MIGRAÇÕES, IDENTIDADES CULTURAIS E ETNICIDADE
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- José Ribas Weber
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1 MIGRAÇÕES, IDENTIDADES CULTURAIS E ETNICIDADE As migrações na sociedade actual As migrações são deslocações, temporárias ou permanentes, da população entre dois espaços geográficos. Essas deslocações podem ocorrer: dentro do mesmo país; entre países diferentes, neste caso designando-se por emigração o movimento de saída da população e por imigração movimento de entrada. As causas das migrações são muito variadas sendo as mais comuns de natureza económica, isto é, os indivíduos deslocam-se à procura trabalho, de melhores condições de vida, etc. Neste tipo de migrações, enquadram-se os movimentos de população dentro do mesmo país das zonas rurais empobrecidas para a zonas urbanas ou dos países mais pobres para os mais ricos. As migrações não são um fenómeno recente, pois têm sido uma constante ao longo da história. Por exemplo, a formação dos Estados Unidos (a partir do século XIX) resultou de uma vaga sucessiva de migrações com várias origens, primeiro europeus, depois asiáticos e hispânicos. A partir da Segunda Guerra Mundial, em especial nas duas últimas décadas do século passado, as migrações intensificaram-se em todo o mundo, como resultado do desenvolvimento económico. As disparidades de níveis de desenvolvimento que se verificam a nível mundial dão origem a movimentos migratórios. O diferencial de bem-estar entre países ricos e pobres, quer a nível salarial Movimentos migratórios para a Europa, no início do século XX quer a nível de acessibilidade aos bens coletivos (educação, saúde, habitação, etc.), tem vindo a induzir de forma continuada esta pressão migratória. O processo migratório também tem vindo a ser acelerado pelo contexto de globalização que carateriza as sociedades atuais, pois a rápida circulação de informação e a institucionalização de redes de tráfico e de transporte de migrantes facilitam a deslocação das populações. A persistência das desigualdades de desenvolvimento, num contexto de globalização, poderia levar, numa situação limite, ao Página 1 de 11
2 estabelecimento de fluxos permanentes entre países, o que acarretaria consequências negativas para os países de acolhimento (ao nível de emprego e do consumo). Neste sentido, as forças políticas destes países não defendem uma política de porta aberta, ou seja, os Estados definem políticas migratórias mais ou menos restritivas, de modo a poderem controlar as entradas e as permanências de imigrantes no seu território. As migrações e as decisões de migrar deixam de estar apenas dependentes de fatores de repulsão (causas que no país de origem levam os indivíduos a emigrar) e de fatores de atração (condições dos países de destino atrativas para os imigrantes). Com efeito, nessas decisões também pesam as políticas migratórias dos países de acolhimento. A integração dos migrantes As migrações têm consequências quer nas sociedades de Manifestação em defesa dos direitos dos imigrantes, S. Francisco, USA, housands-protest-arizona-immigration-law-in-sanfrancisco/ origem quer nas de destino migrantes. dos Nas sociedades de origem, as principais consequências são o envelhecimento da população, dado que, geralmente, emigrantes os são população jovem e em idade ativa, e a entrada de remessas enviadas pelos emigrantes, que podem atingir volumes consideráveis. Relativamente aos países de acolhimento, o principal problema que se coloca é o da integração dos imigrantes. Essa integração pode ser analisada a dois níveis:. Inserção no mercado de trabalho;. Integração cultural. Quando um imigrante se confronta com uma nova sociedade, emergem duas questões básicas: é importante manter a minha identidade cultural? É importante manter relações culturais com outros grupos da sociedade de acolhimento? As respostas configuram quatro modalidades de relações culturais: integração, assimilação, separação e marginalização. A integração é uma estratégia que consiste em manter aspetos importantes da identidade cultural de origem e ao