferentes localidades, reforçando o fato de ser uma das mais ricas do Brasil (Barroso et al., 1991), e também uma das mais importantes no bioma dos cerrados (Mendonça et al., 1998). Além disso, o presente trabalho demonstra a grande importância da família Asteraceae na composição florística do Parque Estadual Serra de Caldas Novas, cuja flora ainda é pouco conhecida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGÊNCIA AMBIENTAL. Parque Estadual Serra de Caldas Novas. <http://www3.agenciaambiental.go.gov.br/site/>. Acesso em: 22 ago. 2008. Disponível em BARROSO, G.M. et al. Sistemática de Angiospermas do Brasil. Vol 3. Viçosa: Editora Universitária, Universidade Federal de Viçosa. 1991. BREMER, K. Asteraceae: Cladistics and Classification. Timber Press, Portland. 1994. BREMER, K. & JANSEN, R.K. A new sub-family of the Asteraceae. Ann.Missouri. Bot. Gard. 79: 414-415. 1992. CABRERA, A.L. & KLEIN, R.M. Compostas 3. Tribo Vernonieae. In R. Reitz. Ed. Flora Ilustrada Catarinense. Itajaí: Herbário Barbosa Rodrigues. 186p. 1980. CABRERA, A.L. et al. Catálogo Ilustrado de lãs Compuestas (= Asteraceae) de la Província de Buenos Aires, Argentina: sistemática, ecología y usos. La Plata: Secretaria de Politica Ambiental. 136p. 2000. CRONQUIST, A. An integrated system of classification of flowering plants. New York, Columbia University Press. 1981. HIND, D.J.N. Flora of Grão-Mogol, Minas Gerais: Compositae (Asteraceae)¹. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo 21(1): 179-234. 2003. MACLEISH, N.F.F. Revision of Chresta and Pycnocephalum (Compositae: Vernonie). Departamento of Botanic, University of Goergia, Athens. Systematic Botany, 10(4): p.459-470. 1985. 6
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