1ª AULA: TEORIA GERAL DO PROCESSO PENAL - CONSTITUIÇÃO FEDERAL: Art. 1º, Único da CF: FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL:

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Transcrição:

1ª AULA: TEORIA GERAL DO PROCESSO PENAL - CONSTITUIÇÃO FEDERAL: Art. 1º, Único da CF: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL: MATERIAIS - União; - Estado (se houver delegação por lei complementar) Fontes do processo penal FORMAIS FONTES IMEDIATAS Constituição Federal; Legislação Federal infraconstitucional; Tratados, Convenções e regras do Direito Internacional. FONTES MEDIATAS Costumes; Princípios gerais do direito; Analogia; Doutrinas; Jurisprudência; Direito Comparado. 1/18

FONTES MATERIAIS DO PROCESSO PENAL - União: A fonte material por excelência é a União, isto a luz do artigo 22, inciso I da Constituição Federal, vejamos: Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; - Estado: Excepcionalmente, o Estado também gera fonte material do direito, desde que haja autorização da União para legislar a respeito de determinado assunto. O Estado poderá criar leis que tratem de assuntos específicos de processo penal, isto a luz do Parágrafo Único da Constituição Federal, que diz: Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. Como se vê, os Estados possuem competência concorrente. O caput do artigo 22 da Constituição Federal deixa estreme de dúvidas que a competência é exclusiva, e não privativa. Assim sendo, é perfeitamente possível o Estado legislar em determinados assuntos sobre direito processual penal. Para corroborar o acima ventilado, podemos trazer o artigo 24 da Constituição Federal, que nos ensina: Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; II - orçamento; III - juntas comerciais; IV - custas dos serviços forenses; V - produção e consumo; VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; 2/18

VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; IX - educação, cultura, ensino e desporto; X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas; XI - procedimentos em matéria processual; XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; XIII - assistência jurídica e Defensoria pública; XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência; XV - proteção à infância e à juventude; XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis. 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. DAS FONTES FORMAIS IMEDIATAS DO DIREITO - Constituição Federal: Trata-se da maior norma a ser respeitada. Promulgada em 1988 dá as diretrizes a serem seguidas, bem como limita o poder estatal para evitar abusos e arbitrariedades. - Legislação infraconstitucional: trata-se, normalmente, de leis editadas pelo Congresso nacional, em face da competência privativa da União para legislar sobre processo penal (art. 22, I da CF). - Os Tratados, Convenções e regras de Direito Internacional: Como já vimos, trata-se de fonte 3/18

formal imediata de direitos (art. 5º, 2º e 3º da CF.). Os tratados e convenções são de cunho supralegal, ou seja, está abaixo da Constituição Federal, e acima das normas infraconstitucionais, desde que a lei seja anterior ao tratado. Se após do tratado vier uma norma infraconstitucional, prevalece esta última, ou seja, a nova lei. DAS FONTES FORMAIS MEDIATAS DO DIREITO - Costumes: São as regras reiteradas às quais se agrega uma consciência de obrigatoriedade. Para a elaboração de determinada norma, deve-se ater o legislador aos costumes da comunidade ou sociedade. - Princípios Gerais do Direito: embora não esteja escrito nas normas, esses princípios existem de forma implícita. Ex. o direito não acolhe aos que dorme; ninguém pode se valer da própria torpeza, etc. - Analogia: Consiste em entender a um caso não previsto aquilo que o legislador previu para outro caso, desde que em igualdade de condições. - Doutrina: Consiste na opinião manifestada pelos operadores do direito ou estudiosos sobre determinado tema. - Jurisprudência: É o entendimento consubstanciado em decisões judiciais reiteradas sobre determinado assunto. - Direito Comparado: Embora, normalmente, não possuem aplicação no direito brasileiro, as normas jurídicas existentes em outras nações fornecem, em muitos casos, subsídios importantes para a solução de problemas comuns em vários países, inclusive inspirando a produção de leis sobre assunto específicos. 4/18