mesmo tempo desenvolver relações com a sociedade de acolhimento e adotar comportamentos e valores dessa sociedade. A separação indica um fechamento na cultura de origem. A assimilação, pelo contrário, indica uma abertura à cultura de acolhimento em detrimento da cultura de origem. A marginalização é o resultado de um processo de negação da própria cultura e de não integração na cultura da maioria, muitas vezes por rejeição da própria maioria. Vala, J., Processos identitários e gestão da diversidade, I Congresso - Imigração em Portugal, Lisboa, ACIME, 2004 (adaptado). Europa fortaleza, pouco disponível para receber migrantes A nível do mercado de trabalho, os imigrantes, geralmente, ocupam os postos de trabalho menos qualificados e mais precários, em termos de contrato, ou mesmo do setor informal (atividades não regulamentadas pelo Estado), Página 2 de 11
3 situação que os torna mais vulneráveis ao desemprego. Para os imigrantes que não estão legalizados, e situação ainda é mais grave, pois não cumprem os seus deveres de cidadania, isto é, não pagam impostos e não lhes estão garantidos os direitos económicos e sociais dado não estarem inseridos no mercado de trabalho legal formal. Quanto à integração cultural, as dificuldades também são grandes. O desconhecimento da língua funciona, desde logo, como uma primeira barreira à integração. Por outro lado, as comunidades imigrantes têm geralmente modos de vida e identidades culturais diferentes dos da sociedade de acolhimento. A vivência numa sociedade com uma cultura diferente coloca ao imigrante problemas de identidade que resultam da tensão permanente entre:. a conservação das especificidades da sua cultura de origem (língua, religião, hábitos, tradições, etc.);. o processo de aculturação a que inevitavelmente está sujeito, se quer integrar-se e usufruir das vantagens que daí podem advir. Entre essas dualidades, as estratégias de integração dos imigrantes podem assumir os graus extremos de assimilação ou de marginalização. Ciganos deixam acampamento em Lyon, France, na sequência de expulsão ditada pelas autoridades, A sociedade de acolhimento também pode desenvolver atitudes diferenciadas em relação aos imigrantes que podem ser de integração, assimilação, segregação, exclusão, individualização. A diversidade étnica das sociedades atuais Os movimentos migratórios têm contribuído para o aparecimento, nas sociedades de acolhimento, de grupos, geralmente minoritários, que se diferenciam pelas suas caraterísticas culturais, raciais, religiosas, linguísticas, etc. - minorias étnicas. Esta diversidade étnica está bem patente nas sociedades europeias, incluindo a portuguesa. Muitas vezes, as minorias étnicas apresentam caraterísticas culturais bastante diferentes das da sociedade de acolhimento, assumindo os seus membros essa diferença e sendo vistos pelos outros da mesma forma. Neste caso, pode falar-se Manifestação em favor da tolerância face aos emigrantes, Oslo, Página 3 de 11
4 existência de etnicidade. A etnicidade designa os modos de vida e as práticas culturais que distinguem os membros de um grupo dos restantes. Quer isto dizer que a etnicidade uma característica dos grupos de imigrantes, quando estes grupos mantêm, suas identidades culturais e formas de ação coletivas próprias. A etnicidade torna-se, assim, uma fonte de identidade para alguns grupos de imigrantes, estando na base de algumas situações de conflito que atravessam as sociedades atuais. Também se poderá referir que estes grupos de imigrantes constituem subculturas, na medida em que são segmentos da população cujos traços culturais são distintos dos da sociedade envolvente. Etnocentrismo cultural Como vimos, existe uma pluralidade de padrões culturais que variam no tempo e no espaço. Deste modo, muitas vezes, os padrões de outros grupos ou sociedades podem parecer-nos e estranhos. Por exemplo, quando vemos filmes na televisão sobre outras sociedades, começamos por achar incompreensível a língua que falam, mas também podemos encontrar aspetos da vida quotidiana, hábitos alimentares e formas de vestir completamente diferentes dos da