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Transcrição:

Córregos em áreas urbanas: a atual situação do córrego Tamanduá em Iporá-GO Jander Milher Pereira 1 Washington Silva Alves 2 Resumo Este trabalho foi elaborado na cidade de Iporá-GO, na busca de realizar uma avaliação sobre as agressões sofridas por córregos que passam por áreas urbanas. O objetivo principal dessa pesquisa consiste em analisar as agressões sofridas pelo córrego Tamanduá, localizado na cidade de Iporá-GO, tendo como base a relação do homem com o meio, a forma como o mesmo usa, ocupa e apropria do espaço em que está inserido. A metodologia adotada para o desenvolvimento dessa pesquisa se baseia em uma revisão bibliográfica, no levantamento de dados baseado na observação de campo (método empírico-descritivo) e no registro das agressões por meio de fotografias. Como resultado foi possível perceber que o córrego sofre agressões principalmente no que diz respeito ao descarte do esgoto doméstico e empresarial, da retirada da mata ciliar, da canalização e do lixo urbano. Palavras-chave: Atividade Humana, Urbanização, Poluição. Introdução Ao longo dos anos os recursos hídricos sofrem com as agressões geradas pela ação do homem no meio ambiente. Seja para produção de alimentos, na geração de energia, para o próprio consumo e através do processo de urbanização. O homem tem apropriado do meio ambiente sem se preocupar com os impactos gerados no mesmo. Assim como é colocado por Carlos (2007), as primeiras cidades originaram as margens de rios e córregos, como exemplo na Mesopotâmia as margens do Rio Nilo. Isso ocorre por que a água é um bem essencial para a existência do ser humano, dessa forma as margens dos rios e córregos se tornaram locais favoráveis à ocupação, mas com o decorrer do tempo o número de cidades aumentou e consequentemente o impacto ao meio ambiente e aos recursos hídricos. O processo de urbanização tem sido um fator relevante ao se tratar de impactos aos recursos hídricos e ao meio ambiente. Pois de acordo com Santos (1996), o processo de urbanização no Brasil teve ênfase a partir do ano de 1960, gerando uma ocupação acelerada dos centros urbanos, os quais não possuíam um planejamento e sendo assim as questões ambientais também não se tornaram uma preocupação. 1 Acadêmico do curso de Geografia da UEG-UnU Iporá. 2 Mestrando em Geografia pela UFG - Campus Jataí. Professor do curso de Geografia da UEG-UnU Iporá

Os rios e córregos são alvos de agressões implacáveis tanto nas áreas urbanas e rurais, mas com ênfase acentuada nas áreas urbanas. Os rios brasileiros recebem uma grande carga de poluentes vinda de seus afluentes, isso ocorre porque os dejetos que são produzidos pelas cidades são lançados diretamente nos córregos que percorrem o perímetro urbano, contaminando a água deixando-a imprópria ao consumo. Uma vez que os lençóis de água são contaminados tornam-se extremamente difícil e caro corrigir esse problema (REIS, 2008). Neste sentido vários autores como (BORGES, 2003); (GALBIATTI, 2003); (FERRAUDO, 2003), afirmam que os córregos urbanos apresentam-se poluídos, principalmente pelo fato do esgoto doméstico e industrial ser lançado sem qualquer tratamento nos corpos d'água. Nesse mesmo foco (CRUVINEL, 2008), conclui que onde há a presença constante de ligações de esgotos clandestinas e um descarte incorreto da rede pluvial, pode comprometer todo o sistema hidrográfico do qual o córrego faz parte. O córrego Tamanduá é um córrego que passa pelo perímetro urbano do município de Iporá-GO, conforme nos mostra a figura1. E o mesmo tem sofrido agressões por parte da ação humana. Principalmente no que diz respeito ao lançamento de poluentes como o esgoto doméstico, industrial e o lixo que é jogado nas ruas da cidade, o qual é lançado dentro do córrego através das águas pluviais. Dessa forma o objetivo desse trabalho é analisar as transformações e os impactos sofridos pelo córrego Tamanduá, no perímetro urbano da cidade de Iporá. Materiais e métodos e Caracterização da Área de Estudo O recorte espacial desta pesquisa corresponde à cidade de Iporá, que está localizada nas coordenadas 16º 26` 31`` de latitude Sul e 51º 07` 04`` de longitude Oeste, na região Oeste de Goiás, conforme a figura 1. O município de Iporá é banhado pelos rios Claro e Caiapó, pelos ribeirões Santo Antônio e Santa Marta e de vários córregos, dando maior destaque para o córrego Tamanduá, pertencente a micro bacia do córrego Santo Antônio, e que passa pelo perímetro urbano do município de Iporá. 1