PRINCÍPIO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL: - O que é princípio? É a base das normas, e, por muitas vezes, por ter cunho inicial, tem maior valor que a própria norma. É a origem de tudo, base para legislar e julgar determinados atos. - Princípio da Verdade Real: também conhecido como princípio da verdade material ou da verdade substancial. Para o processo penal, o que interessa na realidade é a verdade dos fatos, ou seja, o que efetivamente aconteceu em determinado caso. Daí, por vezes, vemos que embora o acusado tenha confessado determinado delito, acaba por ser absolvido. É justamente o contrário do direito civil, que por sua vez vige o princípio da verdade ficta. Noutras palavras é dizer que, no direito civil não importa a verdade de fato, mas sim se o requerido não responder a ação civil, o juiz pode entender serem verdadeiros os fatos narrados na inicial. - Princípio da Iniciativa das Partes: as partes estão obrigadas a cumprir com suas obrigações processuais. Ex. o Promotor de Justiça tem o dever, se assim entender ser o fato definido como crime e sua autoria, denunciar o acusado. Por outro lado, o acusado tem que defender-se. - Princípio do Devido Processo Legal: está consagrado em nossa Constituição Federal em seu artigo 5º, incisos LIV e LV, que diz: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; 5/18

Para que um indivíduo possa ser condenado ou absolvido, tem de se respeitar o devido processo legal, pois, do contrário, o processo é manifestamente nulo, podendo, inclusive, ser reiniciado a partir do vício (do erro ou da inobservância deste princípio e de outros). Ex. Caso a denúncia feita pelo Promotor de Justiça não tenha a prova da materialidade do crime que deixa vestígio, esta não poderá ser recebida pelo Magistrado; o acusado ser interrogado antes das oitivas das testemunhas (seja de acusação ou de defesa), também gera nulidade absoluta; processo conduzido por juiz suspeito ou impedido, etc. - Vedação à Utilização de Provas Ilícitas: provas obtidas por meios ilícitos, como tal consideradas aquelas que afrontam direta ou indiretamente garantias tuteladas pela Constituição Federal, não poderão, em regra, ser utilizadas no processo criminal como fator de convicção do juiz. O artigo 157 do Código de Processo Penal no traz: Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. Ex. a intercepção telefônica sem ordem da autoridade competente; confissão mediante tortura, etc. No entanto, há entendimento majoritário na doutrina que admite a produção de prova ilícita em favor do acusado, isto quando for o único meio de provar sua inocência, pois, como é cediço, não há direito com proteção absoluta. - Princípio da Presunção de Inocência: também chamado de princípio da não culpabilidade ou estado de inocência. 6/18

Trata-se de um desdobramento do princípio do devido processo legal. Tal princípio está esculpido em nossa Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LVII: LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; Todo acusado é presumidamente inocente, podendo ser considerado culpado somente após o término definitivo do processo penal. Em razão deste princípio, acaba por ocorrer a inversão da prova, ou seja, é o promotor de justiça que deve provar que o acusado/réu é culpado, e não o acusado provar que é inocente. Caso haja dúvidas quanto a autoria ou materialidade do crime, (se foi o acusado quem praticou o crime, ou se o fato existiu), a melhor decisão é a absolvição com base no artigo 386, incisos II, V e VII do Código de Processo Penal, que diz: Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: II - não haver prova da existência do fato; V não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; VII não existir prova suficiente para a condenação. Noutras palavras é dizer que a dúvida favorece exclusivamente a defesa, mas nunca a acusação. Havendo dúvidas, o acusado deve ser absolvido. - Princípio da obrigatoriedade de motivação das decisões judiciais: Tal exigência se encontra no artigo 93, inciso IX da Constituição Federal: Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, 7/18

podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; Caso o magistrado não motive e fundamente suas decisões, esta deve ser anulada, não gerando efeitos no mundo jurídico. Aliás, é proibido o magistrado formar sua convicção em provas produzidas exclusivamente em campo de inquérito policial, artigo 155 do Código de Processo Penal: Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. As provas produzidas em campo de inquérito policial devem ser ratificadas em juízo, pois o inquérito policial não está sob o crivo do contraditório e da ampla defesa. - Princípio da Publicidade: como regra, todo processo penal e inquérito policial são público, salvo a algumas exceções. Tem por finalidade este princípio a transferência que o Estado deve ter, demonstrando a imparcialidade e lisura que conduz os procedimentos e processos. - Princípio da imparcialidade do juiz: todo juiz deve ser imparcial, julgar sem a intenção de favorecer ou prejudicar quem quer que seja. No entanto, caso o juiz seja suspeito ou impedido, não poderá julgar a causa sob pena de violação deste princípio. 8/18