sociedade portuguesa - multiculturalismo das sociedades atuais. A situação torna-se mais difícil quando entramos em contacto direto com outras culturas, podendo, muitas vezes, produzir-se choques culturais, quando os valores das outras culturas são muito diferentes dos nossos padrões culturais. Estes choques culturais resultam do facto de termos tendência para julgar os padrões das outras culturas com base nos da nossa, levando-nos a não aceitar ou a aceitar dificilmente esses padrões diferentes dos nossos. Por exemplo, a existência de monogamia nas sociedades ocidentais, pode levar à rejeição de outros tipos de Emigrantes tentam chegar à Europa, de barco, terraneo_ue_rm A cultura muçulmana está cada vez mais presente na Europa. França, comportamento poligâmico caraterísticos de outras culturas, como a muçulmana. Ora, o etnocentrismo cultural consiste precisamente em não julgar negativamente as outras culturas tomando como padrão os nossos modelos culturais. Quando assumem esta conduta, os indivíduos estão a sobrevalorizar a sua cultura, considerando inferior a dos outros. Nas sociedades atuais, onde a diversidade cultural é muito grande, o etnocentrismo cultural tem dado origem a fenómenos exacerbados de Página 4 de 11
5 rejeição social, como racismo (forma de preconceito e de segregação social baseada em diferenças raciais ou étnicas e a xenofobia (aversão e discriminação de estrangeiros). A diversidade étnica da sociedade portuguesa Na década de 60 do século xx, apenas residiam em Portugal estrangeiros, principalmente de nacionalidade espanhola e brasileira. Esta situação não se alterou substancialmente até ao 25 de Abril de Após essa data, o processo de descolonização aumentou os fluxos imigratórios dos novos países africanos lusófonos em direção a Portugal, o que fez com que a população imigrante passasse a ser constituída maioritariamente por cidadãos das ex-colónias portuguesas. Na década de 80, o ritmo de crescimento da população estrangeira abrandou, passando a predominar os cidadãos brasileiros, mas mantendo-se um elevado fluxo de imigrantes originários de Cabo Verde. Em 1986, Portugal aderiu à Comunidade Europeia, e os reflexos dessa adesão são visíveis na Manifestação de emigrantes, Lisboa, europeus e brasileiros, altamente qualificados. economia portuguesa, pois, durante o período que vai desde 1986 até 1991, a economia portuguesa obteve resultados globais francamente positivos. Estas transformações económicas tiveram reflexos nos perfis da população imigrante, já que, a par da entrada de mão de obra pouco qualificada composta essencialmente por imigrantes africanos, também entraram imigrantes, nacionais de países Durante a década de 90, o fluxo imigratório tornou a acelerar, constatando-se um novo fenómeno, o da entrada de imigrantes nacionais de países com os quais Portugal não tinha mantido laços económicos ou históricos privilegiados, como, por exemplo, os países do Leste e do Centro da Europa. Este aumento de influxo poderá ser explicado, em parte, pelo facto de os portugueses terem optado por emigrar, deixando lugares vagos para os imigrantes, e pelos processos de legalizações extraordinários que ocorreram durante a década de 90 (1992 e 1996). Manifestação de emigrantes, Lisboa, Página 5 de 11
6 Também se alteraram alguns padrões de inserção dos imigrantes no mercado de trabalho, tendo-se reduzido o número de profissionais qualificados e aumentado o emprego na construção civil e obras públicas (trabalhadores qualificados), não bem como o emprego nos serviços pessoais e domésticos. Entre 1999 e 2001, os fluxos imigratórios disparam, essencialmente, os de nacionais dos países do Leste europeu. O facto de Portugal integrar a União Europeia e o espaço de Schengen poderá ter tido influência neste aumento do fluxo imigratório. Mas esse crescimento também se deveu às motivações económicas (diferenças de salários e de nível de vida), à existência de redes fortemente organizadas na Europa de Leste de angariação de emigrantes (máfias) e à promulgação do Decreto n.