Segundo a SEPLAN (Secretaria de Planejamento do Estado de Goiás), a cidade de Iporá, possui, de acordo com o censo de 2010, uma população estimada em 31.272 habitantes e tem sua economia baseada no comércio local, na pecuária e no funcionalismo público. A parte mais antiga da cidade é formada de avenidas largas de pista dupla e é cortada por ruas largas de pista única. O inicio do processo de urbanização da cidade de Iporá possui suas raízes no século XVIII, período esse de exploração do ouro e diamantes na região oeste de Goiás. O comércio velho, conhecido como povoado do Rio Claro é berço de Iporá, se localizava as margens do Rio Claro onde atualmente se encontra a cidade de Israelandia-GO (GOMIS, 1998). Devido à maleita naquela região os garimpeiros, na década de 1930, resolveram mudar o povoado de lugar, e como era de costume o surgimento dos primeiros aglomerados urbanos se dava as margens de rios e córregos, a cidade de Iporá manteve esse princípio ocupando as margens do córrego Tamanduá, onde atualmente é a cidade de Iporá. Figura 01: Mapa de localização do Córrego Tamanduá Fonte: Plano Diretor de Iporá 2

Ao observar o Córrego Tamanduá, conclui-se que os problemas que são frequentes em outros córregos e rios que passam por cidades de médio e grande porte, também são visíveis no mesmo. Claro que em uma escala menor, pois se trata de uma cidade pequena. Metodologia Para realizar esse trabalho, adotamos um método empírico-descritivo. Iniciamos com uma revisão bibliográfica, na busca de informações sobre as agressões sofridas por córregos que passam em perímetros urbanos. O segundo passo se trata do levantamento de dados, baseado em uma visita a campo para realizar observações e registros sobre os impactos sofridos pelo córrego Tamanduá. E por ultimo, a partir do levantamento de dados, contextualizamos as informações obtidas, para realizar a analise das agressões sofridas pelo córrego. Dessa forma traçamos os desafios que a sociedade e poder público terão que enfrentar em relação aos impactos gerados no córrego Tamanduá. Para melhor caracterizar as agressões sofridas pelo córrego Tamanduá, o mesmo foi dividido em quatro pontos amostrais. No perímetro urbano, o córrego Tamanduá se encontra canalizado a partir do ponto 2 (Lago Por do Sol) até o ponto 3 (Final do Perímetro Urbano), conforme mostra a figura 1. Esse processo ocorreu devido aos problemas gerados, pelo alagamento das margens do córrego no período chuvoso. Esse processo nos mostra a alteração que o córrego sofre na sua estrutura no momento em que o mesmo passa pelo perímetro urbano da cidade de Iporá-Go. Resultados e discussões Assim como foi colocado anteriormente, o descaso por parte da sociedade com o meio ambiente é visível, pois como é colocado por (MORAES, 1995), o homem tem utilizado o meio natural transformando-o mudando a paisagem em nome do seu desenvolvimento, não havendo de fato uma preocupação com os impactos gerados ao mesmo. Os esgotos clandestinos 3