Art. 112. O juiz, o órgão do Ministério Público, os serventuários ou funcionários de justiça e os peritos ou intérpretes abster-seão de servir no processo, quando houver incompatibilidade ou impedimento legal, que declararão nos autos. Se não se der a abstenção, a incompatibilidade ou impedimento poderá ser argüido pelas partes, seguindo-se o processo estabelecido para a exceção de suspeição. Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que: I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito; II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha; III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão; IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito. Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes: I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles; II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia; III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes; IV - se tiver aconselhado qualquer das partes; V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes; VI - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo. 9/18

O que se busca com base neste princípio é justamente uma decisão correta, justa, eficaz e desprovida de qualquer fato ou ato que possa gerar prejuízo ao acusado ou a sociedade. - Princípio da Isonomia Processual: As partes, em juízo, devem contar com as mesmas condições, oportunidades e tratamento, tudo de forma igualitária. Há quem sustente o seguinte entendimento: tratar os iguais com igualdade, os desiguais com desigualdade na medida de sua desigualdade. Ex. um juiz de direito não pode ser julgado por um juiz de 1º grau, mas sim pelo Tribunal de Justiça. Percebe-se neste caso que, embora todos são iguais perante a lei, há algumas situações de que há diferença em determinados casos. - Princípio do Contraditório: este princípio apresenta-se com um dos mais importantes no sistema acusatório. Trata-se do direito assegurado as partes de serem cientificadas de todos os atos e fatos havidos no curso do processo, podendo manifestar-se a respeito e produzir provas necessárias antes de ser prolatada a sentença penal. O direito ao contraditório, sob a ótica do réu, guarda estreita relação com a garantia da ampla defesa. Entretanto, comparadas as duas garantias, o contraditório possui maior abrangência do que a ampla defesa, visto que alcança não apenas o polo defensivo, mas também o polo acusatório, na medida em que a este também deva dar ciência e oportunidade de contrariar os fatos praticados pela parte ex adversa. - Princípio da Ampla Defesa: Consagrada no artigo 5º da Constituição Federal, a ampla defesa traduz um dever que assiste o Estado de facultar ao acusado toda a defesa possível quanto a imputação que lhe foi realizada. Este princípio, como já estudamos anteriormente, guarda intrínseca relação com o contraditório. 10/18

O acusado tem o direito de produzir todas as provas pertinentes a acusação, desde que lícitas, ou, como já vimos, ilícitas se for o único meio de provas sua inocência. - Princípio do Dublo Grau de jurisdição: Este princípio se concretiza mediante a interposição de recursos, decorrente da necessidade de possibilitar a determinados órgãos do Poder Judiciário a revisão de decisões proferidas por juízes ou tribunais sujeitos a sua jurisdição. Tanto a defesa, quanto a acusação tem como regra o direito de recorrer da decisão que lhe venceu, ou, noutras palavras, não foi a decisão mais acertada de acordo com seus interesses. - Princípio do Juiz Natural: este princípio decorre do artigo 5º, inciso LIII da Constituição Federal, que diz: LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; Compreende-se, assim, da análise do inciso LIII que a pretensão a ele incorporada objetiva assegurar ao acusado o direito de ser submetido a processo e julgamento não apenas pelo juízo competente, mas também, pelo órgão do Poder Judiciário regularmente investido e imparcial. - Princípio do Promotor Natural: tem a mesma previsão legal que do princípio do juiz natural, uma vez que no dispositivo constitucional é utilizado o verbo processado. Não se olvidando de que quem é titular da ação penal nas ações públicas incondicionada é a pessoa do promotor de justiça, o acusado tem o direito de saber que o acusará, sendo defeso a nomeação de determinado promotor para atuar especialmente em determinados casos. Na verdade, a ofensa ao princípio do promotor natural ocorre nas hipóteses que presumem a figura do 11/18