º 4 de 2001, que permitia a regularização dos imigrantes, desde que tivessem um contrato de trabalho. No início do século XXI, sobrepondo-se à imigração africana, os fluxos com origem nos países da Europa de Leste contribuíram para o crescimento da população estrangeira total a residir em Portugal. A partir de 2003, o mercado de trabalho português perdeu capacidade de atração de mão de obra estrangeira. O Ritmo de crescimento do número de cidadãos estrangeiros diminuiu, passando a dever-se essencialmente aos processos de reagrupamento familiar e não tanto às migrações por motivos económicos. A contração da economia portuguesa a partir de 2008/2009 leva a uma diminuição da população estrangeira em Portugal partir de Essa diminuição também resultou da aquisição da nacionalidade portuguesa por um número crescente de cidadãos que preenchem os requisitos necessários exigidos na Lei Orgânica n.º 2/2006 de 17 de abril. Em 2013, de acordo com o Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo de 2013 do SEF, consolidou-se a tendência de decréscimo do número de estrangeiros residentes em Portugal. Em termos de continentes, a Europa, a partir do ano de 2001, adquiriu primazia nos contingentes de estrangeiros com presença documentada em Portugal (40,7% do total), muito devido à presença dos cidadãos dos países de Leste, com particular destaque para a Ucrânia, ultrapassando a África, que durante várias décadas permaneceu como a origem geográfica mais relevante devido aos cidadãos dos PALOP. Por países, em 2013, manteve-se estrutura das nacionalidades mais representativas: o Brasil era o país com a maior comunidade residente em Portugal, seguido de Cabo Verde e da Ucrânia. O grande decréscimo dos imigrantes brasileiros pode ser explicado pela aquisição da nacionalidade portuguesa, pela alteração dos fluxos migratórios e pelo impacto da atual crise económica no mercado laboral. In Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal de Catarina Oliveira Reis Disponível na Internet: Portugal.pdf Página 6 de 11
7 O Relatório do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras também destaca o facto de, em 2013, a China ter passado a ser a sexta nacionalidade mais relevante, com um crescimento de 6,8%, suplantando a Guiné-Bissau, que cresceu 0,5%. Das nacionalidades mais representativas, a chinesa e a guineense (Bissau) foram as únicas que registaram um aumento do número de residentes. Na sociedade portuguesa, existe, assim, uma grande diversidade étnica e cultural, mais evidente em algumas zonas, mas estendendo-se a todo o país. Com efeito, mais de metade da população estrangeira residente em Portugal está concentrada na região de Lisboa (51,6%). Esta elevada concentração de imigrantes na Área Metropolitana de Lisboa In Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal de Catarina Oliveira Reis migrantes%20em%20portugal.pdf resulta em grande parte das primeiras vagas de imigração africana. As vagas imigratórias mais recentes apresentam padrões de maior dispersão geográfica no território português, nomeadamente a imigração de Leste, que se espalhou por todo o país. Esta diversidade étnica e cultural manifesta-se de várias formas. Por exemplo, nas zonas urbanas, podemos encontrar estabelecimentos de comércio étnico onde se vendem produtos alimentares e especiarias tradicionais dos países de origem dos imigrantes, observar uma grande variedade de formas de vestuário, experimentar comidas tradicionais de diferentes regiões do mundo, ouvir falar nas ruas línguas que desconhecemos e uma grande variedade da música e podemos, ainda, ver outras formas de expressão artística e cultural. In Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal de Catarina Oliveira Reis igrantes%20em%20portugal.pdf Página 7 de 11
