Folkcomunicação; Indústria Cultural; Cultura Popular; Folclore.



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Transcrição:

ENTRE O POPULAR, O TRADICIONAL E O MASSIVO: COMO AS PASTORINHAS DE PARINTINS FAZEM REPERCUTIR SEUS PROCESSOS COMUNICACIONAIS 1 Soriany Simas Neves 2 Denize Piccoloto Carvalho Lévy 3 Resumo O estudo tem como objetivo principal compreender o processo de mediação do comunicador folk na cultura das pastorinhas, e como esses grupos folclóricos reconfiguram seus processos socioculturais e comunicacionais frente à sociedade da informação. A pesquisa se constitui em um estudo de caso, a partir da teoria da Folkcomunicação engendrada por Luís Beltrão e de teorias convergentes como a teoria neogramsciana acerca da cultura. Para tanto, a investigação tomará como roteiro quatro variáveis: a memória, o formato, o conteúdo e as mediações. No primeiro será identificado o que existe na memória coletiva sobre a manifestação. No formato serão descritos sua dinâmica, seus agentes. No conteúdo, as mensagens veiculadas pela festa. Nas mediações serão avaliadas as relações e interações com a mídia. A pesquisa espera demonstrar que a manifestação cultural tem adequado seus processos culturais e comunicacionais às dinâmicas da sociedade e das indústrias culturais. Palavras-chave Folkcomunicação; Indústria Cultural; Cultura Popular; Folclore. Introdução 1 Trabalho integrante de pesquisa de mestrado, em andamento, apresentado ao Grupo de Trabalho, Políticas e Ações de Comunicação, Cultura e Consumo do II Colóquio Binacional Brasil-México de Ciências da Comunicação, na ESPM, São Paulo, SP, em abril de 2009. 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade Federal do Amazonas UFAM e Professora do curso de Comunicação Social/Jornalismo do Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia de Parintins/AM da Universidade Federal do Amazonas. E-mail: sorissn@gmail.com. 3 Orientadora e professora do Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Ciências da Comunicação da Universidade Federal do Amazonas - UFAM. Dra em Educação - Universitat de les Illes Balears (2003) e Pósdoutorado em Tecnologia Educacional - Universitat de les Illes Balears (2007). Atualmente é professor Adjunto, Ms-C Nível III da Universidade Federal do Amazonas. Tem experiência nas áreas de Educação com ênfase em Tecnologia Educacional, e Artes com ênfase em Desenho Técnico, atuando principalmente nos seguintes temas: tecnologia da informação e comunicação; videojogos; educação, arte e educação; ensino-aprendizagem; condutas, cultura; interface; agentes inteligentes; inteligência artificial; cultura tecnológica, desenho geométrico e Artes. E-mail: dplevy@ufam.edu.br 1

As manifestações da cultura popular na contemporaneidade têm buscado novas formas de sobreviver e se fazer repercutir na sociedade em meio à onda da globalização e das Indústrias culturais, que de certo modo, forçam esses setores da cultura a redimensionarem seus processos sócio-culturais e comunicacionais. Basta analisar como as festas populares brasileiras têm ganhado maior visibilidade com a espetacularização da sua cotidianidade, em um processo em que o massivo, o popular, o tradicional, mistura-se de forma permanente. Mais importante que conservar a tradição da cultura popular, é compreender como essas culturas se impõem e se ajustam às transformações que se processam na sociedade, em termos políticos, econômicos, sociais e culturais. Nesse contexto, a cultura das pastorinhas como um sistema folkcomunicacional constitui-se como objeto de estudo dessa pesquisa que, situada na fronteira entre o Folclore e a Cultura de Massa, configura-se como um fenômeno que tem apresentado modificações no plano sócio-cultural e comunicacional. Com base nos pressupostos teóricos de Beltrão da Folkcomunicação e de teorias que tratam da cultura como processo comunicacional como os Estudos Culturais, as mediações discutidas por Martín Barbero e os processos de hibridação em Canclini, a pesquisa objetiva entender as mediações do comunicador-folk na cultura das pastorinhas, bem como as estratégias que esses grupos folclóricos lançam mão para se reposicionarem na pósmodernidade. Um dos indícios disso é que a cultura das pastorinhas, antes apenas restrita aos seus grupos de referência tem se ajustado às dinâmicas da sociedade, como por exemplo, incorporado demandas da indústria do turismo e das indústrias culturais nas suas apresentações como é o caso da criação e formatação de um festival pela Secretaria de Cultura do Município. Outro fato, que chama atenção é a dinâmica da rede de comunicação popular desses grupos folclóricos que se articulam há quase um século no município, em um processo de disseminação dessa cultura popular que vem resistindo às transformações ao longo dos tempos. A pesquisa busca responder como ocorre a constituição da rede de comunicação popular no grupo de Pastorinhas de Parintins e que interferências, transformações estão em curso, face suas interações com as indústrias culturais. Para isso a pesquisa se utilizará de quatro variáveis para analisar o fenômeno a memória, o formato, o conteúdo e as mediações, na tentativa de explicar a atuação do 2