acusador de exceção, lesionando o exercício pleno e independente das atribuições no Ministério Público. PRINCÍPIOS QUE INFORMAM O PROCESSO PENAL - Princípio da legalidade ou da obrigatoriedade: os órgãos aos quais é atribuída a persecução criminal não possuem poderes discricionários para agir ou deixar de agir em determinadas situações segundo o critério da oportunidade e conveniência. Todo ato administrativo e judicial, deve estar amparado em lei e devidamente motivado e fundamentado. Ex. o delegado de polícia, ao receber uma notícia de um crime, não está desobrigado a instaurar o inquérito policial, ao contrário, é dever de ofício, está obrigado a instaurar o inquérito policial; o promotor, ao receber o inquérito policial, está obrigado a oferecer a denúncia, desde que presentes os requisitos para tanto. - Princípio da oficiosidade: Trata-se de desdobramento da legalidade, significando que a autoridade policial e o Ministério Público devem agir ex officio visando à apuração dos crimes de ação penal pública, não devendo, salvo as hipóteses que exigem representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça, aguardar a provocação de eventuais interessados (artigos 5º, 4º e 5º, e 24 do Código de Processo Penal). - Princípio do Impulso Oficial: uma vez instaurado o processo criminal, o juiz, de ofício, ao encerrar cada etapa procedimental, deve determinar que se passe à seguinte, sem que, para esse fim, seja necessário requerimento das partes. Justifica-se o princípio na circunstância de que ao Estado compete o jus puniendi, sendo que o seu interesse em exercê-lo independe de ser titular da ação penal o Ministério Público ou particular. 12/18

- Princípio da oficialidade: possui fundamento legal nos artigos 129, I, e artigo 144, 4º, ambos da Constituição Federal, bem como no artigo 4º do Código de Processo Penal. Importa no sistema vigente, em atribuir a determinados órgãos do Estado a apuração de fatos delituosos (persecução penal), bem como a aplicação da pena que vier, eventualmente, a ser fixada. Para apuração de crime, somente o Estado tem poderes e competência para tanto, jamais o particular. - Princípio da Indisponibilidade: consagrado em vários dispositivos do Código de Processo Penal, como por exemplo, o artigo 17 do mesmo codex, que proíbe o delegado de polícia arquivar o inquérito policial; o artigo 42, que estabelece que o Ministério Público não poderá desistir da ação penal pública, e o artigo 576, que impede o Ministério Público de desistir do recurso que haja interposto. - Princípio da identidade física do juiz: consiste na vinculação do juiz aos processos cuja instrução tivesse iniciado, de sorte que não poderia o feito ser sentenciado por outro magistrado distinto, isto a luz do artigo 399, 2º do Código de Processo Penal, que diz: Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente. 2º O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. Não se aplica este princípio em casos de convocação para outra instância, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado. - Princípio do in dubio pro reo ou favor rei: Em caso de dúvida, é de rigor a absolvição, como já visto no princípio da inocência. 13/18

SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS No direito comparado, são três espécies de sistemas processuais (tipos de processo penal): sistema acusatório, sistema inquisitivo e sistema misto. - Sistema Acusatório: próprio dos regimes democráticos, sistema acusatório caracteriza-se pela distinção absoluta entre as funções de acusar, defender e julgar, que deverão ficar a cargo de pessoas distintas. Chama-se sistema acusatório porque ninguém poderá ser chamado em juízo sem que haja uma acusação, por meio da qual o fato imputado seja narrado com todas as suas circunstâncias. Assegura-se o contraditório e ampla defesa, sendo garantido neste sistema que a defesa se manifeste somente após a manifestação da acusação. - Sistema Inquisitivo: típico dos sistemas ditatoriais, contempla um processo judicial em que podem estar reunidas na pessoa do juiz as funções de acusar, defender e julgar. O acusado, praticamente, não possui garantias no decorrer do processo criminal (ampla defesa, contraditório e devido processo legal etc.). - Sistema Misto: classicamente, define-se sistema processual misto como aquele que abrange duas fases processuais distintas: uma a fase inquisitiva, destituída de contraditório, publicidade e ampla defesa, na qual são realizadas uma investigação preliminar e uma instrução preparatória, sob o comando do juiz; e outra, a fase de julgamento, em que são asseguradas ao acusado todas as garantias do processo acusatório, em especial a isonomia, o direito de manifestar-se após a acusação e a publicidade. No Brasil, a corrente majoritária entende que o sistema adotado no Brasil é o sistema acusatório. 14/18

