1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO MARANHÃO, por seu representante legal infra-assinado, com fundamento nos art. 129, inciso III e 1º, da Carta Magna, art. 25, inciso IV, alínea b, da Lei Federal 8.625/93, art. 172, inciso II, do Código Civil, e arts.4º, 9º, 12, incisos I e II, 17 e 23, inciso I, da Lei Federal 8.429/92, vem perante Vossa Excelência promover a presente AÇÃO CAUTELAR DE PROTESTO, sob o rito previsto nos arts. 867/872 do Código de Processo Civil, em face de qualificação (nome, nacionalidade, estado civil, profissão, data de nascimento, CPF, domicílio), pelos motivos a seguir descritos: 1 DOS FATOS No dia 10 de outubro de 2006 encerrou-se o prazo estabelecido no art. 50 da Lei nº10.257/2001, para que todos os municípios brasileiros com mais de 20.000 habitantes aprovassem seus Planos Diretores, em atenção ao que dispõe o art.182, 1º da Constituição da República. O município de..., no qual o Sr (a)xxxxxx exerceu mandato de Prefeito no período de 2001/2004, se enquadra na hipótese prevista no art.50 da Lei nº10.257/2001, eis que possui... habitantes conforme o censo de 2000, critério utilizado pelo art.1º 1º da Resolução nº25/2005, do Conselho das Cidades. Conforme certidão expedida pela Câmara Municipal de..., não foi cumprido o prazo estabelecido pelo Estatuto da Cidade (especificar se o plano foi aprovado fora do prazo, ou se ainda não foi aprovado mas se encontra na Câmara Municipal, ou se nem foi enviado à Câmara Municipal). Assim como o atual prefeito, o Sr.... ex-prefeito, incorreu em ato de improbidade administrativa, previsto no art.52 VII da Lei nº10.257/2001, posto que não adotou as providências necessárias a assegurar o cumprimento do prazo de aprovação do Plano Diretor.
2 Em virtude disso, foi instaurado o inquérito civil nº..., destinado a apurar, detalhadamente, as responsabilidades do ex-prefeito e do atual, assim como a de outros agentes públicos que tenham concorrido para o ato de improbidade. 2 DOS FUNDAMENTOS Ocorre, porém, que o prazo prescricional dos atos de improbidade eventualmente praticados pelo Sr(a)..., ex-prefeito do Município... se encerra no dia 31/12/2009. A investigação dos atos de improbidade administrativa poderá sofrer as demoras inerentes a uma apuração minuciosa dos fatos, razão pela qual, há que se prevenir eventual ocorrência de prescrição intercorrente. Observe-se que a natureza dos fatos a serem apurados, mormente quanto à responsabilidade de outros agentes públicos, pode sofrer os mais diversos obstáculos, indo desde a sonegação de informações até a dificuldade de localizar ex-agentes que tenham se mudado para outras localidades. Além disso o Ministério Público deverá propor ações cautelares e pelo menos uma Ação Civil de Responsabilidade por Ato de Improbidade Administrativa em face de todos eles, nos moldes previstos na Lei n. 8.429/92, e nos arts. 282 e seguintes do Código de Processo Civil. Como a prescrição dos atos de improbidade administrativa ocorrerá em 31/12/2009 (art. 23, I, da Lei n. 8.429/92), necessário se faz, em benefício do interesse público, citar e intimar formalmente o demandado dos fatos supramencionados e de sua responsabilidade civil, em especial para que se opere o efeito interruptivo previsto no art. 202, inciso II, do Código Civil Brasileiro, e que fique ciente de sua possível responsabilidade civil (art.11 da Lei n. 8.429/92). 2.1 Cabimento do Protesto Judicial A prescrição pressupõe a inércia daquele que possui um direito ou legítimo interesse. Na lição de CÂMARA LEAL 1, é a perda de uma ação ajuizável, em virtude da inércia de seu titular durante um certo lapso de tempo, na ausência de causas preclusivas de seu curso. Enquanto a decadência incide sobre o direito material, a prescrição opera em relação à ação que protege o direito material. Nos termos do art. 23, inciso I, da Lei n. 8.429/92, as Ações Cautelares e a Ação Civil de Responsabilidade por Ato de Improbidade 1 Da Prescrição e Decadência, p. 9, Rio de Janeiro, Forense, 1978.