comunicador-folk na cultura das pastorinhas e as transformações incorporadas por essa cultura popular. A cultura popular: entre o popular, o tradicional e o massivo Há muito se tem discutido o lugar do folclore e da cultura popular como processos subsidiários. O caráter pré-construído do popular é ainda marcante quanto se trata de sua interação com as indústrias culturais numa sociedade pós-industrial, em que a cultura se constitui como capital. Questões como perda da identidade, da tradição são preocupações recorrentes em debates acerca do que ocorre quando a cultura popular, o folclore, se utiliza dos meios mediáticos para ganhar repercussão e difundir sua memória. O receio disseminado pelos modernizadores neoiluministas de que a cultura popular deixaria de ser tradicional e perderia suas raízes com sua disseminação pelos mass média, não passa de um conservadorismo que nega a circularidade de saberes e retira do popular seu caráter inovador, uma vez que o popular se apropria dos instrumentos da cultura de massa para se difundir na busca de um regionalismo universal (SANTOS, 2007) O impasse contrapõe a própria dinâmica do conhecimento e da cultura popular em se transformar. Mesmo diante das amarras da modernidade ao tratar o popular como subsidiário, assiste-se a um movimento contrário na pós-modernidade que reconfigura a idéia do popular. A preocupação não mais se concentra na idéia da conservação, perda da identidade, na restrição do popular a uma esfera social, trata-se de ir além, ver o popular como parte integrante das transformações que repercutem na sociedade da informação, como expõe Canclini (2000, p.215-221): O desenvolvimento moderno não suprime as culturas populares tradicionais. Nas duas décadas após a emissão da carta não se acentuou o suposto processo de extinção do folclore, apesar do avanço das comunicações massivas e de outras tecnologias inexistentes [...] b. As culturas camponesas e tradicionais já não representam a parte majoritária da cultura popular [...] c. O popular não se concentra nos objetos, [...] O popular não é monopólio dos setores populares, [...] e. O popular não é vivido pelos sujeitos populares como complacência melancólica para com as tradições [...] 3