DOS RITOS PROCESSUAIS Temos o rito sumaríssimo, sumário e o ordinário. Diferencia-se um rito do outro em razão da pena aplicada ao delito. - Sumaríssimo: quando a pena for de até dois anos ou contravenção penal. O número de testemunha que pode ser arrolada é até o número de três, se contravenção, pois, se for considerado crime, é possível arrolar até cinco testemunhas. - Sumário: quando a pena for superior a dois e não ultrapasse a quatro anos. Neste rito é permitido arrolar até cinco testemunhas. Ex. homicídio culposo. - Ordinário: quando a pena for superior a quatro anos. Neste rito é permitido arrolar até 8 testemunhas. Obs. No rito do Tribunal do Júri, que é um rito especial, é permitido arrolar oito testemunhas na primeira fase e cinco na segunda, totalizando 13 testemunhas. Exceção: Crimes de tóxicos, que são cinco testemunhas. TIPO DE AÇÕES PENAIS PÚBLICA CONDICIONADA A Representação do ofendido ou (CADE); Requerimento do Ministro da Justiça AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONAD A Independe de representação ou requerimento. PRIVADA Propriamente dita: queixa crime. Prazo de 6 meses. Ação Penal Privada Personalíssima. Prazo de 6 meses. (art. 236 do CP.) Subsidiária da pública: quando o Promotor de Justiça fica inerte. Prazo de 6 meses. 15/18

Como regra, todas as ações penais referentes ao crime ambiental são de ação penal pública incondicionada, isto a luz do artigo 26 da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que diz: Art. 26. Nas infrações penais previstas nesta Lei, a ação penal é pública incondicionada. No entanto, por força do artigo 29 do Código de Processo Penal, é possível a interposição de ação subsidiária da pública, vejamos: Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. O prazo para o Ministério Público propor a ação penal através da denúncia é de cinco dias, se o réu estiver preso, ou de quinze dias se réu solto. COMPETÊNCIA PARA AÇÃO PENAL De acordo com o artigo 109, inciso I da Constituição Federal, os Juízes Federais podem julgar crimes quando estes forem praticados contra a União. Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as 16/18

sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; Caso o crime tenha sido praticado contra o Estado, caberá a Justiça Estadual julgar. Noutras palavras é dizer que a competência se dá em razão do sujeito passivo (vítima). FASES DA AÇÃO PENAL NO RITO ORDINÁRIO A ação penal, seja ela de competência da justiça federal ou estadual, deve seguir o disposto no Código de Processo Penal. No entanto, se for crime de menor potencial ofensivo, apenas até dois anos, o rito é da Lei 9099/95. A Ação penal, em primeiro grau, inicia-se com o recebimento da denúncia ofertada pelo Ministério Público e termina com a sentença penal prolatada pelo Magistrado. 2 Recebimento da denúncia 4 Oitiva de testemunhas de acusação 6 Interrogatório do acusado 8 Interrogatório do acusado 10 Sentença 1 3 5 7 9 Oferecimento da denúncia Prazo de 10 dias para resposta a acusação Oitiva de testemunhas de defesa Diligências Memoriais No entanto, a Lei de crimes ambientais (Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998), prevê casos de transação penal, isto a luz dos artigos 27 e 28 e seus incisos, vejamos: Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia 17/18

composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade. Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações: I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o 5 do artigo referido no caput, dependerá de laudo de constatação de reparação do dano ambiental, ressalvada a impossibilidade prevista no inciso I do 1 do mesmo artigo; II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no artigo referido no caput, acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo da prescrição; III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do 1 do artigo mencionado no caput; IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de constatação de reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser novamente prorrogado o período de suspensão, até o máximo previsto no inciso II deste artigo, observado o disposto no inciso III; V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de punibilidade dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado tomado as providências necessárias à reparação integral do dano. 18/18