As ligações de esgotos clandestinos são frequentes na cidade de Iporá-Go. Podemos observar na figura 2, que as ligações de esgoto clandestino, em sua maioria são feitas na rede pluvial. Segundo a prefeitura municipal a rede pluvial está distribuída na região central da cidade. Concluímos então que o esgoto lançado no córrego é um esgoto empresarial e doméstico. Dessa forma resíduos como: Água com produtos destinados a limpeza, gordura vegetal, resíduos lançados pelos lava jatos, esgoto sanitário, etc. são despejados pelas residências na rede pluvial a qual lança os dejetos no córrego gerando um impacto direto, sendo esses fatores causadores da poluição hídrica. Pois como é colocado por (CRUVINEL, 2008), onde há uma presença constante de ligações de esgotos clandestinos e descarte incorreto da rede pluvial, pode comprometer parcial e totalmente a qualidade da água do manancial que recebe essas agressões. Na figura 2 podemos observar ligações de esgoto clandestino que são feitas no córrego Tamanduá, no seu perímetro urbano. 2. 1. 3. 4. Figura 2: Esgoto clandestino no córrego Tamanduá. Fonte: Pereira e Alves (2012) É possível observar na figura 2 esgotos clandestinos que são ligados à rede pluvial e outros que são ligados por moradores próximos às margens do córrego. Isso acontece comumente, pois fica a impressão de que não ocorre uma fiscalização por parte do poder público em relação às ligações clandestinas de esgoto na rede pluvial. 4

A figura 3 nos mostra esgotos lançados por algumas empresas que situam as margens do córrego. Ao analisar a figura 3, algumas empresas situadas às margens do córrego tem lançado esgoto diariamente, sem nenhum tratamento. Podemos notar que próximo ao córrego encontra-se várias empresas de lava-jatos, as quais lançam os dejetos de óleo diesel, sabão, detergente, etc. dentro do córrego, provocando um impacto direto na qualidade da água. Sobre os lava-jatos (COSTA et al, 2006), afirma que os mesmos geram uma considerável quantidade de água residuária, que são lançadas continuamente no solo, na rede pluvial, nos córregos, haja vista que a maioria dos lava-jatos não submete essa água a um tratamento para depois devolvê-la aos mananciais. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. Figura 3: Esgoto clandestino laçado por empresas. Fonte: Pereira e Alves (2012) Na medida em que lançamos diretamente no córrego esses efluentes sem nenhum tratamento, estamos sujeitos a produzir um impacto no córrego, principalmente no que diz respeito à qualidade da água. Dessa forma como já foi citado, isso é algo que acontece 5

diariamente na cidade de Iporá-Go, pois apesar de haver uma política voltada para a questão parece que não há uma preocupação em fiscalizar e até mesmo tratar essa questão. Uma prova disso é o que diz no Código de Postura do Município de Iporá, no seu capítulo III, onde possui pré-requisitos básicos que trata sobre o descarte dos efluentes domésticos e empresariais. No artigo 15 diz que: Art. 15 - Não é permitido que as canalizações de sanitários recebam diretamente ou indiretamente, águas pluviais ou as resultantes de drenagens. 1º - As águas pluviais ou de drenagem provenientes do interior de imóveis, em geral, deverão ser canalizadas, através do respectivo imóvel, rumo à galeria pluvial existente no logradouro ou, no caso da inexistência desta, para as sarjetas. 2º - Quando, pela natureza e\ ou condições do solo, não for possível a solução indicada no parágrafo anterior, às referidas águas deverão ser canalizadas através do imóvel vizinho que oferece melhores condições, observadas as disposições do código civil. De fato na prática não acontece como proposto pelo código de postura do município, pois as fotos retratam bem a real situação encontrada na cidade. Podemos concluir que possuímos uma política elaborada, mas como é comum acontecer, essa política não é cumprida de forma prática. O Desmatamento e a Canalização Nas margens do córrego Tamanduá percebemos o tamanho dos impactos da degradação provocada pela ocupação de um local impróprio, principalmente no que diz respeito à falta da mata ciliar, algo que tem contribuído para o processo de assoreamento do leito do córrego. De acordo com a figura 4, percebemos que nas áreas mais periféricas a ocupação sem planejamento adequado, ligado a um plano diretor ineficiente, tem desencadeado problemas. É visível o assoreamento do córrego, fato que está ligado à retirada da mata ciliar, e o processo de canalização na região central da cidade. 6