3 Administrativa devem ser propostas em até 5 (cinco) anos contados da data do término do mandato eletivo: Capítulo VII DA PRESCRIÇÃO Art. 23. As ações destinadas a levar a efeito as sanções previstas nesta Lei podem ser propostas: I até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança; (...) (g.n.) Considerando que o(a) Sr.(a)... deixou o cargo de Prefeito do Município de... em 31/12/2004, a prescrição dos atos irregulares e ímprobos a ele imputados, bem como aos demais demandados (art.3º da Lei n. 8.429/92), deverá ocorrer em 31/12/2009. O protesto judicial é um dos meios hábeis para que seja interrompida a prescrição, consoante expressa determinação contida no art. 202 do Código Civil: Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: I por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual. II - Por protesto, nas condições do inciso antecedente. (...) (g.n.) O Código de Processo Civil, por sua vez, dispõe, em seu art. 867, que todo aquele que desejar prevenir responsabilidade, prover a conservação e ressalva de seus direitos ou manifestar qualquer intenção de modo formal, poderá fazer por escrito o seu protesto, em petição dirigida ao juiz, e requerer que do mesmo se intime a quem de direito (g.n.). O que pretende o Ministério Público através da presente medida é interromper a prescrição do prazo previsto no art. 23, I, da Lei n. 8.429/92 (que começará a correr novamente a partir da determinação da citação e intimação), prevenir a responsabilidade do demandado, prover a conservação de direitos do Município de... e manifestar a intenção de modo formal quanto às ações previstas na Lei n. 8.429/92, especialmente as Ações Cautelares e a Ação Civil de Responsabilidade por Ato de Improbidade Administrativa. Sobre o cabimento da medida, para fins de interrupção da prescrição, já decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo o seguinte: Não é qualquer protesto judicial, feito ao prescribente, que tem a virtude de interromper a prescrição. Essa interrupção deve resultar do propósito expresso do titular, manifestando a intenção de realizá-la, pelo que o protesto deve ser feito expressamente para esse fim. Não basta, pois, um protesto genérico, sem individualização do fim para que é feito, mas é mister
4 que o titular declare, de modo explícito, que ele tem por fim interromper a prescrição. 2 Segundo tem decidido nossos tribunais 3, não se aplica ao protesto judicial o disposto no art. 806 do Código de Processo Civil, de sorte que não é necessário propor a ação principal no prazo de 30 dias, contados da efetivação da medida. A determinação da citação e intimação do demandado deverá ser efetivada através de decisão fundamentada, da qual, inclusive, cabe agravo de instrumento 4. 2.3 Da ação principal Nos termos do art. 801, inciso III, do Código de Processo Civil, cabe ao autor da ação cautelar declarar a lide principal a ser proposta e o seu fundamento, não havendo no texto qualquer distinção entre as medidas conservativas de direito e as medidas preparatórias. A ação principal que deverá ser proposta pelo Ministério Público é a Ação Civil de Responsabilidade por Ato de Improbidade Administrativa, prevista no art. 11, caput e art. 12, inciso III, da Lei n. 8.429/92. O fundamento da referida ação é o descumprimento do prazo previsto no art.50 da Lei Federal nº10.257/2001. Excelência, que: 3 DO PEDIDO Diante do exposto, requer o Ministério Público a Vossa A) Seja recebida esta petição inicial de medida cautelar de protesto judicial (arts. 867 e 868 do Código de Processo Civil), com os documentos que a instruem. B) Seja determinada, através de decisão fundamentada, a citação e intimação pessoal do demandado... para que tome ciência formal de todos os termos da presente medida cautelar, pela qual o Ministério do Estado do Maranhão faz o seu Protesto especificamente sobre: I) a interrupção do prazo prescricional da Ação de Responsabilidade Civil por Atos de Improbidade Administrativa previsto no art. 23, inciso I, da Lei n. 8.429/92 (art. 202, inciso II, do Código Civil) e que ocorreria em 31/12/2009, contando-se novo prazo de 5 (cinco) anos a partir da data da decisão de citação e intimação; II) a 2 Acórdão unânime da 4ª Câmara do TJSP de 13/12/1984, ap. 55.125-1, Rel. Des. Macedo Bittencourt (in Alexandre de Paula, Código de Processo Civil Anotado, v. 3º, 5ª ed., p. 3.277, S. Paulo, RT, 1.992). 3 Neste sentido, decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo: A medida cautelar de protesto tem função meramente conservativa. Não se lhe aplica o prazo de caducidade do art. 806 do CPC, eis que a atividade jurisdicional se encerra com o deferimento da inicial, sendo descabido falar-se em cessação dos efeitos da medida (TJSP, 6ª Câmara, j. 03/08/1989, Rel. Des. Ernani de Paiva, RTJSP 122/185, in Alexandre de Paula, ob. cit. p. 3.279, g.n.). 4 RJTJSP n. 103/315 (in Theotonio Negrão, op cit. p. 782)
5 responsabilidade civil do mesmo demandado quanto ao ato ímprobo já descrito, notadamente o descumprimento do prazo do art.50 da Lei nº10.257/2001; III) a intenção expressa do autor no tocante à conservação de direitos do Município de... C) Se necessário, seja efetivada a intimação do demandado por edital, nos termos do art. 870, inciso III, do Código de Processo Civil. D) Após a citação e intimação dos demandados, sejam os autos encaminhados à Promotoria de Justiça para que possam ser anexados ao Inquérito Civil n.... E) Seja efetivada a intimação pessoal do Ministério Público do Estado do Maranhão. F) Sejam as partes dispensadas do pagamento custas processuais e honorários advocatícios, tendo em vista que se trata de pedido ministerial. 4 VALOR DA CAUSA Dá-se à causa o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por simples arbitramento. Nestes termos, p. deferimento. Local, data. Assinatura.