Isso tudo é desmistificado na pós-modernidade porque o popular, o tradicional, as culturas populares perdem o caráter imutável, estático, para serem concebidos como práticas sociais e processos comunicacionais. O que ocorre é uma apreensão do folk como processo híbrido e complexo que tanto pode ser uma reprodução do hegemônico como também dos setores populares, em uma reação de subjugação aos interesses hegemônicos. (CANCLINI, p. 220; 221). No cenário pós-moderno a cultura popular transnacionaliza-se por força do próprio movimento da conjuntura capitalista, impulsionada pela indústria do turismo e mediáticas que fazem com que essa cultura se recrie diante das transformações sociais, econômicas e tecnológicas. O fato é que o destino fatídico legado pela modernidade ao tradicional e as culturas populares não se concretizou porque os agentes culturais, atores que mais importam nos fenômenos culturais folk estão reinventando a todo tempo os processos sócio-culturais e comunicacionais, como argumenta Barbero (2006, p. 30) [...] na verdade, o que buscamos é algo radicalmente diferente: não o que sobrevive do outro tempo, mas o que no hoje faz com que certas matrizes culturais constituem tendo vigência, o que faz com que uma narrativa anacrônica se conecte com a vida das pessoas [...] A cultura da pastorinha de Parintins é um caso concreto do que Barbero chama de narrativa anacrônica, tendo em vista que essa manifestação se utiliza de cantigas que lembram os recitais de uma época medieval. No entanto, tem incorporado esses processos híbridos vistos em Canclini provenientes da interação da cultura popular com a de massa, vistos principalmente quando a tradição representada na sua origem por agentes rurais que se utilizam do folclore para disseminarem idéias, fatos e opiniões, convertem-se em espetáculo, em um ajuste às demandas da indústria cultural, fato que vêm dando fôlego a essas manifestações como se constata em: [...] os espaços ocupados pelas tradições populares na agenda midiática contemporânea correspondem a iniciativas destinadas a preservar identidades culturais ameaçadas de extermínio ou estagnação, quando confinadas em territórios pretensamente inexpugnáveis. Mas funcionam também como alavancas para a renovação dos modos de agir, pensar e sentir de grupos ou nações que, empurrados conjunturalmente para o isolamento mundial, refluem à incorporação de novidades. (MARQUES DE MELO, 2005, p. 2) 4

Dado a isso, a crença que se tem da perda da identidade e da tradição quando as culturas interagem com os processos da cultura massiva não se tem convertido em uma ameaça irreversível como foi proclamada por Adorno e Horkheimer, integrantes Escola de Frankfurt, pois casos como da cultura das Pastorinhas de Parintins mostram que quando difundidas pelos meios de comunicação de massa ganham nova forma de repercussão na sociedade, revivendo e reafirmando sua memória ao serem reinterpretadas pela mídia. A Folkcomunicação como teoria O interesse pelos estudos da cultura popular tem sido uma marca crescente entre os pesquisadores da comunicação na América-Latina constituindo-se, assim, como fonte de investigação para os pressupostos teóricos da Folkcomunicação, um campo de estudo onde os agentes comunitários têm papel ativo na mediação das mensagens midiáticas transcendendo, assim, o estudo da comunicação antes restrito ao âmbito dos meios de comunicação de massa e suas audiências para o campo da cultura e dos movimentos populares. Não é somente pelos meios ortodoxos a imprensa, o rádio a televisão, o cinema a arte erudita e a ciência acadêmica que, em países como o nosso, de elevado índice de analfabetos e incultos, ou em determinadas circunstâncias sociais e política, mesmo nas nações de maior desenvolvimento cultural, não é somente por tais meios e veículos que a massa se comunica e a opinião pública se manifesta. Um dos grandes canais de comunicação coletiva é, sem dúvida, o folclore. (BELTRÃO, p. 9, 1965 apud TRIGUEIRO, 2001a, p. 6) Hoje com as práticas cotidianas das manifestações de cultura popular cada vez mais na cena midiática, o conceito da Folkcomunicação é entendido como o estudo dos procedimentos comunicacionais pelos quais as manifestações populares ou do folclore se expandem, se socializam, convivem com outras cadeias comunicacionais, e se modificam [ ] ou ainda quando se apropriam dos meios massivos para esse fim. (HOHLFELDT, 2002 apud SCHMIDT, 2008, p.10) A cultura das Pastorinhas de Parintins, por se configurar como um fato folclórico que, segundo Marques de Melo (1998), proporciona a intercomunicação entre as sociedades urbanas e as sociedades rurais, insere-se na perspectiva da Folkcomunicação por ser potencialmente uma manifestação em que seus grupos se utilizam do folclore para disseminar seus ritos, tradições e que tem atendido as demandas da indústria do turismo e das indústrias culturais. 5