Figura 4: Assoreamento e a Canalização. Fonte: Pereira e Alves (2012) Segundo o código florestal, (Lei Federal nº 4.771/65), alterado pela Lei Federal nº 9.605/98, Qualquer intervenção em APP necesssita de autorização do DEPRN (Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais). Caso contrário, será considerado crime ambiental. Olhando para forma inadequada de ocupação das margens do córrego na área central da cidade (a mais antiga), temos de pensar também no contexto histórico da cidade. Pois como já foi discorrido anteriormente, a ocupação da área onde hoje é a cidade de Iporá-Go, ocorreu por volta de meados do século XVIII. Período esse onde não havia uma preocupação com as questões ambientais, e sendo assim não existiam leis que regiam essas questões. Isso não justifica o modo com que a cidade foi utilizando e ocupando esse espaço até chegar à situação atual, onde encontramos uma cidade que cresceu sem a presença de um planejamento ambiental urbano. As agressões visualizadas no córrego Tamanduá (área central) estão ligadas ao processo de canalização e a impermeabilização das margens pela pavimentação, algo que 7

ocorreu principalmente devido às enchentes das áreas próximas as margens do córrego. Más o processo de urbanização continua e a ocupação de áreas impróprias tem proporcionado a retirada da mata ciliar, que consequentemente vai ocasionando o assoreamento do leito do córrego. Esse processo ocorre em regiões recentemente ocupadas que teve o início de ocupação na década de 1980, segundo dados da prefeitura municipal. Dessa forma observamos que na medida em que a cidade vai se expandindo, principalmente nas áreas próximas ao córrego, as agressões vão se intensificando. Isso é uma prova da falta de cumprimento da legislação vigente estabelecida pelos próprios responsáveis seja o município ou o Estado. De acordo com (CARRIJO e BACCARO, 2000), o processo de canalização surgiu pela necessidade de adequação do ambiente urbano as condições de vida da cidade. Só que essa transformação gerada no meio natural, com vistas a adequar o ambiente urbano, tem gerado um impacto direto nos córregos. O processo de canalização em córregos gera o aumento da velocidade do fluxo de água, que por sua vez ao chegar ao término da canalização, causa o solapamento das margens do córrego provocando uma erosão marginal e consequentemente o assoreamento do mesmo (CARRIJO e BACCARO, 2000). Associado a falta de mata ciliar, o processo ocorre com maior intensidade. Sendo assim observamos na figura 5 os efeitos desse processo no córrego Tamanduá. 19. Figura 5: Córrego Tamanduá Fonte: Pereira e Alves (2012) Figura 5: Córrego Tamanduá. Fonte Pereira e Alves (2012) 8

Ao analisar a figura 5, observamos duas imagens, à primeira do córrego canalizado (centro da cidade) e a segunda é o terceiro ponto do mapa de localização (saída do perímetro urbano), onde não há a presença da canalização. Analisamos que o córrego passa por um processo de retilinização na área central, processo esse devido à canalização, isso aumenta o fluxo da água, algo que tem gerado no término da canalização as erosões marginais, provocadas pelo solapamento das margens, algo também discutido na cidade de Uberlândia-MG por (CARRIJO e BACCARO, 2000). Bom, o que observamos no córrego Tamanduá é que nem o código florestal e nem o código de postura do município possui uma aplicação na prática. O Lixo Urbano no Córrego O lixo é outro problema que tem gerado um impacto direto em córregos que cortam áreas urbanas no Brasil. O aumento da quantidade de lixo produzido pela sociedade de hoje, está ligado diretamente ao consumismo, que a cada dia tem aumentado e associado à grande produção de materiais descartáveis provocando um aumento na quantidade de lixo produzido (OLIVEIRA, 2005). Segundo (JACOBI, 2006), o descarte incorreto do lixo urbano pode comprometer a qualidade da água dos mananciais, o autor afirma que o lixo urbano descartado nas ruas ou em locais impróprios é levado para dentro dos mananciais, por meio das águas das chuvas e das galerias pluviais, gerando uma poluição e diminuindo a qualidade da água. Trazendo para nosso objeto de estudo esse problema é visível, mesmo se tratando de uma cidade de pequeno porte. Dessa forma temos um problema que não é só de responsabilidade do poder público, o qual deveria fiscalizar de forma acentuada, mas também da sociedade que necessita de uma educação sobre o descarte correto do lixo urbano.analisando o perímetro urbano do córrego Tamanduá percebe-se a presença de certa quantidade de lixo dentro do manancial, conforme nos mostra a figura 6. 9