8 Neste sentido, esta diversidade pode ser considerada um fator enriquecedor pelo facto de estar associada a novas formas de encarar a realidade e a novos elementos culturais, como no caso da música, da gastronomia ou mesmo da maneira de vestir. Esse multiculturalismo também é visível nas escolas portuguesas, pois a maior parte delas é frequentada por alunos estrangeiros, ou seja, atualmente, na escola, coexistem grupos culturalmente heterogéneos. In Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal de Catarina Oliveira Reis A integração da população imigrante na economia portuguesa e os seus perfis sociodemográficos Em linhas gerais, a população estrangeira com residência em Portugal apresenta as caraterísticas de uma mão de obra pouco qualificada, apesar de um grupo de imigrantes, mais reduzido, desenvolver atividades socialmente valorizadas (como médicos, dentistas, cuidados de saúde, marketing, design e outras). A integração de algumas nacionalidades, nomeadamente os imigrantes oriundos dos PALOP, é, em larga medida, efetuada na economia subterrânea, ou seja, no setor informal - atividades não regulamentadas pelo Estado, predominantemente nos setores da construção civil e das obras públicas. O INE, na Revista de Estudos Demográficos, n.º 53, de 2014, apresenta a seguinte caraterização sociodemográfica da população imigrante em Portugal:. Os estrangeiros residentes em Portugal eram maioritariamente mulheres.. A idade média da população estrangeira era de 34,2 anos. Estudantes chineses numa escola portuguesa Página 8 de 11
9 . O estado civil solteiro (cerca de 53%) predominava na população estrangeira.. Verificava-se uma maior informalidade nas uniões conjugais desse grupo populacional relativamente In Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal de Catarina Oliveira Reis à população portuguesa.. Os níveis de escolaridade da população em idade ativa (dos 15 aos 64 anos), recenseada em 2011, eram, de modo geral, mais elevados na população de nacionalidade estrangeira comparativamente com a população portuguesa.. Mais de 60% da população estrangeira era economicamente ativa.. O trabalho constituía a sua principal fonte de rendimento, e trabalhador da limpeza era a sua principal profissão. Restauração, construção e comércio a retalho eram as atividades económicas que empregavam mais estrangeiros.. A religião católica foi a mais assumida pelos estrangeiros residentes. O estudo Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal realizado por Catarina Oliveira e Natália Gomes apresenta alguns dados complementares sobre as caraterísticas do fenómeno imigratório em Portugal, nos últimos anos (adaptado): Comunidade chinesa em Portugal Os imigrantes contribuem positivamente para a demografia portuguesa. O último Recenseamento da População realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (Censos 2011) veio reafirmar o contributo positivo da população estrangeira na demografia portuguesa. Nos últimos 10 anos a população cresceu 2% ( indivíduos), sobretudo como consequência do saldo migratório (que explica 91% desse crescimento). Os estrangeiros têm sido responsáveis não apenas pelo aumento de efetivos em idade ativa, mas Página 9 de 11
10 também pelo incremento dos nascimentos em Portugal. A população de nacionalidade estrangeira residente em Portugal é tendencialmente mais jovem que a população de nacionalidade portuguesa. A população estrangeira residente em Portugal encontra-se sobretudo concentrada na região de Lisboa. A percentagem de estrangeiros que se concentra nesta unidade territorial corresponde a 51,6%. A elevada concentração de estrangeiros na Região de Lisboa resulta em grande medida das primeiras vagas de imigração provenientes dos PALP. Ainda que as vagas imigratórias mais recentes tenham sido importantes para diminuir a sobre concentração nesta região (por apresentarem padrões de maior dispersão geográfica no território português), não conseguiram retirar a importância relativa da região de Lisboa que capta ainda mais de metade dos estrangeiros residentes no país. Se é verdade que o número de estrangeiros em Portugal tem diminuído nos últimos anos, também se nota que os perfis de imigração para Portugal estão a diversificar-se. As condições económicas menos favoráveis do país a partir de 2008, mudaram o perfil de entradas de estrangeiros em Portugal. Não apenas o fluxo global de entradas diminui (em especial entre 2008 e 2011, retomando com ligeiro aumento a partir de 2012), como se verifica uma alteração nos perfis