No Brasil, a Pastorinha é uma cultura popular tradicional, de origem ibérica, que celebra o nascimento de Jesus Cristo e é geralmente mais predominante no nordeste do país, onde é chamada também de pastoril. O ritual se constitui em uma peça teatral, cantada ao som de cavaquinhos, banjos, castanholas. Em Parintins, município do interior do estado do Amazonas, ainda se pode encontrar o maior número de grupos folclóricos dessa natureza (SILVA, 2005), no entanto essa cultura popular tem suas características e peculiaridades, a exemplo das indumentárias luxuosas diferente de outras regiões do Brasil que os componentes se vestem de forma igual e mais simples. Embora a identificação histórica da cultura das Pastorinhas possa ser encontrada na oralidade dos agentes culturais pertencentes à brincadeira, no município não se tem nenhum estudo acerca de sua origem, muito menos sobre os processos de comunicação desses grupos folclóricos, bem como a mistura entre o popular, o tradicional, e o massivo nesse espaço artístico-cultural. A brincadeira conserva a tradição e guarda um poder de mobilização daquelas comunidades de origem. O empenho e a articulação dos grupos folclóricos fizeram com que, em 2001, a apresentação da Pastorinha antes restrita aos barracões na periferia da cidade, ressurgisse com a criação do Festival das Pastorinhas organizado pelos próprios grupos e pela Igreja Católica. A partir disso, a cultura das pastorinhas de Parintins ganha dimensão de espetáculo, o que vem conferindo certo prestígio à tradição popular e maior identificação cultural com os grupos de referência. Outro ponto importante é a criação da Associação Cultural das Pastorinhas no município, com título de Utilidade Pública junto à Câmara Municipal, fato que veio promover maior organização e articulação junto às esferas Municipal e Estadual. Assim, pode-se afirmar que, com a revitalização da cultura das Pastorinhas no município, ocorre também a inclusão social, pois seus agentes na sua maioria são formados por grupos rurais e urbanos marginalizados da sociedade. Em Parintins, a tradição quase sempre nasce de uma promessa a um santo ou de uma graça alcançada. A exemplo disso pode-se citar a história do grupo de pastorinhas As Natalinas que conserva sua tradição há cerca de 60 anos. A origem dessa pastorinha se deu quando sua fundadora, Francisca Cataque, prometeu colocar a brincadeira depois que encontrou a imagem do Menino Jesus em uma gruta na Vila Amazônia, reduto histórico da colonização japonesa no município. Segundo relato de sua filha Rosa Cataque, ao encontrar a imagem resolveu fazer a promessa de colocar a pastorinha enquanto ela vivesse e suas filhas fossem solteiras. Algumas de suas filhas casaram e Francisca Cataque continuou com a 6