Figura 6: Lixo no Córrego Tamanduá. Fonte: Pereira e Alves (2012) Figura 6: Córrego Tamanduá. Fonte Pereira e Alves (2012) A imagem é muito clara, demonstra que no córrego Tamanduá é possível observar claramente essa agressão, principalmente quando analisamos as regiões periféricas da cidade cortada pelo córrego, onde os próprios moradores descartam o lixo dentro do córrego ou em suas proximidades. Esse fato pode ser explicado ou relacionado, de acordo com (RAPÔSO, KIPERSTOK e CÉSAR, 2010), com má coleta do lixo urbano nessas regiões, algo que leva os moradores a descartarem esse lixo de forma incorreta em qualquer local. Mas esquecemos de que os mananciais são importantes tanto para o meio ambiente quanto para a sobrevivência do ser humano, sendo assim não é o melhor lugar para acondicionar o lixo, pois como afirma (JACOBI, 2006), os mananciais são essenciais para a vida do homem. Mas o lixo urbano tem sido um vilão que tem comprometido a qualidade da água dos mesmos. Esse processo tem ocorrido no córrego Tamanduá e como já foi citado, o que dá a parecer é que há uma omissão do poder público frente a essas questões. Pois não se observa ação alguma em defesa ou referente à preservação do manancial que corta o perímetro urbano da cidade de Iporá-GO. Considerações finais Podemos concluir que a ação do homem tem modificado a paisagem natural e como consequência a geração de um impacto no meio ambiente. O processo de urbanização ocorreu de maneira acentuada e proporcionou impactos de várias dimensões e intensidades. 10

As agressões feitas aos rios e córregos que cortam cidades sejam de grande, médio e pequeno porte, tem ocorrido de forma acentuada. No caso do córrego Tamanduá na cidade de Iporá-GO, percebemos agressões que ocorrem diariamente, que já fazem parte do cotidiano da sociedade. Percebe-se que não há uma preocupação por parte da sociedade e nem por parte do poder público em resolver a questão abordada. Ao analisar o ambiente urbano do qual o córrego faz parte chegamos à conclusão que mesmo por se tratar de uma cidade de pequeno porte, as agressões que são feitas ao córrego Tamanduá, são as mesmas que ocorrem em cidades de médio e grande porte, claro que em uma intensidade menor más de forma visível. A falta de uma política ambiental urbana e a ineficiência do plano diretor municipal tem contribuído e muito para o agravamento das agressões ao córrego. Observamos que mesmo tendo um código de postura que trata sobre as questões analisadas na pesquisa, concluímos que a ineficiência e omissão por parte do poder público tem sido visível. Cabe à sociedade tomar conhecimento, seja por meio das universidades e faculdades locais, ou por estudos feitos sobre a questão para que a mesma possa entender se educar e cobrar medidas do próprio poder público, para com as questões ambientais urbanas, e principalmente aqui as agressões feitas ao córrego Tamanduá. De acordo com (GUERRA e CUNHA, 2003), Na realidade para que o problema possa ser entendido de forma global, integrada, holística, devem-se levar em conta as relações existentes entre degradação ambiental e a sociedade causadora dessa degradação que, ao mesmo tempo sofre os efeitos e procura resolvê-los. Referências BORGES, M. José; GALBIATTI, J. Antonio; FERRAUDO, A. Sérgio. Monitoramento da Qualidade Hídrica e Eficiência de Interceptores de Esgoto em Cursos d Água Urbanos da Bacia Hidrográfica do Córrego Jaboticabal. Revista Brasileira de Recursos Hídricos. Vol 8 n2/ 2003. Disponível em: <http://www.abrh.org.br/novo/arquivos/artigos/v8/v8n2/monitoramento.pdf>. Acesso em: 29 Jun. 2012. BRASIL, Lei Federal (1965). Código Florestal Brasileiro Lei nº 4771, DF: Congresso Federal, 1965. CARLOS, Ana Fani Alessandri. O Espaço Urbano: Novos Escritos Sobre a Cidade. São Paulo: FFLCH; 2007-123 pg. CARRIJO, B. Rodrigues; BACCARO, C. A. Dallevedove. Análise Sobre a Erosão Hídrica na Área Urbana de Uberlândia (MG). Caminhos da Geografia Revista On Line. Instituto de Geografia (UFU), 2000. 11

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