A CIDADE COMO TELA PARA AS MANIFESTAÇÕES. MACHADO, Gustavo R. 1 RESUMO
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- Maria das Neves Castelo de Caminha
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1 A CIDADE COMO TELA PARA AS MANIFESTAÇÕES MACHADO, Gustavo R. 1 RESUMO A arte como materialização dos processos de comunicação, já vem sendo utilizada por muito tempo, porém só a partir de 1960, com a ruptura dos padrões elitista, a arte ocupa de vez as cidades e promove uma interação coletiva tanto da obra, como do seu provedor e receptor. O espaço na cidade contemporânea deve ser tratado como espaço livre para manifestação pública dos acontecimentos sociais, políticos, de gênero e religiosos. Este trabalho tem como objetivo contextualizar as técnicas do estêncil, lambe-lambe e do grafite, como formas de manifestações artísticas promovidas na cidade de Poços de Caldas (MG), diante dos contextos sociais e políticos vividos na contemporaneidade. Através de um levantamento bibliográfico e busca in loco das manifestações, foi possível desenvolver uma ligação entre a origem dessas técnicas e sua utilização como intervenção na cidade contemporânea. Palavras-chave:Arte Urbana, Manifestações, Cidade. 1. INTRODUÇÃO Como palco de muitas manifestações artísticas e culturais, o espaço urbano vem sendo redesenhado no decorrer do tempo. A arte dialoga com a cidade, e assim ocorre a mutação, tanto desse espaço quanto das manifestações culturais. A ideia de levar a arte ao contexto urbano surge na década de 60, fortalecendo a discussão de que o espectador não somente a contemplava, mas também interagia com tal arte. Diante da importância que a cidade contemporânea se transforma para a arte, a mesma se faz como material e/ou como suporte artístico, se colocando como suporte para recepcionar as intervenções, que nela são consolidadas. O surgimento dessa contracultura na Inglaterra faz-se valer de oposição ao estilo da época, contrapondo formas e fatos de se ver e contemplar a arte, e, com isso, as questões sociais e comportamentais são discutidas, causando uma fomentação do que hoje são consideradas como arte urbana. Este trabalho vem destacar a atuação das técnicas de estêncil e lambe-lambe, criadas para difundir a arte urbana nos séculos XIX e XX, como linguagem de protestos contra os acontecimentos políticos vividos no Brasil, tomando como espaço receptor a cidade de Poços 1Arquiteto e urbanista pela PUC Minas (2015), pós-graduando em Gestão de Cidades e Planejamento Urbano pela UCAM, e graduando em Licenciatura em Geografia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais. Poços de Caldas, MG. gustavo.reism@hotmail.com.
2 de Caldas (MG), detentora de muitos grupos socioculturais que lutam por uma sociedade mais igualitária e democrática. Um apanhado teórico foi realizado a fim de identificar a origem dessas manifestações artísticas, e no trabalho de campo (in loco) foramcoletadas cenas, retratadas por fotos no decorrer desse trabalho, na intenção de ilustrar o presente texto, consolidando a análise. A abordagem histórica sobre a arte urbana, como forma de elucidar os fatos, entretanto, não faz deste trabalho um avaliador dos valores e conceitos estéticos das manifestações encontradas no contexto de Poços de Caldas. Tendo como objetivo, já mencionado, a demonstração das experiências artísticas, estêncil e lambe-lambe, hoje sendo utilizadas como promovedoras da voz popular. 2. CIDADE E MANIFESTO A cidade se torna a tela, as intervenções vêm usando esse espaço para manifestar as necessidades sociais.argan (1998, p.224), define que a paisagem visual influência de alguma maneira o espaço urbano, tendo como seus promotores quaisquer indivíduo que se faça ali presente, faz urbanismo o escultor, faz urbanismo o pintor, faz urbanismo até mesmo quem compõe uma página tipográfica.a arte como manifesto, considerada como vandalismo por alguns, retrata uma manifestação cultural, que por várias vezes serve de marco para os acontecimentos sociais, e concebe ao espaço urbano uma linguagem popular sobre os fatos. Com a criação de um novo conceito nos anos 1960, a arte renasce com propósitos diferenciados, como contraponto às escolas, estilos e movimentos modernistas, os artistas buscavam a verdade do inconsciente e seus interesses eram voltados para reconstrução das cidades. Assim, enfrentando rupturas, a arte contemporânea sai dos centros e galerias para dominar os espaços urbanos, formando novos valores e práticas estéticas. Como referido anteriormente, esta contracultura surgiu e se desenvolveu inicialmentena Inglaterra. Todavia, do contexto europeu para a América, com a introdução desse movimento nos EUA, ocorre uma diferenciação no formato e na concepção dessa arte. Com o fim da II Guerra Mundial e o capitalismo selvagem aflorado, a arte urbana é popularizada, e a arte pop se transforma em ferramenta de apoio à reprodução em massa, e técnicas como a do estêncil imprimem presença desde uma embalagem de extrato de tomate até mesmo a reprodução multicor de fotografias de artistas do cinema americano.