promessa. Com o tempo a família migrou da Vila Amazônia para Parintins onde, até hoje, conserva a tradição na sua residência, no bairro de Palmares. Essa é apenas uma das muitas versões de como se originou a brincadeira da Pastorinha, e de como os grupos folclóricos interagem nas comunidades de origem, mas que não dispõem de estudos sistematizados. Assim, pesquisa deixará como contribuição, o resgate histórico das pastorinhas no município, bem como sua formação e reconfiguração dos seus processos socioculturais e comunicacionais, face às novas exigências da contemporaneidade, de forma a compreender e identificar as estratégias das quais esses grupos folclóricos lançam mão para resistirem e se adaptarem às mudanças ao longo dos tempos. Os processos de comunicação na cultura É pela cultura que se pode perceber a riqueza do simbólico e onde se apresenta outra dimensão para se comunicar idéias, valores, conhecimentos. Para Laraia (2004, p.52) a comunicação é um processo cultural tão importante que não existiria cultura se o homem não tivesse desenvolvido um sistema articulado de comunicação oral, o que se permite afirmar que a comunicação é um processo que dá significado a existência humana, o que confere transcendência ao campo, muitas vezes apenas restrito aos estudos dos suportes midiáticos e seus efeitos. A pesquisa se assenta em uma análise dos nexos entre meios de comunicação e cultura popular a partir de estruturas mais amplas de interação social e não a partir da visão onipotente apenas dos meios de comunicação sustentadas pelas primeiras teorias da comunicação. É nesse sentido que se busca uma análise transdisciplinar dos estudos da comunicação com a cultura, como pondera Marques de Melo: Em todo o mecanismo de formação e evolução de uma cultura, a Comunicação desempenha papel fundamental. Como processo social básico que é a Comunicação representa o próprio motor da configuração do simbolismo que marca o fenômeno cultural. È através da comunicação que as gerações mais velhas transmitem às gerações mais novas o seu acervo de experiências, os símbolos, as normas, os mitos acumulados [...] (1998, p.187) A partir do pensamento de Melo é conveniente entrecruzar os estudos da Cultura e da Comunicação, mais especificamente da Folkcomunicação que constitui um campo para a pesquisa da Comunicação na América-Latina que, herdado dos Estudos Culturais Ingleses, os processos de comunicação são vistos sob a perspectiva das práticas cotidianas e das inter- 7

relações entre os agentes sociais, praticadas, sobretudo pelos agentes comunitários nas redes de comunicação interpessoais nos seus grupos de referência. Essa perspectiva da pesquisa dos processos de comunicação nas culturas populares, foi identificadas pelos estudos de Luiz Beltrão, em 1967, sobre o ex-voto como veículo de comunicação popular, de onde surgiram os estudos sobre Folkcomunicação, que, Beltrão definiu como [...] o conjunto de procedimentos de intercâmbio de informações, idéias, opiniões e atitudes dos públicos marginalizados urbanos e rurais, através de agentes e meios diretos ou indiretamente ligados ao folclore. (BELTRÃO apud MARQUES DE MELO, 1998, p.197) Para Beltrão no processo de folkcomunicação a mensagem é estruturada artesanalmente, veiculada horizontalmente e dirigida a uma determinada recepção constituída na sua maioria por membros de um grupo de referência primário, onde destaca a existência do líder de opinião como agente de comunicação social no sistema da comunicação popular. Reafirmando a importância de redes de comunicação informais em que o processo de comunicação ocorre de forma horizontal, Marques de Melo (1998, p 193) explica que o processo da comunicação coletiva não se esgota em si mesmo e sofre interferência do processo de comunicação interpessoal, ao passo que o fenômeno comunicativo, com seus efeitos culturais depende da dinâmica dos grupos dentro da sociedade, mediada pelos líderes de opinião em um fluxo de comunicação de múltiplas etapas. Para Trigueiro (2001) esses agentes comunicadores do sistema interativo local de comunicação, que Beltrão passou a chamar de agentes da folkcomunicação, são na realidade (inter)mediadores dos processos de recepção das mensagens midiáticas que circulam nos vários estágios de difusão nos grupos de referência, pois: Os agentes comunitários atuam com maior quantidade e qualidade de informação de acordo com o seu mundo cognitivo. Quanto maior for o campo de interesse comum entre o emissor e o receptor maior será o nível de recepção no campo da folkcomunicação. Os líderes de opinião na folkcomunicação atuam como interagentes socioculturais nas organizações e como mediadores na recepção das mensagens midiáticas. O comunicador folk líder de opinião é um sujeito atuante nos diferentes setores da comunidade, goza de prestígio no seu grupo social, independente da sua posição sociocultural, econômica e política. Tem credibilidade principalmente quando atua no seu terreno de maior conhecimento (TRIGUEIRO, 2001a, s.p) Logo, pode-se atribuir ao fato de as pastorinhas de Parintins ascenderem na mídia local e regional graças à ação e competência desses agentes comunicadores folk em estabelecerem redes de comunicação popular com os vários grupos de origem e com a mídia, 8