das entradas, com aumento de alguns fluxos caso dos estudantes, de investigadores e altamente qualificados e, de forma mais ténue, de reformados e diminuição de outros entradas para o exercício de atividades subordinadas. A população estrangeira não é um todo homogéneo quanto à sua inserção económica, verificandose três formas de incorporação no mercado de trabalho: (1) imigração laboral, personificada Comunidade brasileira em Portugal Comunidade ucraniana em Fátima, Portugal principalmente pelos operários dos PALP, brasileiros e do Leste europeu; (2) imigração profissional, essencialmente representada por trabalhadores oriundos da União Europeia e do continente americano; e (3) imigração empresarial, destacam-se os asiáticos, em especial os chineses. A segmentação do mercado de trabalho português, associando os estrangeiros às atividades manuais e mais exigentes, e por vezes mais arriscadas, e a algumas características dos trabalhadores imigrantes (e.g. disponibilidade para trabalhar mais horas, trabalhadores tendencialmente pouco informados acerca dos seus direitos e deveres laborais em Portugal, com conhecimentos limitados acerca dos sistemas de segurança e saúde no trabalho) tem tido consequências na sinistralidade laboral dos estrangeiros que se mostra superior à verificada para os trabalhadores portugueses. Página 10 de 11
11 Verifica-se um desequilíbrio nas remunerações base médias entre os portugueses e os estrangeiros. Os dados de 2012 dos Quadros de Pessoal mostram que, em média, os trabalhadores estrangeiros têm remunerações 7% mais baixas que a generalidade dos trabalhadores do país. Segundo dados do Eurostat, em 2012 Portugal era o terceiro país da União Europeia com a taxa de desemprego mais elevada (15,9%), sendo apenas ultrapassado pela Grécia (24,3%) e Espanha (25,0%). O desemprego não incide de igual forma nos diferentes grupos populacionais. As taxas de desemprego dos estrangeiros são superiores às dos portugueses; e, por outro, a distância entre estes dois grupos agravou-se substancialmente na última década - em 2001 verifica-se uma diferença de dois pontos percentuais na taxa de desemprego dos portugueses e dos estrangeiros, passando para 6 pontos percentuais em Durante a última década o saldo financeiro da segurança social com os estrangeiros foi positivo. Os estrangeiros mostram maior percentagem de população nos níveis de escolaridade mais elevados quando comparados com os portugueses. Essa tendência não é, contudo, uniforme para todas as nacionalidades estrangeiras. A distribuição dos trabalhadores estrangeiros pelos grupos profissionais do mercado de trabalho em Portugal não reflete necessariamente as suas qualificações. Verifica-se em Portugal o fenómeno da sobre qualificação no mercado de trabalho. Os estrangeiros qualificados em Portugal sem o reconhecimento das suas qualificações representam um importante capital humano que não está a ser aproveitado no mercado de trabalho. A compreensão da língua do país de acolhimento é um requisito fundamental no processo de integração de imigrantes, tendo por isso aumentado a oferta de cursos de aprendizagem da língua de acolhimento um pouco por toda a Europa. Nos últimos anos verifica-se um grande aumento do número de novos cidadãos portugueses associado essencialmente a estrangeiros residentes em Portugal (mais de 90% das aquisições de nacionalidade) e descendentes de imigrantes. Na década passada aumentou a percentagem de estrangeiros elegíveis para votar por total de residentes. Contudo, a percentagem de cidadãos estrangeiros recenseados em Portugal para votar por total de estrangeiros residentes elegíveis para votar em eleições locais diminuiu (...), o que tanto pode refletir o crescente desinteresse das populações estrangeiras no país para os seus direitos políticos ou a sua perceção de falta de direitos políticos em Portugal. Comunidade africana em Portugal No essencial, o texto apresentado foi retirado de: Andrade, Anabela; Moinhos, Rosa (sd) Sociologia 12.º ano. Lisboa: Plátano Editora (adaptado) Página 11 de 11
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