3 Ao chegar ao Brasil, à arte urbana se depara com um cenário político social delicado, a implantação do AI-5 - Ato Institucional número cinco, pelos militares da ditadura, fazendo valer a censura e o controle sobre qualquer forma de expressão. Os artistas se unem e usam da arte urbana, agora já reconhecida como forma de arte em massa, para ir contra as reações opressoras dos sistemas de censura do regime militar. Os protestos contra a ditadura no Brasil também tiveram influências, construindo mais uma possibilidade de expressão, estas eram mensagens pintadas sobre muros e fachadas de prédios públicos ou privados que proclamava frases contra a censura, a tortura, o imperialismo norte americano e incitavam a luta armada. (FERREIRA, 2001, p. 6/7). Ainda segundo Ferreira (2001), em meados dos anos de 1970, artistas como Alex Vallauri começaram a se destacar na produção artística de rua, criando uma série de figuras feitas em estêncil, técnica que é feita com um molde vazado em que se passa tinta sobre ele, formando assim um desenho bem delineado. Esta técnica de estêncil é amplamente usada em arte urbana, seja ela feita diretamente sobre a parede, e tambémsobre o papel que depois é colado, como no caso dos lambe-lambes.as figurasde 1 a 3 evidenciam o uso desta técnica de estêncil, e as figuras de 4 a 7 a aplicação de lambe-lambe em Poços de Caldas. Figura 3 - Técnica Estêncil aplicada em manifestação contra o Governo Interino de Michel Temer em uma universidade particular de Poços de Caldas. Foto: Raphaela Gouveia, 2016; Figuras 1 e 2 - Técnica Estêncil aplicadaà edificação de esquina da Rua Prefeito Chagas com a Praça Pedro Sanches. Figuras 4 e 6 Aplicação de Lambe-Lambe em defesa da luta por igualdade étnico racial, na edificação do monotrilho na Avenida João Pinheiro. Figuras 5 e 7 Lambe-lambe aplicado em equipamentos urbanos na Rua Paraná, contra o Governo de Michel Temer e a Rede Globo de Televisão e em defesa da igualdade de gênero. Fotos: Gustavo Reis, Com a inovação de valores e práticas, a arte no espaço urbano concebe uma nova possibilidade de significação para tal contexto. Segundo Pallamin (2000, p.19), a arte urbana é vista como um trabalho social, um ramo da produção da cidade, expondo e materializando suas conflitantes relações sociais. O artista, agora com uma visão desbloqueada das paredes
4 brancas das galerias, se atenta numa minuciosa reflexão entre o individuo e o contexto ao qual esse pertence. Diante dos acontecimentos políticos vividos pelo país, desde o inicio do ano de 2016, grupos em defesa da democracia, igualdade de gênero e militantes que buscam uma sociedade mais igualitária, se apropriam dos espaços nas cidades para popularizar sua luta edifundir direitos e acontecimentos de sublevação, sempre usando de técnicas artísticas como: estêncil e lambe-lambe e o grafite. Em Poços de Caldas, grupos destacam-se por usar da técnica do lambe-lambe e estêncil para manifestar sua posição contrária aos desmembramentos políticos e também como forma de apoio a luta das minorias, como os grupos afro-brasileiros, LGBT e outros. Esse fato social favorece a construção de uma paisagem urbana democrática, a paisagem constitui parte do conjunto compartilhado de idéias, memórias e sentimentos que une uma população (MEINIG, 1976, p.164 apud. SANTOS, 2014). 3. CONCLUSÕES Estas obras, muitas vezes, abrem um questionamento da época em que foram desenvolvidas, tomando forma de resposta social aos acontecimentos. Apesar das inúmeras tipologias de manifestações artísticas encontradas no contexto urbanos das cidades, todas possuem o mesmo objetivo, o de defender um espaço democrático e o acesso de todos à arte, a comunicação e a expressão. E isto também ocorre em Poços de Caldas, conforme ilustrado no presente trabalho. As intervenções provocadas pelas obras nos espaços urbanos inserem necessariamente a cidade na obra. Pallamin (2000, p.15) qualifica essas situações urbanas como um conjunto de relações históricas, políticas, econômicas, culturais, sociais e estéticas, cujos sentidos perpassam sua materialidade e os processos nos quais se constituem, concomitantemente. E com esse relato faz-se valer que a arte nos espaços públicos diferentemente do que era nas galerias, produto, se torna consumo direto, uma vez que já se faz tatuada no corpo da cidade. A arte se faz como forma de contemplação independe do público ou do privado, do individual ou do coletivo. REFERÊNCIAS ARGAN, G. C. História da Arte como história da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
5 FERREIRA, Maia Alice. Arte Urbana no Brasil: expressões da diversidade contemporânea. In: ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA DA MÍDIA,8. Anais... Guarapuava: Unicentro, PALLAMIN, V. M. Arte Urbana São Paulo: região central ( ). São Paulo: Annablume/Fapesp, SANTOS, Rossevelt José. Paisagens culturais. Uberlândia: Texto, 2014.
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