apropriando-se e reorganizando as mensagens midiáticas para o seu grupo de referência e utilizando-se de novas estratégias de comunicação com o objetivo de assegurar prestígio e visibilidade para essa cultura popular. Na visão de Trigueiro (2001) isso ocorre porque hoje os produtores da cultura folk estão ao alcance das mensagens midiáticas e incorporam os bens culturais midiáticos no seu cotidiano e decodificam para o sistema de recepções folk-midiáticas. Diferente de tempos atrás, quando os líderes de opinião que atuavam nesses grupos folclóricos não tinham acesso aos meios de comunicação de massa e apenas se restringiam em conservar a cultura dentro do próprio grupo de referência, ao contrário de hoje, em que se assiste a uma articulação mais interativa dos grupos folclóricos com a mídia e com o próprio poder público. Os grupos folclóricos dessa tradição têm acesso à informação e estão mais conscientes da importância da cultura para socialização e ocupação do seu espaço enquanto promotores da cultura na sociedade, tendo em vista que: Os produtores da cultura popular sempre tiveram canais próprios de comunicação, suas redes comunitárias de comunicação interligadas aos meios de comunicação social (rádio, televisão, gravação de CDs, computadores, jornais, revistas etc). Se em épocas atrás eram divulgados os feitos dos cangaceiros, da revolução de 30, os milagres de Padre Cícero, as Missões de Frei Damião, e a seca no Nordeste, agora são narrados também os novos acontecimentos históricos, políticos, religiosos, culturais e as grandes tragédias dos dias atuais veiculados pela mídia [...] Os jornais, as revistas, o rádio, a televisão e agora a Internet são fontes de informação dos líderes de opinião folk. O agente cultural-folk já não é mais um sujeito isolado do resto de mundo, tem acesso às novas tecnologias de comunicação, principalmente o rádio e a televisão, e assim se mantém cotidianamente conectado ao mundo globalizado.( TRIGUEIRO, 2001b, s.p) Por outro lado, o próprio cenário engendrado pela globalização permite a interatividade da cultura das mídias com a cultura folclórica devido às transformações no mercado de consumo dos bens culturais e da própria indústria do turismo que passa a reconhecer os produtores das culturas folclóricas. A sociedade atual vive momentos de grandes reformulações, de desenvolvimento de um novo mercado de consumo de bens culturais, da ampliação da área de alcance da mídia e consequentemente dessa onda globalizante que chega também aos produtores das culturas folclóricas. [...] As festas do Ciclo Junino no Nordeste, principalmente a de Campina Grande, na Paraíba e Caruaru em Pernambuco, o Festival do Boi-bumbá em Parintins, na Amazônia, a Festa de Rodeio em Barretos no interior de São Paulo e o Carnaval em todo território brasileiro são exemplos da apropriação das festas folclóricas pelos mídias e pela indústria do turismo.(trigueiro, 2001b, s.p) 9

Nessa via também inclui-se a cultura das Pastorinhas do município de Parintins, visto que a manifestação cultural vem recebendo investimentos por parte da Secretaria Municipal de Cultura e ganhando cada vez mais espaço e reconhecimento na mídia, graças à intervenção dos agentes de comunicação folk nos vários setores da sociedade, outro fato que pode ser observado são as transformações e utilização de novas tecnologias para reorganização de seus processos para maior visibilidade junto a sociedade. Percurso Metodológico O Método de Procedimento adotado será o Estudo de Caso, uma vez que se centrará no estudo da cultura das Pastorinhas no município de Parintins e o redimensionamento dessa cultura face às transformações na sociedade da informação, a partir das mediações do comunicador-folk com a mídia e com outras esferas. A pesquisa será descritiva, pois se sedimentará na observação, registro, análise, e interpretação dos fenômenos dos processos comunicacionais. As técnicas de coleta de dados utilizadas serão entrevistas semiestruturadas, e questionários. A pesquisa terá como roteiro quatro variáveis: a memória, o formato, o conteúdo e as mediações. a) Memória. Neste item será Identificado o que existe na memória coletiva sobre a manifestação cultural das pastorinhas. Para tanto serão realizadas entrevistas com pessoas ou familiares e ainda busca de registros em fontes bibliográficas e hemerográficas; b) Formato. Neste item será descrito como se desenvolve a manifestação cultural. Será feita uma descrição estrutural, sua dinâmica social, seus agentes culturais, suas fontes de sustentação econômica. Trata-se de caracterizar a manifestação cultural como ato comunicacional, bem como identificar os agentes codificadores dentro da manifestação, quais os canais de expressão, a que audiência se destinam, como se efetua a recepção, que efeitos produzem? c) Conteúdo. Serão identificadas quais as mensagens veiculadas pela festa, o seu significado em seu entorno social, na tentativa de resgatar sua programação, suas manifestações explícitas e sinais implícitos, bem como os entrecruzamentos entre o hegemônico e o subalterno. d) Mediações. Neste item serão avaliadas as relações da manifestação cultural com as instituições em seu entorno social, ao verificar que vínculos estabelecem com a mídia (jornais, revistas, rádio, TV), ou com outras atividades de mídia (agencias de publicidade, 10

marketing, relações públicas). Será descrito como a mídia se apropria de suas mensagens e as retransmite ou interfere no seu conteúdo, quais as outras instituições que participam da sua organização (escolas, igrejas, partidos, empresas, sindicatos), bem como quais interferências de natureza, como elas se fazem atuar. Conclusão A pesquisa espera constatar que a manifestação cultural, no caso específico das Pastorinhas de Parintins, tem adequado seus processos culturais e comunicacionais às dinâmicas da sociedade e das indústrias mediáticas, sofrendo influência, mas também exercendo certo poder simbólico, ao se utilizarem de instrumentos da comunicação massiva para redimensionarem seus símbolos, sua memória, suas tradições. Esse modo de agir desses grupos populares visto, sobretudo pela atuação do comunicador-folk nada mais é que uma forma de intervenção frente ao interesses hegemônicos. Em âmbito internacional e nacional a pesquisa irá contribuir para a ampliação dos estudos latino-americanos acerca das festas populares como processos comunicacionais, além de redirecionar os estudos da disciplina da folkcomunicação para a compreensão dos fenômenos do folclore frente aos processos mediáticos das Indústrias culturais. Referências CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: EDUSP, 4. ed. 2003. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 17. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. MARTÍN BARBERO, Jesus. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997. MELO, José Marques de. Teoria da comunicação: paradigmas latino-americanos. Rio de Janeiro: Vozes, 1998.. Mídia e cultura popular: História, taxionomia e metodologia da folkcomunicação. São Paulo: Paulus, 2008. SILVA, Mary Marvel da. Pastorinhas do Amazonas se organizam. Parintins. Centro Educacional de Valorização Social da Cultura e da Arte no Amazonas (CEVASC), 28 out. 2006. Resultado da I Conferência da Cultura Popular. Entrevista concedida a Soriany Simas Neves. 11

SCHMIDT, Cristina. Folkcomunicação: estado do conhecimento sobre a disciplina. Disponível em > http://www.intercom.org.br/bibliocom/zero/pdf/schmidt.pdf.> Acesso em 09 Dez.2008. SANTOS, M. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal. 14 ed. Rio de Janeiro: Record, 2007. TRIGUEIRO, Osvaldo. O Estudo Científico da Comunicação: Avanços Teóricos e Metodológicos ensejados pela Escola Latino-Americana. Vol 2. N 2. Janeiro/Fevereiro/Março 2001. Disponível em> http://www2.metodista.br//unesco/pcla/revista6/artigo%206-3.htm> Acesso em: 12 out. 2007.. A Folkcomunicação e as múltiplas (inter)mediações culturais da audiência da televisão. Disponível em>http://bocc.ubi.pt/pag/trigueiro-osvaldofolkcomunicacao.pdf> Acesso em 09 Jun. 2006. 12